A Feiticeira e o Contrabandista escrita por Espíndola


Capítulo 7
A Princesa Marcada




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Ouviu em algum lugar, seu único amigo chamá-la. “Princesa! Princesa!” Ela estava em seus aposentos, brincando com o último presente que ele lhe dera. Um cavalo marinho de madeira, todo pintado de roxo, sua cor favorita. Quando chegou ao corredor, percebeu que ele corria perigo. A menina não pensou duas vezes e correu para socorrer seu amigo. Só que tudo estava tão diferente fora de seu quarto.


O castelo havia sido remobiliado da noite para o dia e até os tijolos vermelhos da calorenta capital haviam se tornado tão negros quanto os de Pedra do Dragão. Continuou correndo, rapidamente se deu conta que estava perdida, mas não com medo. Preciso ajudá-lo.


— Davos! Davos! Onde está você?! — Vociferou diante de uma encruzilhada de degraus.


Ao invés de obter uma resposta, seu amigo parou de clamar por ela. Isto deixou-lhe muito aflita. Não encontrava ninguém em seu caminho, a Fortaleza estava deserta como no dia em que queimaram Joffrey. É isso! Shireen entendeu. Eles estão na praça! Disparou como uma flecha para a praça e quando menos percebeu, já estava lá, debaixo dos braços da sua mãe, que a segurava, impedindo-lhe de misturar-se à multidão.


— O que eles vão fazer? Por que estão fazendo isso, mãe? — A princesa perguntava com os olhos cheios d'água, olhando para Davos, Marya, Dale, Allard, Matthos, Devan e outros dois Seaworth que ela não conhecia, mas sabia se tratar do resto dos filhos dele. Todos amarrados e prontos para arder até a morte, como Joffrey. A Rainha não respondia. Shireen não desistiria facilmente. Como um puxão, libertou-se dos braços da mãe. Para chegar até seu amigo, furou o bando de camponeses com tochas na mão, chorando. O que foi que ele fez? As lágrimas escorriam pelo couro rochoso de sua face e pareciam ser absorvidas.


Pouco antes de chegar até a fogueira, a Melisandre de Asshai a parou. Estava mais alta do que nunca e com aquele seu olhar perigoso, como se Shireen não fosse uma princesa, não fosse filha de Stannis, e sim filha de um dos plebeus ao seu redor. Ela sabia que devia ficar quieta diante da Feiticeira, que começava uma de suas orações, assim como fez com Joffrey, até gritar queime. Shireen não deixaria isso acontecer a Davos, então interrompeu o ritual:


— Lorde Davos não fez nada! — Guardas aproximaram-se para calá-la, mas ela não se conteve e continuou: — Solte-o sua Bruxa! Solte-o! Você quer matá-lo! Solte-o! — Enquanto ordenava ou suplicava, seu amigo continha um choro terrível. Não vou permitir, não vou. Quando percebeu, estava gritando outra coisa: — Soltem-me! Soltem-me! Sou filha do Rei! Sou a Princesa! — Eles a estavam colocando na pira junto com a família do Cavaleiro das Cebolas. — O que estão fazendo? Não podem fazer isso! — A feiticeira de seu pai riu diabolicamente, como tivesse fingido sua aliança desde sempre. Onde está meu pai?! Não encontrava o Rei em lugar algum e naquele momento de pânico, até sua mãe sumira. Decidiu enfrentar a Estrige sozinha, afinal era tudo que ela podia fazer. — Assassina! Você matou Meistre Cressen e o tio Renly! Você matou Cersei e seu filho Joffrey! E o Senhor do Mar! — Vendo que a multidão calara-se para ouvi-la, a princesa rogou esperançosa para os guardas em volta da pira: — Prendam-na! — Quando pontuou, eles também pareciam feitos de pedra. Olhavam para ela, mas não reagiam. O fogo começou a subir.


(…)


Despertou do pesadelo tão suada que parecia que seu velho hábito de urinar na cama tinha retornado. Shireen apressou-se em limpar aquilo antes que uma de suas novas aias chegassem. “A filha do Rei não deve ter medo de escuro ou de sonhos tolos...” Sua mãe ordenara alguns anos antes e ela aprendera a resistir aos seus temores, porém, a visão de Davos queimando ao seu lado, não saía de sua mente. Atordoada, vestiu-se com o primeiro vestido que encontrou no baú e nem prendeu o cabelo, como sua mãe mandava. Atravessou a saleta do desjejum e quando não viu nenhum criado por lá, teve calafrios. Assim como no sonho, tudo está vazio. Assim que alcançou o corredor, o filho de Davos que tornara-se Guarda-Real apareceu. Ela gostava dele. — Bom dia, Sor Matthos. — Saudou com pesar.


— Bom dia, minha Princesa. Não precisa me chamar de Sor, você é minha amiga. — O cavaleiro falou sem notar sua expressão de preocupação. Enquanto olhava para ele, lembrava de seu semblante apavorado no meio da pira, queimando ao lado de sua família.


— Onde está seu pai? Preciso falar com ele. — Ela indagou sem rodeios. O Matthos de Pedra do Dragão repararia no meu nervosismo. Julgou a 'evolução' do cavaleiro, que costumava ser atencioso e em poucos dias, tornara-se soberbo e ignorante.


— Meu pai está na Sala do Trono, comemorando a vitória do Rei. — Avisou. Ela tentou ir até lá, mas ele se colocou na frente, bloqueando a passagem. — Princesa, sua mãe não lhe disse que deve permanecer no seu quarto? — Interrogou como se fosse seu irmão mais velho.


— Meu pai venceu a guerra? — A curiosidade a corroía como seus pesadelos.


— Ainda não, mas os rebeldes estão caindo um à um. Baloon Greyjoy está morto, Robb Stark foge para o Norte com o rabo entre as pernas e Hoster Tully rendeu-se ao verdadeiro Rei. Resta Lorde Tywin a ser vencido. — Uma lágrima escorreu do rosto da menina, uma lágrima de alegria, a pessoa que ela mais amava e respeitava no mundo, era Stannis, seu vitorioso pai. A segunda pessoa era...


— Preciso falar com Lorde Davos! Preciso alertar-lhe! — Ela suplicou. Porém, o Manto Branco havia mudado Matthos completamente.


— Alertá-lo sobre o quê? Mais um de seus sonhos fúteis com dragões? — O desdenho era palpável no tom dele. Ela quase chorou de tristeza.


— A Feiticeira planeja queimá-lo! E você também! Toda a sua família! — Acusou sem pensar, tentando convencer seu velho parceiro através da verdade por trás dos seus olhos.


— Está louca, Shireen? Acusar Melisandre dessa forma... Só estamos seguros aqui por causa dela. Esqueceu-se? — Sem deixar que Shireen tentasse explicar, o cavaleiro a escoltou até seu quarto a força e lá, a trancou. Não! Meu amigo corre perigo! Pensou em gritar, mas sabia que ninguém a ouviria. Gostaria de poder voar... Como voava nos dragões dos seus sonhos.


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Notas finais do capítulo

Espero que curtam! Responderei a todos os comentários!



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