Agora tínhamos que lutar uns contra os outros. Estávamos em número ímpar, então um de nós não iria lutar; quando olhei no quadro na sala de treinamento, vi que Tris, a transferida da Abnegação, não iria lutar.

Olhei para o nome ao lado do meu. Com quem teria de lutar?

Peter.

Oh, droga. Ele era mais alto e mais forte que eu. Sem contar que era esperto... Já eu, não sabia lutar, o máximo que posso fazer é me esquivar e correr. Sem contar que, as minhas últimas palavras para Peter haviam sido: Você tem olhos bonitos.

Talvez o elogio tenha servido para o amaciar e hoje ele não me mate.

Al e Will foram os primeiros a lutar na arena, enquanto nós assistíamos, esperando nossa vez. Lancei um breve olhar para Peter que estava com seus amigos, ele me encarava também, mas estava sério.

– Por que você não gosta deles? – ouço a voz de Tris perguntar a alguém atrás de mim.

– Peter é pura maldade – ouço Christina responder, e instintivamente presto atenção – Quando éramos crianças ele arrumava briga com as pessoas de outras Facções, e, quando um adulto chegava para apartar a confusão, ele chorava e dizia que a outra criança é que tinha começado tudo. E é claro que eles acreditavam, já que éramos da Franqueza e não podíamos mentir.

Fico surpresa com o que ouvi; claro, eu já sabia que Peter não era uma pessoas santa, mas com essa espécie de comportamento desde criança...

Olho novamente para ele, mas ele não está mais me encarando, então me viro novamente para luta, no momento certo em que Al atinge um soco fortíssimo contra o queixo de Will.

Quatro circula o nome de Al no quadro-negro.

Al levanta Will e o tira da arena.

– Próxima luta: Amélia e Peter! – grita Eric.

Caminho até a arena, lentamente e sentindo meu estômago revirar... Peter é mais alto que eu, mas não alto e forte o suficiente para ser lento, é ótimo para identificar pontos fracos nos outros, e, era perverso... não acredito que vá ter compaixão apenas por eu ser uma garota da Amizade.

Ficamos de frente um para o outro. Ele sorri para mim, debochadamente, e assume a postura de luta; os cotovelos flexionados e os punhos perto do rosto. Eu o imito, ainda me sentindo prestes a vomitar.

– Tudo bem, colorida? – os olhos dele parecem brilhar.

– Pare de brincar! Eu não tenho o dia todo! – Eric grita.

Vejo o punho de Peter vindo em minha direção e consigo me desviar, com uma rapidez que me impressionou. Ele continua a tentar me chutar e me socar, mas descubro que tenho reflexos muito bons.

Quando novamente ele lança o punho em direção a meu rosto, desvio e ao mesmo tempo desfiro um soco em direção a sua têmpora. Tanto eu quanto ele ficamos surpresos quando o atinjo.

– Desculpe. – sussurro. Acho que eu ainda era 99% da Amizade.

Ele me olha sem dizer nada.

– Será que eu terei de subir aí e dar um jeito na Amizade? – Eric grita, e se aproxima, claramente cansado dos últimos sete minutos sem nenhum sangue, desmaio ou morte.

Peter encara meus olhos seriamente, por um segundo e então eu sinto uma dor horrível em meu queixo, que me deixa tonta.

Ele me socou.

Esse filho da mãe me socou!

E não só me socou, como também chutou na direção de minhas pernas, me fazendo cair no chão. Por um segundo fico com medo que ele me chute, mas não sinto nada. Olho para cima; Peter voltou a posição do inicio. Sua expressão me parecia preocupada. Mas sumiu rápido. Me levantei cambaleante; pelo menos ele era honrável ao ponto de não atacar um oponente caído.

Ele me soca novamente, mas eu desvio, segurando seu braço; para logo perceber que foi um erro. Ele me vira, pronto para me lançar no chão, mas me agarro nele.

– Fique no chão, não levante. – ele sussurra. Primeiramente acho que ele estava zombando de mim, mas percebo que seu tom é preocupado.

Ele me empurra, me lançando fortemente no chão. Dessa vez não me levanto; também não era como se eu conseguisse. Me sentia cansada, meu rosto doía e minhas pernas estavam trêmulas...

– Ótimo. – diz Eric – Tire-a daí.

Sinto as mãos de Peter me levantando, delicadamente e me tirando da arena.

– Você está bem? – ele sussurra.

– Sim. – minha voz falha.

Ele nem me encara, apenas me deixa com Karen e volta para perto de seus amigos.

– Próxima luta: Christina e Molly! – grita Eric, mas, diferente de Karen, não estou prestando atenção a luta. Estou apenas concentrada na dor que sinto em meu corpo.

– Pare! – ouço Christina gritar e olho para a arena. Ela está horrível – Eu não aguento mais!

– O que você disse? – Eric pergunta calmamente, se aproximando – Você disse que não aguenta mais?

Christina se levanta com dificuldade e Eric agarra seu braço.

– Sigam – me. – ele diz.

***

Christina se segurava na grade sobre o abismo... se ela caísse, morreria. Faltavam trinta segundos para os cinco minutos estarem completos. Ela estava com medo e eu também. Nunca havia visto algo assim.

– Vamos Christina! – dizia Al e Tris.

O cronometro marcou cinco minutos e então ela pode sair dali. Estava aterrorizada.

Quando Christina já estava sentada no chão, fomos dispensados... parece que depois disso tudo não teria mais luta por hoje.

– Sinistro. – escuto Karen sussurrar ao meu lado enquanto saímos dali.