A Feiticeira e o Contrabandista escrita por Espíndola


Capítulo 2
Melisandre I




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Avançou sobre o Rei de forma sedutora. Desde que conquistaram Porto Real, a honra dele não resistia mais aos seus encantos e tudo que Stannis suplicava calado era um herdeiro verdadeiramente poderoso como ela. Nada além de sombras sairá de meu ventre. Ela gostaria de poder confessar ao homem, mas tê-lo como amante era vital para seu comando e para seus planos. Ele a beijou vorazmente como sempre. Invadindo seu íntimo.


Na mesma cama onde dormia com sua esposa Selyse, ele a possuiu. Apesar dela saber de sua paixão, ele continuava silencioso no ato, mas mantinha uma nova disposição desde que sentara-se no Trono de Ferro que tanto desejava, e ainda assim, não me dá prazer algum. A Sacerdotisa fingia o contrário e por ser talentosa em sua atuação, seu Rei alcançava o orgasmo rapidamente. Está cheio de si. Ela aprovou ao levantar-se completamente nua e suada, deixando Stannis no colchão e servindo dois calices de vinho. Ela elogiou o homem exausto:


— Sinto a força de Rh'llor em ti, Majestade. O Veado em breve cavalgará os Sete Reinos para derrotar o Leão, o Lobo e a Lula. — Com aquela afirmação, ele sorriu brevemente. Tal gesto também era novidade no homem que passara praticamente metade de sua vida sem sorrir.


— Não se esqueça da Águia e da Truta. Façamos um brinde a isso. — Pegou o vinho que ela servia e após beber, perguntou olhando diretamente nos seus olhos, como se pudesse enxergar suas mentiras: —Você viu isso nas chamas, Feiticeira? Ou está falando por falar?


Há bem da verdade, desde que conquistaram a capital de Westeros, Melisandre não havia vislumbrado nenhuma mensagem de seu Senhor. O que para ela, significava que o próximo passo seria crucial, mas estava longe. Decidiu não mentir, para depois ter voz em sua súplica:


— Não vi, mas sinto, Stannis. — O semblante do Rei escureceu. — Dê-me mais um sacrifício e prometo-lhe que verei nosso futuro. — Dando as costas a ela, o Rei deitou-se na enorme cama, pensativo. — Joffrey é um usurpador. Tywin é orgulhoso demais para negociar.


— Não é assim que fazemos em Westeros, Melisandre. — Aproximou-se e ele levantou, fugindo dela. — Não posso queimar todos os nossos reféns diante de meus vassalos.


— Não confia nas minhas visões? Estou lhe dizendo: Dê-me qualquer um dos bastardos reais que lhe darei o governo completo do continente. Antes que seja tarde. — Pediu, buscando um olhar direto com seu Rei. Depois de gozar, ele a evitava mais facilmente, ainda assim, o perfume usado aquela noite era seu favorito e ele não resistiu.


— Não comece com essa história do fim do mundo de novo... Está bem. — A beijou e completou: — Você queimará Joffrey, mas faremos no Salão do Trono, não quero o povo participando desta vez. A justiça do Rei deve ser feita pelas mãos do Rei.


— Como quiser, meu guerreiro. Desde que seja a noite, funcionará. — Ela lembrou.


— A noite será. — Ele a abraçou sugerindo uma despedida. — Mas eu serei o carrasco.


— Sabes que assim também não funcionará, Stannis. — Já estava perdendo a paciência com todas aquelas exigências. O Conselho Real e a Corte da Fortaleza Vermelha conspiravam contra ela e seu poder. Os senhores cuja vida fora garantida pela Sacerdotisa colocavam na cabeça de seu Rei que “sua feitiçaria não era mais necessária”. Isso após Stannis expulsar a Aranha de seu conselho, alegando que só teria servos honrados. Uma atitude mal planejada do ponto de vista dela, uma ação que ela não conseguira impedir. Só homens. Alguns diziam.


— Suas pregações congregavam todos em Pedra do Dragão, mas agora estamos diante de grandes senhores do reino com suas crenças. Não posso deixar que uma mulher tome voz como arauto de condenação. Devo sentenciar o bastardo de meu irmão à morte. É minha obrigação, Feiticeira.


Se tinha algo incontrolável em Stannis, eram suas regras, sua conduta. Sempre rígida e cega. Para ela, bastava de discussão. — Que sua vontade seja feita. — Antes de sair, alertou:


— Mas saiba que se eu nada enxergar, a culpa será sua e não minha.


Ela era uma das únicas pessoas que podia deixar a presença do novo Rei sem pedir permissão.


(…)


Os aposentos da Aranha a serviam agora. Seu estoque de poções e elixires estava novamente abastecido, pois negociara com um capitão mercante ibbenês muitas das especiarias raras que lhe faltavam em Pedra do Dragão. A fogueira ardia alto, apesar de ser quase manhã. Melisandre já tinha feito sua vigília com os guardas do castelo e antes da alvorada, retirara-se para descansar. No entanto, uma aflição conhecida a atormentava. Como se o seu Deus a tivesse convidando a olhar o destino nas chamas. Portanto, permanecia acordada mirando a grande lareira. O que quer eu veja, Rh'llor? Tentava consultar à própria consciência.


Decidiu apelar e pegou os pós que coloriam as chamas. Talvez assim fique mais claro. Também apagou as velas e candelabros, deixando apenas o fogaréu da lareira sobressair. Quando arremessou, viu seu Rei na imensidão de um deserto azul. Com o tremeluzir das labaredas, enxergou a Fortaleza Vermelha ao fundo, desfocada. O inverno cairá sobre nós em breve. Ela concordou com o que via, esperando por mais. Uma gigantesca sombra cruzou sobre ele e quando seu Rei olhou pro céu, bestas voadoras, negras e verdes, duelavam violentamente entre si. O que são esses demônios? Aquilo era novo para ela, mas não parecia ser para o Stannis de sua visão. Desconsiderando o perigo acima de si, o Rei avançou bravamente com seu exército de archotes perante monstros de gelo montados em cavalos mortos. Luminífera resplandecia a cada ataque de Stannis, rasgando o mal com facilidade e destroçando o objetivo do Grande Outro. Ho'ddor. Contudo, um detalhe sintilou em meio as brasas, um detalhe pendurado no pescoço de seu Rei. Uma pequena sacola de couro, a sacola dos dedos do Cavaleiro das Cebolas, ela percebeu. Quando voltou a olhar a face do Renascido, Lorde Davos Seaworth era sua identidade. O que está me dizendo, Rh'llor? Perplexa, Melisandre perdeu o foco e as mensagens sumiram tão rápido quanto haviam surgido.


Não conseguiu dormir naquela manhã. O Cavaleiro das Cebolas é Azor Ahai Renascido?


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Notas finais do capítulo

Espero que curtam! Responderei todos os comentários!