Noel permaneceu parado no meio da rua pensando como faria para falar com Lorena.
De repente o adolescente ouviu um barulho de motor seguido de uma derrapada,ele se arrepiou e assustado ele virou-se e encarou o fusca vermelho parado a centímetros de seu corpo. O motorista buzinou pedindo para que Noel saísse da frente,o garoto rapidamente fez isso.
Noel não estava acostumado com a cidade grande,seu coração estava acerelado e ele respirava pesadamente por ter levado um susto como esse,graças a Deus ele não foi atropelado.
O garoto se encostou em uma enorme placa que mostrava o mapa da cidade,olhando melhor era possível ver que no mapa havia as rotas que o ônibus fazia.
O ônibus iria parar em um ponto do outro lado da cidade em uma hora.
—Temos tempo de sobra!—Noel disse se espreguiçando.
Bell badalou os sinos de seu chapéu de modo irritado,ele queria dizer que eles deviam ter foco e não podiam se distrair!
Parece que Noel estava adquirindo o jeito relaxado de um adolescente ,tanto que ele até sugeriu que os dois fossem jogar no fliperama do outro lado da rua.
Porém o duende zangado puxou o cabelo do garoto fazendo-o entender que não tinham tempo para aquilo,afinal o Natal corria risco de não ser celebrado.
Se Noel quisesse chegar do outro lado da cidade em uma hora,era melhor se apressar.
***
Meia hora depois,o adolescente literalmente se rastejava pela calçada, não aguentava mais andar,estava cansado e com fome.
Para sorte dele havia uma caixa de papelão com uma frase escrita com canetão preto:
"Coisas de criança" perto de uma lata de lixo.
Dentro dela havia um skate e um saquinho com jujubas coloridas,dentre outras coisas.
—Parece que estamos com sorte!—Noel deu uma piscadela enquanto dava uma jujuba para Bell.—Acho que os adultos se livraram disso quando deixaram de ser crianças...—ele comeu uma jujuba.
Noel subiu em cima do skate,agora com mais velocidade e disposição ele chegaria a tempo no ponto.
Claro que foi difícil pegar o jeito da coisa,porém ele se esforçou ao máximo para conseguir se equilibrar enquanto aquela "tábua sobre rodas" andava.
Chegando lá, ele avistou o ônibus a alguns metros dali,em breve Noel veria Lorena sair do veículo e poderia falar com ela.
Só que não foi como o esperado,Lorena não desceu do ônibus e sim permaneceu lá para mais uma volta.
Antes que as portas do veículo se fechassem,Noel embarcou nele,já que o ônibus estava praticamente vazio foi fácil avistar Lorena sentada perto da janela.
—Ei garotinha!—Noel disse se segurando na barra de ferro amarela.—Tudo bem?
—Não falo com estranhos!—ela disse com os braços cruzados.
—Ora,mas eu não sou um estranho,Lorena!
—Como sabe o meu nome?—ela arregalou os olhos.
—Bom,porque eu sou o Papai Noel! Tenho a obrigação de saber o nome de todas as crianças!
—Que mentira! Papai Noel não existe! É apenas uma lenda boba para bebês! —Lorena disse fazendo uma careta como se tivesse comido um limão azedo.
—Não é não!
—É sim!
—Não!
—Sim!
Nesse momento Noel olhou pela janela e viu que o ônibus se aproximava do beco onde havia escondido seu trenó.
—Eu posso provar!—o adolescente disse pegando na pequena mão de Lorena.
Quando o ônibus parou,Noel puxou Lorena para fora a levando para o beco.
—Ei,eu não ia descer aqui!—a garota reclamou. —Me solta!
Lorena se debateu desesperadamente até que Noel a soltasse.
—Olha isso!—ele disse tirando os sacos de lixo que havia colocado em cima do veículo para camufla-lo.
Só que para sua surpresa em vez de um trenó,havia uma moto e em vez das renas,havia filhotes de cachorro.
—A magia do Green está afetando os objetos também... —murmurou para si mesmo. Até seu saco vermelho havia virado uma mochila.
—Ei seu maluco,você me fez sair do ônibus e me arrastou até aqui para ver essa porcaria?!—ela gritou chutando a moto.—Ai! Ai!—Lorena gemeu enquanto massageava seu pé.
—O que vamos fazer agora,Bell?—Noel perguntou.
Bell badalou seus sinos enquanto mexia a cabeça negativamente.
Noel suspirou e colocou as mãos no bolso do moletom na aquece-las pois estava ventando bastante fazendo o clima ficar frio. Porém ele se surpreendeu ao achar seu saquinho com "pó especial da imaginação" no fundo de seu bolso.
—É isso!—ele gritou.—Ainda temos uma chance! Se jogarmos o pózinho nos adultos eles voltaram a pensar como crianças e isso talvez possa reverter a situação!
Bell badalou os seus sinos como se dissesse: "Suponhamos que dê certo,você vai jogar pó nos adultos do mundo inteiro em apenas 48 horas?"
—Com licença, eu preciso chegar em casa antes do jantar!—Lorena disse apontando para o relógio em seu pulso.—Já que você me fez sair do ônibus, bem que poderia me dar uma carona,né?
Aquilo era uma má idéia, mas Noel quis ajuda-la mesmo que não soubesse dirigir uma moto.
No começo, um pouco de dificuldade,mas ele logo pegou o jeito e dirigiu a 70 km/hr.
—Você está ultrapassando o limite de velocidade!—Lorena gritou para que fosse ouvida,já que o vento era forte de mais fazendo um barulho ensurdecedor. Porém ela foi ignorada.—Qual o seu nome?
—Já te disse que sou o Papai Noel!
—Vou te chamar de Leon,pode ser?—ela perguntou,mas não obteve resposta.—Hoje eu tive o pior dia da minha vida,eu acordei de manhã e fui encontrar meus amigos e amigas,e adivinha? Todos eram adultos! Parece que eu sou a única criança do mundo!
—Lorena,por que você quer tanto crescer?
—Ora,a vida adulta é incrível! Posso mandar em mim mesma,fazer o que eu quero,vestir roupas de mulher!
—Mas...
—Eu só queria ser como a Anne,minha irmã mais velha...—Lorena fez uma cara meio triste.—Ela é tão legal e bonita!
—Acho que você devia aproveitar sua infância enquanto pode,olha para esses adultos ao seu redor...—Noel apontou.—Parecem felizes?
—Não.
—Lorena,curta sua infância e não tenha pressa de crescer! Saiba que quando você for adulta,sentirá falta de ser criança.
—Você pode estar certo.—ela suspirou.—Mas também pode não estar...—sussurrou.