Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 10
Um final, um começo




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Parte I – A Água da Vida

Capítulo 10 - Um final, um começo

 

 

Jack olhou a sua volta com pressa. O que precisava fazer, tinha que fazer logo. Cada segundo era crucial. No meio dos inúmeros homenzinhos de fogo que se espalhavam atacando os marujos, Jack conseguiu ver quem ele procurava.

Branca tinha caído no chão devido a um golpe fracassado. Um dos homenzinhos já  quase a alcançava e ela não poderia mais lutar, pois sua mão não conseguiria apanhar a espada, caída a alguns centímetros dali. Era a primeira vez desde o início daquela louca aventura que Branca não sabia ao certo o que fazer para se defender. O homenzinho esticou sua mão esquelética deformada pelo fogo, se aproximando do rosto assustado de Branca. A mão já estava quase encostada em Branca, os dedos a milímetros de seu nariz, quando o tiro certeiro disparado por uma pistola ecoou pela mata, levando consigo o braço recém-arrancado do homenzinho.

Tudo foi muito rápido. Um segundo depois do tiro, o homenzinho já estava se esgoelando e correndo atrás do seu braço fujão. Branca franziu as sobrancelhas para o homenzinho, sem entender o que havia acontecido. Depois, se virou para a direção de onde tinha vindo o disparo. Ali, parado a poucos metros de distância, estava Jack Sparrow, com a Água da Vida em uma das mãos e a pistola na outra, de onde a fumaça da pólvora ainda saía lentamente. Com um movimento rápido, ele guardou a pistola novamente em suas vestes e se aproximou de Branca, lhe estendendo a mão direita.

—Jack!? – ela exclamou, enquanto aceitava a mão de Jack e era erguida do chão.

—Venha comigo. Preciso que me dê cobertura – ele falou, sério.

—Cobertura? Mas para o quê?

—Preciso chegar até o topo do vulcão.

—O quê? Você ficou maluco? Isso é impossível! – Branca entendia cada vez menos.

—Acontece que essa é a única forma que temos para sairmos vivos desse inferno disfarçado de ilha tropical.

Branca olhou para Jack, incrédula. Depois olhou para os homenzinhos que atacavam os poucos marujos que ainda resistiam e para a ilha, agora totalmente irreconhecível. Ela não tinha outra escolha. O jeito era acreditar em Jack, ainda que isso custasse a sua própria vida. Jack era a sua última esperança.

—Está bem. Eu vou!

Não tinham tempo para maiores explicações, nem para mais nada. Branca pegou sua espada caída no chão e começou a acompanhar Jack até o vulcão. No caminho, eles iam abrindo espaço entre o fogo e a vegetação morta da ilha. Logo, já estavam na base do vulcão.

—Não podemos subir até lá! A lava é muito quente, ficaríamos sem as nossas pernas!

—Deve haver um jeito! – Jack não desistia.

Ele começou a contornar o círculo quase perfeito que descrevia o vulcão, enquanto Branca continuava achando tudo aquilo uma maluquice. Em um dado momento, Jack percebeu uma trilha, com solo diferente, que chegava até o topo. Então, pegou um galho seco aos seus pés e o jogou naquela trilha. Nada aconteceu. Estava certo, aquele era mesmo o caminho para se chegar na boca do vulcão.

—O que você vai fazer? Jack, me responda, eu preciso saber!

—Só há um jeito de Pará-los...

—E qual é esse jeito?

Jack a olhou nos olhos. Tinha chegado o momento da parte mais difícil: dizer a verdade, tanto para ela, quanto para ele mesmo.

—A única forma de vencer a morte é com a vida. A vida vence a morte, assim como a água vence o fogo, entende? Esse fogo maldito não vai parar enquanto não lutarmos com a única arma capaz de derrota-lo: A Água da Vida.

—Isso é loucura! Viemos aqui para levar a Água da Vida embora, se não de que adiantou nos arriscarmos tanto para chegar até aqui?

—Essa é a grande ironia – Jack deu um sorriso amarelo – chegar até aqui, mas não poder usufruir dos poderes do elixir da vida. É uma armadilha, da qual só escapa aqueles que forem generosos o suficiente para destruir seu sonho de imortalidade em troca da salvação da ilha.

—Mas isso é injusto!

—Muitas vezes o mundo é injusto!

—Deve haver outro jeito! Não vou deixa-lo fazer isso, Jack! Não vou deixa-lo destruir  minha última esperança de salvar o meu pai! – Branca levantou a espada, ameaçando Jack, enquanto ele revirava os olhos.

—Agora não é hora para teimosias! De que adianta salvar seu pai, se você não pode salvar a si mesma?

Branca ia responder, quando a barulheira infernal dos homenzinhos de fogo invadiu seus ouvidos. Ela olhou para eles, com a espada ainda apontada para Jack, depois se voltou para a Água da Vida, encarando-a por um breve instante, enquanto tomava coragem para o que ia fazer.

—Espero que esteja certo, Jack! – disse, levantando os olhos para ele.

Ele lhe respondeu com um sorriso. Depois disso, Branca avançou mais uma vez contra os homenzinhos, ao mesmo tempo em que Jack começava a subir pela trilha do vulcão. Agora, porém, as criaturas estavam mais fortes e Branca não conseguiria mantê-las afastadas por tempo. Aparentemente, a presença do vulcão às fortalecia e fazia com que seus golpes fossem mais violentos. Branca não desistia, lançava golpes com a espada quase ininterruptamente, como se daquilo dependesse sua vida.
A todo o momento, faíscas de fogo surgiam no ar devido ao impacto do metal da espada com o fogo dos homenzinhos.

Enquanto isso, Jack tentava se equilibrar no vulcão ao andar cuidadosamente pela estranha trilha de terra. Por duas vezes, ele se desequilibrou e quase deixando a Água da Vida cair ao chão, mas a importância do que estava fazendo e também o medo de perder a sua vida, o ajudou a se concentrar na tarefa que empreendia.  A cada minuto que se passava, a tensão ia crescendo mais. Aquilo precisava ter um fim, antes que eles acabassem presos para sempre naquela ilha amaldiçoada. Os homenzinhos tentavam desesperadamente alcançar Jack para impedi-lo enquanto Branca tentava afasta-los. Com o canto do olho, ela observava a performance de Jack no vulcão e torcia para que ele chegasse logo até o topo, antes que tudo estivesse perdido.

Há uns dois metros da boca do vulcão, Jack parou para abrir a taça. Mas acabou descobrindo que a tampa simplesmente não abria, não importava o quanto ele a forçasse. Ele ficou meio desesperado com aquilo e tentou forçar tampa contra a sua espada.

—Anda, abre logo! – ele dizia baixinho, mas ainda sem nenhum progresso.

—O que houve, Jack? – Branca gritou lá embaixo.

—A tampa... não abre! – ele respondeu, apontando a taça prateada.

—Tente abri-la com a lava! Vamos logo com isso, eu não vou agüentar por muito mais tempo aqui...

Antes, porém, que pudesse terminar a frase, Branca foi surpreendida por um dos homenzinhos que pulava ao seu encalço. Branca o impediu de se colidir com ele com um movimento, mas sua espada acabou indo parar longe. Agora todos eles avançavam contra ela, que não podia mais se defender.

—JACK! Acabe logo com isso!!! – Branca gritava desesperada para Jack, enquanto corria dos homenzinhos, tentando se afastar deles.

Jack encaixou uma das alças da taça na ponta de sua espada e a aproximou com muito cuidado da lava borbulhante que se espalha perto dali. O calor era infernal. Por um momento, Jack achou que sua cabeça fosse explodir. Não conseguia pensar em mais nada e a única coisa que seus ouvidos conseguiam captar eram os gritos de pânico de Branca, o que o deixava cada vez mais ávido por tira-los dali. Ele não podia falhar agora, se não estaria perdido para sempre. A lava era realmente quente e começou a derreter a tampa da taça ao simples toque. Jack a levantou novamente, com cuidado.

Ao olhar para o seu interior, Jack pôde ver o que tanto lhe instigou a iniciar aquela aventura imprevisível. Seus olhos negros brilharam ao se encontrarem com aquele líquido. Era uma água totalmente diferente de todas que ele já vira. Era pura, cristalina, de uma limpidez e claridade tão intensa que quase chegava a cegar quem a via. De sua superfície brilhante, emanava uma luz áurea hipnotizante. O calor era mesmo terrível. Jack podia sentir seus miolos fritando dentro de sua cabeça, e a única coisa que ele via era aquela luz. Aquela luz tão procurada, mas que agora estava prestes a ser destruída. Mas por que ele faria isso? Por que destruir o seu maior sonho, se ele estava bem ali, à sua frente? Jack não conseguia se lembrar. Estava totalmente embebido pela Água da Vida.

Lá embaixo, Branca corria o máximo que suas pernas podiam suportar, enquanto era seguida de perto pelos homenzinhos. Mas eles eram incansáveis e indestrutíveis. Branca não podia agüentar mais... suas pernas vacilaram e um dos homenzinhos conseguiu alcança-la. Foi quando uma mão esquelética se fechou em torno do seu braço direito, fazendo-a berrar de dor. A sensação da sua pele sendo rompida, sendo violada pelo fogo era terrível. Agora podia sentir que o seu fim estava próximo...

Ainda em transe, Jack aproximava cada mais seus lábios da água desejada. Nada poderia detê-lo agora: tinha o que mais desejava em suas mãos. Podia sentir a imortalidade se aproximando...

De repente, um grito vindo de algum lugar longínquo de seu cérebro fez Jack despertar. Era um grito de desespero, de dor extrema... Jack se lembrou, de súbito, de Branca. Imediatamente, aproximou a taça prateada da boca do vulcão, despejando toda a Água da Vida em seu interior.

 

***


Ela ainda estava deitada no chão com os olhos apertados contra as mãos. Custava a acreditar que ainda estava viva. Há alguns minutos antes, experimentara uma dor tão intensa, tão extrema, que chegava a ser um milagre que ainda estivesse ali. Aos poucos, foi se sentando ao chão, enquanto abaixava as mãos para ver a situação em que se encontrava seu braço direito. A região que homenzinho havia encostado estava em carne viva e ardia como se a pele ainda estivesse sendo queimada. Era um ferimento realmente feio, e Branca tinha a impressão de que ele não ia sarar nunca.

Quando ela se preparava para levantar, percebeu um movimento nas folhagens. Por um momento, achou que os homenzinhos estivessem voltando. Sentiu um grande alívio ao perceber que se tratava de Jack.

—Você conseguiu...

—E parece que você esqueceu isso! – Jack mostrava uma espada totalmente torta e suja de sangue e terra.

—Minha espada – disse, suspirando e analisando a arma nas suas mãos – vou tentar conserta-la...

—Sinto muito... Sei como deve estar se sentindo, mas às vezes, quando uma coisa tem que ser de um jeito, não há nada que você possa fazer para muda-la. Você gostava do seu pai, mas ele morreu e agora é melhor você esquecer isso e continuar a viver a sua vida.

—Esquecer tudo seria querer demais...

Eles ficaram um tempo calados, com o olhar perdido, até que Jack finalmente percebeu a ferida aberta no braço de Branca. Ele puxou o braço para perto de si, quando Branca protestou:

—Hei! O que pensa que está fazendo? – com um tranco, ela se soltou de Jack.

—O que acha que estava fazendo? Tentando dar um jeito nisso!

—Eu posso dar um jeito nisso sozinha! Nunca mais coloque as mãos em mim, e...

De repente, Branca parou de falar e ficou estática.

—O que foi agora?

—E você? Não acha que está esquecendo algo?

—O Pérola!

—Barbossa...

Com um salto, Jack se pôs de pé e começou a correr pelo caminho que sabidamente iria leva-lo até a margem da ilha. Branca foi atrás dele.

Quando chegou até a enseada, foi com um grande alívio que ele avistou o Sr. Gibbs e o Pérola na encosta da praia.

—Capitão! Pensei que estivesse morto! – admirou-se Gibbs.

—Não seria a primeira vez, não é? Vejo que pelo menos desta vez cuidou para que Pérola não se extraviasse – disse, apontando para o navio.

—Pois é... não tirei os olhos dele nem por um instante sequer. Barbossa não teria chance!

Lá atrás, Lucy se lamentava pelo braço de Branca, quando ela gritou:

—E quanto ao tesouro?

—Quanto ao... tesouro? – Gibbs pareceu confuso.

—Sr Gibbs, não me diga que se esqueceu do tesouro – Jack já estava perdendo a paciência.

—Mas... o Pérola...

—Talvez ele ainda esteja lá – disse Branca, se aproximando.

—Vamos conferir! 

***


Agora totalmente desiludidos, eles voltavam a bordo do Pérola Negra. Barbossa tinha mesmo se aproveitado da situação e levara consigo todo o tesouro perdido de Corazón del Fuego, deixando para Jack apenas a taça derretida e o seu sonho de imortalidade destruído.

—Depois de todo esse trabalho, voltamos com as mãos abanando! – disse Branca, pesarosa.

—Realmente, é uma lástima que nossa aventura tenha terminado assim – ponderou Gibbs.

—E quem disse que ela terminou? – perguntou Jack.

—Que quer dizer com isso?

—Quero dizer, meus caros, que a vida, por si só, já é uma aventura cheia de surpresas, pois nunca se sabe o que nos espera mais à frente – Jack concluiu, agora sorrindo.

Postando-se no comando do timão, o Capitão do Pérola Negra fixou seus olhos no mar à sua frente, enquanto entoava, com o ânimo renovado, uma velha cantiga de piratas: 

 Nós somos piratas
Malvados demais
Bebei, amigos, io-ho!



E o Pérola foi se afastando lentamente, rumo ao horizonte que agora se tingia de azul escuro, prenunciando uma noite estrelada e quente. 

 


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