Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 9
A água mais pura e cristalina...




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Parte I – A Água da Vida

Capítulo 9 - A água mais pura e cristalina...

 

A espada tinha atravessado completamente o seu corpo. O sangue lhe escorria abaixo, maculando suas vestes limpas. A dor era terrível, insuportável. Sentia sua vida se esvaecendo aos poucos, o que aumentava ainda mais o seu sofrimento. Se ao menos pudesse tomar a Água da Vida agora, estaria a salvo. Mas as esperanças já haviam se esgotado. Sabia que não tinha mais salvação.

Por sorte a espada de Engles tinha passado por entre o braço e a barriga de Branca, que ficou com apenas um corte superficial no braço, de onde o sangue pingava, sujando ainda mais as roupas já sujas. Ao contrário do Comodoro, ela continuava firme e decidida, apesar da ferida recém aberta que ainda doía.

A expressão de Engles era um misto de medo e descrença. Sabia o que iria acontecer, mas se recusava a acreditar que aquilo pudesse ser verdade. O grande Charles Engles, pirata mais temido dos sete mares e o novo Comodoro da marinha real inglesa, derrotado por uma amadora e desconhecida. Ele se sentia humilhado, completamente vencido.

Eles se olharam apenas por um instante, mas este lhes pareceu interminável. Era como se o tempo tivesse parado de repente. Engles estava escorado na parede irregular da caverna, por onde ia escorregando devagar e deixando um rastro de sangue por onde passava. Branca puxou sua espada de volta e a guardou, ainda suja, na bainha. Ela não era mais necessária. Pelo menos por enquanto. O Comodoro cedeu, enfim, caindo como um boneco no chão, se esparramando todo. Mas ele ainda tinha os olhos meio abertos, o que, contudo, não significava que ainda pudesse entender alguma coisa. Suas vistas estavam embaralhadas e ele já começava a perder os sentidos. Porém, antes de perdê-los por completo, ainda pôde ouvir com clareza a última frase proferida por Branca:

—Isso foi pelo meu Pai e por toda a dor que você nos causou!

Depois disso, ele não conseguiu discernir mais nada. Seus olhos se fecharam para sempre. Era o fim do Comodoro Engles.

Branca se lembrou, de súbito, da Água da Vida, e de Jack e Barbossa indo atrás dela. Deixou o Comodoro ensangüentado ali caído e saiu correndo para o lado de fora da caverna. Sua vingança estava, enfim, completa.

 

***

 

 Pintel e Ragetti tinham conseguido enganar Lucy na caverna e agora corriam com a Água da Vida nas mãos, tentando fugir. Pretendiam ganhar uma gorda fortuna vendendo o Elixir da vida quando saíssem dali. Lucy, percebendo o que havia acontecido, foi atrás deles e já estava quase os alcançando.

—Mais rápido, seu lesma! Temos que conseguir chegar até o barco para escapar da ilha! – Pintel gritava para Ragetti.

—É... e como é que você pretende passar por eles? – Ragetti apontava, assustado, para centenas de criaturas em forma de fogo que vinham na direção deles.

Eles pararam de correr no mesmo instante. Arregalaram os olhos e afrouxaram as mãos, quase deixando a taça prateada cair no chão.

—Dessa vez vocês não me escapam! Devolvam a Água da Vida agora! – Lucy dizia atrás deles, autoritária.

—Tudo bem, pode ficar com ela! Nós não a queremos mais! Adeus! – disse Pintel apressado, as palavras se embaralhando todas.

Os dois piratas jogaram a taça nas mãos de Lucy enquanto eles recomeçavam a correr na direção de onde tinham vindo. Lucy ficou momentaneamente confusa, até que percebeu o que estava a sua frente.

—Opa...

Ela engoliu em seco e piscou os olhos. Depois, com a Água da Vida ainda em mãos, começou a correr também o máximo que podia atrás de Pintel e Ragetti. 

 

***

 

Jack e Barbossa estavam perplexos. Não conseguiam entender como a ilha podia ter mudado tanto e em tão pouco tempo. A vegetação estava praticamente toda morta. Tudo eram cinzas e destruição. O lugar parecia totalmente tomado pelo fogo que saía do vulcão.

Os homenzinhos de fogo avançavam rapidamente contra os marujos, que corriam desesperados, para tentar se salvar. Um deles tropeçou em um galho seco de árvore, caindo no chão. As criaturas o cercaram. Não se podia saber ao certo o que estava acontecendo com o homem, só se podia ouvir o seu grito terrível de dor e desespero.
Quando elas se afastaram, todos puderam ver um novo homenzinho de fogo que se olhava com espanto. Sim, aquele era  o mesmo marujo que havia sido atacado. Aparentemente, a maldição dos homenzinhos se estendia àqueles que eles conseguiam capturar.

Mas o homem parecia ter se esquecido de quem era, ou do que fazia antes, porque logo ele se juntou aos demais homenzinhos, que continuaram na sua perseguição aos marujos. Estes, por sua vez, ficaram muitos espantados com o que havia acontecido. Temendo ter o mesmo destino do sujeito, recomeçaram a correr, agora com uma incrível determinação, ao mesmo tempo em que gritavam desesperados.

Nesse momento, Branca já tinha alcançado a entrada da caverna.

—Mas o que está havendo aqui? – ela também estava surpresa com aquela mudança toda.

Jack e Barbossa continuavam parados, próximos de onde Branca estava. Jack olhou para o interior da caverna, como se esperasse ver algo mais.

—Onde está o Comodoro? – ele perguntou a Branca.

—Há essa hora, já deve estar chegando nas portas do inferno. Mas não precisa se preocupar porque logo você vai para lá também, para fazer companhia a ele.

—Nós já estamos no inferno, se ainda não percebeu! – ele respondeu, com ironia.

Os homens continuavam a correr. Estava ficando cada vez mais difícil se manter distante daquelas “coisas”, já que elas se moviam com muita rapidez. Naquele momento Pintel, Ragetti e Lucy chegaram correndo e se juntaram aos outros piratas, se misturando entre eles. Lucy entregou a Água da Vida para Branca, enquanto Jack e Barbossa olhavam para ela, incrédulos. Ninguém sabia ao certo como agir diante daquela situação.

Quando os homenzinhos enfim conseguiram alcançar os marujos, foi instalado um caos total. A toda à volta viam-se homens sendo engolidos pelo fogo, sem chance de defesa. O fogo que ia consumindo tudo o que encontrava pela frente, devastando e destruindo tudo. Era como se uma gigantesca manada de bois assustada tivesse sido solta, e ela não poderia ser detida por nada e nem ninguém.

—É o fim dos tempos!!! O apocalipse chegou!!! – gritava um pirata em pânico total.

—E nós vamos nos entregar assim, sem fazer nada? – berrava Branca, fazendo sua voz se sobrepor aos gritos das criaturas.

—E fazer o quê? Não há solução! – respondeu Jack.
 
—Sempre há uma solução! Vamos lutar! – carregada de determinação, ela jogou a Água da Vida nas mãos de Jack e avançou contra os homenzinhos de fogo com a sua espada. O mais importante agora era sair da ilha com vida. Ela cuidaria depois da Água da Vida e de Jack.

Enquanto Branca tentava afastar os homenzinhos com a sua espada, ela ia gritando para os outros:

—Vamos, lutem pelas suas vidas, seu bando de covardes! Afinal, o que vocês são: homens ou ratos?

Incentivados por Branca, eles começaram a lutar também. Mas era uma luta injusta. As criaturas de fogo tinham uma enorme vantagem sob todos os aspectos. As espadas não podiam detê-los, eram totalmente inúteis. Mais homens foram engolidos pelo fogo, indo se juntar a ele. Já tinham perdido muitos homens, e em muito pouco tempo. Não restaria muito até que todos fossem tomados por eles.

Jack observava a Água da Vida, alheio àquela confusão toda. Seus pensamentos estouravam em sua cabeça, enquanto que a Água da Vida repousava tranqüilamente em suas mãos. Não era uma taça grande, mas as suas incontáveis gravuras lhe davam um ar todo especial, como se fosse uma delicada caixinha de jóias que precisava ser decifrada para que seu tesouro viesse à tona. Em todo o seu comprimento, Jack pôde ver claramente imagens gravadas em alto revelo representando figuras humanas que, ora nasciam, ora morriam, em um ciclo inesgotável, de que ninguém podia escapar. A tampa que cobria o seu precioso líquido estava incrustada sobre ela, onde se lia a seguinte frase: “Só a vida vence a morte”. 

 

A frase não podia ser mais clara: tratava-se de uma referência aos seus incomparáveis poderes de derrotar a morte. A Água da Vida. A vida que vencia a morte. Mas será que era só aquilo mesmo? As células nervosas de Jack trabalhavam a todo vapor. Era preciso pensar rápido, não havia muito tempo. Logo a ilha inteira estaria totalmente tomada pelo fogo, e Jack sentia que precisava fazer algo, ou estariam perdidos para sempre.

A maldição era terrível, não poupava ninguém. Gritos... golpes... espadas... o fogo... a dor... tudo era apenas um borrão embaçado e indefinível, onde não se podia discernir mais nada... e ao mesmo tempo, um emaranhado de idéias aparentemente sem sentido passavam pelo cérebro confuso de Jack como um furacão. A Água da Vida... o fogo maldito... a vida que vencia a morte... a água... a vida... o fogo... a morte... água e fogo... vida e morte...

De repente, a compreensão daquela tragédia dramática sem fim passou pelos olhos de Jack como um raio e ele arregalou os olhos, espantado. Tinha entendido afinal. 

 

É claro que a resposta para aquilo tudo só podia estar na água mais pura e cristalina...


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