- Já vou! - Nina disse quando escutou algumas batidas na porta, terminou de lavar a louça do jantar e foi atender com um sorriso, achando que era Robbie. - Oi, meu am... - a felicidade murchou quando viu David encostado na pequena mureta da varanda.

- Que bom que ainda me ama. - ele disse com um sorriso de galã. Ele podia ser um canalha, falso, arrogante e prepotente mas mesmo assim era muito bonito com os cabelos castanhos e bem cortados, olhos verdes vivos e um corpo atlético, mas para Nina ele não tinha mais aquele encanto, ela sentia ódio dele e seu coração pertencia a outro.

- O que quer? - perguntou seca.

- Vim ver nossa filha. - ele disse como se fosse um pai presente.

- Minha filha!

- Nossa filha, que eu saiba é preciso um homem e uma mulher para gerar uma criança. - ele disse com um sorriso triunfante ao ver que Nina exaltava-se cada vez mais. - Eu sou o pai dela, tenho meus direitos.

- Perdeu qualquer privilégio quando disse que não a queria, quando quis que eu a tirasse.

- E você me obedeceu? - perguntou ele chegando perto dela.

- Você é um ser desprezível! Saia da minha casa! - ela falou fechando os punhos.

- Olhe como estou morrendo de medo. - disse num tom de deboche. - Deixe-me passar! Quero vê-la!

- Por que o interesse depois de tanto tempo?

- Quer mesmo saber? É porque vou lutar pela guarda dela, quero que minha filha more comigo.

Nina não aguentou, David já estava a sua frente, ela levantou a mão em punho e bateu no peito dele, só que por mais força que colocasse no golpe, ele era forte e parecia não surtir efeito e ele a segurou pelos ombros, forçando a passagem. David a jogou no sofá com brutalidade e enquanto pensava onde poderia ser o quarto de Rosa, sentiu alguém o virando e o atingindo com um soco, Robbie tinha acabado de chegar e enfureceu-se ao ver David machucando Nina daquela forma.

- Não tem nada para fazer aqui, saia! - vociferou Robbie para o homem que passava a mão no rosto dolorido.

- Vejo que arrumou um guarda-costas, vou ficar com a menina, minha filha não será criada por dois desequilibrados. - disse indo embora.

Robbie o viu sair e depois voltou sua atenção para Nina que permanecia no sofá estática e com um olhar vago.

- Meu amor, acabou, fale comigo por favor. - ele disse sentando-se ao seu lado e a abraçando carinhosamente.

- Não acabou Rob, ele não vai desistir. - ela disse encolhendo-se nos braços protetores de Robbie e deixando algumas lágrimas escaparem.

***//***

Lory chegava num restaurante acompanhada de Aron, ele estava num terno cinza escuro adequado ao lugar e ela tinha colocado um vestido vinho um pouco decotado e na altura dos joelhos, os sapatos pretos com um salto não muito alto e o cabelo solto. Ele informou o nome ao recepcionista e esse o levou para uma mesa ode estava Sofie com seu namorado, um moreno de olhos castanhos claros que parecia bem a vontade.

- Que bom que veio Lory! Esse é o meu namorado, Kim. - Sofie os apresentou.

- Prazer, Lory. - ela disse educadamente.

- O prazer é todo meu. - ele pegou a mão dela e a beijou.

Tiveram um jantar agradável, Aron sabia o que dizer na hora certa e Sofie sorria quando via Lory ficar avermelhada por conta de algum elogio ou indireta dita pelo se acompanhante. Depois de mais ou menos duas horas eles terminaram o jantar e cada um foi para sua casa.

Aron tinha levado Lory até a porta, ele a olhava ternamente enquanto despediam-se, Aron não tinha a intenção de beijar-lhe a bochecha novamente porém foi o máximo que conseguiu já que ela virou o rosto no último segundo.

Lory entrou com a cabeça a mill, foi colocar a ração para Nyx e sentou-se numa das cadeiras na cozinha. Sentia seu coração apertado, estava apreensiva e não sabia o motivo, sua casa nunca pareceu tão solitária e fria, pelo menos tinha Nyx que estava com a cabeça apoiada no colo da dona, como se de alguma maneira entendesse que ela precisava de seu carinho, mesmo sendo um animal, Nyx a compreendia.

***//***

Lory chegava para mais um dia de trabalho, a primeira coisa que chamou sua atenção quando saiu do elevador foi o embrulho vermelho em cima de sua mesa, ao lado de uma rosa branca e cartão. Sentou-se na cadeira e abriu o presente, eram vários bombons de diversos formatos e tinham uma ótima cara, pegou o cartão e o abriu.

“Dizem que os chocolates alegram as pessoas, vê-la chorando parte meu coração, espero ajuda-la a sorrir

                                                                          AS: Admirador Secreto

Ela sorriu enquanto levava um deles até a boca para prova-lo, tinha um delicioso recheio de nozes e ela fechou os olhos por um instante, apreciando o sabor.

Algumas horas depois, Lory sempre era uma das últimas a descer para almoçar, enquanto terminava de guardar uns papéis não viu a figura masculina aproximar-se silenciosamente.

- Chocolates? Come doces? - Adam perguntou sentando-se numa parte da mesa onde não tinha nada.

- Por que não comeria?

- Sei lá, porque engorda ou alguma coisa parecida?

- Eu não ligo, sou chocólatra assumida.

- Eles parecem serem muito bons. - Adam pegou um e o mordeu. - E não só parecem, são muito bons, onde os comprou?

- Ei, quem deixou? - ela disse com uma feição séria, fazendo Adam abrir um sorriso. - Eu ganhei esses chocolates.

- Hum... alguém especial?

Lory não sabia o que responder, mas também não precisou, o celular de Adam tocou fazendo ele quebrar o contato visual com ela para atender o aparelho.

- Alô... ver quadros?... ótimo, não entendo nada de obras de arte... tem que ser agora?... ok,ok, estou ai dentro de meia hora. - disse desligando, sentou-se na cadeira na frente da mesa, olhou para a mulher a sua frente e sorriu vendo ela totalmente absorta em pensamentos, admirando a rosa branca.

- Seu amigo pintor ainda está na cidade?

- Petter? Não, ela já foi embora. - ela voltou a atenção para o moreno.

- Merda, hoje não é o meu dia. - resmungou Adam.

- Algum problema?

- Imagina, é só minha mãe querendo que eu vá numa dessas lojas de arte moderna para escolher alguns quadros para redecorar a casa, e advinha? Eu não faço ideia de qual comprar.

- Não é assim tão difícil...

- Entende desses quadros?

- Aprendi alguma coisa com Petter mas...

- Espere um minuto. - ele fez um gesto com a mão enquanto a outra ocupava-se em discar algo no celular. - Alô... sou eu, Adam... Lory será muito necessária hoje?... Não? Ótimo, eu estou precisando de alguns conselhos dela numas obras de arte... Thau. - ele desligou e concedeu a Lory mais um de seus sorrisos triunfantes.

- Para quem ligou? - perguntou curiosa.

- Para minha mãe.

- A Senhora Gwen?

- Também pode ser chamada assim, você está liberada dela por hoje, mas tem que me ajudar.

- Passar o resto do dia nesse escritório estressante ou passar uma ou duas horas numa galeria de arte? Difícil escolher...

- Deixe de brincadeira, vem logo. - ele ainda teve que esperar ela pegar seus pertences antes de irem, mas estava feliz demais para reclamar qualquer coisa.

Ele a levou até seu carro, onde abriu a porta para que ela entrasse e depois foi para o banco do motorista, para seguirem para onde iriam comprar os quadros.

Quando chegaram foram recebidos por um simpático recepcionista que os tinha levado para dentro da galeria. O local tinha tons claros que contrastavam com o confuso colorido de alguns quadros. Ele informou que estava saindo para almoçar mas como a família Spark era bem conhecida o patrão tinha dito que não havia problema em deixa-los no local.

- Então, por onde começamos?

- Em qual cômodo pretende colocar os quadros?

- Os de hoje são para o meu.

- Eu vi alguns bem interessantes bem ali, vem comigo. - ela pegou na mão dele e o puxou na direção de algumas pinturas.

- O que esse aqui quer dizer? - ele disse parando na frente de um que tinha algo parecido com uma grande bola e dentro dela alguns laços.

- Esse significa um período muito especial na vida de uma mulher...

- A gravidez?

- Exatamente.

- Mas por que os laços?

- Significa o bebê.

- Hã?

- Uma criança é um laço de amor entre um homem e uma mulher, elas são frágeis, lindas e alegres assim como esses laços. - Adam olhava para Lory com um sorriso, só se deu conta que estava alheio ao mundo quando ela o perguntou se tinha gostado.

- Muito feminista, vamos ver outros. - eles se dirigiram para o próximo, esse parecia mais romântico, mostrava uma rosa vermelha e uma negra entrelaçadas dentro de uma gota d'água.

- Esse simboliza o amor, as rosas mostram a paixão e a mentira, essa gota na verdade é uma lágrima que numa relação pode ser de felicidade ou tristeza.

- Um quadro muito bonito.

- Sem dúvida, ainda mais para corações apaixonados. - disse ela para depois ficarem em silêncio apreciando a pintura, após alguns segundos eles pararam num com vários borrões e riscos coloridos.

- Er Lory... - ele a chamou com um olhar interrogativo.

- Eu não sei o que esse quer dizer mas acho que quem o pintou estava com muita raiva ou pode ser um daqueles feito por animais. - ela riu baixinho enquanto Adam soltava uma gargalhada mais alta que parecia ser uma bela sinfonia aos ouvidos da Lory. Ele seguiu para o próximo a deixando ainda observando aqueles rabiscos. Ela tinha seus sentimentos confusos, gostava muito de Adam, só não sabia se era como amigo ou... não! Não poderia gostar dele de outra forma. E como se alguém acendesse uma lâmpada no alto de sua cabeça, ela viu o significado daquela bagunça de cores, elas significavam a confusão, incerteza e angústia do amor e da alma.

- Acho que já escolhi o que quero. -Adam disse um pouco distante, a tirando de seus pensamentos e a fazendo ir até ele.

- Esse? - ela riu divertida.

- Quer quadro melhor para um quarto de um homem solteiro?

O quadro em questão era de uma mulher tentando cobrir as genitálias com as mãos mas que não mostrava seu rosto

- Tem certeza? - ela perguntou ainda rindo.

- Qual o problema nele? - Adam não entendia o motivo dela rir tanto.

- Por que o escolheu?

- Bem... porque é de uma mulher e... ela está nua. - falou ele como se fosse óbvio.

- Não é uma mulher.

- Como assim? Se tem alguma coisa que eu conheço é o corpo de uma mulher e isso definitivamente é uma...

- É um homem.

- Você usa óculos e esqueceu no carro? Se quiser podemos ir pega-lo. É uma mulher, olhe os seios dela. - Adam não entendia de onde ela tinha tirado aquela ideia, o corpo que estava no quadro era feminino mas ela dizia que era um homem, ele não estava entendendo mais nada.

- Olhe para as mãos dela, não parecem meio brutas para uma mulher?

- Mas isso não quer dizer nada, ela pode...

- A mão que está na parte íntima está encurvada como se tentasse esconder uma protuberância, pelo que sabemos, mulher não tem protuberâncias nessa área.

Adam arregalou os olhos, Lory estava certa, aquilo não era uma mulher.

- Isso é um homem! - ele disse espantado fazendo Lory rir ainda mais e ele ficar sem fala.

- Esse quadro mostra um homem em dúvida sobre sua opção sexual, ele tenta esconder o que denuncia sua masculinidade enquanto mostra os seios que podem ser de silicone ou através de hormônios.

- Ok, desisto das obras de arte, vou colocar alguns pôsters na parede e está muito bom.

Lory o olhou rindo, Adam parecia uma criança que acabava de descobrir que o coelho não coloca ovos de chocolate.

- Vem, vou te deixar em casa e depois falo com minha mãe que vou decorar meu quarto do meu jeito, como sempre fiz.

- Mas o dono da galeria vai chegar daqui a pouco, não pode deixa-lo esperando.

- Quase cai na propaganda enganosa que ele faz nesse lugar, acha mesmo que me importo se ele vai nos esperar ou não?

Lory ainda ria muito e Adam também achava graça, não conseguia ficar bravo com ela, a situação era de fato cômica.

Eles chegaram na porta que dava para a recepção e por mais que tentasse, ela estava trancada.

- O que está acontecendo? - Lory perguntou atrás dele.

- Estamos presos aqui dentro.

- O que? Deixe-me ver. - ela ficou na frente dele e tentou abrir a porta. Uma tentativa inútil, realmente estava trancada, Lory virou-se e deparou-se com Adam perigosamente perto, a respiração dele batia em seu rosto e ele tinha um aroma delicioso, masculino e agradável, um pouco cítrico e um pouco selvagem, podiam lançar uma nova linha de perfumes com o cheiro de Adam, não, não poderiam, ele era único.

Adam a olhava fixadamente e deu pequenos passos involuntários em sua direção a colocando contra a porta e estendeu os braços para impedi-la de sair, fitou os lábios rosados entreabertos e os olhos azuis dela cintilavam. Será que ela também queria?

Ele aproximou os rostos, a viu fechar os olhos e também fechou, ansiando pelo contato entre os lábios, surpreendeu-se quando apenas sentiu uma brisa onde deveria estar o rosto dela, abriu os olhos a tempo de vê-la passar por debaixo do seu braço.

- Já que estamos presos aqui, podemos ver a ala de esculturas. - ela disse tentando não encara-lo e controlar seus batimentos cardíacos.

Adam olhava para o rosto corado dela e a seguiu com a promessa silenciosa de ainda tê-la para si.