Cursed escrita por Creature


Capítulo 4
II – I trust a cursed prince


Notas iniciais do capítulo

Feeeeeeliz Natal. No momento me encontro no único lugar do hotel que pega wifi, lutando com um menino alemão de oito anos por uma tomada.
Obrigada mesmo pelas reviews. Serião. Vocês aquecem meu coração de pedra ((((gelo?????!!!!!!!1!1!1!1))). Aqui vai meu presente de Natal, postado com wifi precário e celular com bateria quase zerada. Merry Christmas. ;)))))
Enjoy.



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I trust a cursed prince*

*"Eu confio em um príncipe amaldiçoado". Tradução livre. 

Lily Evans

Quando eu acordei, por um minuto pensei que aquilo tudo tivesse mesmo sido um sonho muito esquisito, até eu me dar conta de três coisas. Um, ninguém tinha jogado um sapato em mim pra me acordar. Incomum. Dois, aquela definitivamente não era a minha cama e nem ao menos o meu quarto. Meu quarto não era tão luxuoso. O quarto em que eu estava era digno da nobreza. E três, o cara com os olhos castanho-esverdeados do meu cervo me encarava de maneira preocupada. Só então percebi que eu provavelmente tinha desmaiado. Muito bem, Lily. Que grande demonstração de coragem.

Minha primeira reação de auto defesa foi agarrar o objeto mais próximo — um abajur banhado em ouro puro — e jogá-lo no ser ao meu lado, que caiu da cadeira em que estava sentado com um baque. Só então me dei conta de que haviam outras pessoas no quarto. Dorcas, que tinha uma expressão que era uma mistura de confusão e puro divertimento no rosto. Sir Dumbledore, que parecia aliviado por eu estar aparentemente bem. Sua neta, Marlene, que parecia sussurrar uma interminável série de xingamentos ao outro ser no quarto, Padfoot. Quer dizer, eu achava que era o Padfoot. Ele estava no modo ex-cachorro-agora-humano, então ainda era meio confuso para mim, e encarava Marlene de forma divertida.

O ser de olhos castanho-esverdeados levantou-se do chão, murmurando uma série de palavras que pareciam xingamentos que não eram usados desde o século XVII. O fuzilei com o olhar.

— O que você fez com o Prongs? E o que diabos está acontecendo aqui? E de quem é essa casa banhada a ouro? Ou, melhor ainda, quem diabos é você?

Ele me encarou como se eu fosse maluca.

— Eu sou o Prongs. - E ele parecia me conhecer o suficiente para saber que eu já tinha um protesto na língua, porque tapou minha boca antes de prosseguir. - Se calar essa boca por cinco minutos, vou te explicar exatamente o que está acontecendo aqui. Essa casa banhada a ouro é minha. Ou pelo menos era a uns trezentos anos atrás, no entanto não acho que alguém a use. Não mais. Eu sou Vossa Alteza Real, terceiro do meu nome, Delfin do Reino Unido, Lorde das Terras Inglesas e príncipe - ou pelo menos ex-príncipe - da Inglaterra, James Fleamont Potter.

E ele teve a audácia de piscar para mim e sorrir de maneira sedutora (não que eu achasse o sorriso dele sedutor. Ou qualquer outra parte dele. Só acredito que tenha sido essa a intenção. De qualquer forma, não devo satisfações a ninguém.) como se fosse o bastante para me convencer de que o que ele falava era verdade.

Semicerrei os olhos.

— Primeiro, não tem como você ser o cervo. Isso é biologicamente impossível, não importa que eu tenha visto acontecer com meus próprios olhos. Eu nunca tive muita sanidade mental. Segundo, o príncipe da Inglaterra é o Charles. Ou o William. Ou o Harry. Ou o George. O ponto é, nenhum deles se chama James. Aliás, não acho que tenha existido um príncipe inglês chamado James nos últimos três séculos.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— É exatamente o que eu estou tentando te dizer.

Eu estava absolutamente confusa.

— Você espera que eu acredite que é um príncipe inglês de trezentos anos de idade e que também é algum tipo de cervosomem?

Ele bufou, rolando os olhos castanho-esverdeados – que, aliás, eu surpreendentemente conhecia muito bem.

— Eu não sou um cervosomem. Eu fui amaldiçoado, Lily.

Soltei um riso sarcástico antes de responder.

— Você não é o Prongs.

Eu não sabia porque, mas a ideia daquele cara ser o mesmo cervo no qual eu deitava e falava com sobre meus sentimentos mais profundos por horas me assustava mais do que qualquer outra coisa já havia me assustado um dia. Eu me abrira com Prongs de uma maneira que eu não me abriria com ser humano nenhum.

Ele suspirou antes de falar.

"De todas as criaturas que andam e respiram na Terra, nenhuma é criada mais fraca que o homem." Você citou isso pra mim semana passada, embaixo da árvore de carvalho no zoológico. — Congelei. — Estávamos absolutamente sozinhos. Você conferiu o lugar inteiro, então sabe que falo a verdade. Quando Greg, o zelador, apareceu e disse que você parecia ser levemente esquisita sempre que conversava comigo, você rosnou pra ele e ele saiu correndo. Eu corri atrás dele por toda a extensão do cercado até expulsá-lo pelo portão. Eu sou o Prongs.

Senti que estava começando a suar frio, e James — se é que ele era quem havia dito ser — me lançou um olhar preocupado, e por um momento eu achei que ele fosse me abraçar, mas então ele pareceu optar por se conter e mudou de posição desconfortavelmente.

— Como... Como isso é possível? - Perguntei, ainda confusa.

Dessa vez foi Sir Dumbledore quem falou.

— Você é uma garota inteligente, senhorita Evans. Tenho certeza de que já ouviu ou leu algo sobre a lenda do príncipe amaldiçoado.

E ele estava certo. Era uma lenda inglesa antiga, que provavelmente datava do século XVII e contava a história de um príncipe inglês que havia partido para enfrentar um mago que desejava tomar o controle do reino, porém o mago foi mais inteligente e amaldiçoou o príncipe, que nunca mais foi visto. Havia passado onze anos da minha vida ouvindo essa história todas as noites antes de dormir. Sempre me perguntara o que havia acontecido com o príncipe, mas nem mesmo o próprio autor parecia saber.

— Mas isso é tudo o que ela é, Sir Dumbledore. Uma lenda. Nada daquilo realmente aconteceu.

James murmurou um quase inaudível "Diga isso para o meu ego.", e eu optei por ignorá-lo.

— Sim, aconteceu, senhorita Evans. De fato existiu um poderoso mago que desejava tomar o controle da Inglaterra, Lord Voldemort. Para isso, ele corrompeu um dos amigos mais próximos do príncipe herdeiro e tomou posse de um perigoso artefato mágico: o medalhão de Salazar Sonserina. O medalhão possui um poder inimaginável, oferecendo a imortalidade e poderes ilimitados ao seu portador em troca de sua alma. Voldemort tentou escravizar as mentes do príncipe e de seus aliados, mas o feitiço não funcionou. Ao que parece, o medalhão de Sonserina os protegeu de Voldemort quando os transformou em animais, mas ao custo de uma perigosa maldição. James e seus aliados também receberam o dom da imortalidade, mas estavam presos em seus corpos animais. Os tirei da Inglaterra assim que tive chance e os separei. Como animais, não teriam chance se Voldemort viesse atrás deles. Precisava mantê-los em segurança. Dediquei as próximas centenas de anos em busca de uma forma de quebrar a maldição, mas a resposta só veio quando James a conheceu no zoológico.

O príncipe, se é que ele era príncipe, suspirou, cruzando os braços.

— Por quase trezentos anos vivi preso no corpo do cervo, incapaz de retornar à minha forma humana. Mas então você apareceu. Na noite após o seu primeiro dia trabalhando no zoológico, eu consegui me transformar em homem pela primeira vez. Mal podia acreditar. A primeira coisa que eu fiz foi correr até o telefone mais próximo e ligar para o Dumbledore. Mas minha felicidade durou pouco. Quando completei três horas na forma humana, a maldição me forçou a me transformar em cervo novamente. Mas Lily, cada dia que eu passava com você eu me sentia mais humano. Reencontrei uma parte de mim que acreditava ter perdido pra sempre. Já estava resignado a viver a eternidade como cervo, mas quando te conheci não queria mais nada além de ser um homem de novo. Então, Dumbledore descobriu que era você o segredo para quebrar a maldição. Esperamos trezentos anos por você, Lily. Eu esperei.

James soava quase que engasgado com as palavras. Eu lutava para assimilar o que havia acabado de ouvir.

— Você é a única que pode quebrar a maldição, Lily. - Sir Dumbledore falou, após alguns minutos em silêncio. - Foram estas as palavras do Oráculo. Não temos muito tempo. Agora que te encontraram, os três estão fadados a tornarem-se completamente animais, sem qualquer memória de suas vidas humanas, caso a maldição não seja quebrada.

Pisquei diversas vezes, ainda tentando processar tudo o que havia escutado. Não sei por quanto tempo fiquei fora do ar, mas de repente senti um aperto encorajador em meu ombro, e quando virei para o lado encontrei preocupados olhos castanho-esverdeados me encarando.

— Lily, não tenho muito tempo. – Seu sotaque, mesmo para um britânico, era arrastado. Lembrei de quando minha avó havia me contado que nos tempos da avó dela o sotaque britânico era muito mais arrastado do que atualmente, e mais uma vez a ideia de que talvez tudo aquilo fosse verdade me assustou. — Só tenho três horas diárias como homem, e meu tempo está acabando. Sei que é pedir demais que confie em mim, mas quero que saiba que confio em você.

Todas aquelas palavras soaram ainda mais confusas aos meus ouvidos, e então o ex-cachorro-agora-homem se pronunciou pela primeira vez.

— Ela é traiçoeira, a maldição. E pontual também. "Três horas como homem e vinte e uma como animal." Não temos escolha. O único controle que temos é em como dividir o tempo da transformação. Posso passar meia hora como humano agora, transformar-me novamente em cão e passar mais duas horas e meia como homem, mas não vai a lugar nenhum depois daí.
James assentiu.

— Se extrapolamos o tempo, temos que lidar com uma dor excruciante que força a transformação. É ainda pior que a dor quando a transformação é proposital. Ter todos os seus ossos quebrados e reagrupados de maneira diferente não é uma experiência agradável.

Enquanto eu tentava digerir o turbilhão de informações, resolvi atiçar a minha curiosidade.

— Espera aí. Se você é príncipe — apontei para James, semicerrando os olhos — então porque diabos estávamos te levando para um santuário animal em Oxfordshire?

Ele me encarou como se estivesse achando toda a situação realmente engraçada.

— Não acho que exista um santuário animal em Oxfordshire.

Dessa vez eu olhei para Sir Dumbledore de maneira ainda mais confusa.

— Como assim não tem um santuário em Oxfordshire?

Sir Dumbledore deu de ombros como se não se sentisse nem um pouquinho culpado.

— Precisava convencê-la a me acompanhar. Se dissesse que era porque seu precioso cervo era um príncipe amaldiçoado, você não teria vindo. E provavelmente teria achado que eu era maluco.

— Oh, não. — Retruquei. — Eu ainda acho que o senhor é maluco. Todos vocês.

O ex-cachorro-agora-homem bufou, irritado.

— Nós não temos tempo pra dar aulas para a ruivinha aí. Sinto que a qualquer minuto eu vou criar orelhas peludas e um rabo. Será que podemos ir direto ao ponto, por favor?

Antes que eu tivesse tempo para me sentir ofendida ou responder à altura, James suspirou.

— Precisamos da sua ajuda, senhorita Evans.— Ele deu ênfase na maneira educada como ele se referiu a mim, encarando o ex-cachorro-agora-homem de maneira irritada, e por um momento eu não vi o cara-atraente-e-irritante-que-dizia-ser-príncipe, e sim o meu cervo me protegendo mais uma vez.

— Vocês querem minha ajuda para quebrar uma maldição na qual eu nem ao menos acredito? - Perguntei, ainda incrédula com toda a situação. 

Sirius rolou os olhos cinzentos.

— Ninguém está te pedindo para acreditar, apenas para ajudar.

James rosnou um "Modos, Sirius." antes de voltar-se para mim. E quando ele me encarou com aqueles olhos castanho-esverdeados que eu conhecia tão bem, eu soube que estava perdida. 

— Preciso saber se posso contar com você, Lily. Se não nos ajudar, então eu ficarei assim para sempre. Da mesma maneira que a maldição me mantém animal, ela me mantém imortal. Voldemort queria que nosso sofrimento fosse eterno. Não estou te pedindo para acreditar em James Potter, estou te pedindo para acreditar em Prongs.

Dorcas murmurou um "Awwwwwn.", enquanto eu apenas semicerrei os olhos para ele antes de suspirar, derrotada.

— Saiba que não vou fazer isso porque acredito em você ou porque gosto de você. Vou fazer isso porque Prongs era meu amigo.

Seu rosto iluminou-se com o sorriso mais brilhante que eu já havia visto, e ele se reclinou na cadeira, satisfeito. Se minhas palavras o afetaram, James não demonstrou. Ouvi Sirius suspirar aliviado.

Eu ainda não acreditava na loucura em que tinha me metido. E a pior parte era que tudo parecia muito real. Eu havia presenciado a transformação. Aquele olhar de James... Eu o conhecia. O homem, pra mim, era um estranho. Mas eu não conseguia não confiar naquele olhar. Era o olhar do meu Prongs. Meu amigo. E, pior ainda, eu queria um pouco de ação. Aventura. E quem sabe romance? Talvez eu encontrasse Stephen Amell no caminho para quebrar a maldição. Nunca se sabe.

Estava tão perdida em pensamentos que quase não ouvi quando James convidou Dorcas a juntar-se a nós e ela aceitou entre pulinhos e exclamações de pura alegria. Tinha certeza de que ela estava tão animada quanto eu, apesar de eu não ter ideia de por onde começar. Quero dizer, não é como se existisse um manual de como quebrar uma maldição. Ou existia? Antes que eu pudesse sequer ponderar sobre o assunto, senti um tremor ao meu lado.
James fez uma expressão de dor.

— Ouch. - Sirius sorriu, enquanto um tremor parecido percorria o corpo dele. – Acho que é hora de termos o nosso veado de volta, então.

Dorcas, Marlene e eu não conseguimos segurar o riso. James fez uma expressão emburrada.

— É cervo, Padfoot. Cervo.

Antes que o outro pudesse retrucar, ouvi um uivo a distância, e então se aproximando da casa. Sirius e James pareceram esquecer que estavam discutindo há menos de trinta segundos – algo que daquele dia em diante aconteceria com muita frequência — e se entreolharam, animados.

— Moony! - Eles exclamaram em puro êxtase antes de desaparecerem pela porta do quarto.

— Moony? - Perguntei, confusa.

Marlene sorriu de maneira divertida.

— Os mosqueteiros eram três, não eram?

— Ah, não. - Murmurei, desanimada. – Não me diga que tem mais um

— Não se preocupe, Lily. — Marlene garantiu. — Se James é o inconveniente e Sirius o irresponsável, Remus é o que equilibra os três.

E, enquanto eu seguia Marlene e Dorcas para fora do quarto, eu não pude deixar de me perguntar se algum dia minha vida voltaria a ser normal.


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