O Bosque Sagrado estava em silêncio. Não haviam mais Stark em Winterfell como era o costume e Theon sentiu que poderia ser amaldiçoado se aproximasse mais daquele estranho represeiro com um rosto macabro chorando sangue. Ele invejou aquela representação dos Antigos Deuses, porque ela fazia algo que ele não podia: chorar pelo o que ele fizera.

O arrependimento voltava a ser acentuado toda vez que ele via o rosto de seus conhecidos naquela terra onde chegara quando tinha nove anos. Nenhum deles o aceitava como o Príncipe de Winterfell e em suas costas o chamavam de Vira-Casaca. Não era pra menos, Theon fingira ir em uma missão dada pelo Rei do Norte, Robb Stark em sua terra natal, Pyke, conseguir tropas navais para ajudar na guerra contra o Trono de Ferro, mas no lugar do que tinha que ser feito o que ele fizera fora conseguir uma pequena tropa para conquistar Winterfell, a terra de seu amigo de infância, daquele que ele ajoelhara aos pés e colocara a sua espada a serviço do único Rei que ele reconhecia. E como se isso não fosse tudo, eu matei dois garotos órfãos e os fiz passar por Bran e Rickon, e se os verdadeiros garotos Stark não tivessem desaparecido, ele os teria matado para incentivar a lealdade daqueles homens. Mesmo provando que cumpro a minha palavra, ninguém me respeita e nem me aceita. A culpa o consumia dia e noite e já fazia um bom tempo que não conseguia dormir por mais de uma hora sem acordar pelo assombro de pesadelos terríveis.

Ele acreditava que pedir o perdão aquela árvore-coração ele teria o poder sobre aquelas terras. Por isso não hesitou em ajoelhar naquele solo que ele muitas vezes percorrera nos anos que vivera como protegido de Lorde Eddard Stark.

Um vento frio percorreu sua espinha quando os joelhos atingiram a terra. Isso podia ser interpretado como um sinal de negação, mas ele insistiu com o que viera fazer. Em silêncio, agradeceu por sua educação com os Stark e pediu perdão por tudo o que fizera e o que viria a fazer para ser o Senhor daquelas terras. Quando enfim se levantou, desejou que Fedor retornasse logo com a escolta que prometera.

Já fazia semanas que estava em um cerco feito pelos nortistas vassalos do Jovem Lobo e Fedor era sua última esperança, pois até mesmo o senhor seu pai, Lorde Balon Greyjoy, recusara vir salvá-lo pela medida impulsiva que tomara.

Mal havia entrado no pátio da fortaleza quando um de seus homens viera informá-lo que Fedor retornara e massacrava os seus inimigos e que em breve deveria abrir os portões para que sua escolta entrasse. Theon esperou contando cada batida de seu coração acelerado. O seu pedido enfim havia sido atendido. Foi o que pensou, no entanto isso não passou de um engano.

Quando Fedor entrou em Winterfell ele não estava vestido nos mesmos trapos quando partira e sim com roupas de um nobre de uma qualidade superior a qual o próprio Theon vestia e agora ele referia a si mesmo como Ramsay Snow, bastardo do Forte do Pavor. O sorriso morreu em seu rosto enquanto via os seus homens serem massacrados e percebeu que os inimigos que batiam à sua porta não eram nada comparado com o amigo que a adentrara.

Massacrado, esfolado e humilhado, não demorou muito para que Theon Greyjoy esquecesse de todo o seu passado e assumisse a identidade daquele último amigo que tivera: Fedor. Daquele momento em diante ele não conheceu outra vida que não fosse a de Fedor. Tudo isso porque ele se sentiu injustiçado por Robb Stark ter se tornado um Rei, ter sido prometido em casamento à uma garota Frey e hora nenhuma ter pensado em seu amigo com quem um dia dividira um momento de intimidade.