White Blank Page escrita por Enya Flowers


Capítulo 2
Where was my fault




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O retorno do Senhor de Winterfell foi esperado com grande alvoroço no patio da fortaleza. Vassalos, lordes e a família do Protetor do Norte os esperavam com grande organização e Theon não parava de pensar que desejava uma recepção semelhante quando fosse a sua vez de retornar para o seu lar, Pyke. Podia ver nos rostos de todos ali presente o semblante de seus velhos conhecidos e por um descuido chegou a menear a cabeça em um cumprimento solene enquanto passava, que graças ao Deus Afogado não foi registrado por nenhum dos estranhos. O garoto sentiu as bochechas corarem pela ingenuidade da imaginação e adquiriu uma postura redimida em cima de sua sela.

A primeira pessoa que Lorde Eddard cumprimentou ao descer de sua montaria foi a esposa. Uma bela mulher no início da casa dos vinte anos de longos cabelos acobreados e intensos olhos azuis. Catelyn Tully, ele a reconheceu das descrições que os soldados fizeram durante a cavalgada. A mulher agora era uma Stark e mãe dos dois filhos do Senhor Protetor do Norte. Ao lado dela estava o filho de seis anos, Robb Stark, agarrado a barra de seu vestido e com as mesmas características físicas que as da mãe. Ele já é velho o suficiente para se esconder atrás da mãe, mas o lema dos senhores de Correrrio era Família, Dever e Honra, e com as guerras nos últimos anos, não era de se admirar que o primogênito de Catelyn fosse mimado.

– Robb! - Eddard virou-se para o menino depois de beijar a esposa e o pegou no colo, dando-lhe um forte abraço - Como você cresceu! - O homem sorriu e o colocou no chão novamente - Trouxe um novo amigo para você - E apontou para Theon, que com relutância deixava a segurança de sua sela.

– Um amigo, papai? - Robb perguntou com sua irritante voz infantil.

– É prudente isto, meu senhor? - Catelyn interveio, segurando os ombros do filho para que não se aproximasse do espólio da guerra contra os Greyjoy.

– Ele não passa de um garoto - Garantiu - Não há maldade nele, Cat.

– Qual é o seu nome? - Um menino com a idade semelhante a de Robb, apesar de ser mais baixo e tão escuro quanto Lorde Eddard lhe dirigiu a palavra.

– Quem é você!? - A questão saiu com um grito. Estava tão hipnotizado ao ver aquela família que nem notara que aquela criaturinha se aproximou dele.

– Jon - O menino abriu um sorriso simples e lhe estendeu a mão em cumprimento - Snow.

– Um bastardo - Theon enrugou o nariz em desprezo e se recusou a apertar aquela mãozinha que tão amigavelmente lhe fora oferecida.

– Ele é Theon Greyjoy, Jon - Lorde Eddard se aproximou do garoto de cabelos castanhos e bagunçou o cabelo do bastardo - Ele será amigo seu e de Robb, meu filho.

O bastardo é filho de Lorde Eddard? Theon não compreendia. O seu captor parecia ter tanta feição pela esposa que era impossível imaginar que conhecera uma outra mulher para lhe conceber um filho fora dos laços matrimoniais. O mais irônico de tudo isso, era que o bastardo saíra mais ao pai do que o filho legítimo.

– Onde está a minha filha? - Voltou-se para a esposa.

– Depois de chorar quase a manhã inteira eu finalmente a coloquei para dormir, Ned - Lady Catelyn respondeu.

O esposo riu e em seguida deu ordem para que os seus homens descarregam-se os seus pertences e voltassem as suas ocupações habituais, enquanto ele próprio se dirigia ao interior de seu castelo com a esposa, dizendo para que os seus filhos e Theon se conhecessem melhor.

O garoto apesar de estar obstinado a sua vingança, desejava ter tempo para pensar em como agiria e não ser jogado logo de cara no ninho dos lobos, por isso limitou-se a encarar com firmeza os dois irmãos.

– Quantos anos você tem, Theon Greyjoy? - Robb foi o primeiro a lhe dirigir a palavra. Aparentemente Jon estava ofendido o suficiente para não desejar iniciar uma conversa.

– Nove - Respondeu de prontidão.

– Eu e Jon temos seis - O informou - E minha irmã tem um ano.

– Vocês nasceram na mesma época? - Deixou que sua curiosidade falasse mais alto.

– Sim - Dessa vez foi Jon quem respondeu.

– O pai de vocês foi um cretino, então - Comentou em voz alta, sem se importar o quão rude estava sendo, afinal de contas ele tinha direito à isso.

– Não fale de papai desse jeito! - Os irmãos proferiram a mesma sentença ao mesmo tempo, o que fez com que um olhasse para o outro e risse.

Theon não disse nada, dando de ombros em indiferença. Não gostava de nenhum daqueles dois, por mais gentil que fossem com ele. No entanto quem ele mais desprezava era o bastardo do Norte. Aquele rapazote era tão ingênuo e amigável que parecia não ter conhecimento de sua posição inferior. Ele era menos do Theon e por isso decidiu que não faria amizade com Jon. Nenhuma vingança que realizasse poderia afetar o bastardo e o garoto não lhe era uma ameaça.

– Que tipo de brincadeiras vocês tem aqui em Winterfell? - Indagou Theon. Não aguentaria ficar mais tempo dialogando sobre assuntos vazios.

– Cavaleiros e Donzelas e Entre no Meu Castelo - Robb respondeu de prontidão.

– Como são essas brincadeiras?

– Em Cavaleiros e Donzelas um de nós é o mau sujeito e o outro o nobre Cavaleiro que tem que proteger a Donzela em questão - Robb disse.

– E em Entre no Meu Castelo um é o dono da fortaleza e o outro pede permissão para adentrar, mas só poderá passar se fizer o que pedirmos ou ganhar uma luta - Jon completou, com um sorriso infantil no rosto.

Theon revirou os olhos. Aquelas brincadeiras eram infantis e ridículas demais para ele.

– Quer brincar? - Robb parecia animado para fazê-lo.

– Pode ser - Não se incomodaria em se distrair um pouco depois de tudo o que passara e a brincadeira poderia ser uma desculpa excelente para desenvolver o seu plano.

– Podemos brincar de Cavaleiros e Donzelas? - Jon sugeriu.

– Claro! - Robb respondeu por todos.

Aquela era a pior brincadeira entre as duas opções, mas era pegar ou largar. Os irmãos já estavam acostumados a brincarem sozinho que se ele se recusasse, sabia que seria deixado de lado e isso Theon não suportaria.

– Eu e o Robb seremos os Cavaleiros e você será o mau-sujeito! - Jon o avisou.

Se estivesse em Pyke teria dado uma surra no moleque por ele ter sugerido isso, no entanto nas presentes circunstâncias o papel até que lhe cairia bem e apesar do desgosto abriu um sorriso no canto dos lábios.

– E o que eu tenho que fazer?

– Tem que tentar passar por nós e resgatar Sansa - Foi Robb quem definiu o tema.

– Pois bem, e onde ela está?

– Na quarta porta à leste do terceiro andar - Jon contou.

Theon ergueu os olhos para analisar a estrutura externa do castelo. O terceiro andar não parecia ser assim tão impossível de encontrar, mesmo que ele nunca tivesse colocado os pés ali anteriormente. Tudo para ele era novidade e havia uma certa adrenalina nesta realidade. Ele tinha que encontrar um bebê e um bebê não se locomovia como um adulto. A filhote de lobo ficaria quieta em seu quarto e se a descrição que recebeu estivesse certa, então ele definitivamente a encontraria.

A brincadeira começou quando os três se armaram com espadas de madeira retiradas com o mestre das armas de Winterfell com o aviso de que ninguém deveria perder um olho com aqueles pedaços de madeira entalhado. O que parecera fácil para Theon a princípio se tornara difícil. Aqueles garotos eram mais ferozes do que ele armado apesar da pouca idade. Os golpes eram livres e dados em pontos estratégicos no adversário, pontos estes que não causassem grande dano.

Sua meta era passar por aqueles dois e chegar até Sansa, contudo a cada passo que ele conquistava no terreno ganho ele perdia dois. Isso era o que ganhava quando lutava em número desigual. Queria ter gritado para que Jon saísse do jogo, ainda que o certo seria que ele fosse deixado de lado por ser o mais novo integrante daquela fortaleza. Ao perceber que aquilo logo terminaria com ele se rendendo, Theon usou a astúcia e deixou os cavaleiros bobos ao pensarem que ele havia desistido da donzela quando o viram correndo na direção contrária da porta principal de Winterfell.

Robb e Jon o perseguiram por algum tempo, mas desistiram ao verem que o protegido de Lorde Eddard Stark estava correndo sem rumo. Na verdade Theon tinha um rumo, só que para isso ele deveria confundir os inimigos. A porta principal do castelo não era a única entrada. Ele pode nunca ter visitado aquela terra, mas conhecia como as construções daqueles tipo eram erguidas. Dando a volta na fortaleza, o garoto chegou a porta dos fundos que ligava a cozinha à pequena plantação. Passou com tanta velocidade entre os servos que conseguiu arrancar deles novas palavras de baixo calão que nunca antes havia ouvido.

Entre risadas, ele subiu quase caindo as grande escadas de pedra do salão principal. Estava com o coração na boca e havia manchas de suor exibidas em sua camisa de algodão. Estava com tanta pressa para chegar ao seu destino, que teve de parar e identificar o andar em que estava e descer o lance de escadas que tinha subido a mais. Dessa vez estando no corredor certo, ele correu até a porta do quarto onde a mais jovem loba estava repousando.

Sem se preocupar em quão afobado estava e quão incomodo seria, abriu a porta e correu até o berço. Ele havia vencido. Ele ganhou daquelas duas crianças. Ele era o mais velho, uma Lula-Gigante e sua astúcia não deveria ser subestimada.

– Eu venci! - A frase não saiu mais alta do que um sussurro por causa da falta de ar que estava tendo.

Agora era hora dele avaliar os seus ganhos e ter certeza de que fizera o certo. Prendeu a espada de madeira de forma desajeitada em seu cinto, apoiou as mãos na beira do berço e esticou o pescoço para olhar o que estava sendo embalado ali.

Seus olhos se maravilharam com o que viu.

O bebê que estava ali lembrava muito o irmão legítimo. Tinha a pele alva e os cabelos cor de cobre. O rosto era arredondado, os lábios rosados tinha a forma de coração e as mãos pequenas estavam fechadas em punho e esticadas ao lado do corpo. O coração de Theon pulsou com mais força e algo estranho o dominou; algo semelhante a culpa. Fora naquela manhã que ele pensara pela última vez em destruir com os Stark. Ele estava determinado a fazê-lo, mas jamais pensou que sua vingança se estenderia aquela criaturinha que estava a sua frente. Sansa, o nome dela é Sansa, se recordou. Ela era tão inocente, mas tão inocente que parecia que uma luz a estava envolvendo em seu sono. Theon sentiu vontade de tocá-la para ver se Sansa era uma criança do mundo humano ou da floresta. Com esse pensamento, esticou o dedo indicador para cutucar aquelas bochechas rechonchudas que ela tinha, mas foi parado no meio da ação.

Naquele momento Jon e Robb entraram correndo no quarto, ambos esbaforidos e dando altas gargalhadas. O sono de Sansa estava arruinado. A bebê anunciou que acordara através de seu choro histérico e os dois irmãos dela o acusavam de tê-los trapaceado e que não valera sua vitória, visto que ele não chegou a pegar a donzela.

O garoto nem tentou respondê-los. Estava se sentindo péssimo por ter realmente planejado uma traição mais significativa no futuro e todas as acusações que recebia sentia que eram merecidas. Estava prestes a ordenar que nunca mais o chamassem para essas brincadeiras bobas quando Lady Catelyn entrou no quarto aos berros. Mandando Robb e Theon para o quarto, dizendo que Sansa estava dormindo ali e relembrando Jon que ele estava proibido de passar do primeiro andar do castelo, dizendo que nada ali dizia respeito à ele.

– Mas Sansa é minha irmã! - Jon rebateu às palavras ásperas da madrasta.

– Sansa é minha filha e irmã do Robb! – A mulher ressaltou, tomando a bebê em seus braços de forma protetora, sibilando um xô ao bastardo de seu marido.

Theon não esperou outra ordem. Era constrangedor ter de presenciar as desavenças familiares e entendeu que Jon não era querido por Catelyn. Se ela não gosta dele e pode deixar isso claro, então não há problema se eu também não gostar dele, decidiu. Ele não gostava do garoto de cabelos escuros desde que colocara os olhos nele e pensava que isso nunca mudaria. Contudo, ele podia vir a amar Robb como um irmão no futuro, ou mais do que um irmão, debateu consigo mesmo, ao analisar o garoto se despedir dele à porta de seu quarto e prometer à ele que mais tarde eles poderiam brincar mais.


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