Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 5
Capítulo 5 - Kiss and Mathematics


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Cheguei com mais um capítulo para vocês. Espero que gostem. Boa leitura.



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Depois de Katniss me ajudar a me livrar do meu passado – materialmente falando – ela virou meio que a minha melhor amiga. Não que eu dava menos crédito aos outros, era só que eu conseguia falar sobre qualquer tipo de assunto com a Katniss. Sou muito mais aberto com ela do que com qualquer outra pessoa que eu conheça.

Sei que não sou o melhor amigo dela – este cargo já foi ocupado há muito pelo Finnick – mas a considero a melhor amiga para mim. Queria que ela se abrisse comigo da mesma forma que eu fiz na cabana no Dia de Cristovão Colombo. Mas ela quase nunca fala sobre ela mesma. Não que ela fale pouco. Deus, está longe disto, dê uma brecha e ela falará até você mandá-la calar a boca!

Ouço o barulho do despertador e me levanto com preguiça. Dou um chute na cama de Gale, que não está acostumado a acordar por conta própria.

— Levanta. – murmuro ainda com sono.

— Pra quê? – murmura ele grogue sem se quer abrir os olhos.

— Aula. – murmuro.

— Não têm aula hoje, babaca. 11 de Novembro. Dia dos Veteranos.

— Hoje é dia 11? – pergunto completamente perdido no tempo.

— É. A escola nos leva ao centro da cidade para vermos o desfile.

— Certo. Que horas é para estar lá embaixo?

— 10 horas.

Me jogo na cama novamente, suspirando de prazer ao sentir meus cobertores ainda quentes.

O Dia dos Veteranos, é um feriado destinado a lembrar dos combatentes de guerra. É quando nós honramos todos aqueles que serviram em guerras, agradecendo-os pelo serviço prestado à nação.

Acordo com o som do meu celular. Pego ele e atendo com os olhos fechados.

— Alô.

Peeta! Onde vocês estão? O ônibus vai sair sem vocês daqui a pouco. – Katniss grita comigo.

Me sento rapidamente e acordo na mesma velocidade.

Droga! Deitei e esqueci de ajustar o despertador.

— Estamos indo. – desligo sem esperar uma resposta. Pulo da cama enquanto tiro a roupa e sacudo Gale. – Cara, o ônibus. Estamos atrasados.

Gale pula da cama e começa a se trocar.

— Droga! – exclama ele.

Corremos escada abaixo e chegamos arfando no ônibus. O motorista não parecia nada feliz quando nos viu.

— Até que enfim! – exclama ele ligando o motor.

— Desculpa. – murmura Gale.

Estavam todos sentados menos Katniss que fazia sinal para nós irmos para lá. Ela estava quase no fundo do ônibus. Passamos por todos, que estavam nos linchando pelo nosso atraso. Abaixei o rosto enquanto Gale retrucava com os outros. Gale sentou com Katniss e eu sentei no banco de trás com Finnick.

— Onde vocês estavam? – pergunta Finnick.

— Dormindo. – respondo sutilmente.

Ele gargalha alto enquanto o ônibus dá a partida.

Em pouco tempo chegamos ao centro da cidade. Descemos nos deparando com o número de pessoas no local. É possível ter tanta gente em uma cidade tão pequena? Havia mais alguns ônibus a nossa frente, que levavam o resto dos alunos da escola. Conforme me informou Finnick, havia um professor para cuidar de cada ônibus. O nosso era o professor Johnson, de Química.

— Ok, pessoal. – diz o professor que foi o último a descer. – Todos perto de mim, vou fazer a chamada. Calem a boca se não ficará impossível ouvir a resposta. Allan!

— Estou aqui. – grita um garoto, enquanto formamos uma roda em torno do Sr. Johnson.

— Eu odeio o Dia dos Veteranos. – diz Katniss ao meu lado. Levei um susto. De onde ela surgiu? – Quer dizer, é claro que estou agradecida por eles lutarem na Guerra e tudo mais. Mas eles já estão mortos faz anos! Eles não vão ver o maldito desfile. Qual é a necessidade de gastar nosso tempo todo ano com um desfile?

— Acho que se eu tivesse morrido em uma guerra, gostaria de ter um desfile dedicado para mim. – a contradigo.

— Ok. Mas não precisa ser todos os anos! Eu sei que é justo. Eles deram a vida deles em nome da nação. Mas... Eu não tenho culpa disto. Não tenho culpa de ter havido uma guerra. Não tenho culpa deles terem morrido ou perdido uma perna na guerra.

— E eles não tem culpa de você ter nascido americana.

— Tudo bem. Você venceu desta vez. Mas... Por que dia 11?

— É celebrado no dia 11 de novembro pois é quando comemora-se o aniversário da assinatura da armistício que terminou a Primeira Guerra Mundial.

— Jura? Como sabia?

— Trabalho escolar. Vamos, o Sr. Johnson já está andando. – digo a empurrando.

Depois de todos se organizarem bem o suficiente para ver o desfile direito, notei que o resto do grupo havia sumido. Cutuco Katniss de leve.

— Quê? – ela indaga.

— Cadê Finnick, Gale e o resto? – pergunto perto do seu ouvido por causa do barulho.

— Perdi Gale e Finnick de vista quando desci do ônibus. Estava procurando por eles, mas já que encontrei você... Aqui estamos! Johanna, Annie, Madge, Clove e Cato foram em outro ônibus.

Assistimos aos homens fardados passaram pela rua. Junto com tanques de guerra e carros de guerra. Um caminhão com diversos soldados armados passou acenando para nós. Um deles estava com um alto-falante enquanto gritava:

— A comemoração do Dia dos Veteranos em 11 de novembro não só preserva o significado histórico da data, mas ajuda a chamar a atenção sobre a importante finalidade do Dia dos Veteranos: Uma celebração para homenagear veteranos da América por seu patriotismo, amor à pátria, vontade de servir e sacrifício pelo bem comum.

Não ouvi o resto, pois ficou muito distante e havia muito barulho.

Katniss ficou meio que saltitando com as pernas cruzadas.

— Qual o seu problema? – perguntei.

— Estou com muita, muita, muita vontade mesmo de ir ao banheiro. – diz ela.

Olho pra trás me colocando na ponta dos pés, procurando um lugar que pudesse ter um banheiro. Encontrei um bar perto de onde estávamos.

— Aquele bar deve ter um banheiro. – falei, mas não mostrei a ela, Katniss não conseguiria enxergar mesmo no meio de tanta gente. – Vamos lá.

Katniss me segue até chegarmos ao bar. Ela bate a mão no balcão, pois o balconista estava de costas para nós. Ele se vira e sorri.

— Pois não?

— Banheiro. – é a resposta de Katniss.

— Logo ali. – aponta o homem para uma porta onde estava escrito bem grande “Banheiro”.

Como não enxergamos?

— Obrigada. – ela diz correndo ate lá.

Me sento na banqueta para esperar Katniss.

— O senhor vai querer alguma coisa enquanto espera a moça? – pergunta o homem.

— Eu quero uma Coca. – respondo olhando para o tumulto de gente na rua.

— Aqui. – diz ele colocando uma lata vermelha na minha frente.

— Obrigado. – digo largando uma nota no balcão.

Bebo o refrigerante enquanto olho para a rua.

— É sua namorada? – pergunta o homem se referindo a Katniss.

— Sou amiga dele. – responde Katniss por mim se aproximando. – Obrigada de novo.

— De nada. – responde o homem enquanto nós saímos.

Termino a lata de refrigerante rapidamente e coloco no próximo lixo que encontro.

Depois de vermos todo o desfile, voltamos para onde estava nosso ônibus com o Sr. Johnson. Paramos no lado de fora enquanto o ouvíamos falar:

— Vão entrando à medida que eu chamo. - Depois de todos estarem dentro do ônibus, voltamos para a escola. Assim que chegamos o professor se coloca de pé na frente do ônibus e grita para nós. – Aviso do diretor: hoje não terá aula devido ao feriado. As quadras de esportes estarão abertas, assim como as bibliotecas. Para vocês não ficarem entediados dentro dos quartos.

Todos gritam eufóricos com a novidade.

Assim que saímos do ônibus, Finnick e eu somos indagados por Gale:

— Que tal jogar basquete?

— Estou de acordo. – responde Finnick imediatamente. – Joga basquete, Peeta?

— Basquete, vôlei... Jogo de tudo um pouco.

— Então vamos. – diz Gale.

Caminhamos até a quadra de esportes e trocamos nossas roupas no vestuário. Quando saio de lá, após me trocar, avisto Katniss sentada com outras garotas conversando.

Formamos dois times. Finnick ficou no meu e Gale ficou no time adversário.

A verdade é que meus irmãos sempre praticavam vários esportes comigo. Desde que eu era pequeno. Então sei jogar muitas coisas.

O jogo ocorreu tranquilamente. Depois de alguns mal-entendidos e xingamentos, levei o time à vitória com uma cesta de três pontos. Todos do time em que eu estava correram até meu encontro e me abraçaram enquanto vibraram. O time adversário também venho ao meu encontro, me dando tapinhas nas costas e dizendo parabéns.

— Ah, seu miserável! Fez a gente ganhar. – vibra Finnick me abraçando, eu apenas rio.

Gale vem ao meu encontro.

— Seu maldito! Você falou que joga de tudo um pouco, e não de tudo um muito. Parabéns. – não entendi se ele estava me xingando ou me parabenizando, mas acho que é a segunda opção já que ele sorria.

— Obrigado. – respondi.

Me virei vendo Katniss correr até ele e o abraçar. Bem, não é todo dia que se vê uma garota abraçando um cara todo encharcado de suor.

— Oi. – ouço uma voz atrás de mim.

Me viro vendo uma garota de cabelos loiros levemente encaracolados que acabavam logo abaixo dos seus seios, olhos verdes iguais a esmeraldas e um lindo sorriso.

— Oi. – murmuro tão baixo que não tenho certeza se ela ouviu.

Ela dá uma risadinha.

— Meu nome é Glimmer.

— Glimmer? – pergunto sem querer.

Quem em santa consciência coloca o nome da filha de Glimmer?

Pensei que ela se ofenderia e me daria um tapa na cara ou algo do tipo, para logo após se virar e ir para as amigas. Mas ela apenas dá a mesma risadinha que deu a pouco tempo.

— Eu sei. Devo ser a única garota que se chama Glimmer na face da Terra. – assume ela. – Meus pais não são tão bons em escolher nomes.

— Não! Quer dizer... Glimmer... Hã... É um lindo... Lindo... Nome! – maldita timidez que me faz gaguejar.

Ela ri mais uma vez.

— Obrigada. Mas qual é o seu nome?

— Peeta. Peeta Mellark.

— Hmm, Peeta! Belo nome. Você joga basquete muito bem.

— Bem... Mais ou menos.

— O que eu vi não era “mais ou menos”.

O que eu estou fazendo? Não quero entrar em outro relacionamento agora. Não depois de tudo o que passou.

E tem mais a Katniss. O que eu sentia por ela se intensificou e misturou meus pensamentos. Já não sei o que sinto por ela.

Preciso me livrar da Glimmer.

— Eu... Preciso ir. Tchau. – digo dando as costas para a garota extremamente bonita a minha frente.

— Hã... Tchau. – diz ela quando me viro.

Saio da quadra de esportes e sou atacada pela Katniss.

— Não acredito que você despachou a Glimmer.

— O quê? Você estava me espionando?

— Quem você acha que disse para ela falar com você?

— Por que fez isso?

— Porque você precisa esquecer totalmente a Greta.

— Eu não quero uma namorada. – falo na defensiva enquanto começo a andar em direção aos dormitórios.

— Você não quer, mas você precisa. – protesta ela. – Peeta, você é muito carente!

— Eu não sou carente coisíssima nenhuma.

— Ah, não?

— Ok! Talvez eu seja um pouquinho carente. Mas o que é que tem? Todo mundo é um pouquinho carente.

— Tudo bem. Não precisa ficar zangado. Eu não me intrometo mais na sua vida.

— Eu não estou zangado.

Ela não responde. Eu estava zangado. Mas não admitiria isto. Maldito orgulho!

Não gosto quando as pessoas se intrometem na minha vida. Nem quando decidem coisas por mim. Eu, definitivamente, não quero e não preciso de uma namorada no momento.

— Tchau. – diz Katniss quando chegamos ao prédio C, onde fica os quartos das meninas.

— Tchau. – respondo sem parar de andar.

Subo ao meu quarto e me atiro na cama.

Eu não me intrometo na vida da Katniss. Por que ela se intrometeu na minha? Bem, eu que comecei tudo. Contando para ela o que aconteceu comigo nas férias. Talvez a culpa seja minha. Não devia ter falado para ela o que houve em agosto. No final, continuei sem saber o que aconteceu com ela.

Não deveria ter me entregado as lágrimas. Pareci um idiota vulnerável e frágil. Precisei ser consolado por uma garota. Desde quando os homens são o sexo frágil? Bem, confesso: mulheres são mais fortes que os homens em certas questões.

Notei meu corpo grudando devido ao suor, percebendo, só agora, que saí da quadra de esportes sem tirar a roupa de Educação Física.

Decido tomar um banho e lavar o mau humor inesperado.

Me jogo embaixo da água morna, pensando nos motivos que me levaram a ter ficado zangado com Katniss.

Ela estava apenas tentando me ajudar. Não estava, tecnicamente, se intrometendo na minha vida. Ela apenas estava sendo uma amiga.

Esqueci os motivos que me deixaram zangado com Katniss e me concentrei em outro assunto.

Ela disse que eu estava carente. Talvez eu estivesse mesmo, apesar de não querer admitir isto para ela. Desde a morte da minha família e a traição de Greta, realmente me senti mais sozinho e precisando de algum tipo de atenção que ninguém me fornecia. Mas não preciso de uma namorada. E se acontecer o mesmo que aconteceu da última vez?

Que paranoia!

Talvez eu precise de um psicólogo. Não! Isto significaria que eu teria algum problema na minha cabeça. De forma nenhuma! Nunca admitiria ter algum problema na minha mente.

Nem todas as garotas são traidoras como Greta. Nem todas elas vão me trair com meu melhor amigo.

Esqueça a Greta, Peeta! Ela não vale o tempo dos seus banhos e pensamentos. Não vale nada! Nada! Assim como eu nunca devo ter significado nada para ela.

Parando para pensar: será que cheguei a significar algo para Greta? Eu sonhava tanto em me casar com ela, até mesmo em ter filhos. Será que ela pensava o mesmo? Será que eu não passava de um “passatempo” – como diz Katniss – para ela? Será que quando ela olhava para mim não via nada além de um rosto bonito?

Acho que prefiro nunca ter as respostas destas perguntas.

Nem sempre a realidade é o que queremos. Nem sempre ela vai sorrir para nós. Nem sempre a vida será flores coloridas que espalham alegria por onde estão.

Não que a vida seja um inferno. Mas também não é um céu. A vida talvez seja o purgatório. Um estágio que passamos por certo tempo. E, infelizmente, não é um tempo grande o suficiente. Ao menos, não para mim.

A vida não é difícil, mas também não é fácil.

Saio do banho, decidido a deixar Greta para trás. Deixar Atlantic Beach para trás. A única coisa que guardarei para sempre comigo será a minha família. Nada mais. Só eles valem o meu tempo e meus pensamentos.

Pego meus livros de Matemática, pois amanhã teria uma avaliação. Mal me sento na mesa de estudos e ouço o celular tocar. Levanto bufando – odeio ser interrompido quando estou estudando –, atendo sem ao menos ver quem era.

Peeta? – ouço a voz da Katniss.

— Não! É o papa! Se você ligou para o Peeta é claro que sou eu aqui, né? – respondo arrogantemente.

Peeta! Tem um teste de Matemática amanhã. – diz Katniss sem ao menos se importar com o meu corte.

— Eu sei.

Me ajuda! Pelo amor de Deus! Me ajude! Eu não sei absolutamente nada. Eu não posso ficar implorando nota de novo.

— Você saberia se tirasse os fones dos ouvidos durante a aula. – rebato.

Ei! Na última aula não ouvi música durante a aula.

— Só porque seu celular e fones foram parar na sala do diretor.

Ah, Peeta! Por favor! Me ajuda! – ela implora novamente.

— Tudo bem. Esteja aqui em cinco minutos. – desligo o celular e arrumo meu material, encontrando a matéria que cairia na avaliação.

Era algo tão fácil que eu não entendia por que Katniss não entendia. Eu iria apenas dar uma olhada no conteúdo pois já tinha o conteúdo pregado no cérebro.

Ouço batidas na porta e nem pergunto quem é.

— ENTRA, KATNISS! – berro, mas ninguém surge.

Ouço mais batidas. Levanto abrindo a porta e vendo Katniss dançar com os fones encaixados nos ouvidos e cantando “Brick my boring brick”. Ela tira os fones dos ouvidos e sorri para mim.

— Oi! – diz ela animadamente.

— Paramore? – pergunto me referindo a banda que canta a música.

— Você escuta? – pergunta ela entrando.

— Na verdade não. Mas um dos meus irmãos adorava esta banda. As paredes de casa não abafavam o som alto da música.

Ela ri.

— Entendi. – responde Katniss. – Vai me ajudar em Matemática?

— Não foi para isto que você venho até aqui?

— É, acho que foi. – ri ela olhando para o chão.

“Acho?”

O sarcasmo dela me dá arrepios.

— Então vamos começar logo. – falo me sentando na cadeira da mesa de estudos e puxando a cadeira de Gale para o meu lado. Ela senta. – Então, o que você não entende?

— O que eu não entendo? – pergunta ela.

— É. Vamos ter de começar de algum lugar.

— Eu meio... Então... Eu... Eu não entendo nada. – assume ela depois de tropeçar nas próprias palavras.

— Nada? – me surpreendo.

— Nem uma palavrinha. Ou fórmula.

— Você não sabe nada sobre funções? – pergunto ainda sem acreditar. – Katniss, funções é o conteúdo mais fácil que existe na história da Matemática!

— Para você é fácil! O cara das notas perfeitas que sabe mais que o professor.

— Então sou um nerd? – pergunto.

— Não. Você é bonito demais para ser um nerd. Vamos usar o termo “adiantado”.

Eu rio.

— Ok. Vamos do início. O que é função, Katniss?

— Se eu soubesse a resposta, obviamente não viria até aqui procurar ajuda.

— Certo. Função é uma lei que para cada valor x é correspondido por um elemento y, também denotado por ƒ(x).

— Tudo bem. Traduzindo...

Eu rio mais uma vez.

— Deixe-me ver uma forma que você consiga entender. Função é como um transformador.

— Transformador?

— Sim. Tipo uma máquina que transforma um número em outro.

— Ohhh. Agora estou começando a entender.

— Ótimo, estamos chegando a algum lugar. Função é a regra de um jogo super fácil. Tem uma regra. Eu dou um número para você, e você, de acordo com a regra, me dá outro número.

— Ok. Me perdi novamente.

— Katniss, acorda. É muito simples. Digamos que a regra seja “multiplique o número que eu der a você por ele mesmo” Se eu der a você um 1, você me devolve um 1. Porque você multiplicou o número um por ele mesmo. Agora digamos que eu te dê o número 2, você me devolve um 4. E se eu der o número 3?

— Eu te dou um 9. – responde ela.

— Isso aí. E se eu der o número 10?

— Eu devolvo um 100.

— E seu der 35.897?

— Hã... Posso usar a calculadora do celular? – pergunta Katniss arqueando as sobrancelhas.

— Não precisa. Eu estava brincando.

— Ainda bem.

— Então vamos aos tipos de funções...

Passei três horas explicando tudo a ela. Bem, explicando várias vezes a mesma coisa. Katniss pegou rapidamente. Tenho certeza que se ela tivesse prestado atenção nas aulas, não precisaria de mim. Ou talvez precisasse, pois precisei transpor todas as definições para um termo que ela entendesse como fiz com a definição de função. Fingindo que era um jogo.

— Peeta, não tenho como agradecer. Você salvou minha vida. Devia ser professor.

— Já falei que quero ser advogado.

— Ah, certo. Vai ganhar todos os casos. Pode ter certeza. Obrigada. Obrigada mesmo.

— Ei, calma. É só Matemática.

— Não! É um bicho de sete cabeças.

— Não é não.

— Tem razão. É um bicho de DEZ cabeças. – diz Katniss enfatizando a palavra “dez”.

— Depende muito da pessoa. – rio.

Um silêncio constrangedor paira sobre o quarto. Katniss começa a fazer rabiscos na última folha do meu caderno. Me pergunto o motivo dela não ter ido embora do quarto ainda. Ela só queria ajuda em Matemática. Já conseguiu o que queria. Pode sair.

Ela olha as horas no celular e respira profundamente antes de falar algo, como se estivesse com receio do que falaria. Ou apenas precisasse de forças para dizer o que queria.

— Desculpa. – ela sussurra.

— Pelo quê? – pergunto perdido em sua conversa.

— Por ter feito Glimmer falar com você. Você está certo. Não é da minha conta. Só achei que você gostaria, afinal, Glimmer é uma das abelhas rainhas da escola.

— Ah! Esta escola tem abelhas rainhas?

— Tem. – reponde ela rindo, em momento algum ele mira meu rosto, sua concentração continua nos rabiscos que faz no meu caderno – Mas elas não são abelhas rainhas como as dos filmes. Elas são legais. Glimmer é a mais bonita delas. Na verdade, ela é a mais bonita da escola.

Mas para mim, você é a mais bonita da escola.”, pensei em dizer, mas não soaria muito bem. Nunca teria coragem para dizer algo assim para Katniss.

— É, ela é muito bonita. – assumo.

— Não foi difícil convencê-la a falar com você. Ela se interessou em você rapidamente. Loiro, olhos azuis, alto, forte, astro do basquete colegial. Você é um ímã para garotas.

E você é um ímã para mim.”

Preciso parar com estas frases internas. Elas nunca passarão da linha do meu pensamento.

— Tudo bem. Não tem problema. – falo.

Ela dá um leve sorriso, larga a caneta em cima do caderno e olha em meus olhos.

— Eu me preocupo com você. Só isso.

Fiquei parado sem saber muito bem o que dizer. O que daria de resposta para esta frase?

Ela se preocupa comigo. Foi o que ela acabou de me falar. Mas será que ela não fala esta frase para todos os amigos? Talvez, Katniss seja o tipo de pessoa que se preocupa com seus amigos e tenta ajudá-los com os problemas ou qualquer outra situação.

Mas em troca de que ela faz isto? Em troca de uma amizade sincera? Em troca de aulas particulares de Matemática? O que a leva a tentar ajudar os outros?

Um dos meus maiores defeitos é fazer inúmeras perguntas para mim mesmo. Na grande maioria das vezes não consigo achar quase nenhuma resposta. E, se tratando de Katniss, não faltam perguntas para serem respondidas.

Continuamos nos encarando sem dizer absolutamente nada. Apenas tentando decifrar o que o outro pensava com as expressões dos olhos. Mas, muitas das vezes, os olhos não são o lugar certo para achar respostas.

Katniss arrasta sua cadeira de rodinhas para mais perto de mim. Apoia as mãos nos apoios de braço da minha cadeira e aproxima o rosto, beijando delicadamente meus lábios.

Não tive tempo de notar o que ela estava fazendo. Não tive tempo de reação ou de tentar afastá-la. Deus! Eu não queria afastá-la. Eu a queria o mais perto possível.

Em vez de afastá-la respondi o beijo. Desfrutando o prazer que era sentir os lábios de Katniss juntos aos meus.

Eu poderia beijá-la para sempre.

Sabia que era errado. Katniss tem namorado. Aliás, o namorado dela é meu colega de quarto. Sei que estou sendo um tremendo traíra aqui, beijando a garota de Gale. Mas os lábios desta menina são tão suaves, tão macios. O gosto é incrível. Não tenho coragem de terminar o beijo. Só tenho coragem de continuá-lo. E poderia continuar infinitamente. Apenas a beijando. Nada mais.

Puxei a cadeira dela para mais perto, querendo um pouco mais de Katniss para mim. Ela não pareceu se importar. Mais próxima agora, ela conseguiu fazer seus dedos acessarem meus cabelos. Ela puxou delicadamente meu rosto para mais próximo dela, como se tivesse medo que eu parasse o beijo.

Eu não faria isto. Ela teria que parar o beijo. Pois eu não conseguiria.

Ao invés do beijo ser interrompido por Katniss, foi interrompido por outra pessoa.

Ouvimos a voz furiosa de Gale gritar conosco:

— MAS QUE MERDA É ESTA?

Me afasto bruscamente, levando um susto e me sentindo em desespero. O que faria agora? Fico em choque, não por Gale. Mas por notar que estavam todos ali. Cato, Clove, Finnick, Annie, Madge, Johanna. Todos estavam olhando para nós dois boquiabertos. Mas o que realmente me assustava era a cara furiosa e vermelha de Gale.

— Gale... – chamou Katniss levantando da cadeira.

— Você... – silvou Gale apontando para mim, eu imediatamente me levantei da cadeira, ele caminhou até meu encontro e me segurou pelo colarinho da camisa – Você está morto.

Não tive reação nenhuma. O que poderia fazer? Ele me pegou beijando sua namorada. Lembrei do ódio que senti de Tresh ao vê-lo com Greta. Gale, sem dúvida, está se sentindo da mesma forma.

Katniss tira as mãos dele da minha camisa e o empurra para trás com a mão em seu peito.

— Não foi ele, Gale! Fui eu. Eu o beijei. Ele só se deixou entregar. Ele é homem, você deve saber como ele deve ter se sentido ao ser beijado. – Katniss tenta explicar, embora Gale não desvie seus olhos furiosos do meu rosto.

Mas assim que Katniss explica tudo ele desvia os olhos de mim para Katniss.

— Você que o beijou? – pergunta ele incrédulo. – Ora, sua grande vadia. – ele começou uma longa lista de adjetivos nada bonitos para Katniss. Quando termina ele volta a olhar para mim e apontando em minha direção – Você tem cinco minutos para estar fora do meu quarto ou vou destruir todos os seus dentes.

Fico parado alguns segundos tentando assimilar o que ele falou. Depois ajunto tudo que é meu do quarto, enfiando na mala e nas mochilas que havia trazido. Katniss me ajuda como se eu tivesse, literalmente, somente cinco minutos mesmo. Será que era só o que eu tinha mesmo?

Katniss me acompanha até metade do corredor e puxa meu braço, me sinalizando para parar.

— Vá até a direção. Diga que você teve um desentendimento com seu colega de quarto e peça a chave de um quarto do prédio E. – orienta Katniss.

— Por que não daqui? – pergunto nervoso.

— Porque se você esbarrar com Gale no corredor, ela vai dar uma surra em você.

— E você? – pergunto, notando só agora que ela também havia ficado encrencada.

— Eu vou ficar bem. Só faça o que eu falei. Eu tenho que voltar para lá e tentar dar uma explicação não só para Gale, mas para todo mundo também. - ela me abraça como se fosse algum consolo e sussurra rapidamente no meu ouvido – Desculpa.

Logo após vejo ela voltar para o quarto e virar a cabeça para me olhar antes de entrar no quarto.

Faço tudo o que Katniss disse, peguei um novo quarto no terceiro andar no prédio E, notando que o quarto era exatamente igual ao que eu dividia com Gale.

Esvaziei a mala e as mochilas, organizando tudo. Me joguei na cama, que, por sinal, era mais confortável que a do quarto de Gale, e senti uma súbita raiva de Katniss.

O que aquela garota tem na cabeça? Por que diabos ela me beijou? Será que ela quer que eu seja o novo “passatempo” dela?

O que não entendo mesmo é o fato de eu ter deixado. Eu deixei ela me beijar. Pior: eu correspondi ao beijo. Como se tivéssemos algum relacionamento além da amizade. Eu devia ter parado. Mas não. Eu continuei.

Por que eu continuei?

Talvez porque eu precise da Katniss. Ou talvez só dos lábios dela que me deixam fora de mim mesmo.

Eu preciso da garota maluca, mentirosa e que me fez queimar metade das fotos do meu álbum de fotografias.

Eu preciso da garota que me consolou quando eu estava triste. Que me escutou quando eu precisei. Que me fez companhia quando estava sozinho.

Preciso da garota que lê mais de cinco vezes o mesmo livro.

Preciso da garota que canta músicas sem se importar se alguém vai escutar ou não.

Preciso da garota que mexe com meu corpo, meus pensamentos e meus sentimentos.

Tudo isso, porém, não diminui em nada a raiva que estou sentindo dela agora. Agora tenho problemas com Gale e tudo isso é culpa dela.

Me ajoelho na cama e desconto toda a raiva no travesseiro em que apoiava a cabeça. Começo a chorar compulsivamente enquanto esmurro o travesseiro com toda a raiva que estou sentindo.

Mas não é raiva da Katniss.

Raiva de mim mesmo.

Porque só agora notei o que está acontecendo. E isto, não é culpa da Katniss. A verdade está tão na cara mas talvez eu não quisesse enxergá-la ou não queria acreditar nela.

Estou me apaixonando por Katniss Everdeen.

Eu não deveria me apaixonar por ela. Ela não é o tipo de garota que segue um relacionamento sério, diferente de mim. Ela não se apaixona com facilidade, ao contrário de mim, que já estou me apaixonando por ela sem nem mesmo perceber.

Canso de socar o travesseiro e atiro minha cara nele, tentando me acalmar.

Não é o fim do mundo. É só uma paixão. Por que estou assim? Todo mundo se apaixona. Este sentimento é algo passageiro. Logo, logo, tirarei Katniss da minha cabeça e, principalmente, do meu coração. Porque todas nossas paixões ficam arquivadas na pasta do coração. E só sai de lá quando movemos para a lixeira. Vai ficar tudo bem.

Depois de me acalmar, levanto da cama me dirigindo ao banheiro a fim de lavar meu rosto, que com toda certeza deve estar vermelho e inchado devido as lágrimas.

Lavo o rosto várias vezes até ele voltar finalmente ao normal.

Pego meu caderno e arranco a última folha que contém os rabiscos que Katniss fez há pouco tempo.

Olho para a folha vendo corações, estrelas, florzinhas. Há algumas carinhas demonstrando diferentes expressões. Casinhas.

Amasso a folha e jogo no lixo. Imediatamente ouço algumas batidas na porta.

Quem será?

Caminho até a porta, abro ela me reparando com o rosto de Katniss tomado pelas lágrimas. Aos seus pés estavam algumas malas e mochilas. Ela sorri para mim apesar de estar chorando.

— Oi, novo colega de quarto. – diz ela para mim.

 


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Notas finais do capítulo

Ei, gente! Estamos no capítulo 5 e eu só tenho uma pessoa comentando a fanfic. Assim eu desanimo. :( Que tal mais alguns comentários? Leva só três segundos. Pode ser? Olha que eu ficarei esperando.
Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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