A Feiticeira e o Contrabandista escrita por Espíndola


Capítulo 1
Prólogo




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Dias e noites haviam passado, perdera a contagem do tempo e com ela, a noção da realidade. Não sabia mais quem era ou qual era seu sobrenome. Fora resumida à uma refém qualquer, jogada aos ratos nas masmorras da Fortaleza Vermelha, e só não fora violada pela “bondade” de Stannis Baratheon. Não tinha direitos, não tinha visitas. Restava-lhe expurgar naquela cela até o fim de sua jornada. Devia ter tomado o veneno.


“Meu pai irá me resgatar, meu irmão irá me resgatar” Assim ela pensava quando fora confinada ali. Todavia, agora já aceitava de bom grado a água suja que lhe era servida, mas ainda negava-se a comer caso não pudesse estar com seus filhos. Abandonada e silenciada, a leoa passou por momentos de intensa aflição e devaneio. “E quando as vossas lágrimas vos afogarem, o valonqar enrolará as mãos na vossa pálida garganta branca e estrangular-vos-á até vos roubar a vida.” A bruxa lhe amaldiçoara anos atrás e agora que sua pele estava esbranquiçada como se morta estivesse, um profundo medo tomava conta do seu coração.


Meus filhos, eu só quero os meus filhos!Por dias ela gritava sem forças às pedras silenciosas que a cercavam no submundo. — Entreguem-me meus filhos!


Ela culpava Tyrion por estar presa. O maldito anão que tivera a tola ideia de usar fogo-vivo, um químico nada controlável, para ganhar a batalha contra o usurpador de Pedra do Dragão. O fogo varrera nossas linhas de defesa e permitiu que Stannis tomasse a cidade antes da chegada de meu pai, Tywin. A imagem medonha do irmão vinha-lhe a mente. Por meses, sua mão retorcida enforcou-me na corte, como não percebi? Ele é o valonqar e a minha desgraça. O corpo do duende não fora encontrado até onde ela sabia, mas torcia para ele estar sendo torturado como ela em algum inferno parecido.


Por fim, quando pensou que não suportaria mais respirar, teve sua primeira e única visita. Ela não reconheceu o homem que entrara em sua alcova, portanto, apenas estendeu sua vista até ele, procurando esconder seu estado de pânico.


— Tome. Beba isso, é uma poção de Gran Meistre Pycelle para restaurar suas energias, senhora. — Sua voz era grave, porém macia e sutil. Será ele um aliado? Cersei se perguntava.


— Onde estão meus filhos? Joffrey? Tommem? — Questionou enquanto tomava o elixir.


— Estão vivos. É tudo que posso lhe dizer. — Fez uma pausa e seguiu: — A senhora é acusada de trair seu ex-marido Robert e de assassinar Sansa Stark. — O algoz lhe falou com algum pesar. Talvez ele não acredite profundamente nisso. Foi quando a leoa notou o broche de Mão-do-Rei fincado no peito do homem. — Assuma sua culpa e poderá ver seus filhos.


— Se eu concordar com isso, estarei morta. Na “honrada” Patrulha da Noite não há lugar para mulheres. — Ela afirmou. Poderia ser exilada. Supôs para si, mas negaria-se a tal humilhação também. — Quem é você? — Perguntou à Mão-do-Rei.


— Lorde Davos Seaworth. Temo que não possa lhe dizer que ficará viva. Porém, ao admitir seus atos, a Muralha servirá aos seus bastardos. — Ele prometeu. O Cavaleiro das Cebolas? Cersei já ouvira falar do Contrabandista, que graças ao Veado Usurpador, foi promovido de bandido a cavaleiro. O reino sucumbirá sob o comando de Stannis. Ela pressupôs em silêncio. Enquanto meu pai governar o Rochedo, a vida dos meus filhos legítimos está garantida. Eles não são culpados de crime algum. Stannis não é um assassino. — Ainda que em péssimo estado mental, a leoa não era estúpida a ponto de barganhar o que já estava ganho.


Infelizmente, o cavaleiro não estava disposto a negociar nada e a abandonou na solidão novamente, provocando-a ao sair: — Vamos ver até quando Lorde Tywin governará...


— Espere! Lorde Davos! — Ainda tentou gritar, mas ele realmente tinha saído, então ela rogou: — Tenha misericórdia! Um dia pode ser você nessas celas úmidas.


(…)


Cersei fugia rapidamente. O chão era escorregadio por causa da lama. A penumbra predominava os corredores da masmorra. Ainda há uma chance. Um guarda aparecera no cativeiro, libertando-a e dizendo: “Fuja. Sor Jaime lhe aguarda na saída com cavalos.” E assim ela fizera sem pensar duas vezes. Ele veio me salvar. O amor por seu irmão dera-lhe forças. A poção do Meistre também lhe garantia alguma energia a mais. Pycelle sempre fora um amigo. Ele sabe que os Lannisters pagam suas dívidas. Não encontrou guardas, mas quando chegou no que jurava ser a saída, a porta estava trancada por fora. Antes que pudesse sinalizar para Jaime abri-la, um arrepio veio-lhe a nuca. Olhou pra trás e viu o duende a observando com um olhar maldoso. Um olho de cada cor. Um verde e um azul.


— Sua hora chegou, irmãzinha. Suas maldades não continuarão a existir. — Assegurou.


Ela queria avançar perante ele, atacar com suas garras aquela criatura fraca e deformada que causara sua dor. Todavia, faltavam-lhe forças. Ela caiu de joelhos como se não controlasse seus movimentos. A poção de Pycelle... Tyrion aproximou-se a passos lentos.


— Saiba que não está sendo morta por amar nosso irmão e ter filhos com ele. – Esclareceu impiedosamente. — E sim, pelas inúmeras vidas que tirou na sua sangrenta corte ao longo da última década. Seu reinado termina hoje. — Ela não tinha voz para responder.


O duende caiu por cima de seu corpo inerte, enforcando-a conforme a profecia. Não viu toda a sua vida passar diante de seus olhos, ou o rosto de seus entes queridos, ou até mesmo o dos fantasmas cujo direito Tyrion revindicara. Apenas um breu, um súbito breu.


(…)


Era um pesadelo. Acordada, ela podia ver a verdade. Estavam na praça do Grande Septo de Baelor. O que são todos esses corações em chamas? Perguntava-se diante da nova decoração local. Onde estão as estrelas-de-sete-pontas? A estátua de Baelor, o Abençoado, não segurava mais um cajado e sim um archote. Capas douradas a cercavam. Milhares de plebeus estavam reunidos com tochas, mirando-a com vistas sedentas por seu sangue. Ela estava no meio de uma pira, coberta de um óleo adocicado. Percebeu alguns pós coloridos em certos pontos da armação de troncos. Seu coração batia vivo e forte, ela gritaria se não estivesse amordaçada. Ela fugiria se não estivesse amarrada. Contudo, só pôde ouvir o arauto de seu fim:


— Ó grande Senhor da Luz! Lhe entregamos hoje esta pecaminosa mulher! Queime seus desejos profanos! Purique-a! — A oração vinha da famosa feiticeira do traidor. — Acusada de conspirar contra o irmão mais velho de Rei Stannis, traindo-lhe e gerando bastardos com seu irmão Sor Jaime Lannister. Além de impedir a salvação de sua refém do Norte, envenenando-a. — Finalmente, ela fez uma pausa para respirar. — Oferecemos a vida desta falsa Rainha ao teu julgo, poderoso Rh'llor! Pois a noite é escura e cheia de terrores! Queimem-na! — Ordenou e cada camponês presente fez questão de arremessar seu fogo nos troncos. Alguns ainda tentaram acertar seu corpo, mas apenas a chamuscou.


Arde! Arde demais! A pele começou a derreter. Jaime! Pai! Lancel! Alguém! Seu corpo ainda suportou alguns segundos de fervura, depois debateu-se até o fôlego da vida a deixar.


(…)


Em um lugar cinzento entre o Paraíso e o Purgatório, não encontrou olhares aliados. Um lobo uivou. Sansa Stark.


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Notas finais do capítulo

Espero que curtam! Responderei todos os comentários! :D