A Feiticeira e o Contrabandista escrita por Espíndola


Capítulo 8
Davos III




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Rei Stannis Baratheon havia vencido honradamente a batalha contra o Jovem Lobo, subjulgando-o e dando-lhe o direito de voltar para casa como seu Protetor do Norte. O mensageiro que chegou em Porto Real era ninguém menos do que Devan, o antigo escudeiro do Rei e seu quarto filho. Agora é Sor Devan Seaworth. Ouvira dizer que Stannis matara o Peixe-Negro na batalha, enquanto Devan dava cabo do herdeiro de Correrio, Edmure Tully. No entanto, não foram apenas boas notícias que chegaram até a capital. O Leão marchava para as Terras Fluviais e algo dizia ao Contrabandista que não era para negociar sua rendição. Tywin é poderoso. Sabendo que Stannis teve o braço da espada rasgado na mandíbula do lobo atroz de Robb Stark, a Mão-do-Rei suspeitava do pior.


Ele estava satisfeito por seu Rei não ter utilizado a magia negra da Feiticeira para de fato, ganhar a guerra. Só não tinha certeza se isso era apreço pela honra de seu amigo ou pela paixão que despertara entre ele e a Sacerdotisa na ausência de Stannis. O que faremos quando ele voltar? Será que ele me aceitaria como Azor Ahai? Ser chamado de tal por Melisandre, já era costume para Davos. Ela tentou provar isso, fazendo ele se ver nas chamas. Uma ilusão...


Ele se enxergara na vanguarda de um grande exército de homens enfrentando monstros terríveis, mas mortais. Davos contemplou a si mesmo carregando uma espada de fogo que ainda não tinha sob sua posse, além de seus dedos de volta, pendurados no cordão. Como hei de recuperá-los? Não tinha ideia de como responder aquela pergunta. Contudo, desde que ela o fizera enxergar nos fogos, ele andava nervoso e pensativo. Stannis acabará comigo e tirará tudo que restar dos meus filhos. O Contrabandista conhecia bem o seu amigo como Lorde e agora, sabia do que era capaz como Rei para ser respeitado. Além de que, ele a ama. Ele a deseja tanto quanto eu. Um gosto amargo de fome veio-lhe na boca.


Comeu sozinho na Torre da Mão. Matthos convidou-lhe para almoçar com Devan e brindar o ungimento de mais um Seaworth, mas nem para isto, o Cavaleiro das Cebolas tinha disposição em meio ao caos de pensamentos e dúvidas que sua mente se tornara. Com Edmure morto, logo a Senhora Lysa Arryn enviará um corvo, apressando o casamento do Vale com Shireen. Lorde Baloon Greyjoy morreu ao cair de uma ponte em Pyke. Gran Meistre Pycelle convenceu oito de doze senhores restantes em Porto Real a exilar a Feiticeira na ausência do Rei. Estava ficando louco. Tão louco que vejo-me nas chamas. Satirizou-se.


Não queria acreditar no que julgava ser a verdade. Toda essa paixão... Ela me enfeitiçou. Afinal, uma feiticeira era. Assim como enfeitiçou Stannis. Culpava-se profundamente pela traição ao amigo quando a Mulher Vermelha o surpreendeu.


— Não se preocupe, meu Herói. Você ficará vivo para livrar-nos do Grande Outro.


— Mel... Você aqui, a tarde? — Ele questionou. Não que não estivesse satisfeito com sua visita. Não transavam há uma semana, desde que a barriga dela crescera abruptamente. Mas agora está com o corpo de uma jovem. Confirmou, mirando-a de cima a baixo.


— Vim lhe dizer que o que temos, acaba hoje. — Pela primeira vez, ela deixou a porta aberta ao entrar. E o olhava de maneira diferente. Como antes... Pensou antes de qualquer réplica.


— Por que? — A pergunta foi inevitável e até lamentosa. Porém, a Mão-do-Rei não chegou a levantar-se ou demonstrar desespero. Mas queria. Um Contrabandista apaixonado dentro dele, queria fazer isso.


— O filho era de Stannis. — Ela falou, sentando-se a sua frente.


— Por que mentiu pra mim? — Brigou de imediato, ela o mirou. Só então percebeu o verbo que ela usara. — Era? Onde está a criança? — Demonstrou a preocupação de um pai.


— Acalme-se, meu Herói. O bebê está vivo... E nos braços de sua verdadeira mãe. Você sabe que não foi aquela vida que eu pari. — A feiticeira confessou. Davos lembrou-se da cena vivida entre os dois nos dutos de Ponta Tempestade. Um arrepio veio-lhe a nuca, como se o demônio daquela noite, soprasse suas orelhas. A sombra que matou Renly Baratheon.


— Por que terminar nossa relação? Por Stannis? — Indagou sobriamente. Se ela dissesse que sim, ele entenderia. Ou não. Ela estava linda a sua frente, perfumada e numa pose elegante. Trajava uma de suas túnicas mais finas e brilhantes, com tantos bordados que sua pele clara parecia fazer parte do vestido. Eu a desejo tanto. Confessou a si.


— Por que você será preso pelo Rei quando eu contar o que aconteceu entre nós.


A certeza com que aquela mulher expremia o futuro causava-lhe um incomodo quase palpável. Ajeitou-se na cadeira, tomando uma posição mais defensiva.


— Cuidado com suas ameaças, Melisandre. Sou a Mão-do-Rei e a guerra ainda não foi vencida. — Ele fez lembrar. Posso exilá-la antes do Rei voltar. Você matou o Senhor do Mar.


Esta guerra foi vencida desde que estamos aqui, Davos. — Estranhou ela chamá-lo pelo nome. Que força essa mulher tem sobre mim... Bebeu um gole de vinho. Ela serviu-se do mesmo, calmamente, como se estivessem combinando um encontro noturno e não terminando tudo.


— Entendo. — Ela nada disse e ele não sabia como continuar. Estava chocado. Se eu sou Azor Ahai, por que serei preso? A humildade do Contrabandista falou mais alto e ele perguntou sem querer: — Devo fugir então? — Ou prendê-la? Sua consciência gritava.


— Não. Deve encarar seu destino. Aqui conosco. — Agora ela esboçava os primeiros sinais de tristeza. Ela também me deseja, ela também não queria isso. Davos imaginava.


— Certo. Deixe-me, preciso pensar e descansar... E dar a resposta ao Rei em batalha.


Ela levantou-se devagar, ainda com a taça na mão e veio até ele. O perfume adoçou seu paladar pela proximidade de seu pescoço quando ela o abraçou. Acabaram em uma transa sufocada e silenciosa, nada parecida com os laços anteriores. Um ritual diferente, muito mais rápido e seco.


Ele quase chorou quando a viu sair, pela última vez. Se deu conta que seu membro ainda estava ereto. E agora? Um forte vento bateu na janela e Davos foi fechá-la. Todavia, o que avistou pairar sobre Porto Real o paralisou por completo. Dragões? Eram três. Seu coração quase explodiu.


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Notas finais do capítulo

Espero que curtam! Responderei todos os comentários!



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