– Pai, eu não quero fazer. Eu não posso fazer isso.- algumas lágrimas caem de meus olhos.

Eu queria ser forte pelas duas. Mas esta situação e enojadora.

– Você pode, e vai. Até daqui a dois meses, Katniss.- Diz meu Pai frio e calculista. Vou ficando com raiva. Como ele pode tratar sua própria e, agora, única filha assim? Eu não sou a merda de um objeto!

– Vai se foder, velho.- digo baixinho. Limpando as lágrimas.

– Como disse?- olho em seus olhos com fúria.

– Vai se foder, velho.- digo alto o suficiente para ele escutar.

Até eu sentir o local de minha maçã do rosto arder. E eu cair no chão. Levanto os olhos a fim de ver a cara de meu pai.- Nunca mais, ouse em falar isso.

Ele segura forte em meu braço e me joga dentro do carro.

O veículo sai em disparada mas abaixo o vidro e grito.- VAI SE FODER, VELHO!- e então o fecho de novo.

Jogando-me no banco do carona. Olho para o motorista esperançosa de que ele seja solidário, mas ao invés disso ele sobe uma placa preta não me dando a chance de vê-lo.

– Beleza.- suspiro fundo. E começo a escrever palavras aleatórias que me expressam.

As mais repitidas são “ódio”, e a menos comum “pena”.

~

– Senhorita Everdeen?- o motorista abre a porta.- Chegamos.

Nunca havia estado na casa de Gale antes pelas regra propostas de meu pai. Não posso ir a casa de nenhum amigo meu, seja homem ou mulher.

– Claro.- sorrio amarelo e pego uma mala que já estava arrumada inclusive para minha hospedagem de dois meses aqui.

Não pretendo voltar em casa tão cedo depois de ter mandado meu pai se foder.

– Katniss?- Gale me aguarda em frente à porta de sua casa.

Corro até seus braços e sorrio. Bem, sei que Gale também não quer casar-se comigo. Nos, na verdade, somos uma espécie de melhores amigos.

– Gale, você sabe que eu nao quero.

– Eu sei, Kat. Eu sei.- ele afaga meus cabelos e eu apenas fecho os olhos sentindo uma espécie de carinho afetivo.- Vamos entrar?- ele me afasta para me ver assentindo e eu dou os ombros.

A casa de Gale Mellark realmente é perfeita. Muito melhor que minha casa, expressa certas emoções já vividas aqui. Mas pelo jeito, o ar um pouco gélido mostra que essas emoções não são recentes.

– Meu pai mandou você ir até seu escritório. Te vejo mais a noite, agora tenho compromisso.- ele pisca para mim e vai embora.

Sei bem com quem seria esse compromisso. Mas prefiro não comentar. Me perco ao achar o tal escritório, e quando o acho tenho a surpresa de encontrar o homem mais lindo que já vi.

Perfeito seria a palavra certa, se não fosse pela máscara de indiferença esboçada em sua expressão.

Seus cabelos loiros com pouquíssimos fios brancos. Lábios finos e rosados. Pele branca pelo clima frio de Nova York. Feições da idade que o deixam extremamente sexy. Coberto por experiências de vida.

– Katniss Everdeen, certo?

– Sim.- eu acho. Digo meio absorta pela beleza divina.- Gale me avisou que gostaria de falar comigo.

– Ah sim.- diz ele balançando a cabeça negativamente.- Provavelmente já sabe o porque de estar aqui.- assinto.- Ótimo, menos um problema. Próxima coisa: em minha casa existem regras. E Regras foram feitas para serem compridas.- Pensei que eu havia me mudado para um lugar melhor.

Vejo bem o “melhor”.

– Que seriam?

– Bem, pode ir para a casa de quem quer que seja. Não use qualquer coisa aqui: seja drogas, cigarro, qualquer objeto sexual.- diz firme e eu posso jurar que corei.- outra, não traga ninguém para cá. Não quero essa casa enfestada de gente da sua idade.- Seu “filho” tem a minha idade, babaca de beleza divina.

– Apenas isso?

– Por hora, sim. Está dispensada.- diz ele.

Antes de eu sair dou uma última olhada para tudo ao meu redor. Uma bela mesa de escritório de vidro, sem flores nem nada. Umas estantes com vários livros empresariais. Um computador e vários papéis em cima dessa mesa. Um criado-mudo ao canto com algumas gavetas.

Fecho a porta atrás de mim e resolvo, por fim, ir ao meu quarto.

~

Não é nada pequeno. Em nada desconfortável, na verdade. Já está a noite e Gale passou-me a seguinte mensagem:

“Não poderei jantar com você hoje, avise ao Peeta que chegarei tarde e diga que eu sinto muito mas só chegarei pela manhã. Seu melhor amigo, Gale Mellark.”

Está mais para um bilhete digital do que para uma mensagem. Mas tudo bem.

Não aguentando mais de tanta fome(já sendo pelas 23:30), desço a escadaria fina de mogno até a cozinha que esbanja ostentação.- Senhor Mellark?- pergunto e ele apenas olha exaltado para minha pessoa.

– Katniss?

– Sim, er, bem. Gale pediu-me para que lhe avisasse que não poderia jantar aqui esta noite e chegaria apenas pela manhã.

– Claro.- ele morde o lábio inferior. Apenas então percebo a roupa que estava.

Um short de linho vermelho vinho é uma blusa de seda branca. E ele, bem o Loiro de Olhos Gélidos(como eu decidi apelida-lo) estava usando uma calça moletom cinza escura e uma regata comum branca.

– Vim comer.- anúncio e vou em direção à geladeira.

Não encontrando nada, pergunto:- Onde tem biscoitos?- eu realmente amo biscoitos durante a noite.

– Na gaveta de cima.- diz bebericando seu café.

– Ok.- suspiro fundo ao constatar que eu deveria subir em uma cadeira se quisesse pegar qualquer coisa lá em cima.

Pego uma cadeira, e sinto seus olhos me acompanharem. Boto-a no chão e subo, pegando qualquer caixa de biscoitos. Quando desço da cadeira percebo que ele já se fora.

Sem nem avisar.

Pego um copo de leite e o pacote de bolachas, subindo as escadas para o "meu" quarto. Desbloqueio a tela de meu celular, a fim de ver as mensagens e ligações perdidas, nenhuma de meu pai.

Bem se ve, que ele está muito preocupado com a minha pessoa. Tão preocupado que esqueceu dela.

Já são uma hora da manhã e vou dormir. Pela manhã terei aula cedo, por ser segunda. E depois, aula de equitação.

Não posso me dar o luxo de ir dormir tarde.