O País das Maravilhas escrita por sky0moon, Just Another Dreamer, Just Another Dreamer


Capítulo 16
Funções delegadas




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POV’S Beatriz

Era realmente indescritível estar frente a frente com a enorme criatura que era a Cobra Arco-Íris. Lembro-me de já ter lido muito a respeito em um enorme e mofado livro sobre a mitologia aborígene. Considero uma das mitologias mais interessantes, porém uma das menos populares. Agora me recordo de que antes de me meter nessa história de “País das Maravilhas”, eu estava decidindo o que cursar na faculdade. Giulia (minha mãe adotiva) falou que eu deveria cursar Belas Artes e Michael (meu pai adotivo) disse que qualquer coisa relacionada à História serviria. Eu concordei com História, mas Giulia ficou teimando que eu deveria cursar Belas Artes e eu e Michael tentávamos convencê-la do contrário.

-Não Yingarna, esse não é seu “almoççço”. – disse rispidamente Karen, interrompendo meu raciocínio. – Essas garotas vieram procurar emprego aqui.

-Entendo... Então, achhhho que sssssseria melhor apressssentar me maissss adequadamente. – respondeu Yingarna, a Cobra Arco-Íris.

Após isso, Yingarna começou a refulgir com muita força, e todas nós, inclusive Karen que devia estar acostumada a isso, fechamos nossos olhos. Mesmo com os olhos fechados, era possível ver a luz.

-O que será que está acontecendo? – sussurrou Maria.

-Como se eu soubesse! – ralhou Pietra. – Pergunta para a Srta. Sabe Tudo ou para Karen.

-O que está acontecendo? – repetiu Maria.

-Yingarna está se metamorfoseando. – respondeu Karen.

-Yingarna?! Esse é o nome da cobrona? Que nome mais feio. – disse Pietra. – Ah! Finalmente podemos abrir nossos olhos.

De fato a luz já não estava mais ali. Agora se podia observar como o cômodo em que nos encontramos é grande. Era um cômodo circular com janela em arco por toda a parede curva. O piso era de mármore de um tipo esverdeado, creio que verde Guatemala e as paredes eram brancas. Pelas enormes janelas havia uma vista para o jardim, que até que era bonito, mas haviam rochas demais para meu gosto. No centro da grande sala, estava agora uma mulher alta e imponente, com cabelo nas tonalidades do arco-íris e uma tez pálida que brilhava com a luz do sol. A mulher agora nos encarava com seus enormes e indagadores olhos de um belo azul profundo.

-Então vamos decidir... Onde eu devo colocar vocês... – disse Yingarna, que aparentemente perdera o sotaque com a metamorfose. – Você, ruiva e olhos cinza azulados. – falou com uma voz límpida e bela, apontando para Celine. – Dê um passo à frente.

Celine obedeceu com certo ressentimento. Então a Cobra, não, a mulher deu uma profunda cheirada, acho que posso chamar assim, e disse:

-Será assistente da cozinheira. Nome?

-Celine.

-Sim... assistente de cozinheira. – murmurou Yingarna para si mesma. – Pode voltar. Agora você óculos e cachos. – completou apontando para Maria.

O mesmo se repetiu e ao final Yingarna pronunciou:

-Dama de companhia da Rainha Charlotte.

Então foi a vez da “ruivinha magrela”, Pietra.

-Sim, sim... Governanta do Príncipe Vincent e da Princesa Victoria.

-Como assim “governanta”? Não vim aqui para ser babá de duas criancinhas babacas.

-É isso ou nada! – proferiu friamente Yingarna.

-Tanto faz. – resmungou Pietra.

-Agora você! – disse Yingarna apontando com sua mão elegante para mim. – Um passo à frente.

Fiz isso e ela me “cheirou”.

-Exatamente o que eu precisava! – exclamou alegremente. – Você servirá como minha assistente.

Retornei para junto de minhas irmãs e as observei. Celine estava indiferente, com reprimida empolgação. Ela sempre quis trabalhar como cozinheira ou algo do tipo. Pietra estava indignada por ter se tornado “babá de duas criancinhas babacas”. Sempre temperamental, sempre. Olhei então para Maria, ela parecia ao mesmo tempo com raiva e precisando de consolo, mas estava óbvio que precisava desabafar.

-Por que essa cara? – perguntei a Maria.

-Você não entenderia! – bufou ela em resposta.

-Mas você vai explodir se não contar para ninguém, certo?

Ela bufou mais uma vez e virou a cara fazendo beicinho. Ás vezes a infantilidade delas me assusta.

-Não pensem que isso é tudo. – recomeçou Yingarna. –Vocês começaram imediatamente as suas tarefas.

Ela se virou para nós e caminhou em direção à parede da esquerda. Ela encostou de leve sua mão e um painel com diversos sinos se revelou. Yingarna puxou dois deles e o seu som ecoou suavemente pela sala. Logo foi possível ouvir a aproximação de duas pessoas pelo corredor. As enormes portas de bétula se abriram e entraram dois rapazes. O da direita tinha pele pálida, cabelos de um preto azulado e belos, perspicazes e frios, olhos lavanda. O da esquerda era um pouco mais baixo, o cabelo cor de areia era um pouco mais comprido do que o do outro e um tanto mais desarrumado, e seus olhos cor de mel pareciam bem mais amigáveis que o da direita.

-Philip, leve Srta. Celine até a cozinha. – ordenou Yingarna ao rapaz de olhos amigáveis.

-Sim, senhora.

Enquanto os dois saiam da sala, Yingarna continuou:

-Ashwin, leve a Srta. Pietra até os aposentos do Príncipe Vincent e da Princesa Victoria. – agora se referindo ao dos olhos frios.

-Sim, senhora.

Os dois se retiraram e Yingarna finalizou:

-Por fim, Karen, leve Srta. Maria a Sala do Trono.

-Sim, senhora.

As duas saíram e Yingarna e eu ficamos a sós.

-Bom, vamos ver o que tenho a fazer hoje, ou melhor que tarefa eu posso lhe dar... – murmurou para si mesma. – Já sei! Srta. Beatriz preciso que você organize os livros da minha biblioteca em ordem alfabética. – disse apontando para uma pequena porta lateral. - E depois peça 3 penas , 5 potes de tinta nanquim e 30 velas de cera para Aswhin. Basta chamá-lo pelo Painel dos Sinos e depois você estará dispensada para ir ao seu dormitório. Você deverá chamar Karen para ela lhe mostrar onde ele fica.

-Entendido.

Yingarna se virou para outra porta lateral de uma madeira mais avermelhada, e se foi. Agora tinha que concluir minhas tarefas. Entrei na sala que ela tinha me indicado como sua biblioteca e comecei a interminável tarefa. Quando terminei de organizar tudo, olhei por uma pequena janela e pude ver que sol já estava se pondo. Observei por alguns instantes o poente e fui cumprir minha segunda tarefa. Dirigi-me para o exato ponto onde antes estivera o Painel dos Sinos utilizado por Yingarna. Pressionei suavemente a parede de cerâmica lisa e o painel se revelou. Procurei pelos sinos e logo achei um onde estava escrito “Ashwin” e o acionei. Da mesma maneira os passos foram se aproximando e Ashwin entrou.

-Como posso ser útil? – perguntou-me com uma voz tão fria quanto seu olhar.

-Yingarna precisa de 3 penas , 5 potes de tinta nanquim e 30 velas de cera. – disse-lhe.

-Certo. Irei trazê-los amanhã de manhã.

-Ótimo.

Ele se retirou. Voltei para o Painel e procurei pelo sino de Karen. Esse estava um pouco gasto, creio eu pelo uso constante. Acionei-o e logo Karen estava me conduzindo para meu dormitório. O dia não foi ruim, mas fora cansativo. O que eu mais queria naquele momento era me deitar e talvez ouvir um pouco sobre o dia das minhas irmãs. Muito mais vantajoso estar dividindo um quarto com elas do que com um estranho.

Depois de alguns minutos, chegamos e Karen me deixou. O quarto tinha o tamanho necessário para quatro pessoas dormirem confortavelmente. Eu era a única ali, então sem outra coisa para fazer, me joguei numa das camas e fiquei olhando a noite sem lua pela porta de vidro que dava para uma varanda. Logo adormeci com esperanças de que minhas irmãs não fizessem muito barulho e não me acordassem, se bem que essa hipótese é meio impossível, já que eu tenho sono leve.


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