Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 6
Capítulo 6 - New Group


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!
Fiquei tão feliz, mas tão feliz com os comentários de vocês que resolvi adiantar este capítulo. Lembrem-se sempre: quanto mais comentários, mas rápido vem os capítulos!
Bora ler? Hahaha.
Boa leitura.



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Katniss adentra no quarto e senta na minha cama, jogando as coisas dela no chão.

— Como assim “novo colega de quarto?” – pergunto após fechar a porta.

— Johanna me expulsou do meu quarto. – ela explica simplesmente, enquanto se levanta, pega uma das mochilas e joga várias roupas que haviam lá dentro em cima da cama.

— Esta cama é a minha. – falo completamente autoritário.

— Desculpe. – responde ela ajuntando as roupas e jogando na outra cama. – Qual armário é o seu?

— O que está ao lado da mesa de estudos. Por que Johanna expulsou você do quarto?

Katniss começou a dobrar as roupas e empilhá-las organizadamente.

— Nós éramos um grupo, Peeta. E digamos que eu era tipo uma líder. Fiz algumas regras. E uma delas era que se alguma pessoa fosse pega traindo qualquer outra pessoa do grupo e de qualquer maneira, esta pessoa seria expulsa do grupo. Bem, eu traí Gale, então fui expulsa. Você também. – ela abre o armário, colocando as roupas lá dentro. Após, parte para outra mochila.

— E quem ficará no seu lugar? – pergunto, sentando na cama.

— Provavelmente Johanna. Ou talvez Gale brigue com ela por este lugar. Não nos interessa mais. Não fazemos parte deste grupo agora.

— E de que grupo fazemos parte agora?

— Do grupo: Peeta e Katniss. – responde ela.

— Como achou o meu quarto?

— A secretária me conseguiu esta informação.

— Meninos não podem dividir o quarto com meninas. – afirmo.

— Já dei um jeito nisso. Nós dois podemos. De nada.

— De nada? Você acha que eu devo agradecer a você? Eu quase fui socado por Gale por sua causa! – vocifero irritado.

— Eu sei. Desculpa. A culpa é toda minha! O que você quer que eu faça? – ela se irrita também atirando a mochila vazia de cima da cama para um canto do quarto.

— Quero que me diga por que me beijou. Por que você fez aquilo? Já não estava mais interessada em Gale?

— Não! Eu gostava de Gale ainda.

— Então por que diabos você me beijou?

— Porque seus lábios são inegáveis. – grita ela pra mim e senta na cama afundando o rosto nas mãos enquanto volta chorar.

O que quer dizer isto? Meus lábios são inegáveis. Será que ela sente o mesmo que eu? Pois, para mim, os lábios dela também são inegáveis. São viciantes. São alucinantes.

Mas lembro do feriado de Cristovão Colombo. Ela disse que com ela era só atração física. Ela não está apaixonada por mim. Ela tem apenas uma atração física por mim. Por isso meus lábios são inegáveis pra ela. Apenas os lábios. Não eu inteiro.

— Como assim? – pergunto para tentar chegar a alguma conclusão mais palpável desta situação.

Katniss esfrega as mãos nos olhos e volta a olhar para mim.

— Quero dizer que você é uma pessoa totalmente beijável. – sussurra ela.

Isto estava me deixando muito mais confuso. E estava me deixando mais irritado ainda.

— Isto não me serve como resposta. – afirmo desgostoso.

— Então sinto muito, pois não tenho a resposta que você procura. – ela se levanta e volta a arrumar suas coisas. Não sei mais o que dizer, então fico em silêncio enquanto observo ela organizar seus pertences.

— Você não tem autorização do diretor pra dividir um quarto comigo. – afirmo.

— Tenho sim. – se opôs Katniss. – Não confia em mim?

— Não sei se um dia chegarei a confiar. – assumo.

Ela suspira alto, pega uma toalha e algo de dentro de um caderno.

— Vou tomar um banho. – diz ela e joga um papel ao meu lado na cama.

Quando ela fecha a porta do banheiro, pego o papel e leio.

É uma autorização carimbada e assinada pelo diretor Snow e pela vice-diretora Coin, afirmando que Katniss Everdeen pode dividir o dormitório comigo, mas não deu nenhuma justificativa.

— Não pode ser! – exclamo.

Levanto, deixando a autorização na cama e mexo nas coisas da Katniss a procura de um carimbo igual ao da folha. Mas não encontro nada.

— Você não vai encontrar o que procura. – me assusto com a proximidade da voz de Katniss. Me viro a vendo com os cabelos molhados. – Não tenho uma cópia da assinatura do diretor nem da vice. Muito menos um carimbo igual a este. Se duvida de mim, pode ir até o diretor Snow amanhã e levar a autorização com você. Ele dirá que é original e que eu tenho a permissão dele para ficar aqui com você.

— Não estava procurando nada disto. – minto.

— Você pode conseguir mentir para qualquer um, Peeta. Mas não pode mentir para mim. – sento na cama em derrota e devolvo a autorização para ela. – Aliás, obrigada por ligar para o meu avô no Dia de Cristovão Colombo. Eu estava com saudades dele.

— Como você….

— Achei estranho quando fui mexer no meu celular e vi aberto o contato do meu avô. Em um momento de distração sua, consegui vasculhar seu celular e achar o número dele no seu aparelho.

Mas que droga! Não me dei conta de deixar o celular dela exatamente como ela havia deixado na última vez que mexeu. Muito menos de excluir o histórico de ligações do meu celular.

— Desculpa. – murmuro envergonhado.

— Não precisa se desculpar. Eu inclusive agradeci.

— Pensei que estivesse sendo irônica.

— Não desta vez. Mas peço desculpa pela terceira vez por ter colocado você nesta enrascada.

— Tudo bem. – respondo.

— Então somos amigos de novo? – pergunta ela estendendo a mão para mim.

— Amigos de novo. – afirmo levantando da cama, apertando sua mão e sorrindo.

Katniss atira-se na cama e suspira.

— Que dia maluco! – exclama ela, olhando para o teto.

— Nem me fala! – concordo sentando em minha cama novamente.

— Você disse que confiava em mim quando estávamos na cabana. E agora diz que não sabe se um dia vai chegar a confiar.

— Eu confio em você. Desculpa. Eu estava irritado.

— Tudo bem. Eu também ficaria.

Alguns segundos de um silêncio infinito se faz. Até eu me perguntar o que seria de mim e Katniss dali em diante. Não fazíamos mais parte de um grupo.

— Katniss? – chamo.

— Estou aqui. – ela responde sem tirar os olhos do teto.

— O que será de nós dois agora? Quer dizer, como será daqui para frente?

Ela se levanta, senta na minha cama a minha frente e cruza as pernas como um índio.

— Não existimos mais para eles, Peeta. Então eles não existirão mais para a gente.

— Vamos os ignorar?

— Sim, porque é o que eles vão fazer com a gente. Você não faz ideia do que está acontecendo, não é? Eles nos odeiam pelo que nós fizemos. Então não dirija nem o olhar para eles. Muito menos para Gale. Se passar por eles nos corredores, ignore. Eles farão o mesmo. Não tenha a incrível ideia de reatar a amizade porque não vai rolar de forma alguma. Não os conhecemos e eles não nos conhecem. Eles sentam na rua no intervalo então sentaremos no lado de dentro do prédio.

— E quando tivermos aulas juntos?

— Ignore. Qualquer coisa: ignore. Entendeu?

— Entendi. Ignorar até o fim dos tempos.

Ela riu.

— Você será minha nova dupla em Química. – afirma ela sorrindo.

— Mas eu sento com o Jim. – afirmo.

Bem, não era grande coisa sentar com o Jim. Mal nos falávamos, só quando era necessário. Eu realmente não me importaria de ficar sozinho nas aulas de Química, mas parece que o Sr. Johnson se importa.

— Não se preocupa. Tenho certeza que ele não vai se importar nem um pouco em sentar com a Johanna. O Sr. Johnson não se importa com quem sentamos desde que não fiquemos sozinhos.

— Então é isso. – afirmo.

— É. – Katniss pula da minha cama – Vou revisar Matemática.

— É melhor mesmo. Ou então eu juro que se você for mal neste teste eu vou fazer você comer a folha da avaliação.

Ela ri, enquanto senta em sua cama com um caderno e o livro de Matemática.

— Agora estou com medo. – afirma Katniss.

Deixei Katniss estudar e me ocupei ouvindo música deitado de barriga para cima.

Agora seria só nós dois: Katniss e Peeta. Peeta e Katniss. Não somos um grupo. Somos uma dupla.

Acabei pegando no sono com os fones nos ouvidos. Sou acordado com um golpe de travesseiro na minha cabeça.

Me sento na cama, assustado.

— O que é isso? – pergunto.

Vejo Katniss rindo.

— Acorda, Bela Adormecida. Não vai para a aula hoje? – pergunta ela, jogando o travesseiro em sua cama.

— Isto é jeito de acordar alguém? Era assim que você acordava Johanna?

— Na verdade não. Eu puxava ela pelo pé até ela cair da cama. Johanna tem o sono tão pesado que só acordava depois de cair no chão.

— Bem, acho que o travesseiro é melhor que dar com a cara no chão.

— Só não fiz porque você é bem mais pesado que Johanna.

Eu ri.

Então notei que dormi com os fones nos ouvidos e comecei a procurar o meu celular pela cama.

— Onde está? – pergunto a mim mesmo.

— O quê? – indaga Katniss.

— Meu celular. Eu dormi ouvindo música.

— Está ali na cômoda. Eu tirei seus fones dos ouvidos, antes de dormir. Também coloquei um cobertor encima de você.

— Uau! Obrigado, mamãe. – falo levantando da cama.

— De nada, meu filho. – ri Katniss.

— Quer tomar banho primeiro? – pergunto já pegando uma toalha.

— Eu já estou pronta para sair. Só estou esperando por você.

— E por que não me acordou antes?

— Você fica fofinho dormindo.

— Como é que é? – pergunto rindo.

— É. Você parece uma criança dormindo.

— Vou tomar um banho. – falo ainda rindo e vou para o banheiro.

Depois de entrar no chuveiro é que me dou conta de uma coisa.

Ela disse que fico fofinho quando estou dormindo. O que quer dizer que ela estava me observando enquanto eu dormia.

Achei meramente estranho, mas afinal, estamos falando de Katniss Everdeen. Então, qualquer coisa para ela é normal.

— Vamos. – falo depois de me arrumar e colocar uma das alças da mochila no ombro. – Que aula você tem agora?

— Matemática. – responde ela como se fosse algo óbvio.

— Ah é! Esqueci do teste.

— Como conseguiu? – pergunta ela trancando a porta do quarto. – Eu sonhei com os gráficos das funções.

Eu apenas ri.

Caminhamos no pátio sentindo o sol que se mostrou furioso hoje.

— Deus! Está quente aqui. – afirmo tirando o moletom que estava vestindo.

Chegamos na sala segundos antes do professor. Ele entregou as avaliações afirmando que tínhamos o período todo para fazer. Quem não fizesse tudo teria que entregar do jeito que estava. Conversas estavam proibidas até o sinal tocar.

Me sentei em uma fila ao lado da de Katniss, porém, Katniss estava na classe do meio enquanto eu me encontrava na última classe. Conseguia vê-la dali. Notei ela batucando o lápis na mesa, entregando seu nervosismo.

Dei uma olhada no teste quando ele chegou em minhas mãos, notando o quão fácil estava. Eu não precisaria batucar o lápis na mesa de nervosismo.

O Sr. Carl sentou a mesa e então falou:

— Podem começar.

Tenho a mania de começar as provas sempre pelas questões mais difíceis, deixando as mais fáceis para o final. Sei que as mais difíceis são as que vão exigir mais de mim, então aproveito enquanto minha mente está vazia e as faço, e só então passo para as mais fáceis, que não necessitam tanto do meu cérebro.

Mas para Katniss, parece que todas as questões estão difíceis, pois além de batucar o lápis na mesa, vejo ela sacudindo os pés que estão cruzados embaixo da cadeira e enrolar uma mecha do cabelo com os dedos da outra mão. Até que ela para com tudo e começa a escrever na folha.

Ao menos uma ela sabe.

Paro de observar Katniss e me concentro em meu próprio teste. Em menos de vinte minutos ele está pronto. Levanto a mão.

— Sr. Carl. – chamo o professor.

— Peeta? – diz o senhor de cabeça careca e lustrosa.

Sinceramente, o topo da cabeça daquele homem pode servir de espelho.

— Terminei.

— Pode me entregar.

Me levanto, indo até o professor e entregando o teste na mão dele. Na volta olho para Katniss que me lança um olhar de misericórdia. Por Deus! A avaliação estava muito fácil. Falei um “Tudo bem” para ela sem emitir som algum. Ela apenas sacode a cabeça em um sinal negativo.

Sento-me novamente em minha classe, observando Katniss, batucar o lápis, sacudir os pés e enrolar o cabelo. Em um momento de frustração, acho eu, ela larga o lápis na mesa e levanta a cabeça, olhando para o teto.

Ela fica um tempo assim até todos da sala levarem um susto quando ela bate a mão na mesa e grita:

— LEMBREI!

— Everdeen! – chama o Sr. Carl. – Exijo completo silêncio durante as provas.

— Desculpa. – sussurra Katniss em um tom animado.

Ela começa a escrever na prova e não para mais. Ela realmente lembrou.

Ela entrega a prova para o professor.

— Será que terei que ver você ajoelhada na minha frente este ano, Katniss? – pergunta o Sr. Carl.

— Eu espero, com todas as forças, que não. – responde Katniss com um sorriso irônico.

Ela gira nos calcanhares e pisca um dos olhos para mim enquanto sorri. Sorrio em resposta.

Quando o sinal toca, avisando que a hora do intervalo havia chegado, tenho uma surpresa ao encontrar Katniss apoiada na parede à frente da porta da sala em que eu estava.

— O que faz aqui? – pergunto.

— Estava esperando o meu “grupo”. – diz ela fazendo aspas no “grupo”.

Eu rio enquanto caminho em direção ao armário para guardar minhas coisas. Katniss me segue.

Parece que terei uma sombra de agora em diante.

Uma sombra adorável.

Nos encaminhamos para o refeitório.

— Esbarrou com alguém? – pergunta Katniss enquanto pegava uma bandeja bege.

— Esbarrei com Annie. Ela fingiu não ter me visto. – afirmo.

Atravessei por Annie no 2° andar, ela me lançou o olhar por três segundos e depois olhou para o chão.

— Mandaram Annie fazer isto. – afirma Katniss.

— Como sabe?

— Porque Annie gosta de todo mundo. Não importa quem for. Se Osama Bin Laden aparecer na frente dela neste exato momento, ela o abraçaria. Ela é assim. Ela é legal com todo mundo.

— Osama Bin Laden está morto.

— Se ele ressurgisse dos mortos então. Mas se Annie está seguindo ordens de alguém quer dizer que eu já fui substituída.

— Será Johanna? – pergunto.

— Ou Gale, mas como eu disse ontem: isto não nos interessa mais. – paramos de costas para a mesa de comidas, olhando para as mesas. – Hora de escolher uma mesa.

— Não há muitas escolhas. – afirmo olhando quase todas as mesas já tomadas.

— Qualquer uma serve. Menos a que fica perto da lixeira. Aquela mesa é uma nojeira. Olha aquela. Perto da parede. Está de bom grado para você?

— Está.

A mesa não ficava perto da parede, ela ficava grudada na parede. Suportava seis pessoas. Muito espaço para pouca gente. Sentamos nela. Não era nada mal. Era bastante discreta.

Não vimos nosso antigo grupo, mas em certo momento Finnick se aproxima da nossa mesa e senta ao lado da Katniss.

— E aí, pessoal? – diz ele animado.

— O que faz aqui, Finnick? – pergunta Katniss.

— Vou ficar no grupo de vocês. – explica ele.

— O quê? Por quê? Isto não faz sentido. – Katniss começa, mas é interrompida por Finnick.

— Ei, ei, ei. Quem é a minha melhor amiga?

— Finnick….

— Eu te fiz uma pergunta, Katniss.

— Eu. Eu sou sua melhor amiga. – suspira Katniss em derrota.

— Exatamente. E o que eu sou?

— Meu melhor amigo.

— Claro. Então ficarei aqui e fim de assunto. – ele logo olha para mim com um olhar desafiador e um sorriso torto – Achou que eu deixaria você tomar conta da minha pequena Katniss, cara?

— Estou vendo que não. – respondo. – Bem-vindo ao grupo: Peeta, Katniss…. E Finnick agora.

— Bem-vindo ao grupo dos Traidores. – afirma Katniss.

— Uh! Grupo dos Traidores. Belo nome. E que tal Grupo dos Que Se Auto Excluíram do Outro Grupo? – pergunta Finnick.

Sacudi a cabeça.

— Não. Comprido demais. Deixe-me ver…. Grupo dos... Descolados?

— Clichê demais. – afirma Katniss. – E se fosse Grupo dos Desajustados?

— Oh não! – se opõe Finnick. – Este é o grupo do filme As vantagens de ser invisível.

— É um livro. – contradiz Katniss.

— Mas tem um filme.

— Mas o livro venho antes do filme.

— Mas eu não li a merda do livro. Quer saber? Dane-se! Não aceito este nome. Vamos pensar em outro nome.

Ficamos em silêncio, pensando em um maldito nome para o nosso maldito grupo de três pessoas.

— Os Três Mosqueteiros? – arrisco.

— Cara, quantos anos você tem? Cinco? Este nome é ridículo. Por que não Quarteto Fantástico? – tenta Finnick.

— Porque somos um trio, não um quarteto. – diz Katniss.

— Ah! É mesmo.

— Grupo dos Exilados? – sugere Katniss.

— Grupo dos Exilados? – pergunto, pensando no nome.

— Bem, o que significa exilado?

— Exílio não seria o estado de ficar longe da própria casa? – pergunta Finnick.

— Então…. Onde estamos neste exato momento? – pergunta Katniss.

— Longe de casa. – respondo. – Grupo dos Exilados está bom para mim.

— Estou de acordo. – afirma Finnick.

— Então está decidido. Grupo dos Exilados. Não é o melhor nome para um grupo, mas é o que conseguimos devido as circunstâncias.

— Katniss, eu amo você, mas por favor, pare de falar como se fosse uma detetive do FBI. Chega de palavras como “circunstâncias” e “clichê”. – pede Finnick.

— Detetives do FBI não falam a palavra “clichê”. – responde Katniss.

— Adolescentes de dezessete anos também não.

— Então vá à merda, Finnick.

— ISSO! É isso que adolescentes de dezessete anos falam! – comemora Finnick enquanto Katniss e eu rimos.

Infelizmente o intervalo passou rápido demais. Mas acho que o tempo estava ao nosso favor hoje. As aulas passaram tão rápidas quanto o intervalo. Em pouco tempo já estava no meu novo quarto de paredes mofas quebrando a cabeça para fazer a lição de Química. Katniss não havia chegado ainda.

Quando finalmente consigo terminar a lição – que não é “de casa”, já que fazemos na escola – Katniss chega e como sempre está com os fones nos ouvidos.

— Oi. – diz ela tirando os fones.

— E aí? Onde estava? – pergunto para puxar assunto.

— No meu lugar favorito da escola.

— A biblioteca. – concluo.

— Exato. E você? O que fazia?

— A quase impossível lição de Química.

— Está tão difícil assim?

— Não. Está bem pior.

— Então quer dizer que estou ferrada em Química.

— Por quê? – pergunto.

— Porque se já é difícil para você, o Adiantado Peeta. Imagina para mim?

— Você tem um maldito complexo de inferioridade.

— É. Talvez você tenha razão. Mas quem se importa?

— Eu me importo. – me arrependo no mesmo instante do que falei. Katniss me olha assustada querendo uma explicação para eu me importar com ela. Mas consegui pensar em algo rapidamente. – Afinal…. Você é... Minha amiga. Não é isso que amigos fazem? Eles se preocupam um com o outro.

Ela olha para mim com um olhar indecifrável e caminha lentamente em minha direção. Fica frente a frente comigo, se coloca na ponta dos pés para conseguir se aproximar do meu rosto e usa meus ombros como apoio. Ela olha para os meus olhos. Mas com ela tão próxima de mim, meus olhos insistem em olhar para os lábios da garota de cabelos castanhos.

— Você mente tão mal, Peeta. – ela sorri com os lábios cerrados – Mente tão mal que chego a ter pena de você. Você viraria um mendigo se vivesse de mentiras.

— Eu…. Eu... Hã... – gaguejo sem saber o que falar. Posso sentir meu rosto queimar.

— Você o quê? – pergunta ela, semicerrando os olhos e se divertindo com a minha atrapalhação.

— Você é terrível. – solto uma respiração que não notei estar segurando.

— Você não é a primeira pessoa a dizer isto. – Katniss tenta falar com o mesmo tom zombeteiro, mas notei o ressentimento com o qual ela falou.

Ela decide se calar e não tirar os olhos dos meus. Mas eu, definitivamente, não conseguia de forma alguma desviar meus olhos dos lábios de Katniss. Mordi meu lábio inferior, tentando segurar a tentação de sentir seus lábios novamente. Observo por alguns segundos seus olhos vendo o quanto ela se divertia com toda esta situação.

Ela estava fazendo de propósito.

Ela estava me torturando desta forma. Deixando seus lábios tão perto dos meus. Sabendo o quanto eu queria beijá-la. Por quê?

— Katniss? – chamo sem tirar os meus olhos dos seus lábios.

— O quê?

— Eu…. Eu... Você... Eu... Quero beijar você. – declaro perdendo um pouco o fôlego.

— E o que está esperando? – pergunta ela.

A pergunta me faz olhar em seus olhos, procurando algum sinal de zombaria. Algum sinal de divertimento. Mas tudo o que vejo é a pergunta que ela fez. Sem ironia, sem brincadeiras.

Talvez ela queira que eu a beije.

Talvez seja o que ela espera.

Sem pensar em mais nada que não fosse os lábios da Katniss, aproximo meu rosto do dela e a beijo calmamente. Somos jovens. Temos todo o tempo do mundo. Não tenho pressa.

Me surpreendo comigo mesmo. Eu estava tão desesperado para beijar Katniss, mas quando faço isto, faço com todo o cuidado, como se ela fosse desmoronar igual a um castelo de areia, com um simples toque ligeiramente grosseiro.

Ela segura meus cabelos. Notei que Katniss tem uma certa afeição em segurar meus cabelos, já que sempre o faz quando nos beijamos. Greta não costumava fazer isto. Suas mãos se limitavam em meus ombros.

Sua atitude faz com que eu coloque minhas mãos em sua cintura e a puxe para mais perto. Abraço sua cintura e a faço andar para trás enquanto a beijo.

Não noto o quanto andei até sentir meus braços, que a envolveram, se chocarem com a parede. Separo nossos lábios forçadamente, notando que morreria em instantes se não deixasse o ar entrar em meus pulmões. Apoio minha testa na de Katniss tentando retomar o fôlego e a ouvindo fazer o mesmo.

— Estou sem ar. – ri ela virando o rosto para o lado. – Seria engraçado morrer afogado no meio de um beijo.

— Isto é possível? – pergunto ainda com os olhos fechados.

— Em se tratando de você…. Acho que tudo é possível. – ela sussurra.

Abro os olhos e ela vira o rosto encarando meu rosto inteiro. Rastreei uma pitada de curiosidade no seu olhar. Ela tira suas mãos que ainda estavam em meus cabelos e as escorrega pelo meu pescoço. Passa o polegar pelo meu queixo e arrasta os dedos em minha bochecha. Para logo em seguida jogar minha franja loira que tampou meus olhos para trás.

Ela deixa suas mãos em meus ombros e olha em meus olhos como se buscasse algo. Ela sacode a cabeça repetida vezes e me força a tirar os braços de seu corpo. Se afasta, sentando na cama e abraçando o pescoço, juntando as mãos na nuca. Ela olha fixamente para o chão.

— O que foi? – pergunto ainda arfando um pouco.

— Eu não posso fazer isto. – Katniss sussurra como se falasse consigo mesma.

— Fazer o quê? – pergunto confuso.

— Magoar você. Eu não posso magoar você. Eu não posso.

— Então não me magoe.

— Você não entende. Eu vou magoar você. Eu sempre magoo. Eu magoei todos os outros. Agora foi Gale. Não quero que o próximo seja você. Você é….

Ela para a frase como se não quisesse dizer o resto.

O que eu sou? Diga o resto da frase.

— Eu sou o quê? – pergunto em um fio de voz.

—…. Diferente. – ela falou como se perguntasse a si mesma se era isso mesmo que queria dizer. Ela está tão perdida quanto eu.

— Talvez eu queira ser magoado por você.

— Cala a boca! Você não quer isso. – ela ralha comigo como se eu fosse uma criança.

— Katniss, tem muitas coisas que eu não sei se quero. Mas há uma única coisa que quero neste exato momento. E esta única coisa é você! Não me importo em me magoar, desde que isto seja feito por você.

— Eu não aceito relacionamentos sérios.

— Eu aceito qualquer coisa que você puder me dar.

— Você vai se arrepender desta escolha.

— Não me importo.

— Eu vou machucar você.

— Meu coração pode ser consertado. Ele já foi quebrado antes, lembra?

Ela se cala não achando mais desculpas. Eu não a deixaria fugir.

Ela se levanta e abraça meu pescoço enquanto eu coloco minhas mãos em sua cintura.

— Tem algum jeito de me explicar que tipo de ser vivo masoquista você é? – ela sussurra.

— Não, eu não tenho a resposta para esta pergunta. – sussurro de volta.

— Você tem certeza? – pergunta ela.

— Tenho.

— Você sabe que um dia pode abrir aquela porta e ver a cena de eu beijando outro cara? Assim como aconteceu com Gale? Tem consciência disso, Peeta?

— Tenho. Mas será que você pode deixar algumas pistas antes para ser menos dolorido?

— Talvez. Peeta…. Eu realmente não quero magoar você.

— Esqueça que este sentimento existe. – falo fechando os olhos.

Katniss termina a pequena distância entre nossos lábios e noto que seu beijo agora é um pouco mais afetuoso.

Da mesma forma que junta nossos lábios ela os separa.

— Você é muito burro. – ri ela.

— E quem foi que quase morreu para fazer um teste de Matemática? – rio dando o troco. Ganho um tapa no braço pelo comentário e Katniss se afasta sorrindo enquanto senta-se na cama – Do que eu vou chamar você? De ficante?

— Como assim?

— Quando alguém chegar e me perguntar o que você é minha. Eu digo: Ela é minha….

— Hmm. Não gosto do termo “ficante”. Sei lá! Parece tão grosseiro. Ninguém nunca chegou a me perguntar isso. Mas quando me perguntaram o que eu tinha com o Gale, eu disse que estavam em um caso embolado. Ou apenas num rolo. Mas vou fazer diferente com você. Lhe darei a liberdade de me chamar de: “Sua namorada.”

— Que honra! Minha namorada!

— Mas você sabe que nosso relacionamento não chega a tanto, não é? Tanto que Gale me chamava da mesma forma e veja o que aconteceu com ele.

— Sim, eu sei.

Infelizmente eu sabia. Eu queria estar iludido no sonho de ter Katniss para mim eternamente.

Eu estava a ponto de transformá-la na minha nova Greta. Apesar de saber que ela nunca chegaria a ser realmente a minha namorada. O termo “namorada” seria aplicado de forma diferente com a Katniss.

Estava ciente que ela poderia se cansar de mim facilmente e me dar um pé na bunda do nada. Ela me avisou sobre isto. Ela me perguntou mais de uma vez se eu tinha certeza da escolha que eu estava fazendo.

E eu aceitei.

Aceitei os termos de Katniss Everdeen para ter o direito de ao menos beijá-la.

Mesmo sabendo que poderia sair destruído disto tudo eu aceitei. Aceitei porque simplesmente precisava dos lábios hipnóticos da garota morena que sabia arrancar um sorriso de mim mesmo em meus piores dias.

Se meu coração fosse despedaçado no final, saberia que seria tudo culpa minha. E provavelmente lá no futuro – espero eu que o futuro seja mais para lá do que para cá – eu vá me arrepender imensamente do dia de hoje. Do dia que aceitei ter um relacionamento nada sério com Katniss Everdeen.

Mas talvez valesse o preço das cicatrizes.

Como dizia meu pai: “Quanto mais cicatrizes você ganha no caminho, mais forte você chegará ao final do trajeto.”

Eu já possuo algumas cicatrizes. Que diferença faria uma a mais ou uma a menos?

De qualquer forma, nada vai superar a dor que senti ao ver Greta embaixo de Tresh, e logo em seguida descobrir que estava órfão.

A dor que Katniss me proporcionaria seria como cortar o dedo sem querer com uma faca. Você sente a dor no momento. Ela sangra no momento. Mas no outro dia você esquece dela rapidamente. E já começa a cicatrizar.

Ao menos eu espero que seja assim.

— Eu serei seu novo “passatempo”. – afirmo, sentando em minha própria cama.

— Acho que sim.

Passamos a tarde conversando coisas sem sentido algum.

Coisas do tipo que não acrescentam em nada a sua vida. Apocalipse zumbi. Filmes antigos que ninguém mais lembra. Livros que nunca foram lidos por ninguém do planeta. Autores fantásticos que devem existir pelo mundo mas que ninguém reconhece. O que vem depois da morte.

Nada muito filosófico, mas que fazia completo sentido para nós.

Até chegar a hora de dormir.

Eu esperava que, como estamos em um relacionamento sem compromisso, fôssemos dormir na mesma cama. Mas Katniss decidiu dormir em sua própria cama. Não disse nada. Não vejo problemas em dormir em minha própria cama sozinho. Mas é claro que acompanhado é bem melhor.

Adormeci pensando nos olhos cinzentos de Katniss. E me indagando de como uma cor tão sem graça pode ficar tão linda junto ao brilho dos olhos de Katniss.

Acordei no meio da noite. Algo me acordou. Não consegui identificar o que era. Mas notei a luz do banheiro ligada.

Saí da cama e entrei no banheiro. Katniss estava lá, chorando, abraçando as pernas e murmurando algo que eu não sabia o que era.

Igual ao dia que o pai dela venho fazer uma visita.

Ela estava embaixo do chuveiro, porém, este estava desligado.

Me aproximei e me agachei na frente dela. Ela, entretanto, pareceu não notar a minha presença. Continuou a murmurar palavras inteligíveis e olhar algum ponto fixo no chão.

— Katniss? – chamei em um sussurro e coloquei a mão em sua perna.

No mesmo instante que a toquei senti todo o corpo dela estremecer sobre o meu simples toque.

Katniss aumenta o tom de voz. Mas não chega a gritar.

— Não toque em mim! Por favor! Não! – ela implora, mas não desvia os olhos do chão.

Tirei imediatamente minha mão de sua perna.

— Tudo bem. Desculpa. Não estou mais te tocando. Está tudo bem, Katniss. Por que não voltamos para cama e dormimos, hein?

Ela não respondeu. Mas repetiu tudo o que eu falei.

Arqueei as sobrancelhas, não entendo nada do que estava acontecendo.

Mas lembrei de alguém que poderia me ajudar.

O avô de Katniss. Frank.

Saí do banheiro e pesquei o celular da Katniss em algum lugar na cama dela.

Liguei a tela, mas me surpreendi com uma senha diferente. Eram palavras. Droga! E agora?

Voltei para o banheiro com o celular e me agachei na frente de Katniss.

— Qual é a senha, Katniss? – perguntei.

Ela repetiu a pergunta que eu fiz.

Por que ela repete tudo que eu falo?

Me sentei no outro lado do box e pensei em alguma coisa que serviria de senha para Katniss e comecei a tentar. Tentei de tudo. O nome dela. Do avô dela. Nome de músicas e bandas. Então liguei a luz do quarto e vasculhei as coisas dela a procura de algo que me servisse de pista. Achei O morro dos ventos uivantes jogado na cômoda ao lado da cama. Digitei o título do livro e o celular debloqueou.

Corri na agenda e achei o número de que precisava. Voltei ao banheiro e me agachei na frente de Katniss a vendo no mesmo estado.

Estava chamando. Vários toques depois alguém atende.

Por Deus, Katniss! Por que me acordou tão tarde? – ouço Frank no outro lado da linha.

— Não é a Katniss. É o Peeta. – comecei nervoso – Aquele colega da Katniss que estava na cabana.

Ah, sim! Peeta! Lembro-me de você. O que lhe dá o direito de me acordar tão tarde da noite e ainda por cima com o celular de minha neta?

— Sinto muito acordá-lo. Mas eu não sei o que fazer. Katniss acordou no meio da noite e está aqui embaixo do chuveiro desligado, abraçada aos joelhos, chorando, murmurando e agindo como se eu nem estivesse na frente dela.

Mas que droga! Ok! Primeiro: não toque nela! Ela pode começar a gritar e não parar mais.

— Ok. – respondi sem falar que havia tocado nela.

Sorte minha que ela não começou a gritar.

Agora... Preciso que procure o remédio dela para mim. É um frasco laranja com uma etiqueta branca na frente.

Corri para o quarto a procura do frasco de remédio no meio da bagunça de Katniss. Por Deus! Como ela se achava nesta confusão? Achei o frasco no armário e voltei para o banheiro.

— Ok. Achei. É um que está escrito... Hã... Clonotril? – pergunto.

Sim. Agora me diz quantas pílulas têm aí dentro?

— Não sei! Está na metade.

Metade para mais ou metade para menos?

— Para mais.

Droga! Ela não anda tomando o remédio. Escuta, Peeta! Katniss não dorme mais com Johanna?

— Não. Ela está dividindo o quarto comigo agora.

Certo. Vou resumir para você algumas coisas. Katniss sofreu dois acontecimentos muito ruins na vida dela quando ela tinha doze anos. Ela frequentou uma psicóloga por um ano mas não ajudou muito. Ela toma este remédio desde então. Clonotril é um remédio receitado para pessoas com Síndrome do pânico...

— Síndrome do Pânico?! – pergunto surpreso.

Não posso acreditar. Por tudo que me passou na cabeça, nunca pensaria que Katniss tenha Síndrome do pânico.

A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade no qual ocorrem crises inesperadas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça, mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminente.

Sim. O normal seria dar uma ou duas crises na vida. Mas por algum motivo que nenhum médico conseguiu explicar, Katniss tem crises várias vezes. E a única forma destas crises não acontecerem é se ela tomar corretamente o remédio. Então preciso pedir que você cuide disto para mim. Eu não estou aí e sei que a teimosa se nega a tomar os remédios. Preciso que você verifique se ela está tomando uma pílula por dia. Pode fazer isto, Peeta?

— Posso. Mas o que houve com Katniss quando ela tinha doze anos?

Isto é algo que ela mesma terá que dizer a você. E é provável que ela não diga. Agora largue este frasco em algum lugar e se ajoelhe na frente da Katniss.

Larguei o frasco na beirada da pia e me ajoelhei na frente de Katniss que continuava na mesma.

— E agora?

Não toque nela. De forma alguma. Apenas diga para ela olhar para você.

Pedi para Katniss olhar para mim…. Uma…. Duas... Dez vezes mas ela apenas repetia tudo o que eu falava.

— Ela não olha! – falo começando a entrar em desespero. – Ela só está repetindo tudo o que eu falo.

Peeta, mantenha a calma. Fale com firmeza para ela olhar pra você. Não peça... Mande! Ela está presa em um pesadelo sem estar dormindo. Ela não vai sair deste pesadelo enquanto você não tirar ela de lá.

Tentei mais uma vez.

— Katniss, olhe para mim! Olha para mim! Levante a cabeça e olhe para mim, Katniss!

Ela olhou?

— Não! Ela só esta repetindo tudo o que estou falando!

Bata a palma da mão com toda força no chão e mande ela olhar para você.

Bati minha mão com toda força no chão enquanto gritei:

— OLHA PRA MIM, POR FAVOR!

Katniss deu um pulo quando pôde ouvir o baque da minha mão batendo o chão frio do banheiro e levantou a cabeça, olhando em meus olhos, mas o brilho havia sumido. Os olhos dela estavam opacos e suas pupilas estavam levemente dilatadas.

Ela olhou para mim, mas, ao mesmo tempo, parecia não estar me vendo.

E agora? – pergunta Frank.

— Ela está me encarando. – sussurro sem desviar meus olhos dos olhos dela.

Agora se identifique para ela. Diga quem você é. Seja gentil. Seja educado.

— Katniss, é o Peeta. – sussurrei – Lembra de mim? Eu ajudei você em Matemática. Sou eu, Katniss. O Peeta.

Estenda a mão para ela. Se ela pegar é porque está voltando para nós.

Estendi minha mão livre com a palma para cima e Katniss olhou para minha mão enquanto se encolheu um pouco mais.

— Tudo bem. Não vou machucar você. Sou seu amigo. Está tudo bem. É o Peeta.

Ela estende a mão lentamente até a minha e a pega de leve, erguendo ela com a palma virada para ela e entrelaça nossos dedos.

— Peeta?! – pergunta ela olhando para nossas mãos entrelaçadas.

— Estou aqui. – sussurro.

Ouço Frank suspirar de alívio no outro lado da linha.

Ela olha para os meus olhos e outras lágrimas caem dos olhos dela.

— Peeta? Peeta! Peeta! Meu Deus! Peeta! – ela chora enquanto se atira em mim e eu a abraço só com um dos braços por estar segurando o celular com a outra mão.

— Tudo bem. Tudo bem.

Peeta, vou desligar. Espere ela dormir e depois você dorme. Consegue acalmar ela?

— Consigo sim. Obrigado. Tchau. – desligo o celular e o jogo em algum canto e abraço Katniss direito.

O corpo dela entra em convulsão devido aos soluços.

— Tudo bem, Katniss. Vem, vamos para o quarto. – me levanto a puxando pelas mãos a levando até a pia para que ela lavasse o rosto.

Ela lava o rosto enquanto eu ajunto o celular do chão. Vejo ela pegar o frasco de remédio, pegar um e engolir com a água da torneira.

Eu pego o frasco da mão dela.

— Eu fico com isso. – afirmo.

Ela me segue até o quarto e senta na cama enquanto eu deixo o frasco na minha cômoda e o celular dela na cômoda dela. Ela segura minha mão quando solto o celular.

— Deita aqui comigo? – pede ela.

— Claro. – respondo. Ela se ajeita no canto e eu me deito. Abraço Katniss e a deixo apoiar a cabeça em meu peito. – Durma.

— Não quero. – sussurra ela.

Suspirei e tateei a mão pela cômoda a procura do O morro dos ventos uivantes. Senti a capa envelhecida do livro e o puxei, abrindo onde Katniss havia marcado, dobrando a ponta da página, e comecei a ler em um sussurro para tentar adormecê-la:

— “Muitas vezes provocamos os fantasmas e nos desafiamos mutuamente a andar e chamar os mortos por entre as sepulturas. Mas tu, Heathcliff, se te desafiar agora, ainda terás coragem de fazê-lo? Se tiveres, ficarei contigo. Não quero jazer ali sozinha. Podem enterrar-me a sete palmos de profundidade e fazer desabar a igreja sobre mim, mas não descansarei enquanto não estivermos juntos. Jamais!”

Li até minha voz cansar e minha cabeça embaralhar as letras do papel. Katniss acabou dormindo enroscada em mim, mas eu de forma alguma me importei com isso. Peguei o celular dela e ajustei o despertador para acordarmos de manhã.

Dormi sentindo a mão de Katniss esquentando meu peito, minha alma e meu coração.

 


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Notas finais do capítulo

PS.: Clonotril não é um remédio inventado por mim. Ele realmente existe. Serve não só para a Síndrome do Pânico como também para a ansiedade.
Espero que tenham gostado.
Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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