Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 8
Capítulo 8 - Purgatory


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente linda!
Voltei no meio da semana com mais um capítulo, mas não agradeçam a mim... Agradeçam a linda Twillow19 que deixou uma recomendação fofíssima na história.
Muito obrigada, querida! Não sabe o quanto fiquei contente com sua recomendação. Este capítulo cheio de fofuras é dedicado à você. *-*
Mais alguém quer seguir a Twillow19? Bora recomendar a história? Hahaha.
Tenham um boa leitura.



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Passo a noite sem pesadelos, para minha sorte. Acordo de manhã e levo um susto ao ver Katniss olhando alguns quadros que haviam pendurados na parede.

— Este quadro é muito interessante. Onde foi que comprou? – diz ela para mim, sem tirar os olhos do quadro.

Era uma pintura de crianças brincando em um parque. Não sei o que Katniss viu de tão interessante.

— Eu não sei. Eles já estavam aí quando vim para cá. – respondo, me sentando na cama. – Faz quanto tempo que você está me esperando aqui?

— Uma meia hora, eu acho. – responde ela dando de ombros.

— E por que não me acordou?

— Eu já disse: você fica fofo quando está dormindo.

Eu rio e olho as horas no meu celular.

— São seis e meia da manhã. Que horas você chegou aqui? – pergunto pasmo.

— Seis horas. Eu avisei que chegaria cedo. – responde ela.

— Não pensei que seria tão cedo assim. – rio.

Eu parecia meramente tranquilo, mas na realidade, estava me contorcendo de vontade de abraçar Katniss o mais forte possível e nunca mais soltá-la. Não posso negar que senti a falta dela aqui.

Me levantei e fui até meu closet buscar uma roupa. Katniss se colocou na frente da porta sem dizer nada e ficou me olhando.

— Que tal um abraço para começar o dia? – ela sorri, abrindo os braços.

Eu sorrio e a aperto em meus braços. Parece que passei meses longe do cheiro dela, do contato dela…. Dela em si.

— Eu senti a sua falta. – pensei alto demais.

— Eu estaria mentindo se não dissesse o mesmo. – sussurra ela.

Aperto ela mais forte, só por saber que ela sentiu a minha falta assim como eu senti a dela.

Separo um pouco nossos corpos e seguro o rosto de Katniss com as duas mãos.

Colo nossas testas e a vejo fechar os olhos. Aproximo calmamente meus lábios do dela e a beijo com calma. “Um beijo de bom dia”, como diria meu pai. Um beijo, que por menos que pareça, é tão puro quanto a amizade de duas crianças.

Separo nossos lábios e volto a fazer nossas testas se encostarem.

— Se Gale tivesse feito isto, ao menos uma vez em nossa relação, eu não teria magoado ele. – afirma Katniss.

— Feito o quê? – pergunto com os olhos fechados.

— Ter me tratado da forma que eu gosto. E não como um brinquedo.

— Acho injusto isto. Ninguém merece ser tratado como uma posse. Afinal, somos seres humanos, não? – pergunto retoricamente.

— Acho que sim. Apesar de muitas vezes não parecer. – diz Katniss se afastando de mim e voltando a olhar os quadros na parede.

— Toda garota tem o direito de ser bem tratada. Isto é fato. – falo, finalizando a conversa e pegando uma roupa no closet. - Você viu a Natalie? – pergunto.

— Não cheguei a ver. Acho que ela foi embora. Mas seu tio é uma pessoa muito legal. – sorri ela.

— É. Ele é. Vamos descer? – falo apontando para a porta.

Descemos e tomamos o café da manhã rapidamente. Katniss não queria comer, pois já havia feito isto em casa. Mas meu tio a fez engolir ao menos um pedaço de bolo.

Arrumei minha mala e partimos para o aeroporto.

Tio Phil comprou as passagens enquanto Katniss e eu ficamos sentados conversando.

— Seu avô deixou você ir para Atlantic Beach? Tão facilmente? Ele nem me conhece direito. – falo.

— Meu avô gostou de você. Desde aquela noite em que tive uma crise.

— Trouxe os remédios?

— Como se meu avô fosse me deixar esquecer eles.

Pegamos o voo de três horas para ir a Atlantic Beach. Assistimos alguns filmes, dormimos, ouvimos música. Tudo para chegar mais rápido ao nosso destino.

Na verdade, eu poderia ficar para sempre naquele avião e nunca chegar em Atlantic Beach. Quem sabe o destino não caçoe de mim novamente e faça um relâmpago atingir o avião e assim todos os passageiros morrem?

Não estou pronto para voltar para lá, e talvez eu nunca fique. Espero que isto pese menos com a Katniss no meu lado.

Acho que ela notou meu desconforto, pois contava histórias engraçadas para mim, me fazendo rir o curso todo. Tirava chacota dos filmes que assistíamos e cantarolava as músicas que ouvíamos. Fazendo eu me sentir tão leve quanto as nuvens que se podia ver pela pequena janela do avião.

Chegamos ao nosso destino. Desembarcamos e após pegarmos nossa bagagem, atacamos um táxi.

Não prestei atenção no caminho pois estava interessado no falatório de Katniss. Mas estremeci por inteiro quando notei aonde ficaríamos instalados durante estes três dias.

O chalé.

O maldito chalé onde vi Greta pela última vez. Onde vi Tresh pela última vez.

— Nós vamos ficar aqui? – pergunto, minha voz soando muito mais trêmula do que eu achava que seria.

— Sim. – responde meu tio.

De fato, não havia contado para meu tio, a parte da história em que fui traído. Encurtei para: “Fui a uma festa e quando voltei estavam todos mortos.” Katniss é a única que sabe sobre a traição.

Não poderia culpá-lo por algo que ele não sabia.

Katniss segurou minha mão. Se aproximou lentamente do meu ouvido e sussurrou:

— Lembre que você queimou o seu passado.

Apertei mais a mão dela.

— Algum problema, Peeta? – pergunta meu tio se aproximando um passo de mim.

Eu queimei meu passado.

Repeti mentalmente a frase inúmeras vezes, até ela perder o sentido.

O passado não faz mais parte de mim. O agora faz parte de mim. Tudo o que passei não fará diferença agora. Preciso olhar apenas para frente. O passado não me trará mais nada. Nem Greta. Nem Tresh. Nem mais ninguém que ficou para trás.

Com esta perspectiva, consigo responder a pergunta de tio Phil.

— Não. Problema algum. – respondo sorrindo, enquanto caminho até os degraus do chalé, sem soltar a mão de Katniss.

Tio Phil sobe logo em seguida, abrindo a porta e nos permitindo entrar.

Continua tudo exatamente igual. Nem um móvel sequer foi trocado de lugar. Mas isto não me abala nem um pouco. Não sei se é pela mão da garota que estou segurando ou pela minha nova linha de pensamento de esquecer o passado. Mas até me sinto feliz ao voltar para um lugar completamente familiar.

As lembranças passam pela minha frente, mas elas parecem apenas me dar mais estímulo.

— Então…. Vocês vão dividir o quarto? – pergunta tio Phil.

— Eu não sei. Quer um quarto só para você, Katniss? – pergunto.

Ela ri antes de responder:

— Colegas de quarto até a formatura.

— Eu acho que isto é um sim para a minha pergunta, e um não para a sua, Peeta. – afirma meu tio. – Ok. Escolham um quarto logo.

O chalé tinha dois andares. E eu tinha um quarto que Katniss adoraria. A puxei pela mão até o segundo andar e cheguei ao quarto que queria.

— Será este? – pergunta ela, atirando a pequena bolsa de viagem na cama.

— Sim. – respondo.

Era um dos quartos mais simples do chalé. Havia uma cama de casal.

Na verdade, dos quatro quartos, só um possuía três camas de solteiro. Era um quarto um tanto grande aquele.

Mas este tinha uma cama de casal. Uma televisão à frente. Um pequeno armário. Cômodas, uma em cada lado da cama.

— Que cama grande! – diz ela sentando na borda. – Mas e você? Vai dormir no chão? – pergunta ela com um sorriso perverso no rosto.

— Que graça. – sorrio de volta. Havia uma porta de vidro também. Dava acesso a uma pequena sacada e tinha uma vista linda. A porta era tampada por uma cortina leve e fina de cor branca quase transparente. – Vem aqui.

Katniss se levantou e caminhou até onde eu estava.

— O quê? – pergunta ela curiosa.

A coloco na minha frente. Virada para a porta.

— Abra. – falo calmamente a ela.

Ela empurra a porta para o lado e o vento sopra a cortina para dentro do quarto. Katniss dá um passo para fora e para.

— Oh…. – a ouço dizer. – Que lindo!

A visão da praia. Era possível ver as ondas se formando lá atrás e vê-las crescerem até quebrarem-se mais a frente. Era possível ver os pássaros voarem mais acima, no céu. Como se fossem enfeites para colorir a paisagem.

Um belo quadro vivo.

Onde tudo era real.

— Legal, não é? – pergunto.

Katniss apoia as mãos no parapeito da sacada. Vendo tudo que podia.

— É incrível. Nós podemos ir até lá? No mar? – pergunta ela.

— Claro. – respondi. – Vou arrumar minhas roupas.

Deixei Katniss apreciar a paisagem que a prendeu naquele lugar e entrei. Organizei minhas roupas dentro do armário.

Após algum tempo ela entra e arruma suas roupas também. Ouço o celular tocar, mas não é o meu. É o de Katniss.

— Alô. – ela atende. – Oi, vô... Sim, a gente já chegou. – fiz sinal que ia sair e deixar ela conversar com o avô dela, mas ela sacudiu a cabeça com desdém, sinalizando que não se importava com a minha presença no quarto. – Ah, vovô! É lindo aqui. Queria tanto que estivesse aqui. Você iria adorar. É um belo lugar para retratar suas heroicas histórias. – ri ela. – Eu não estou tirando chacota do senhor... Eu ri apenas para confirmar o que disse... Tudo bem... Eu também amo você... Vou tomar sim – ela revira os olhos. – Tchau.

Ela joga o celular na cômoda.

— Heroicas histórias? – pergunto sorrindo torto.

— Nem pergunta. – diz ela.

Eu rio.

Tio Phil enfia a cabeça para dentro do quarto e bate no batente da porta.

— Hora do almoço. Venham comer. – diz ele.

Descemos e nos surpreendemos ao descobrir que nosso almoço era uma pizza.

— Puxa vida, tio. Você é tão criativo. – digo rindo.

Katniss pega uma fatia.

— Eu gostei. Poderia almoçar isto todos os dias. – diz ela mordendo a pizza.

— Viu só? Ela gostou! Queria que ela fosse minha sobrinha. – diz meu tio.

— Ah, claro. – enfatizo.

Pego uma fatia de pizza e Katniss e eu sentamos nos degraus da sacada, observando crianças andando de bicicletas e skates na rua.

— Você sabe andar? – pergunta ela, apontando para uma criança encima do skate.

— Sei. E você?

— Não. Comigo é só bicicleta. – diz ela sem tirar os olhos da criança.

— Então…. – falo colocando o resto da fatia da pizza na boca e esfregando as mãos uma na outra para limpá-las. – Está na hora de aprender.

— O quê? – pergunta ela olhando imediatamente para mim.

— Está na hora de você aprender a andar de skate. – falo me levantando. – Espere aqui.

— Mas…. Não! Espera.

Mas não esperei. Fui a um pequeno cômodo que havia ao lado da cozinha. O lugar era uma bagunça. Minha mãe chamava de “Quarto da Bagunça”. Mas acho que ia além disso. Era uma confusão lá dentro. Entrei no pequeno quarto, tropeçando em tudo que havia jogado pelo chão e achando meu velho skate no meio das tralhas.

Voltei e desci os três degraus, vendo Katniss ainda sentada no primeiro. Coloquei o skate no chão e pisei com um pé encima dele.

— Vem. – falo.

— Peeta, eu não vou subir nisso. – diz ela pausadamente sem sair do lugar.

— Vai ser divertido. Eu prometo que você não vai se machucar. – estendo minha mão para ela. – Me dê uma chance.

Ela, a muito contragosto, pega minha mão e se levanta.

— Eu juro que se eu voltar para casa com um pé quebrado, dou um tiro nos seus miolos. – diz ela bastante séria.

— Ok. – respondo sorrindo.

Pego o skate e caminhamos até chegar no asfalto, perto de onde as crianças brincavam. Coloco o skate no chão.

— O que eu faço então? – pergunta Katniss olhando para o skate.

— Suba. – digo direto.

— Não subo nisso nem que você me pague.

— Suba, Katniss. Eu não vou deixar você cair. – eu pego sua mão. – Estou segurando você.

Ela sobe.

— E agora, professor?

— Dê o impulso com o pé, se equilibra e vai.

Ela respira fundo, coloca um dos pés no chão. Mas quando ia dar o impulso, ela desiste e desce.

— Peeta, isto é loucura. Eu não vou fazer isso.

— Tudo bem. – falo. Eu coloco um pé no skate, na parte mais atrás e aponto para o espaço que ficou na frente. – Sobe aqui na frente então. Vamos fazer isto juntos. - Ela sobe, ficando de costas para mim. Coloco minhas mãos em sua cintura, para ter certeza que ela não perderia o equilíbrio. – Confia em mim? – sussurro em seu ouvido.

— No momento não. – responde ela.

— Ótimo. – rebato.

Dou o impulso com pé e Katniss solta um pequeno grito, talvez de susto ou de medo. Não sei. Ela segura minhas mãos que continuam em sua cintura.

— Isso é legal. – diz ela.

— Eu sei. – falo dando mais um impulso.

Ela solta minhas mãos, parecendo confiar mais em mim, e as estica, como se fosse um avião.

— Eu estou voando sem sair do chão. – grita ela, chamando a atenção das crianças. – Está vendo, Peeta? Eu sou a Rose, você é o Jack, e o skate é o Titanic.

Eu rio de sua comparação, aumentando um pouco mais a velocidade.

— Incline um pouco o seu corpo para a esquerda. – digo ao notar que iriamos bater em um carro se não desviássemos.

Ela faz o que eu digo, conseguindo desviar do carro estacionado no meio-fio.

— Estou andando de skate. – diz Katniss.

— É, você está.

Paro o skate e desço, mas deixo Katniss no mesmo lugar.

— Vamos voltar? – diz ela animada.

— Sim. Mas agora você andará sozinha.

— Ok.

Seguro sua mão e Katniss dá pequenos impulsos, com medo de cair. Mas quando pega mais confiança, aumenta e solta minha mão. Eu corro ao seu lado, pronto pra pegá-la, caso perca o equilíbrio.

Voltamos para a frente do chalé.

— Gostou? – pergunto ofegante pela corrida.

— Muito. – diz ela contente. – Obrigada.

— O prazer foi meu. – respondo sentando no meio-fio.

Katniss senta ao meu lado.

Um garoto se aproxima de nós com seu skate e sorri para Katniss.

— A dama não gostaria de uma carona em meu skate? – pergunto o garoto que devia ter oito ou nove anos.

Katniss dá uma leve risada.

— Seria uma honra, nobre cavalheiro. Mas acho que o senhor é um pouco mais jovem do que eu para ter um cargo tão importante. – o menino parece ficar decepcionado – Ei! Tenho certeza que quando você crescer, muitas donzelas aceitarão seu passeio no skate. Mas não eu.

— Por que não? – pergunta o garoto magoado.

— Não sou digna o bastante para um passeio ao lado de alguém tão nobre assim.

O garoto sorri, satisfazendo-se com a resposta da garota de olhos cinzentos e volta para seu grupo. Para no meio do caminho e vira-se para Katniss, fazendo uma reverência. Katniss lança um beijo para ele, em troca.

— Será possível que você atraia até crianças? – reviro os olhos, mas rio contradizendo a minha ação.

— Sou um ímã para as pessoas. É inevitável. – diz ela com ar superior.

— Que tal uma volta a praia, dama? – pergunto me levantando.

— Seria uma honra. – devolve Katniss se levantando junto.

Entramos e Katniss sobe para o quarto, enquanto eu devolvo o skate para o Quarto da Bagunça rapidamente.

— Espero que tenha trazido uma roupa de banho. – falo entrando no quarto.

— Que tipo de garota vem para a praia sem um biquíni na mala? – diz ela buscando algo na mala que trouxe. – Não é estranho estar quente no outono?

— Estamos em Atlantic Beach. Esqueça as estações do ano. – falo buscando uma bermuda no armário.

— Entendi. Vou ao banheiro. – ela se dirige a porta. Mas se vira de volta – Hã... Onde... Fica o banheiro?

Eu rio antes de responder:

— Primeira porta à esquerda.

— Ok.

Troco de roupa no quarto, já que Katniss está usando o banheiro. Coloco uma bermuda azul-marinho, junto com uma regata preta.

Katniss volta com um vestido azul tão escuro que beirava ao preto, curto e de alças finas. Um laço pendia na frente do vestido, logo abaixo dos seios da garota. Eu me surpreendo.

— Katniss Everdeen de vestido? – pergunto.

— Todas as garotas usam vestidos. – rebate ela sorrindo. – Vamos ou você vai ficar me olhando como se eu fosse o jantar?

Precisei apreciar o momento. Não pensei que ela ficaria tão linda dentro daquele vestido. Estou sempre acostumado a vê-la em suas calças jeans mais largas do que o normal.

— Vamos. – respondo por fim.

Descemos as escadas e encontramos tio Phil, que parecia pronto para sair também.

— Nós vamos à praia. – falo a ele.

— Eu vou sair também. – diz ele apressado, se dirigindo a porta. – Bom passeio. Vejo vocês mais tarde.

Ele volta e me estende algumas notas de dinheiro.

— Pra quê isso? Não pedi dinheiro. – falo olhando as notas em minha mão.

— Mas leva de qualquer jeito. Até mais. – ele sai e não retorna.

— Vamos caminhando? – pergunta Katniss.

— Não. – sorrio, pegando a mão dela e a levando para a rua.

Volto ao Quarto da Bagunça, desta vez a procura de uma velha bicicleta. Depois de conseguir tirar ela de lá, volto para a rua.

Katniss ri quando vê a bicicleta.

— E eu vou correndo atrás? – pergunta ela.

— Não. Você vai de pé ali encima. – aponto para dois ferrinhos que havia nas laterais da roda traseira. Um em cada lado.

Aquela bicicleta era do meu irmão mais velho. Lembro quando eu era bem menor e não podia andar em minha própria bicicleta. Meu irmão me levava de pé ali, enquanto eu me segurava em seus ombros para não cair e gritava para ele ir cada vez mais rápido. Lembro o quão feliz eu ficava quando ele atendia aos meus gritos.

Katniss sorri para mim, enquanto eu me sento no banco da bicicleta e ela, logo em seguida, sobe nos ferrinhos, segurando-se em meus ombros.

— Com medo novamente? – pergunto.

— Desta vez não. – responde ela.

Levanto a cabeça, olhando para ela. Ela me lança o sorriso mais debochado que consegue.

— Vou fazer você tirar este maldito sorriso da cara. Sugiro que se segure firme. – falo.

Ela massageia meus ombros uma vez e eu sinto pequenos choques vibrarem dos meus ombros para os braços e se espalharem para o resto do meu corpo.

Começo a pedalar devagar, mas assim que chegamos a outra rua, aumento a velocidade, vendo apenas borrões ao meu lado.

Katniss abraça meu pescoço afundando o rosto em seus próprios braços.

— Você é doido? – pergunta ela com a voz abafada.

— Levante-se. Está perdendo a melhor parte. – digo a ela sem diminuir a velocidade.

— Qual parte? A que a gente morre? – a ouço indagar mais uma vez.

— Confia em mim. – digo.

Ela volta a antiga posição de antes.

— O vento deve estar deformando a minha cara, mas isto é muito legal! – grita ela como se eu não pudesse ouvi-la. – Será que é assim que os cachorros se sentem quando colocam a cara para fora da janela do carro?

— Não sei. Mas acho que é algo parecido. – respondo.

Eu sei a sensação de sentir o vento massagear o seu rosto. Porque eu me sentia da mesma forma quando Colin, meu irmão mais velho, corria com a bicicleta. O vento açoita seu rosto, mas é algo tão bom de sentir que você tem vontade de ficar naquela bicicleta para sempre. Apenas sentindo o vento levar seus cabelos para trás.

Chegamos a calçada que há antes da praia. Paro a bicicleta e espero Katniss descer, para só após eu pular. Prendo a bicicleta em algum lugar com uma corrente.

— Eu devo estar toda escabelada. – ri Katniss.

Olho para alguns fios de cabelo da garota que estavam fora de seu lugar. Mas esta pequena bagunça parecia deixá-la mais bonita do que antes.

— Você está linda para mim. – sussurro, perdido em pensamentos.

Katniss me lança um sorriso sem graça e olha para a praia, como se só agora notasse no mar e na areia a sua frente.

— Que lindo! Você... Você morava no paraíso. – afirma ela.

— Vamos. – falo pisando na areia.

Nós caminhamos pela areia até termos apenas alguns metros entre nós e o mar.

Sentamos na areia, vendo as ondas se quebrarem.

— Você vinha aqui todo os dias? – pergunta Katniss.

— Não todos. Depois de dezessete anos morando aqui, a gente acaba enjoando da praia.

— Eu nunca enjoaria deste lugar. – diz ela massageando a areia entre seus dedos.

Katniss tinha razão. Qualquer um em seu lugar diria o mesmo. “Este lugar é o paraíso.” Mas não para quem viu o inferno a sua frente. Não para mim, que carrega lembranças horríveis de um dia que nunca pensei que viveria.

Mas não posso comparar esta cidade ao inferno. Estaria equivocado caso o fizesse. Para mim, seria o meu exclusivo purgatório. Um lugar que fica entre o céu e o inferno. Um lugar temporário.

Afinal, o mundo não é isto? Um grande purgatório. Onde vivemos por tempo indeterminado. Até tudo ser arrancado de nós. Neste purgatório, passamos dias no céu e dias no inferno. Mas nunca em um definitivo. Isso até nosso tempo neste lugar acabar.

Mas quem poderá me dizer o que vem após a vida no purgatório?

Quem poderá me dizer onde estão meus pais? Quem poderá me informar se eles estão me olhando neste exato momento?

E se eles apenas viraram parte da terra? Foi para isto que viveram? Para virar um adubo natural?

É isto que me aguarda quando meu tempo aqui acabar?

— Vamos entrar no mar? – sugiro tentando fugir dos meus próprios pensamentos.

— É. – responde Katniss, se levantando.

Me levanto junto, tirando minha camisa e embolando o dinheiro que ganhei nela, deixando na areia.

Esperava que Katniss tirasse seu vestido. Mas ela ficou encarando o mar com uma linha fina nos lábios.

Olhei para o mar, tentando encontrar o problema. Mas não havia nada além da água azul.

— O que foi, Katniss? – pergunto.

— É que... Eu... Hã... – ele embola as palavras.

— Tem medo do mar? – pergunto, vendo-a hesitar.

— Não é bem isso... – diz ela.

— O que há de errado então?

— Bem... Eu nunca... Vim na praia. – diz ela meio sem graça.

— Você-Nunca-Esteve-Na-Praia? – pergunto sem acreditar.

Para mim, todo mundo já deve ter ido a praia ao menos uma vez na vida. Nunca conheci alguém que me falasse a frase que a Katniss falou. Bem, morando em Atlantic Beach, isto é impossível de acontecer.

— É. Eu nunca vim na praia. – diz ela olhando para um grupo de meninas que se divertiam na areia vestidas com seus biquínis.

Então notei. O problema nem fosse este talvez. Não era o fato de ela nunca ter vindo a praia. O problema talvez fosse com o fato de mostrar seu próprio corpo.

Ponho minhas mãos na cintura de Katniss e a puxo pra perto de mim.

— Tem vergonha de mostrar seu próprio corpo? – sussurro, levando minha mão no laço que há embaixo dos seios dela.

Puxo o laço, desfazendo o top. Katniss olha para mim, respondendo a pergunta com os olhos.

— O que elas tem que você não tem? – sussurro novamente, quando ela volta a olhar para as garotas.

— Um corpo bonito. – sussurra ela de volta sem desviar os olhos do grupo.

— Me mostre onde se localiza o defeito do seu corpo. – falo, levando minhas mãos até a beira do vestido e o puxando pra cima. – Levanta os braços.

Ela suspira antes de levantar os braços. Eu passo o vestido pelos seus braços e pela cabeça e jogo a peça encima da minha camisa.

Dou um passo pra trás, vendo o quão linda aquela garota era. Vestida em uma peça preta. Nunca pensei que ela tivesse curvas tão perfeitas assim. Duvido que nunca tenha aparecido alguma agência de modelos lhe oferecendo uma oportunidade.

Fico parado, perdendo o fôlego só de olhar para o corpo daquela garota.

Ela cruza os braços, parecendo se sentir incomodada com minha observação minuciosa. Mas…. Deus! Ela era perfeita!

Se houver um sinônimo para a palavra perfeição, esta garota a minha frente seria este sinônimo. Com todas as letras.

— Para de me olhar da cabeça aos pés. – diz ela incomodada.

— Mas... Você é tão... Linda. – tento justificar minha admiração.

— Não. Eu não sou não. Não precisa dizer isto para me fazer sentir melhor. – diz ela.

— Eu não estou dizendo isto por você. Estou dizendo o que os meus olhos estão vendo.

Ela sacode a cabeça exibindo um pequeno sorriso.

— Já posso colocar meu vestido de volta? – pergunta ela.

— Como assim? Vamos entrar na água.

— Eu não vou entrar na água. E se algum bicho me morder?

— Não tem bichos perigosos aqui no raso, só mais lá pro fundo. Vem. – falo fazendo sinal com a mão.

— Não! – diz ela. Eu caminho na direção dela, e ela começa a dar passos para trás. – O que vai fazer? Não chega perto de mim.

Pego ela e a jogo por cima do meu ombro.

— Eu não pedalei até aqui para você me dizer que não vai dar um mergulho no mar.

— Me solta, Peeta! – diz ela se debatendo.

Entro na água carregando ela e quando a água chega na mina cintura, eu atiro Katniss na água.

Ela some do meu campo de visão e eu começo a rir. Mas ela não volta a aparecer.

— Katniss? – chamo, começando a me assustar. – Kat...

Alguém puxa meus pés e eu acabo mergulhando na água.

Volto para a superfície tossindo.

— Isto é para você aprender a não me atirar na água novamente. – diz Katniss.

— Mas você é particularmente vingativa. – assinalo. – Está braba comigo?

— Estou sim.

— Então por que você está rindo? – pergunto com um sorriso torto.

— Porque você é um idiota. – diz ela rindo mais ainda.

— Ah, então agora sou um idiota? – falo jogando água nela.

— É, você é sim. – ela responde jogando água em mim de volta.

Ficamos nesta brincadeira infantil de jogar água um no outro. Mas não notei que Katniss dava um passo na minha direção toda vez que jogava água em mim. Ela chegou perto o suficiente de conseguir acertar os seus lábios nos meus. Eu a abracei, enquanto ela entrelaçou os dedos no meu cabelo. A levantei, aproveitando a lei da física que dizia que qualquer corpo fica mais leve dentro da água. Ela ri contra a minha boca quando faço isto.

— Qual é a graça? – sorrio.

— Você me fez voar quatro vezes hoje. – responde ela. –Em um avião, em um skate, em uma bicicleta e...

— No mar? – arrisco.

— E em um beijo. – responde ela me olhando com seus olhos cinzentos brilhantes.

A beijo novamente sendo levado pela onda de emoção que tive ao ouvir a última vez que a fiz voar.

Mas uma onda chega sem nos avisar nos fazendo cair embolados na água.

Nos levantamos tossindo e rindo ao mesmo tempo enquanto tentávamos retornar com a nossa respiração.

— Você está bem? – pergunto.

— Estou. Acho que dentro do mar não é o lugar ideal para se beijar alguém. – responde Katniss.

— Concordo. Vamos sair?

— Vamos.

— Então suba. – falo me virando de costas para ela.

— Como assim?

— Você entrou de carona no meu ombro agora saíra de carona nas minhas costas.

Ela ri e pula em minhas costas. Eu seguro suas pernas.

— Avante! – diz ela apontando para frente.

— Sim, senhorita.

Passamos a tarde atirados na areia. Katniss deitou a cabeça em minha barriga.

— Você tem um belo queixo. – afirma ela.

— Oh, nossa! Obrigado! – rio.

— Tem algum lugar para comprar comida aqui? Estou morrendo de fome. – ela senta.

— Está vendo aquela cabana lá? – aponto para uma pequena tenda branca.

Minha família e eu vivíamos comendo lá quando passávamos os famosos “Dias em Família na Praia”. Esta tenda está sempre estendida nos finais de semana. E se vende de tudo lá. Desde balas até almoços.

— A tenda branca? – pergunta Katniss.

— Exatamente. Vá lá e divirta-se.

— Você não vem? – pergunta ela.

— A preguiça me impede. – falo estendendo uma das notas que meu tio me deu.

— Quer algo também?

— Não. Eu estou bem.

— Ok. Já volto.

Observo Katniss se afastar até entrar na tenda branca. Pego minha camiseta do chão e a sacudo tirando toda a areia que se acumulou nela. Enquanto me sento e a visto. Vejo uma sombra no chão.

Katniss voltou tão rápido.

— Você voltou rápido. – falo me levantando do chão. Mas quando olho, noto que é a garota errada. Levo um susto e tento esconder a surpresa que deve estar mais que visível em minhas feições. – Greta? – sussurro em um tom quase inaudível.


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Notas finais do capítulo

Olha a Greta aí, gente (Pois é, Priprican! Você adivinhou! Vimos a Greta neste capítulo e veremos mais no próximo). Curiosos para o próximo capítulo? Espero que sim.
Espero que tenham gostado.
Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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