Os Algoritmos de Anthony Gregory escrita por MadScientist03


Capítulo 4
Amigos


Notas iniciais do capítulo

[REVISÃO DO CAPÍTULO ANTERIOR]: John e Bernardo discutiram sobre o novo projeto, o Neurocomputador. Para testar seus futuros conhecimentos no caratê, John participará da competição interclasses que será realizada dentro de dois meses. No colégio, John fica confuso após ser abraçado por Beatriz depois de se desculpar com a menina. Afinal, o que foi aquilo?



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― Depois que me desculpei ela me abraçou e foi embora ― dizia John Dias.

― Só isso? ― perguntou Bernardo.

― Só isso.

Os dois estudantes andavam pela calçada de concreto do campus, indo em direção ao laboratório. As aulas do dia já haviam terminado. Passara do meio-dia. Eles tinham acabado de sair do refeitório. Bernardo reclamou dizendo que a “tia da cozinha” sempre colocava uma porção maior no prato dele. “Isso é indireta dela, tenho certeza!”. Depois o assunto mudou, quando Ben perguntou sobre a Beatriz.

― Posso perguntar duas coisas? ― disse Bernardo.

― Pode. Qual é a segunda? ― John olhava para frente. Estavam passando pela quadra de esportes.

― Você sente alguma coisa por ela?

― Não.

― Talvez ela goste de você, sabe? ― Ben não obteve uma resposta.

Chegando ao laboratório, John bate na porta. Ela revela seu professor usando seu jaleco trivial. Reparou o quanto Victor era alto, devendo ter algo em torno de um metro e noventa de altura.

― Era exatamente quem eu precisava ver! ― disse Victor ao olhar para John com uma expressão de satisfação. ― Quem é você? ― perguntou olhando para Ben.

― Bernardo Tavares ― respondeu Ben esticando o braço para o professor ― Sou seu aluno, professor!

Victor olhou fixamente para o rosto de Ben com seus olhos azuis atrás das lentes. Ele apertou firmemente a mão de Bernardo, sem parar de encarar o rapaz. Bernardo já estava forçando a sua mão para trás, pois Victor a apertava muito forte.

― Certo ― o professor disse firmemente. ― Entrem!

O laboratório estava bem frio. O ar condicionado estava ligado. As paredes cinza davam ares escuros ao cômodo. Victor ofereceu café aos garotos que recusaram por terem acabado de almoçar. Os dois foram encaminhados até o sofá onde se sentaram. O tecido estava gelado. Era todo revestido de couro. Victor puxou uma cadeira para próximo dos rapazes e sentou-se defronte para eles segurando sua caneca de café.

― Acho que esse é um momento oportuno para começarmos nossa primeira reunião oficial do NEEF! ― Victor disse tomando um gole de café.

― Mas a Kalina não está aqui! ― disse John.

― Na verdade ela está na outra sala ― disse apontado para a porta ao lado. ― Falando nisso, querem ver algo engraçado?

Victor se levantou e se aproximou de uma porta que estava à direita do sofá.

― Kalina! ― gritou com sua voz produzindo um som nasal.

― CALA A BOCA! ― a voz da menina gritava sendo abafada pela porta. Victor ria de forma peculiar e corriqueira.

John e Bernardo ficaram com os olhos arregalados e paralisados com a situação.

― Eu amo essa garota! ― declarava Victor mantendo o mesmo tom de voz. ― Se ela tivesse nascido quinze anos antes, eu casava com ela!

A porta foi aberta rapidamente.

― VICTOR! ― Kalina rangeu os dentes. Estava usando o uniforme do colégio. Ela segurava a maçaneta encarando o professor demonstrando sua raiva. Seus olhos brilhavam por causa das lágrimas. ― VOCÊ... ― ela parou de falar quando viu John. No mesmo instante sua expressão mudou. A menina ficou assustada com os olhos arregalados. Rapidamente ela entrou de volta para a sala batendo a porta.

Victor continuou rindo, tendo sua mão livre abraçando suas costelas. Ele se virou para os garotos com um sorriso no rosto.

― Você a conhece há menos de um dia e ela já está desse jeito? ― John não disse nada, pois ainda estava chocado. ― Vai falar com ela, Bartolomeu!

Bernardo deu uma cotovelada no braço de Dias, fazendo sinal para que ele obedecesse ao professor. John tirou a mochila das costas enquanto se levantava e a deixou no lugar onde estava sentado. Foi andando lentamente até a porta. Girando a maçaneta, a porta revelou o quarto que estava mais bagunçado que da última vez que John havia estado lá. Kalina estava sentada em uma cadeira com os cotovelos apoiados sobre a mesa. A luva robótica estava na frente dela, assim como algumas ferramentas mecânicas. Dias se aproximou lentamente. A menina tinha suas mãos no rosto.

― Aconteceu alguma coisa? ― perguntou John em um tom baixo.

Kalina fungou o nariz.

― Desculpa! ― disse com uma voz quase inaudível, ainda cobrindo o rosto com as mãos. ― Não sabia que era você!

John puxou uma cadeira para perto dela. O garoto demorou um pouco para dizer algo. Estava assustado. Ficou pensando por um tempo tentando entender o que ela queria dizer. Foi quando a imagem de Enzo no dia anterior veio à sua cabeça. Agora a situação parecia mais clara para John Dias. Ele entrelaçou os dedos e olhava para as próprias mãos.

― Você não precisa se desculpar. Não é culpa sua.

Naquele momento veio à mente de John um ocorrido do ano passado. Bernardo e ele já dividiam o mesmo quarto no dormitório, mas não eram amigos, apenas colegas de quarto. Contudo, quando John viu Ben sendo agredido verbalmente no pátio do colégio por três garotos do terceiro ano, ele se colocou entre eles. Os instintos de Dias falavam mais alto. Já com o punho formado em sua mão, ele socou o rosto do mais alto dos garotos: Enzo Pazini. O rapaz tropeçou para trás, mas foi segurado pelos outros dois garotos para não cair. Esticando sua perna, Enzo chutou John no peito com a sola do seu sapato. Dias foi jogado para trás. Sua cabeça se chocou contra a beirada de um banco de mármore, fazendo o garoto ficar inconsciente no chão. Depois desse dia, John entrou em coma. Ficou hospitalizado o resto do ano. Não fez as provas no final do semestre. Não prestou o vestibular para a universidade que ambicionava. Ele acordou no início do ano seguinte e descobriu que havia reprovado.

― Mesmo assim! ― continuou Kalina. ― Mesmo assim, me desculpa! ― ela tirou as mãos do rosto, secando as lágrimas. Seus olhos estavam vermelhos. Olhava para os objetos sobre a mesa, evitando encarar John. ― No ano passado, meus pais receberam um telefonema do ocorrido. Que Enzo havia provocado um acidente no colégio. Quando fiquei sabendo de toda a situação com detalhes, fiquei muito chateada com ele. Eu não queria mais falar com meu irmão. ― Kalina soluçou. ― Com o tempo fui perdoando ele. Mas não parava de pensar no garoto que estava em coma. Sentia-me responsável, afinal. Quando descobri que ele havia reprovado, fiquei muito mal. Lembro-me de ter chorado em algumas noites antes de dormir. ― Kalina sorriu. ― Chorar por alguém que nem mesmo conhecia. Sei que parece estranho, mas eu sou assim.

John passou a encarar Kalina. Ele estava feliz. Saber que alguém se preocupava com ele sem esperar nada em troca era, sem dúvidas, muito satisfatório para o garoto. Mesmo que ela não o conhecesse. Além de seu pai e Bernardo, não podia imaginar outra pessoa que faria aquilo.

― Quando cheguei em casa ontem, perguntei ao meu irmão o que havia acontecido. O clima entre vocês estava estranho, sabe? Foi quando ele me disse quem você era. Fiquei com raiva de Enzo por causa do comentário rude dele. Mas não parei de pensar em como você estava se sentido depois daquilo ― ela finalmente olhou para Dias. ― Vê-lo novamente deve ter trago a você sentimentos ruins, não é verdade? Me perdoe, John!

―Do que você está falando? ― John disse se levantando. ― Você não tem culpa de nada. Não tem que pedir desculpas. Aliás, ninguém tem culpa de nada. Não há motivos para desculpas. ― a expressão de Kalina mudou. Os olhos dela brilhavam por causa das lágrimas. A menina olhava para John com uma fisionomia tranquila. ― Não é como se Enzo quisesse que eu repetisse. Foi tudo um acidente. Bernardo me contou tudo o que aconteceu. Depois que caí, todos se retiraram do local, exceto Ben e Enzo, que me carregaram até a enfermaria.

― Ele nunca me contou isso! ― Kalina estava surpresa.

― O motivo por ter ficado daquele jeito ontem... ― John deu uma breve pausa. ― Vê-lo me trouxe lembranças. Sensações desagradáveis que não superei. Medo. Impotência. Sentimentos que apenas quem está para se formar consegue entender.

Um silêncio se fez na sala. Ambos se encaravam. De repente Kalina abaixa os olhos, mirando alguma coisa atrás de John. Ela esticou o braço e apontou. John virou para ver o que era. Victor estava com metade do corpo para dentro da porta olhando para os dois. John o encarava erguendo uma sobrancelha e abaixando a outra.

― Então, já podemos começar nossa reunião? ― perguntou Victor.

― Sim! ― Kalina disse levantando da cadeira forçando um sorriso e secando as lágrimas. Ela apanhou uma mochila que estava ao lado de sua cadeira. Era diferente da bolsa que ela usava no dia anterior. ― Só queria me trocar antes. Com licença!

Ela seguiu para a porta. Victor deu passagem para a garota sair. Ela entrou em uma porta que ficava defronte para a sala em que John e o professor estavam. Victor e John saíram da sala. Dias retirou sua mochila do sofá e se acomodou em seu lugar. O professor puxou uma cadeira e colocou ao lado da sua.

― Aqui, Sr. Tavares! Você é apenas um convidado! ― o ruivo falou dando tapinhas no assento. Ben obedeceu.

― Ela está bem, John? ― Ben perguntou enquanto se sentava.

― Acho que está um pouco melhor.

Os três ficaram em silêncio por alguns minutos. O único barulho que se ouvia era do ar condicionado.

― Desculpem a demora! ― disse Kalina saindo pela porta. A garota estava de meias vestindo uma calça marrom volumosa com vários bolsos. Usava uma camisa branca notavelmente surrada. Sobre toda roupa ela vestia um jaleco branco. Seus olhos ainda estavam inchados, mas estava sorrindo. ― Me sinto melhor usando essa roupa!

Ela se acomodou no lugar vago ao lado de John.

― Perfeito! ― disse Victor se levantando. ― Vamos dar início com as apresentações. Sou o Dr. Victor Beaumont. Trinta e cinco anos. Leciono Física no Colégio Mendes. Concluí meu mestrado e doutorado no ITF. Sou chefe do laboratório NEEF. Agora você! ― disse apontando para Ben.

― Mas eu não sou membro! ― justificou Bernardo.

― Mas está aqui! ― Victor sentou no seu lugar. ― Comece!

― Prazer! ― disse Ben se levantando. ― Sou Bernardo Tavares. Dezessete anos. Estudo no Colégio Mendes. ― Fez uma breve pausa tentando se lembrar de algo mais importante para dizer. Então sentou.

― Boa tarde! ― disse Kalina se levantando. Sua longa trança balançou com o movimento brusco. ― Sou Kalina Pazini. Dezessete anos. Sou estudante do Colégio Mendes e membro do NEEF. ― ela se sentou.

― Sou John Bartolomeu ― disse se levantando. ― Dezoito anos. Estudante do Colégio Mendes ― ele se sentou.

― Vamos agora para o Neurocomputador ― começou o professor. ― Já começaram a fazer algo?

― Na verdade, não. ― disse Kalina.

― John e eu começamos a discutir algumas coisas. ― Ben tomou a palavra. ― Eu concordei em ajudar com a programação, se estiver tudo bem para vocês.

― Kalina? ― Victor pedia a opinião da menina.

― Não vejo problema. Aliás, acho que prefiro assim! ― ela respondeu.

― Então está decidido! E já possuem data para a apresentação do projeto?

― Daqui a dois meses, na competição interclasses!

― Como? ― o professor questionou.

― Ben planeja utilizar o Neurocomputador para ensinar caratê. ― John respondeu. ― No caso, eu demonstraria o projeto na competição de artes marciais.

― Você pretende lutar no interclasses? ― Kalina virou para John com um tom de surpresa.

― Pretendo ― o garoto respondeu lentamente.

Victor começou a rir produzindo um som similar a um motor de carro velho.

― Interessante! ― dizia o professor entre as risadas. ― Muito interessante! Eu apoio! Ou melhor, exijo que seja assim! ― e continuou rindo.

Kalina parecia aflita, mas não disse mais nada. Quando Victor terminou de rir, ele tomou novamente um gole de café. Sentava na cadeira com as pernas abertas de forma despreocupada. Ben e John estavam com as pernas fechadas. Procuravam ser o mais formal possível. Victor voltou a falar:

― Está decidido. Kalina e John construirão o Neurocomputador e Ben irá configurá-lo da maneira que for necessária! E quando pronto, veremos os resultados no interclasses! Todos de acordo? ― Os três acenaram com a cabeça, mas Kalina ficou olhando para o chão. ― Então podemos ir para o próximo tópico. Em relação aos horários das atividades no laboratório: todas as terças, quintas e sábados, depois da aula. Terão os mesmos horários. Estarei aqui durante toda a semana, exceto aos domingos, portanto, podem vir quando quiserem. Mas esses dias são obrigatórios! ― John acenou com a cabeça. Bernardo estava de braços cruzados olhando para Victor e Kalina olhava para seus pés. ― Em relação aos uniformes, eu gostaria que você se sentisse a vontade de se vestir da maneira que achar melhor. Contudo, deve usar seu jaleco. Kalina! ― ele chamou a menina que rapidamente levantou o olhar para o professor.

― Sim! ― ela respondeu se levantando e indo até a um armário. Ela abriu as portas e começou a passar a mão dentro dele. ― Acho que este caberá em você. ― Ela puxou um jaleco branco. Fechou as portas e entregou a roupa para Dias. ― Experimente!

Ele levantou e vestiu. O Jaleco batia mais ou menos em seu calcanhar.

― Ficou ótimo! ― disse Kalina.

― O jaleco é indispensável no laboratório! ― disse Victor. ― Mas pode levá-lo contigo, é seu!

― Obrigado ― disse olhando para sua roupa e se sentando logo em seguida. Kalina também se sentou.

― E para finalizar, gostaria de falar sobre o nosso trabalho no NEEF ― o professor se levantou bebendo um gole de café. ― Quando Anthony faleceu, ele deixou para o mundo um diário com anotações de projetos inacabados. O paradeiro do diário é desconhecido, mas alguns dos projetos estão disponíveis em um fórum chamado @JAG ― John e Ben trocaram olhares. ― Lá vocês podem achar algumas orientações do projeto. É desse fórum que tiramos as nossas pesquisas ― tomou mais um gole do café.

― E quem é o moderador? ― perguntou Ben. ― Poderiam tentar localizá-lo.

― São vários moderadores ― Kalina respondeu. ― Acho que já tentaram rastrear as mensagens, mas parece que eles as enviam de vários lugares diferentes e de aparelhos diferentes. As poucas pessoas que acessam o @JAG preferem respeitar o anonimato.

― Exatamente ― disse Victor. ― Mas não precisamos nos atentar a isso. Pelo menos não agora ― ele se levantou. ― Alguém quer dizer mais alguma coisa? ― ninguém se manifestou. ― Certo! Reunião encerrada! Agora, de volta ao trabalho. ― Victor bebeu o resto do café em sua caneca e se dirigiu à sua mesa.

― Eu vou indo, John! ― Bernardo se levantou. ― Acho que vocês têm trabalho a fazer e eu preciso voltar ao trabalho.

― Ok. Até depois! ― disse Dias se levantando.

― Tchau, Ben! ― Kalina disse levantando e abraçando o rapaz.

Bernardo deixou o laboratório. Indo para a sala ao lado, os dois começaram a trabalhar. Segundo as informações fornecidas por H@mster42, era possível aproveitar algumas partes de um computador para montar o computador primário. Kalina pediu para John desmontar o gabinete de quatro computadores que estavam na sala, removendo todas as peças. Enquanto isso, Kalina fazia a lista dos materiais que faltavam no laboratório para montar o computador primário. A base do computador primário era um dos gabinetes. No final do dia, as peças já haviam sido removidas e a lista de materiais já havia sido entregue a Victor. John e Kalina “aumentaram” o interior do gabinete soldando algumas placas metálicas nas suas arestas. Tiveram que fazer algumas fendas nas placas, de acordo com as orientações de H@mster42. Com o site, a apostila não parecia ser muito útil. Dias parecia uma criança mexendo nas ferramentas, o que forçava Kalina a ensiná-lo a manusear os instrumentos. Ela não reclamava. Segurava na ferramenta junto com o garoto para ajudá-lo. O perfume dela era agradável. John ficou com vergonha, pois se sentia sujo e fedendo.

― Mas você é um garoto! ― dizia ela rindo. ― Isso não é um problema grave para você.

― Não deveria ser para as garotas, também. Afinal somos todos humanos!

― Eu concordo. Mas acho que não serei capaz de mudar essas construções sociais. Não me convém fazer isso.

Eram por volta de umas 18 horas quando eles acabaram. Deixaram a sala do jeito que estava. Antes de sair se despediram de Victor que estava apenas aguardando os dois para fechar o laboratório e ir para casa.

― Leve ela até os portões, Bartolomeu. Seja um cavalheiro! ― advertiu o professor.

Estava escurecendo lá fora. Os postes de luz ao longo do campus estavam acesos. Não se via quase ninguém lá fora. Viram um adolescente jogando basquete sozinho na quadra de esportes. Passaram por três jovens que conversavam em um banco de mármore. No estacionamento próximo ao prédio do colégio havia dois carros parados. John e Kalina ainda vestiam seus jalecos. Os dois chegaram ao portão de entrada de metal gradeado. Passaram pelo segurança que estava na portaria e foram até a calçada.

― Achei que Victor foi um pouco indelicado com você, hoje mais cedo. ― disse Dias.

― Não se preocupe com isso ― ela disse rindo. ― É o jeito dele e já estou acostumada. Fico com raiva às vezes, mas faz parte de trabalhar em equipe. Até amanhã, John! ― ela foi se afastando. John acenou com a mão em despedida.

Quando a menina saiu do seu campo de visão ele entrou no terreno do colégio. Com as mãos enfiadas no bolso e com apenas uma alça da mochila nas costas, ele foi caminhando lentamente pela calçada de concreto do campus. Ele seguia o mesmo caminho que acabara de fazer com Kalina, porém se dirigiu ao ginásio. Abrindo as portas, entrou em um grande salão com uma arquibancada do seu lado esquerdo. O piso era liso e tinha cor de madeira clara e polida. Havia uma trave de futsal em cada lado do salão. O espaço era utilizado para eventos importantes, ou quando o tempo do lado de fora estava inapropriado para atividades esportivas. A quadra do lado externo era voltada, na maioria das vezes, para atividades livres. Havia janelas próximas ao teto. No lado direito havia um par de portas que levava a um corredor que dava acesso à piscina. O motivo pelo qual John se encontrava naquele lugar estava chutando uma bola várias vezes para dentro da rede.

Eric, o inspetor, era o único funcionário que morava no colégio. No final do dia, ele praticava alguns esportes no ginásio. Poucos sabiam disso. Seus chutes, os impactos da bola e a sola do seu pé arrastando no chão ecoavam por todo o salão. John foi até a arquibancada e depositou sua mochila lá. Foi se aproximando do homem que tinha uma pele alaranjada. Usava quase sempre os mesmos tipos de roupa: camisa polo, calça jeans e tênis esportivos. Dessa vez vestia uma regata branca com vários furos que faziam parte dos detalhes da peça de roupa. Usava uma calça de treino azul marinho, mas continuava com o tênis do estilo. Dias foi se aproximando dele quando Eric estava indo pegar a bola dentro da rede.

― Boa noite! ― cumprimentou o rapaz.

― Jovem! ― disse Eric olhando para o garoto enquanto pegava a bola. ― É estranho ver você aqui. Estaria interessado em praticar uns pênaltis?

― Eu não gosto de futebol ― John coçava a cabeça.

― Entendo. Você é parado demais, não é mesmo? É um daqueles loucos que fica na frente de um computador o dia todo, não é verdade? ― Eric colocou a bola embaixo do braço e foi apertar a mão de John. ― Vi você chegando cedo na aula hoje. Está criando disciplina, Jovem?

― Mais ou menos ― ele soltou a mão. ― Eu queria te pedir um favor.

― Sério?! E o que poderia ser? Seu gorro eu não devolvo! ― disse com uma voz áspera.

― Não é nada disso! O interclasses é daqui a dois meses, então preciso me preparar fisicamente para a competição.

― Interclasse? ― Eric disse com um tom de surpreso. ― Isso é novidade, viu? E vai competir em que?

― Artes marciais ― John respondeu parecendo um pouco tímido. Eric começou a rir.

― Entendi! ― disse o inspetor com um sorriso no rosto. ― Eu fui militar na embaixada durante alguns anos. Isso antes de virar professor de Ed. Física. Mas eu nunca pratiquei nenhum tipo de luta, rapaz...

― Não preciso que me ensine! ― Dias falou rapidamente. ― Minha preocupação é apenas o preparo físico. Como você disse, sou muito parado.

Eric ficou encarando John por alguns instantes. Ele colocou a bola no chão e a chutou na direção da arquibancada.

― O que vai lutar? ― perguntou o inspetor.

― Caratê.

― Quando se pratica uma arte marcial é comum o preparo físico vir como consequência ― ele cruzou os braços encarando John. ― Mas já que você pediu, eu posso ajudá-lo.

John deu um leve sorriso com o canto da boca.

― Obrigado! ― respondeu o garoto.

― Achei que não sabia fazer isso. Mas enfim. Eu estou disponível todos os dias, depois das 18 horas, quando termino meu trabalho. Nos domingos fico livre o dia inteiro.

― Sendo assim, poderia ser toda segunda, quarta e sexta?

― Nos domingos de manhã, também! ― exclamou Eric apontando seu dedo indicador ressecado para John. ― Serão os treinos fora do colégio!

John ficou assustado por um instante.

― O treinador é o senhor!

― Muito bem! Vamos começar amanhã!

John acenou com a cabeça. Eric foi em direção à bola que havia chutado.

― E que roupa estranha de médico é essa? ― a voz do inspetor ecoava no salão.

John olhou para seu corpo observando suas roupas. Antes que pudesse responder alguma coisa, ouviu o barulho de portas sendo abertas. Uma menina de uniforme escolar segurava uma mochila nas mãos e tinha seus cabelos molhados. Estava saindo das portas que davam acesso à piscina.

― Sr. Eric, eu já... ― disse Beatriz com sua voz baixa e suave, mas parou de falar quando viu Dias. ― Boa noite, John! ― seu tom era de surpresa.

― Oi, Bia! ― respondeu.

A menina parecia corar. Olhava para o chão com um ligeiro sorriso ao ouvir John pronunciar o diminutivo do seu nome. Ela olhou para ele novamente e ficou mirando as roupas do garoto.

― Parece que você ainda gosta de usar roupas com manga longa, Olhos de porco! ― Beatriz disse se aproximando de Dias.

John ficou olhando para ela por vários segundos. Ele ficou boquiaberto.

Treco? ― disse espantado.

A menina que já estava na frente dele sorriu mostrando seus dentes com aparelho dentário.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo fora da data. Como tenho estado com bastante tempo livre, decidi parar de estabelecer uma data para lançamento. Agora lançarei cada capítulo com um intervalo de tempo de, no máximo, uma semana. Por isso, o próximo capítulo será lançado até dia 12/01. Obrigado por ler!



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