Um casamento arranjado! Marjorie não conseguia acreditar! Não tinham notícias de casamentos arranjados há séculos, pensou até que esse costume bárbaro havia cessado completamente em Ravensthorns. Agora seu pai aparecia com uma ideia dessas. O que ele estava pensando? Certo, tudo bem que ele é o rei, mas existem alguns limites, não é mesmo? Se não existem, deveriam existir. Nem mesmo havia uma boa explicação para essa sandice. Ravensthorns e Silverrain era fortes e independentes, e as relações entre ambos eram estáveis há décadas. O último conflito entre os dois reinos acontecera antes mesmo de seu pai ter nascido. Qual era a necessidade dessa união?
Ainda assim, o casamento nem era a pior parte. O que realmente irritava Marjorie eram os dois guardas na frente de seu quarto. Certo, certo, ela não era a mais disciplinada das princesas, mas o rei tentava prendê-la no quarto? Sério? Antes, o plano de Marjorie era apenas resmungar de modo antissocial até que Silverrain desistisse da união. Ah, mas agora Marjorie acabaria com o casamento com suas próprias mãos. Literalmente, seu plano estava bem em suas mãos: uma longa corda feita com seus lençóis, na qual ela atava os nós enquanto sorria malignamente.
Marjorie ainda estava elegantemente vestida, devido à reunião com seu pai e o representante de Silverrain. Sabia que a família de seu noivo já havia chegado, e a reunião deveria ser entre ambos os reis, mas houve um problema com o Príncipe Kassian, que estava de repouso agora no quarto em que estava hospedado. Ela saíra da sala de reunião tão afoita que colocara seu plano em prática imediatamente, sem nem mesmo se trocar. Ainda tinha sobre os cabelos a ornamentada tiara dourada que a reconhecia como herdeira. Sem intenção de prolongar mais, lançou a corda de lençóis pela janela, atravessou o parapeito e começou a descida.
Não havia descido muito ainda quando percebeu que não teria sido uma má ideia trocar de roupa, o vestido chique dificultava um pouco, mas sua pressa a fez esquecer qualquer detalhe. Felizmente, Marjorie estava acostumada com a descida. Como já dito, ela não era a mais disciplinada das princesas. O que realmente a surpreendeu foi a segunda corda, arremessada de um quarto a poucos metros do seu. Um rapaz jovem e bem-vestido, com um aro prateado na cabeça, começou a descer por ela. Marjorie ficou tão curiosa que até parou de descer por um momento. Ele parecia familiar, e, apesar de nunca ter visto o herdeiro de Silverrain antes, Marjorie tinha certeza que aquele era o Príncipe Kassian, seu noivo.
O jovem príncipe ainda não a notara. Ele parecia estar com dificuldades para firmar os pés enquanto descia pela corda, então estava muito concentrado. Marjorie esperou até que estivessem mais ou menos na mesma altura para dizer:
— Sua corda é muito curta.
Não foi uma boa ideia, pois o príncipe assustou-se com a companhia inesperada e quase perdeu a concentração no que fazia, precisando se agarrar com firmeza para não cair. Ele a encarou com um sorriso nervoso, seus olhos focando na tiara dourada de Marjorie, com um brilho de reconhecimento ao constatar, na sua frente, a noiva prometida. Kassian era conhecido por ser muito educado e respeitoso, e ser pego em sua fuga parecia tê-lo envergonhado. Seus olhos deixaram Marjorie, subindo até a janela do quarto do qual fugia, voltando em seguida para ela novamente.
— Não é o que parece, quero dizer… Olá, Vossa Alteza, bom revê-la. Isso aqui… não é nada pessoal.
— Jura? – Marjorie franziu as sobrancelhas em um olhar acusador, continuando sua descida, pois seus braços já reclamavam do esforço. – Fugir do nosso casamento pela janela não é nada pessoal? – Kassian empalideceu, sem responder, até que Marjorie deixou a seriedade de lado e riu, tranquilizando-o. – Querido, estamos na mesma situação aqui. Não se preocupe, Príncipe Kassian. Sua corda é muito curta, terá que descer pela minha quando chegar na metade do caminho.