(2° dia de 3)
No dia seguinte,Noel (que havia dormido em uma pilha de sacos de lixo no beco) acordou sentindo-se mais jovem e também sentindo a presença de mais alguém no local.
Quando ele levantou-se coçando a nuca pode ver Lorena parada na entrada do beco acariciando os filhotes de cachorro.
—O que faz aqui? E que horas são?—Noel perguntou bocejando.
—Andei pensando no que você disse...E se isso tudo for verdade...
—Mas é verdade! Olha,o meu amigo traidor usou uma magia para inverter as idades em uma tentativa de acabar com o Natal!—o adolescente disse.
—É a coisa mais estranha que já ouvi!
—O pózinho...—Noel murmurou e rapidamente pegou um punhado de "pó especial da imaginação".—Ei,Lorena!—ele a chamou,quando a garota o encarou ele assoprou o pó fazendo com que fosse parar no rosto dela.
—Atchim!—ela espirrou limpando o rosto com as costas das mãos.
Bell badalou seus sinos dizendo algo do tipo: "Não se deve utilizar uma dose pura! Precisa colocar em comida ou brinquedo!"
Porém o pó puro fazia mais efeito que o "acompanhado".
Lorena abria e fechava os olhos,estava querendo saber se aquilo era realidade ou não, mas parece que não era um truque de sua imaginação, ela estava vendo o Papai Noel,renas mágicas, um trenó e um duende.
Lorena conseguia ver as formas originais das coisas e não as modificadas pela mágica de Green.
Bell balançou a cabeça fazendo os sininhos badalarem.
—O que deu certo?—ela perguntou.
Parece que agora a garota também entendia a língua dos duendes.
—Agora eu acredito...—ela olhou para o Noel.—Você realmente existe!—ela o abraçou. —Mas ainda prefiro te chamar de Leon...—sussurrou.
—Parece que temos uma aliada!—Noel disse para Bell.—He! He! He!—riu.—Hã? O que eu acabei de dizer?—murmurou.
—Pode contar comigo!—Lorena o soltou. —Mas se você quiser impedir a mágica deste tal Green você deve cortar o mal pela raiz!
Ela tinha razão, provavelmente Green tinha uma sala central que devia ser como um covio e lá eles deviam encontrar algo que o ajudassem.
—Então devemos viajar até o Polo Norte!—Noel disse determinado.—Mas como iremos,se não podemos voar?—ele olhou para a moto.
Bell badalou seus sinos dourados e logo Lorena traduziu:
—Não precisamos ir até ele,ele virá até nós!
—Quer dizer que temos que chamar a atenção dele?—Noel segurou o queixo com o dedo indicador e com o polegar formando um "L".—E como faremos isso?
Os três botaram os cérebros para funcionar,eles precisavam de um plano incrível, estupendo,magnifico...
—Comida?—Noel sugeriu.
—Hã?
—Duendes são atraídos facilmente por biscoitos de gengibre com "pó especial da imaginação" em excesso!
—Acha que ele vai sair do Polo Norte para vir até aqui comer biscoitos?—Lorena perguntou com a mão na cintura.
—Quando se trata de comida,duendes até atravessam o Oceano Atlântico para dar uma pequena mordida no alimento!—Noel sorriu.—Vamos cozinhar!
A garota foi de bicicleta até sua casa e pegou os ingredientes necessários para preparar os biscoitos no beco junto de seus dois novos amigos.
Foi uma bagunça só para fazer UM simples biscoito,era farinha para um lado,açúcar para o outro,massa na parede, leite no chão e muitos outros ingredientes no rosto e nas roupas dos três.
Quando o biscoito ficou pronto,Noel colocou uma mão cheia de pó,já que aquele era o ingrediente especial.
—Agora é só esperar!—Noel disse limpando a farinha que estava em sua bochecha com a costa da mão.
Eles esperaram até tempo demais,tanto que acabaram se distraindo e tirando um cochilo. Um gato preto que andava pelo beco encontrou o biscoito em um prato em cima da lixeira e como estava faminto o colocou na boca (porém não comeu) e foi saindo discretamente.
Porém um cachorrinho (Totó era seu nome) que também cochilava acordou naquele instante e latiu acordando Lorena e Noel.
—O biscoito!—os dois gritaram ao mesmo tempo.
Lorena levantou-se em um pulo e correu atrás do felino,Noel foi logo atrás carregando Bell e o cachorro na mochila.
O gato percebeu a perseguição e pulou em cima de um banco,depois em uma janela e por fim no telhado de uma casa.
—Como iremos pega-lo?!—Lorena perguntou encarando o gato que pulava agilmente de chaminé em chaminé.
Noel entregou a mochila para a garota e fez o mesmo percurso que o bichano,porém de um modo desengonçado e sem equilíbrio, ele conseguiu subir no telhado e encarou o gato que estava a uns dois metros de distância.
Com muita cautela Noel pulou de um telhado para o outro,parecia que sabia fazer parkour há anos,ele subiu em uma chaminé para ter uma vista melhor do local e avistou o gato já na calçada indo para um parque.
—Está de brincadeira comigo?!—ele perguntou deslizando pelas telhas do telhado até chegar a calha cheia de folhas secas. Noel pegou um cabide de ferro e deslizou por um varal fazendo um tipo de "tirolesa" até chegar são em salvo ao chão.
Bell e Lorena olharam o adolescente surpresos,da onde ele havia tirado tanta habilidade? Bem,talvez fizesse parte da magia de Green.
Os três correram (menos Bell,ele foi carregado) até o parque onde o gato estava,o bichano se escondeu entre algumas árvores e arbustos,porém antes de saborear seu biscoito o duende maléfico o roubou.
—Esse biscoito já tem dono!—Green disse limpando o biscoito na roupa.
O duende analisou o gato,por fim o pegou no colo e disse:
—Todo vilão precisa de um animal assustador ao seu lado. Bem,você não me parece assustador,mas é feio que dói,então serve!
Green estalou os dedos e desapareceu em meio a uma fumaça vermelha.
Enquanto isso Lorena,Noel,Totó e Bell ainda procuravam o gato no meio da "floresta improvisada" do parque,mal sabiam eles que o bichano estava longe dali.
Os quatro ficaram alguns minutos procurando,então Lorena já cansada disse:
—Chega de procurar! O gato já deve ter devorado o biscoito e ido embora...
—Você tem razão. —Noel suspirou.—Vamos voltar para o beco...—ele olhou ao redor.—É...Alguém sabe por qual caminho viemos?
Os três tinham andando tanto que acabaram se perdendo no meio das árvores e do mato alto.
—Estamos perdidos...
Enquanto Lorena e Noel procuravam saber como sair dali,Bell percebeu uma fumaça vermelha em um cantinho perto dos arbustos,logo badalou seus sinos avisando seus amigos.
—Olha isso!—Lorena disse abanando as mãos na tentativa de afastar a fumaça.
—Só pode ser algum sinal que o Green esteve por aqui!—Noel disse.—Ele deve estar perto...
—Será que ele tem um esconderijo secreto ou algo assim aqui na cidade?—Lorena perguntou segurando o queixo.
Totó farejou o chão com o seu ótimo ofato e latiu ao encontrar um papel amarelado e amassado.
Noel pegou o cachorrinho no colo e leu o conteúdo que estava escrito no papel:
—Lista do Green: Colocar meu plano em prática. Construir um covio sinistro na cidade. Arranjar um animal medonho. Aproveitar minha genialidade.
—Me deixa ver isso!—Lorena pegou o papel das mãos de Noel.—Acho que o Green não é tão esperto assim...
—Por que diz isso?
—Porque ele escreveu as coordenadas para chegar até o covio dele!—a garota disse mostrando o verso do papel.
Noel analisou a folha de papel por alguns instantes, finalmente ele disse:
—Temos de ir até lá!
—Mas isso é em outra cidade,demoraria muito!
—Quando mais tempo perdermos pensando nisso,menos tempo teremos para impedir que o Natal deixe de ser celebrado!—Noel disse colocando o cachorro no chão.
Lorena assentiu,novamente os quatro voltaram a procurar uma saída, até que Totó pulou por cima de um arbusto,Bell que foi ver aonde ele tinha ido se surpreendeu ao ver a entrada do parque. Parece que eles estavam livres para ir em busca do covio do Green.
Os quatro foram até o beco,enquanto Noel pensava em um jeito de levar todos os cachorros consigo, Lorena sugeriu:
—Podemos deixa-los no quintal da minha casa! Assim eles terão comida e água, além de ficarem mais seguros!
—Boa idéia. —Noel disse colocando o capacete.—Vamos! Temos muita coisa a fazer!—ele subiu na moto.
Enquanto Lorena colocava o capacete,Jolie (a cadela menor e menos desenvolvida) entrou dentro da mochila que estava escancarada no chão ficando apertada com Bell e Totó.
Lorena pegou a mochila (estranhou um pouco o peso,porém imaginou que Bell havia comido muita massa de biscoito) a colocou em suas costas e subiu na moto.
Após deixar a caixa de papelão forrada com panos velhos com os filhotes na casa da garota,eles seguiram em frente com a viagem que duraria um longo tempo.
Ao olhar para a paisagem,Noel percebeu que tudo parecia mais escuro e triste,nem tinha uma única luizinha colorida para enfeitar as ruas,os adultos até pareciam estar mais velhos.
—Lorena,você percebeu que os adultos estão envelhecendo e que o tempo está escurecendo?—Noel perguntou preocupada.
—Percebi...—a garota respondeu.—Leon,o que será de nós se o plano de Green der certo?
Noel suspirou,desde que chegou na cidade grande não pensou no que fazer,sempre foi impulsivo,porém dessa vez ele pensou e respondeu:
—Não vamos deixar ele vencer,vamos?
—De jeito nenhum!
—É assim que se fala!—Noel sorriu e acelerou,ultrapassando o limite.
Logo os prédios, ruas asfaltadas e postes foram sumindo da paisagem,eles haviam chegado a uma estrada de terra,havia poucas casas em meio a grama alta e pouca iluminação.
O céu estava tão escuro que nem parecia ser de tarde,parecia que já estava de noite.
Bell badalou seus sinos,Lorena disse:
—Também achei esse clima estranho...
—Acredito que Green também modificou isso,esse céu escuro é tão depressivo que faz qualquer adulto se entristecer.—Noel disse.—Ele gosta de ver a infelicidade dos outros...