Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 2
Encontro de velhos inimigos




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Parte I - A Água da Vida

Capítulo 2 - Encontro de velhos inimigos

 

O sol já ia alto e lançava seus raios intensamente, castigando os terrestres que navegavam abaixo dele. O mar estava relativamente calmo e suas águas eram balançadas pelo pequeno navio, que desenhava muitas ondas sobre a superfície. Já tinham passados 5 dias desde que zarparam. Branca havia prendido os cabelos no alto da cabeça, em um rabo de cavalo, para aliviar o calor. Ela estava olhando o mar através do parapeito da embarcação, absorta em seus pensamentos, quando Jack chegou e se encostou no parapeito, ficando de frente para ela.


—Parece preocupada com algo. – disse Jack.


Branca o olhou com uma expressão zangada no rosto.


—Quando disse que iria arranjar uma tripulação experiente não imaginei que se referia a três mortos-vivos, bêbados e birutas.


—Veja pelo lado positivo: se houver algum imprevisto, eles não temerão pelas suas vidas e se atirarão à morte certa.


—E com certeza isso fará toda a diferença! – disse Branca ironicamente. – Jack, como pretende achar o tesouro de Corazón del Fuego com um mapa maluco que não diz nada com nada?


—Mas o mapa de São Feng não é maluco. Ele só precisa ser decifrado pelas mãos certas.


—E essas mãos, claro, seriam as suas!


—O destino do Craca já está traçado. A única coisa que me intriga é você. Aparentemente, não está atrás de nenhum tesouro, então diga, o que procura em Corazón del Fuego?


—Não é só de tesouros que vive um pirata, Jack! – tornou Branca, encarando-o. – mas você não entenderia.


—Porque as pessoas sempre acham que sou insensível?


—Talvez porque você não tenha passado pelo mesmo que eu. Às vezes a vida é amarga demais, principalmente com aqueles que não tem ninguém.


—Então nunca teve família?


Branca deu um suspiro de impaciência. Não gostava de falar sobre o seu passado. No entanto, ela respondeu:


—Meu pai era artesão em uma cidadezinha no interior da Inglaterra. Minha mãe o abandonou quando eu tinha apenas um ano de idade e ele sempre se sacrificou para me dar uma boa vida. Aos meus 10 anos ele morreu e tudo que me restou foi Lucy. Ela era nossa empregada e sempre foi muito leal a mim.


—Ainda não entendi porque se tornou um pirata!


—Eu tinha que sobreviver de alguma forma e não é muito fácil arranjar um emprego decente quando se tem dez anos e nada mais que isso.


Nesse momento, quando Jack ia voltar a perguntar, Gibbs gritou a ele:


—Capitão! Estamos nos aproximando do Pérola!


Jack correu para olhar pela luneta e, ao faze-lo, exclamou:


—Mas o que aquele cão sardento fez com o meu navio!?


O Pérola parecia ter saído de uma guerra: seu casco estava repleto de buracos e as velas todas rotas. O mastro principal apresentava uma inclinação para a esquerda, aparentemente provocada por uma rachadura em sua base.


Atraída pela exclamação de Jack, Branca puxou a luneta para si e, ao olha-la, se voltou para ele:


—Assim fica mais fácil tomar o Pérola!


—Não se engane pela aparência, minha cara – retrucou Jack – o Pérola, mesmo em condições desfavoráveis, é capaz das mais altas proezas.


—Tudo o que temos a fazer é ataca-los até serem derrotados. Eles já estão fragilizados, Jack! – tornou Branca.


—É claro que não! A menos que você queira acabar de afundar meu navio.


—O que faremos então Jack? – interveio Gibbs.


—Vou propor um acordo a Barbossa.


—Acordo? E você acha mesmo que isso dará certo? – disse Branca incrédula – Que tal isso: eu finjo que estou insatisfeita com o Craca e sigo a bordo do Pérola. Lá, darei pistas sobre a sua localização e poderemos surpreender Barbossa assim que ele atracar.


—Parece uma boa idéia, mas diga, como saberei que não vai me trair e ajudar barbossa?


—Lucy ficará no Craca, como garantia, não é Lucy?


—Claro Branca – respondeu Lucy.


Jack estava confuso, mas tinha que tomar uma decisão logo, pois estavam cada vez mais próximos. Então, derrotado pelo plano de Branca, concluiu:


—Está bem! Faremos assim então!


Branca sorriu, triunfante. Agora o Pérola estava quase colado ao Craca e Barbossa fazia pose de superior, com seu enorme chapéu de plumas e o macaco Jack em seu ombro. Ao avista-lo, Jack gritou:


—Saudades Hector?


—Jack, seu inseto nojento! Onde guardou o meu mapa? – respondeu Barbossa.


—O mapa não é seu, ele pertencia a Sao Feng. E a pergunta é: o que você fez com o meu navio?


Barbossa parecia furioso:


—Fui vítima de uma emboscada! O Pérola ficou cercado e foi um milagre ele ter sobrevivido ao ataque do Comodoro!


—Comodoro!? Engles você quer dizer? – perguntou Branca, surpresa.


O Capitão Barbossa parecia não ter notado a presença da moça até aquele momento.


—Ora, e quem é essa bela dama? – Quis saber Barbossa.


—Ninguém! É só uma moça que eu ajudei, mas logo já terá partido. Ela não tem importância nenhuma. – Disse Jack ao notar o repentino interesse de Barbossa por Branca e se esquecendo completamente do plano.


Branca olhou Jack de cara feia, como uma cobra prestes a dar o bote, mas tudo o que ela fez foi se voltar para Barbossa toda risonha:


—Na verdade meu nome é Branca Werneck. Sou uma pirata muito ágil e quero fazer parte de uma tripulação que saiba, de fato, o que está fazendo, porque o nosso Craca aqui parece totalmente perdido.


Jack ofegou aborrecido, mas Barbossa, sorrindo para Branca, lhe fez uma proposta:


—Que tal vir comigo no Pérola? Podemos fazer um acordo e dividir os lucros.


—Ela já tem um acordo comigo e ficará no Craca! – Afirmou Jack puxando Branca para trás. Ela sussurrou em seu ouvido que aquilo fazia parte do plano e Jack foi forçado a deixa-la ir.


Quando Branca saltou para o Pérola e se posicionou ao lado de Barbossa, Jack fez menção de se retirar, mas Barbossa o interrompeu:


—Ainda vou querer o meu mapa, Jack!


—Se você me devolver o meu navio!


Barbossa soltou uma sonora gargalhada:


—Ora Jack, acha mesmo que vai conseguir alguma coisa com esses cinco idiotas? Desista, você está em desvantagem!


—Ah, Hector! Parece que você se esqueceu de que está falando com o Capitão Jack Sparrow! O Pérola é meu e vou te-lo de volta.


—Só sob o meu cadáver! Homens, lançar fogo! – gritou Barbossa para seus marujos.


Eles miraram e começaram a atirar no Craca. Incapaz de se defender e com medo de fazer um estrago maior no Pérola, Jack começou a fugir o mais rápido que pôde, mas ele sabia que não era páreo para o Pérola. O Capitão Barbossa berrava para Jack:


—Volte e lute como um homem, seu covarde! Se não vou ser obrigado a afundar isso que você chama de barco!


Mas, nesse momento, a munição do Pérola tinha acabado. Barbossa sabia que o seu precioso navio, debilitado como estava, não agüentaria uma caçada em alto mar. Por isso, ele deixou o Craca se distanciar e começou a traçar um novo curso para consertar e reabastecer o Pérola.

 

***

 

O Pérola Negra era realmente um navio de dar inveja ao mais notável e conceituado  navio real inglês, mesmo sob as circunstâncias em que se encontrava. Muitos homens limpavam o convéns com esfregões, enquanto outros, tapavam os buracos mais urgentes com o pouco de madeira que ainda restava. O Capitão Barbossa olhava pela sua luneta, em busca de algum resquício de terra, quando Branca chegou ao seu lado e foi logo perguntando, sem cerimônias:


—Como o Comodoro soube da localização do Pérola? Me disseram que ele estava a caminho de Corazón del Fuego, não é verdade?


—O novo Comodoro tem suas artimanhas. – respondeu Barbossa, com desprezo – Imagine que ele plantou um espião no Pérola para descobrir meus planos e acabou sabendo tudo sobre a Água da Vida. Agora ele também está atrás dela, mas pelo menos eu acabei com aquele salafrário de duas caras.


—Você disse Água da Vida? O que isso quer dizer? – quis saber Branca, surpresa.


—Ora, ora! Então quer dizer que o nosso Jack não lhe contou nada sobre a Água da Vida? – disse Barbossa, se divertindo.


—Não, ele não contou. – disse Branca, entre dentes.


—Gostaria muito de ficar e discutir esse assunto com você, mas, se me dá licença, ainda tenho que dar um jeito de consertar meu astrolábio que se quebrou durante o ataque do Comodoro.


Barbossa foi se afastando e deixou Branca intrigada e, ao mesmo tempo, furiosa com Jack, porque ele não podia ter escondido aquilo dela. Então, enquanto ela se perdia em seus pensamentos, uma pequena esfera de vidro bateu em seu pé esquerdo. Branca se abaixou para pegá-la e percebeu que se tratava de um olho de vidro. Só então ela se deu conta de que Pintel e Ragetti discutiam abertamente a poucos metros do lugar em que ela estava.


—...pegou sim! Eu sei que você pegou o meu olho! – Ragetti dizia, ameaçando Pintel.


—Não seja idiota! O que eu faria com um olho inútil daquele? – gritava Pintel.


—...vai ver você o pegou só pra me ver procurando enquanto ria pelas minhas costas.


Pintel e Ragetti já estavam a ponto de começar uma briga quando Branca interveio, mostrando a bola de vidro em sua mão:


—Procuram alguma coisa?


—Meu olho! – Exclamou Ragetti enquanto corria para pegar a tão procurada esfera.


—Você devia cuidar melhor dos seus pertences. – disse Branca.


—Mas eu cuido direitinho dele, só não sei porque insiste em desaparecer. – tornou Ragetti, enquanto Pintel lhe fazia uma careta de reprovação.


—O que vocês sabem sobre a água da vida? – perguntou Branca, mudando repentinamente de assunto.


—Ah, sim! Nós sabemos muito sobre a água da vida... – começou Ragetti, mas foi logo interrompido por Pintel:


—Deixa que eu conto a história! – Pintel fez cara feia para Ragetti, depois se voltou para Branca – Dizem que há muito tempo Corazón del Fuego era cheia de minas de prata e os nativos viviam ricamente e cobertos dos mais raros tesouros. Quando os espanhóis começaram a colonizar a ilha, os nativos não se conformaram de verem seus bens serem levados embora a força. Então eles esconderam todos os seus tesouros mais preciosos em um local desconhecido por todos e pediram a ajuda dos deuses pagãos para proteger o lugar em troca de um grande sacrifício. Diante do sacrifício, os deuses lançaram uma maldição sobre o local e nunca mais ninguém soube do tesouro.


—E onde entra a água da vida nisso? – quis saber Branca.


—Eu já ia chegar lá! Diz a lenda que Eru, o grande Deus dos deuses, ficou muito satisfeito com o sacrifício oferecido pelos nativos e lhes presenteou com a água da vida. A água da vida é o elixir da vida, uma água muito pura que é capaz de tornar imortal quem a bebe e também pode  reverter a morte.


—Como assim reverter a morte?


—Ela pode ressuscitar uma pessoa que já morreu, em vez de tornar alguém imortal, desde que se tenha o corpo e seja derramada sobre ele toda a água. É o sonho de qualquer pirata: encontrar a água da vida e, de quebra, levar também o tesouro perdido. Rios de prata estão escondidos naquela ilha e muitos já morreram tentando encontrar.


—O tesouro pode ser real, mas eu não acredito em maldições!


—Isso é porque você nunca esteve em Isla de Muerta! – interveio Ragetti – nós somos a prova viva de que maldições existem!


Branca não disse mais nada. Aquela história toda lhe parecia fantasiosa demais para ser verdade. Mas por outro lado, ela queria acreditar, porque se aquilo fosse mesmo verdade, ela poderia ter esperanças novamente, mesmo depois de tantos anos. Lentamente um novo pensamento foi se apoderando de Branca e ela foi se afastando, com um novo brilho no olhar.


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