Cursed escrita por Creature


Capítulo 3
I - Oh, deer-y


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o primeiro capítulo, finalmente narrado pela Lily.
Vou viajar e ficar fora por uns dias, então provavelmente não postarei o segundo capítulo até ano que vem, pq vou pra uma ilha com ZERO internet (adios, mi amigos, pois não fui feita pra um lugar assim).
Então, feliz Natal & feliz Ano Novo e muitas comidas com passas (que eu não vou comer por sinal, por isso vou fazer pipoca e NÃO deixar minha mãe colocar passas nela tb) pra vocês, folks.
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666599/chapter/3

Oh, deer-y.*

*Trocadilho com a expressão "oh, dear", que seria algo como "ah não" ou "ah meu deus". Cervo em inglês é "deer", por isso o trocadilho. 

Lily Evans

Naquele dia, acordei com um sapato sendo jogado na minha cara.

— Bom dia, Bela Adormecida. Você tem trabalho hoje, lembra?

Bufei, tacando o sapato de volta na minha irmã antes de murmurar um “Bom dia pra você também, Tunia”.

Levantei-me nem um pouco disposta, porque trabalhar aos dezessete anos era horrível. Enquanto haviam pessoas na praia ou, sei lá, em Paris, eu estava enfiada no zoológico de Londres sete horas por dia seis dias por semana. Isso dava um total de quarenta e duas horas semanais da minha juventude desperdiçadas. Por outro lado, até o final das férias eu teria dinheiro o suficiente para pagar a faculdade, então eu estava feliz. Eu acho.

Me arrumei em questão de segundos – porque eu já estava atrasada e tinha certeza de que minha chefe ia me matar me dando de comida para os leões ou algo do tipo, e se eu atrasasse mais cinco minutos Tunia não me daria carona até o zoológico. Cheguei lá com exatos vinte e seis minutos e trinta e nove segundos de atraso, e tive vontade de cuspir na minha irmã após ela murmurar um “Divirta-se limpando cocô de elefante, irmãzinha”. Quase retruquei perguntando se ela não queria ficar no zoológico e procurar pelo "namorado-morsa" dela (ele realmente parecia uma morsa) na sessão de animais marinhos, mas ainda precisava da carona de volta para casa mais tarde. 

Quando entrei no zoológico, dei de cara com Dorcas Meadowes, uma garota loira com olhos verde-mar que por alguma razão passava a maior parte do dia conversando com Ellie, a bebê elefante. Assim como eu, Dorcas só estava enfiada naquele fim de mundo porque precisava de dinheiro para pagar a faculdade, e o zoológico precisava de alguém para fazer as tarefas que ninguém queria fazer. Limpar cocô de elefante, por exemplo – apesar de que, para a minha sorte, Dorcas sempre pegava essa tarefa, porque a permitia passar mais tempo com Ellie.

— Você está atrasada. – Ela falou, com Kiko, o coala, pendurado no pescoço. – A McGonagall vai te dar de comida para os crocodilos.

Soltei um muxoxo de desânimo antes de pegar a lista com as minhas tarefas do dia. Pelo menos, pensei, hoje é quarta-feira. O dia em que eu ficava responsável pelos animais mais calmos do zoológico, como Gary, a lhama que sofria de gases, ou Lenny, a zebra que achava que era um cão. E então, no final da lista, um nome que fez com que eu sorrisse involuntariamente. Prongs, o cervo. Meu cervo. Ele era o meu animal preferido no zoológico inteiro, e eu tinha quase certeza de que eu era a preferida dele, também.

Após dar remédios de gases para Gary, dizer a Lenny que não, ele não precisava ser uma zebra só porque era o que todos achavam que ele era e ele devia ser sempre ele mesmo e ajudar Dorcas a resgatar um menino de oito anos de idade que havia caído no cercado de Koko, a panda, caminhei alegremente até o cercado de Prongs. Ele parecia estar se exibindo para uma excursão escolar, fazendo poses ridículas em cima de uma pedra. Não sabia se era possível cervos serem egocêntricos, mas se fosse, Prongs definitivamente era.

— Exibido. Murmurei, rolando os olhos.

Quando a excursão começou a distanciar-se do cercado, abri o pequeno portão na grade e entrei, sorrindo.

— Entretendo os seus fãs?

Ao ouvir a minha voz, o cervo ergueu a cabeça e abanou o rabo como um cachorro. Mais uma vez, fiquei sem ar com a visão completa do animal. Prongs era incrível. Ele tinha um porte nobre, algo entre o pai do Bambi e o cervo no brasão dos Baratheon em Game of Thrones. Tipo um cervo da realeza. Ele trotou alegremente em minha direção, tocando meu ombro com o focinho. Sorri e o abracei pelo pescoço, enterrando a cabeça em seus pelos macios. Ele era tipo uma almofada ambulante.

— Como você está hoje, Prongs? – Perguntei depois que o soltei. – Sabe, eu estou tendo um dia horrível. E pra encerrar com um gran finale, Petunia e o namorado-morsa dela vão jantar lá em casa hoje.

Ele me lançou um olhar levemente confuso.

— Não morsa tipo o Wally. O Wally é uma morsa legal. O Vernon é mais tipo uma morsa acima do peso e mau-humorada.

Prongs emitiu um som que soava quase como uma risada, o que era um pensamento estúpido, porque cervos não riam. Bom, pelo menos eu achava que não, mas fazia um tempo desde a última vez em que eu havia assistido ao Animal Planet. Eles nem ao menos tinham programas sobre cervos no Animal Planet.

Mexi um pouco na mochila e retirei um livro, sacudindo-o na frente do cervo. Orgulho e Preconceito, porque por alguma razão Prongs era um amante dos clássicos. Ele abanou o rabo mais uma vez, deitando de lado na grama. Deitei encostada nas costelas dele e abri o livro na página marcada, continuando de onde havia parado na última vez. De vez em quando, parava de ler em voz alta e olhava para trás, e me surpreendia ao ver o olhar de puro interesse nos olhos castanho-esverdeados do cervo, como se ele entendesse tudo o que eu dizia. Às vezes, quando ele se aproximava demais da página, eu tinha a esquisita impressão de que ele estava lendo.

Não tenho ideia de quanto tempo passei ali sentada, discutindo a personalidade do Mr. Darcy com o meu cervo, mas quando começou a escurecer Dorcas entrou no cercado, seguida por sua fiel escudeira Ellie, a bebê elefante. Prongs e eu nos entreolhamos como se ela fosse claramente maluca – apesar de, honestamente, nossa situação não ser muito diferente.

— Dorcas – Comecei, erguendo uma sobrancelha. – Você percebe que a elefanta está te seguindo? Quero dizer, não pra ela estar, sei lá, tipo, no cercado com os outros elefantes?

Dorcas me lançou um olhar ofendido antes de voltar-se para a elefanta.

— Não ligue para ela, Ellie. Ela não sabe do que está falando.

Prongs emitiu mais um daqueles sons que se assemelhavam a risadas antes que eu pudesse responder.

— Dorcas, por favor pare de falar mal de mim para a elefanta. Sabe que eu me assusto quando você faz isso.

Minha amiga rolou os olhos antes de falar.

— Lil, tem um cara aqui dizendo que precisa falar com você. É sobre o Prongs. – Olhei para o cervo, que agora parecia escutar a conversa mais atentamente. – Acho que ele quer levá-lo embora.

Senti meu coração pesar. Prongs levantou-se e emitiu uma série de sons indignados, como se soubesse exatamente o que Dorcas havia acabado de falar. Acariciei seu focinho para acalmá-lo.

— Não se preocupe, garoto. Não vou deixar ninguém te levar embora.

Levantei-me e preparei a longa lista de argumentos, xingamentos e golpes de luta que usaria contra o cara que queria levar o meu cervo embora antes de entrar no escritório do zoológico.

Sentado em uma das cadeiras, estava um homem idoso, com uma barba longa e branca e óculos de meia-lua sobre os olhos. Ele passou as mãos pelo terno alinhado antes de levantar-se e erguer uma mão em minha direção.

— Lily Evans. É uma honra finalmente conhecê-la. Sou Albus Dumbledore, administrador da Potter Consolidated e fundador do Oxfordshire Animal Sanctuary.

Eu realmente quis ser educada com ele, mas como minha boca era uma traidora incontrolável e impulsiva, as palavras saíram antes que eu pudesse segurá-las.

— Por quê você quer levar meu cervo embora?

Sir Dumbledore riu.

— Percebo que você gosta de ir direto ao ponto. Pois bem, saiba que não desejo ao seu cervo nenhum mal. – Cruzei os braços e ergui uma sobrancelha, esperando que ele terminasse suas explicações. – Mas entenda que Prongs é um cervo solitário, e que esse zoológico já não é mais o lar ideal para ele.

— Ele não é solitário. – Retruquei irritada. – Ele tem a mim.

— Sim, e por mais que eu concorde que ele aprecia a sua companhia tanto quanto você aprecia a dele, deve entender que cervos são animais que vivem em grupos, e tornam-se solitários e infelizes sozinhos. Seu Prongs, especificamente, é um macho jovem, robusto, você sabe. Se daria muito bem liderando um rebanho.

Bufei em pura irritação, talvez por ter que reconhecer que ele estava certo. Prongs era um animal solitário. Ele tinha certa tristeza no olhar, como se tivesse perdido uma parte de si mesmo. Ainda assim, não me sentia confortável com a ideia de mandá-lo para um lugar desconhecido. Eu tinha certeza que ele era feliz aqui, na medida do possível. Não saber para onde o levariam partia meu coração, mas o que mais doía era imaginar ficar longe dele. Prongs havia se tornado meu amigo, meu confidente. Não queria que ele fosse embora. No entanto, no fim eu sabia que não era minha decisão. Eu era apenas a tratadora dele. 

Suspirei.

— E suponho que o senhor planeja levá-lo para esse santuário em Oxfordshire?

— Sim. – Sir Dumbledore sorriu, satisfeito. – E quero que vá comigo.

Fiquei em choque por alguns segundos.

— Ir com você?

— Sim, só por alguns dias. Prongs a ama e a respeita. Leva um tempo para que o animal possa se adaptar, e tenho certeza de que a adaptação dele será mais rápida se você estiver lá. E, é claro, será devidamente paga por isso.

Meu queixo quase caiu quando ele mencionou a quantia que pretendia pagar. Era mais do que o suficiente para pagar a faculdade. Dorcas, que também estava na sala, murmurou um “Se você não aceitar, juro que te faço limpar a jaula dos crocodilos por uma semana.”.

Sorri.

— Eu aceito, com uma condição. – Sir Dumbledore ergueu uma sobrancelha, mas me deixou continuar. – A Dorcas aqui tem que ir também. Ela é a minha mais fiel escudeira.

O homem idoso sorriu.

— Negócio fechado, então.

***

Apenas dois dias depois, Dorcas e eu estávamos de malas prontas e em puro êxtase. Quero dizer, a simples ideia de me afastar de Prongs para sempre me destruía por dentro, mas eu tinha certeza de que ele estava indo para um lugar muito melhor que um zoológico. Pensar em vê-lo livre com outros de sua espécie aqueceu meu coração. Talvez fosse de fato a coisa certa a se fazer. Ele merecia ser feliz. 

Sir Dumbledore nos encontrou com um caminhão enorme no cercado do cervo naquele mesmo dia. Quando o motorista estacionou, uma garota morena de olhos azuis e que provavelmente tinha a minha idade pulou do banco de trás, sorrindo.

Sir Dumbledore voltou-se para nós.

— Essa é a minha neta, Marlene. Espero que não se incomodem, mas ela nos acompanhará na viagem.

Dorcas e eu sorrimos, animadas por encontrar mais alguém da nossa idade.

— Nem um pouquinho.

E então mais alguém pulou do caminhão. Dessa vez, um cachorro imenso, com os pelos escuros e olhos inteligentes e cinzentos. Ele sentou-se fielmente ao lado de Marlene, e se os meus olhos não estivessem me enganando, tive certeza de que ele estava me avaliando. Me avaliando como um garoto teria feito. Marlene pareceu perceber também, porque ela rolou os olhos como se o comportamento fosse completamente normal e irritante.

— Esse viking aqui é o Padfoot. Meu, huh, meu cachorro. – Marlene embolou-se com as palavras, como se não tivesse certeza se era de fato o cachorro dela. 

Ao mesmo tempo, Prongs mexeu-se atrás de mim, encarando o cão de maneira curiosa. Minha mão estava firmemente agarrada a corda ao redor do pescoço do cervo, porque eu sabia que aquela drama queen faria de tudo para não entrar no caminhão. Então, de repente, Padfoot andou em direção a Prongs, encarando-o com o mesmo olhar curioso. Um tipo de realização pareceu atingir os animais, e por um minuto eu tive medo de que o cachorro atacasse meu cervo, mas ele apenas abanou o rabo como um espanador de pó e emitiu sons de pura felicidade, como se simplesmente estivesse explodindo de alegria por ter encontrado o cervo. Prongs não estava muito diferente. Ele puxou a corda que estava na minha mão com certa facilidade e começou a trotar ao redor do cachorro, também emitindo sons felizes. Dorcas e eu nos entreolhamos confusamente.

— Ah, pelo amor de Deus. Seja menos óbvio, Sirius. – Marlene pareceu arrepender-se das palavras no momento que as pronunciou, porque ela cobriu a boca com as mãos e me lançou um olhar extremamente culpado.

— Parabéns, Lene. Absolutamente brilhante. – Uma voz desconhecida falou em algum lugar a minha esquerda, seguida por um gritinho assustado de Dorcas. Me virei rápido o bastante para dar de cara com uma das cenas mais estranhas que eu já havia presenciado. Padfoot – o cachorro— começou a metamorfosear-se em um monte de formas incompreensíveis até transformar-se em um homem alto, forte, extremamente bonito, com os mesmos cabelos escuros e olhos cinzentos do cachorro. Eu engasguei.

— Lily – Ouvi a voz assustada de Dorcas. – se você está vendo o que eu estou vendo, pode me garantir que não ingerimos nenhum tipo de alucinógeno, certo?

— Não – murmurei, em estado de choque. – Não posso.

— Parem de olhar pra mim como se eu fosse a única aberração no ambiente. – O ex-cachorro-agora-homem falou, apontando para o meu cervo. – Ele é tão assustador quanto eu.

Lancei a ele um olhar assustado e ainda um pouco (muito) confuso, e enquanto tentava convencer a mim mesma que eu só podia estar tendo um sonho muito esquisito e que a qualquer hora Petunia jogaria um sapato em mim e eu acordaria, virei-me para encarar Prongs. O cervo me lançou o olhar mais culpado que eu já havia visto antes de seu corpo tremer e entrar em metamorfose também, e apenas assisti  tranquilamente (beirando um ataque cardíaco e levemente histérica) enquanto meu cervo era substituído por um homem alto, definitivamente atraente, com cabelos escuros bagunçados e os mesmos olhos castanho-esverdeados do meu cervo. Ele tinha um porte nobre. O ex-cervo-agora-homem colocou as mãos nos bolsos e voltou a me encarar de forma culpada e com um sorriso amarelo no rosto.

E antes que minha morte por ataque cardíaco fosse declarada, tudo o que percorreu minha mente foi:

Oh, deer-y.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

┗(`ー´)┓
kAoMoJi



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cursed" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.