Eduardo & Mônica escrita por The Escapist


Capítulo 9
IX




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Epílogo

Mônica bateu o pé e rolou os olhos, irritada. Olhou para o relógio e percebeu que estava muito atrasada. Seu humor não melhorou em nada quando ouviu o aposentado Paulo César reclamar dos cabelos compridos do filho. Às vezes ela pensava se o pai de Eduardo não estava caducando ou algo assim, porque era sempre a mesma conversa chata.

— Eduardo, não sei você, mas eu tenho aula dentro de cinco minutos — reclamou, não pela primeira vez no dia. Já tinha acordado mal-humorada devido à noite quase toda em claro.

— Tô indo — ele respondeu, mas continuava com a filha no colo, como se não pretendesse deixá-la. A pequena era o motivo de Mônica ter passado a noite insone. — Qualquer coisa, me liga, mãe — disse a dona Carmen, que assentiu gentilmente.

Mônica resmungou qualquer coisa, e cansada de esperar, foi até ele e praticamente tomou a criança dos braços do pai.

— Pronto, vai com a vovó, tá, amor? — falou com a voz mais carinhosa enquanto entregava a filha a dona Carmen. — Sua mãe cuida dela melhor do que eu ou você, ok? Vamos? — Depois se virou para a mãe de Eduardo. — Qualquer coisa, me liga, dona Carmen. — Ele soltou uma risada e ainda beijou os cabelos da filha antes de sair.

— Depois eu é que sou exagerado.

— Além de mãe, eu sou médica, é mais natural que ela ligue pra mim se alguma coisa mudar.

— Você não é médica ainda, amor, apenas admita que também sofre por deixá-la. Você sabe que eu adoro quando você banca a durona. — Ele a abraçou pela cintura, quase fazendo-a sair do chão. Mônica deu um tapa na mão dele, mas logo deixou-se ser abraçada até chegarem ao carro.

O sedan fora um presente dos pais de Mônica, que achavam que ela não deveria continuar andando de ônibus ou dependendo de carona depois que a filha nasceu. A dona do carro, no entanto, não queria nem pensar em aprender a dirigir e deixava a tarefa ingrata para o namorado, que não se incomodava nem um pouco em ser o motorista dela.

— Então, como nós vamos fazer hoje? Você vai ter aula o dia inteiro? — Mônica assentiu. Como estava no último semestre, e devido à licença maternidade, tinha preenchido todos os horários para conseguir se formar junto com o resto da turma. Era um desgaste muito grande, mas estava conseguindo lidar bem, principalmente porque contava com a ajuda de Eduardo.

Ele estava com quase dezenove anos, mas parecia ter amadurecido muito mais do que isso. As mudanças nele iam além dos cabelos compridos — a despeito das reclamações do pai —, da barba de uma semana no rosto e da carteira de habilitação. Ele tinha demostrado tanta responsabilidade e a apoiado tanto durante a gravidez e os primeiros meses de vida da filha, que Mônica se surpreendia mais a cada dia.

Eduardo a deixou no hospital universitário, como fazia praticamente todos os dias. Antes de descer do carro, ela deu um beijo de despedida.

— Eu não vou sair tarde, tenho apenas duas aulas. Posso te esperar ou voltar pra te pegar quando você ficar livre.

— Não, pode ir pra casa, passe nos seus pais e leve a Clarinha, eu me arranjo.

— Ok. Te amo.

Eduardo seguiu caminho para sua aula. No entanto, se concentrar nos cálculos tornara-se mais difícil desde que a variável filha havia entrado em sua vida. Clara passara a noite com febre, deixando-os acordados e preocupados. A febre cedera um pouco, mas a preocupação continuava. Mônica dizia que era normal, que era coisa de bebê mesmo, porém ele não acreditava muito e ver aquela pequena criatura doente era horrível.

Como teve apenas duas aulas, estava desocupado depois do meio-dia. Fez como havia combinado com Mônica, foi buscar Clara na casa dos pais — aproveitou para almoçar por lá —, depois foi para o apartamento onde moravam atualmente.

No começo, Mônica resistira à ideia de morarem juntos, mas com a chegada de uma criança, dividir a casa com as três amigas tornou-se inviável. O apartamento pertencia aos pais de Eduardo, que haviam morado ali nos primeiros anos de casados, antes de terem a primeira filha, e Paulo César nunca se desfizera do imóvel. Não chegara a pensar que seu filho mais novo pudesse ocupá-lo, todavia, foi a solução mais acertada para os dois.

O começo fora difícil, tanto para o casal quanto para as famílias. Os pais de Mônica eram mais tolerantes e demonstraram apoio desde o começo. Com os de Eduardo o processo foi mais lento e demorou um pouco até que Carmen e Paulo se acostumassem com a ideia. O que tinha ajudado muito, Eduardo tinha certeza, fora o nascimento de Clara.

Chegou em casa, deu banho na criança, preparou o mingau e a colocou para dormir o soninho da tarde. Enquanto ela dormia, conseguiu estudar por várias horas e colocar parte da matéria em dias. Quando Mônica chegou, o encontrou ainda estudando, sentado no chão da sala, com os livros em cima da mesinha de centro, enquanto Clara, ao lado dele, estava brincando de montar castelos com as pecinhas e destruí-los logo a seguir. A menina sorriu, mostrando o único dentinho, quando a mãe entrou.

— Meu amorzinho tá melhor?

— Tá, sim — Eduardo respondeu. Mônica queria pegar a filha nos braços, mas resistiu e preferiu ir tomar banho e se trocar antes.

Ele continuou estudando, concentrado, mas depois de uns cinco minutos, sua atenção foi desviada das complicadas fórmulas.

— Papa... papa... — Ele deixou o lápis cair sobre o livro e se virou para a criança, que tentava montar as peças novamente.

— Você falou?

— Papa... papa... papa — continuou, como se respondesse à pergunta dele. O sorriso formou-se fácil nos lábios dele.

— Mônica, vem cá, corre aqui! Momo! — gritou, entusiasmado. Sua felicidade não era apenas por ver a filha falar pela primeira vez, era principalmente porque esperavam já há algum tempo por aquele momento e Clara estava demorando a começar a falar. Mônica chegara a temer que ela tivesse algum problema.

— Meu Deus do céu, o que aconteceu? — Ela entrou na sala aflita, só de toalha.

— Ela falou.

— O quê?

— Fala pra mamãe ouvir, Clarinha. Hum, fala, amorzinho. — Mas tudo que conseguiu dessa vez foi um sorriso de bebê. — Fala papai, por favor.

— Acho que você imaginou — Mônica ponderou e caminhou em direção ao quarto, mas antes que fosse, Clara voltou a falar.

— Papa, papa, papa...

— Você tá mesmo falando!

Ela foi pegar o celular para filmar e enviar aos pais as primeiras palavras de Clara, depois os dois ainda ficaram muito tempo bancando os pais corujas.

Tudo aquilo era diferente do que ambos tinham planejado para suas vidas. Se alguém tivesse dito ao garoto que passava suas noites ocupado jogando videogame ou fazendo maratonas de séries que ele seria pai, Eduardo teria rido da ideia. No entanto, já não conseguia imaginar sua vida sem aquelas duas garotas.

Ele e Mônica eram felizes. Tinham altos e baixos. Às vezes ela o deixava louco com aquela teimosia tão peculiar. Já haviam enfrentado vários desafios e sabiam que ainda teriam mais. Tinha aqueles momentos que o amor não era o bastante e ambos precisavam ceder em algum ponto. Mas abrir mão de algo por Mônica tinha se tornado uma coisa que ele fazia com prazer até. Sabia que ela mudara toda sua vida. Mônica o transformara, fizera dele um ser humano melhor, e não era exagero dizer que ela era a razão por que acordava todos os dias. Poderia parecer insano, mas também parecia correto. E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?


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