Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 1
Acordo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/6685/chapter/1

Parte I – A Água da Vida

Capítulo 1 - Acordo

O céu estava claro e uma leve brisa soprava nas ondas do mar, fazendo-o se movimentar levemente sobre a areia da enseada. Tortuga amanhecera estranhamente calma naquela manhã de setembro. Seus moradores cuidavam de suas atividades, provavelmente aguardando por uma nova confusão mais tarde, como era de costume na ilha, quase sempre protagonizada pelos cruéis e mal encarados bucaneiros do Caribe.



Mas isso tudo não importava agora porque a forasteira tinha outros planos. Entrar em uma briga no lugar onde ela acabara de botar os pés era a última coisa que ela e sua companheira pretendiam. Precisavam buscar informações e nada melhor do que uma taverna repleta de beberrões prontos para despejar suas histórias de marujos para descobrir o curso de um homem cujo único objetivo era afanar tesouros para enriquecer a qualquer custo.



Então, depois de uma caminhada relativamente curta, as duas mulheres pararam repentinamente, e lá estava ele: o famoso Noiva Fiel, com as suas tábuas toscamente emparelhadas que davam sustentação à construção. A moça mais alta tinha a pele branca, apesar das visíveis manchas causadas pela exagerada exposição ao sol. Seus cabelos lisos e despenteados caíam sobre suas costas enquanto as mechas eram levemente agitadas pela brisa, formando uma moldura perfeita para o seu rosto, com o tom de castanho combinando com seus olhos ligeiramente esverdeados. Com um ar de quem sabe o que está fazendo, lançou um olhar penetrante à companheira, lhe deu um sorriso decidido e as duas entraram na taverna.

Apesar de ainda estar muito cedo para a bebedeira, o bar já continha um número de clientes que enchiam metade das mesas. À entrada das mulheres, todos os rostos se voltaram para elas por um instante. A mais alta se dirigiu ao balcão:

—Duas canecas de rum.

Ao que o barman soltou uma risadinha maliciosa.

—Uma senhora dona de uma beleza como a sua devia ter medo de entrar em um bar cheio de homens com segundas intenções.

Agora foi a vez dela dar um sorrisinho desdenhoso:


—Branca Werneck não tem medo de biltres cujo único ofício é beber e caçar tesouros como se não houvesse mais nada de útil na vida! E não se preocupe... Eu sei me defender muito bem – acrescentou pousando a mão na velha bainha de sua espada.

O homem ficou sério e lhe deu as canecas. Branca escolheu uma mesa no centro do bar para poder ouvir melhor as conversas e elas se sentaram. Sua companheira estava meio insegura:

—Mas Branca... Como pode ter certeza de que vamos encontrar uma pista aqui?

—Ora, o homem não pode ter sumido do mapa! E não se preocupe Lucy... Sinto uma mudança nos ventos... – Disse com uma nota de mistério na voz.


As duas permaneceram por algum tempo caladas, como se esperassem por algo. Então Branca ouviu um nome na conversa vizinha que chamou sua atenção:


—... É o que eu estou dizendo! Engles agora é o novo Comodoro.


—Bah, não acredito! Pra mim ele sempre vai ser um maldito pirata.


—Mas ele sempre teve influências importantes, todos sabem disso. – O homem deu um sorriso maldoso – deve ter feito algum serviço sujo a mando do Governador para conseguir o cargo... É a especialidade dele, não é?


Os homens deram muitas gargalhadas enquanto viravam as canecas de rum. Branca se levantou e se dirigiu ao homem que falava, sob o olhar preocupado de Lucy, e perguntou:


—O Senhor disse Engles? Charles Engles?


O homem estava completamente imundo e seu sorriso revelava dentes podres e cariados. Ele examinou Branca por um momento, então respondeu:


—É... foi o que eu disse... a senhorita tem algum interesse nele?


—Digamos que eu tenho umas coisas para acertar com ele... mas então, o Senhor sabe onde posso encontra-lo?


—Bem... dizem que o novo Comodoro pretende ir a Corazón del Fuego para explorar a ilha, ou sei lá o quê! Mas se eu fosse a senhorita, esquecia Engles. Ele não é bem o tipo de homem que se pode chamar de cavalheiro, se é que me entende.


—Cavalheiro? – Branca soltou uma risada debochada – Não é pra isso que procuro Engles! Está pra nascer o homem que vai poder me chamar de sua!... Mas de qualquer forma, obrigada pela informação – e se dirigindo à amiga – Vamos Lucy!


E as duas saíram do bar, após jogarem sobre o balcão uma moedinha para pagar o rum que elas não tinham bebido.

***

Não muito longe dali, em alto mar, podia-se ver um navio não muito grande. Ele estava bem conservado, apesar das marcas de combate que revelavam já ter passado por muitas aventuras. O nome Craca estava gravado na popa com letras rebuscadas. Dentro dele, dois homens discutiam:


—Decididamente não, Sr. Gibbs! Preciso recuperar o Pérola antes de qualquer coisa.


—Mas Sr.! Será muito mais fácil depois que já estiver com a água da vida. Então o Capitão Barbossa não poderá fazer nada!


—Eu já lhe disse Sr. Gibbs. Precisamos de um número significativo de homens para pegar a água da vida... a ilha é protegida por magia!


—Mas... que tipo de magia?


—Eu não sei! E é exatamente isso que me preocupa. Portanto vamos para Tortuga, arranjamos uma tripulação decente e em seguida tomamos o Pérola do Capitão Barbossa e seu bando de patifes.


—Mas eu ainda acho que...


—Sr. Gibbs!!! Eu sou o Capitão desse navio, e como tal decido o curso que vamos percorrer. E de qualquer forma, já estamos chegando em Tortuga.


—Está bem! Está bem Jack! Você sempre faz do seu jeito mesmo.


Então o Capitão Jack Sparrow fixou seus olhos negros na linha do horizonte, que agora estava tingida com uma linha marrom indicando terra. E ele sorriu, deixando os dentes à mostra, pensando no que iria encontrar dali para frente. O pequeno Craca finalmente tinha chegado ao seu destino e eles atracaram...

***

Branca estava radiante com o que tinha conseguido na taverna. Mas Lucy parecia apreensiva:


—O que vamos fazer agora Branca? Não podemos simplesmente ir a Corazón del Fuego a nado!


—Lucy, o mais difícil nós já conseguimos! Tenho certeza de que vai aparecer um meio para nos levar até lá.


—Como Branca? – Disse Lucy desanimada.


—Bem... eu não sei... – Branca ficou momentaneamente confusa, mas então tomou uma resolução – primeiro vamos procurar algo para comer, estou morrendo de fome!


E as duas caminharam até a pequena feira comercial que havia perto da praia. Mas ao chegarem em uma barraca de frutas, um homem enorme que chegava a uns bons dois metros de altura agarrou o braço de Branca e a puxou para perto de si:


—Olá, boneca! Que tal dar um passeio pela orla da praia com o papai aqui?


—Você está maluco? Não sairia com um brutamontes como você nem por um baú inteiro de ouro! Me largue! – disse Branca, se desvencilhando do sujeito.


Ela recuou um passo e sacou sua espada com uma velocidade incrível. Apontando-a para o estranho, disse:

—Agora você vai aprender o que acontece com quem se mete a engraçadinho comigo!


O homem soltou uma longa gargalhada e em seguida, disse:


—Me desculpe, eu não luto com mulheres. Seria muito injusto, sabe? Eu acabaria com você num segundo!


—Pois então é uma pena, porque você vai morrer e eu não vou precisar de muito esforço para isso.


O homem a olhou como se nunca tivesse visto nada parecido. Então ele também sacou sua espada e a encarou por um momento:


—Se você insiste! Mas será uma pena ter que cortar um pescoço tão lindo quanto o seu.


As pessoas já tinham formado um pequeno aglomerado em volta dos dois e Lucy olhava aflita para Branca, mas esta fez sinal para que esperasse. Entrementes, na praia logo atrás da feira, o Capitão Jack Sparrow e seu fiel companheiro desembarcavam do Craca. Jack logo percebeu o tumulto:


—Mas o que é aquilo? Agora também temos brigas em feiras?

—Parece uma mulher Capitão!

—Vamos conferir...


Os dois se aproximaram para ver melhor. Enquanto isso, a espada de Branca cruzou com a do sujeito e eles começaram a duelar. Branca empunhava a espada com facilidade e seus movimentos eram precisos, mas ela não parecia páreo para a tamanha força despendida pelo seu oponente.


Branca se movimentava para frente e para trás com um jogo de pés perfeito. Ela parecia dançar sobre o chão repleto de restos podres de frutas. Jack a observava com interesse. Nunca tinha visto uma mulher empunhar uma espada com tamanha habilidade. O brutamontes parecia incansável e lançava golpes quase ininterruptamente, mas Branca desviava de todos, pulando nas tábuas soltas e nas pedras sobre a areia. As frutas da barraca voavam para todo o lado, fazendo as pessoas recuarem. Depois de algum tempo, o oponente de Branca vacilou cansado.

Ela se aproveitou da falha e, sem perder tempo, transpassou o peito esquerdo do homem, que caiu no chão fazendo-o tremer com o seu peso anormal. Antes do homem sucumbir, Branca o olhou de cima e disse:


—Isso é o que acontece com quem tenta se aproveitar de Branca Werneck!


Então o sujeito apagou no chão, Branca se virou e começou a se afastar. Jack parecia impressionado com o que presenciara e ficou vendo Branca se afastar. Sem tirar os olhos dela, disse:


—Parece que encontramos o nosso homem Sr. Gibbs!


Após aquele instante, Jack tomou uma decisão e correu atrás de Branca, seguido de perto por Gibbs.


—Ei! – gritou Jack – Moça?... Branca, não é?


Branca se virou para ver quem a chamava:


—Sim!... e você...?


—Capitão Jack Sparrow. – disse, fazendo uma dramática reverência.


—Ah, sim! O Capitão do Pérola Negra! – ela o examinou de cima a baixo, curiosa.


—Eu mesmo! É difícil quem não conheça as minhas histórias! – Jack sorriu orgulhoso, mas Branca não parecia muito entusiasmada.


—Pois eu acho que elas são fantasiosas demais para terem um pingo de realidade. E sabe que é curioso? – acrescentou dando uma olhada a sua volta – não vejo nenhum navio imponente e com velas negras por aqui, a menos, é claro, que você o tenha ancorado em alto mar e chegado a nado em Tortuga.


Jack ficou desconcertado por um momento, mas se aproximando mais de Branca, lhe disse, baixando a voz:


—O Pérola se encontra temporariamente em outras mãos. Mas eu vou recupera-lo logo.


Branca riu.


—Se você acha que consegue, vai em frente... mas afinal, porque me chamou?


—Ah, sim! Eu vi a sua habilidade com a espada quando derrotou aquele homem...


—Ele mereceu! Não se trata uma mulher como um animal! – disse Branca furiosa.


—Certamente que não, senhorita! Mas, sabe... Você me seria muito útil. Poderíamos ir longe com a sua habilidade e a minha experiência. Pense no que conquistaria: ouro, prata, poder! Quem sabe até se tornaria a Rainha dos sete mares!


—A sua proposta é tentadora... mas não estou interessada em me tornar rainha do que quer que seja. E se me dá licença, ainda tenho coisas a fazer...


Ela se virou e começou a se afastar com Lucy, mas então Jack disse:


—É uma pena! Com você seria mais fácil conquistar o tesouro perdido de Corazón del Fuego.


Branca parou de sofre ao escutar o nome da ilha. Lançou um breve olhar a Lucy e virou novamente para Jack:


—Corazón del Fuego? O que pretende lá?


—Eu já disse: conquistar o tesouro perdido.


—Interessante!... Sabe, acho que mudei de idéia...


—Ótimo! Então prepare suas coisas que dentro de três dias eu terei conseguido uma tripulação experiente e zarparemos no Craca para...


—Espere!... eu e Lucy faremos parte de sua tripulação... mas sob duas condições...


—Condições?... e quais são essas condições?


—Bem... eu e Lucy somos mulheres... moças... estou vendo que o seu... navio tem um tamanho limitado e nós precisaremos ficar com a cabine do Capitão.


—Eu acho que posso ceder a minha cabine... - respondeu Jack sorrindo – e a outra condição?


—Ninguém me dá ordens.


—Mas eu sou o Capitão! Naturalmente, terá que fazer o que eu disser.


—Sr. Sparrow, eu farei o que for preciso fazer... mas ser Capitão não é o suficiente para me controlar, entendeu?


—Sei!... bem... se é assim... que seja então! – disse Jack aborrecido.


—Então temos um acordo? – falou Branca estendendo-lhe a mão.


—Sim, acordo! – Jack respondeu com um sorriso e um aperto de mão – e não se esqueça de estar aqui dentro de três dias.


—Eu não costumo esquecer os meus compromissos... Até logo, Jack!


—Até mais, amor! – respondeu Jack enquanto Branca se afastava. Ela deu de ombros e disse, se distanciando:


—E não me chame de amor! Meu nome é Branca!


Enquanto observavam as duas irem embora, Gibbs se voltou para Jack:


—Não acha que ela é metida demais? Pode causar problemas!


—Não se preocupe Sr. Gibbs, eu posso domar a fera. – respondeu Jack sorrindo, com os olhos ainda em Branca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!