Horóscopo do Amor escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 2
Eu sou Touro, ela é Peixes


Notas iniciais do capítulo

Oiee gente o/ voltei depois de um mês u.u

Quando a votação deu Touro X Peixes e dei uma pesquisada básica, não gostei muito do que achei. Mas então li melhor a combinação e caramba, me apaixonei pelo casal ♥

Eu to com super ideias com eles dois, e espero que gostem. Me encontrem nas notas finais *-*)



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Olhei para o relógio, contrariado. Já tinha posto o forro na mesa, feito a comida, colocado os pratos, talheres e taças a disposição, e nada dela aparecer. Não que isso fosse novidade.

Raiane era péssima em se tratando de compromisso, não importa como ele fosse. Ela só não esquecia a própria cabeça porque estava grudada no corpo.

Peguei meu celular e fui checar minhas últimas atualizações, e vi que tinha uma mensagem dela.

"Vou me atrasar por alguns minutos, mas não vou demorar"

A mensagem tinha sido enviada a meia hora atrás, e não havia sinal dela. Suspirei, conformado. As coisas eram assim com a Raia, querendo ou não. Peguei um prato e coloquei um pedaço de lasanha nele, não iria esperar que a comida esfriasse. Quando estava terminando de comer, a campanhia finalmente tocou.

Passando um guardanapo pela boca, abri a porta, e senti uma pontada no peito. Raia continuava linda como sempre. Os cabelos, presos em um coque, como se tivessem sido amarrados com presa. Usava um vestido florido, e parecia estar no mundo da lua. Olhei pra onde ela olhava, o tarpete. Minha vizinha que tinha dado, era um "Bem-Vindo ao Lar".

– Raia? - perguntei, tentando chamar sua atenção.

– Sim? - ela perguntou, me olhando pela primeira vez. - Ah, oi Scott.

Dei espaço pra ela entrar, e Raia não parava de observar tudo ao redor. Do teto ao chão, seus olhos brilhavam observando a mobília e decoração. As estantes, os sofás, até os quadros na parede. O lugar tinha mudado bastante desde a sua última visita.

– Quando arrumou tudo isso? - ela perguntou, entrando na cozinha.

– Já faz dois meses, Raia. Deu tempo pra arrumar. - respondi, vendo ela corar. Provavelmente, o apartamento onde morava devia estar uma completa bagunça. - Senta aí. Fiz lasanha, strogonoff e tem pudim de sobremesa.

– Legal. - ela disse, se sentando.

Raia olhou para o meu prato, uma acusação latente em seu olhar. Podia não ter dito nada, mas eu sabia bem o que ela pensava, que eu não tinha esperado por ela.

– Eu estava com fome. - falei, dando de ombros. - E você demorou demais.

Raia continuou calada, se servindo. Coloquei vinho nas nossas taças, pensando em algo pra dizer.

– Então... - comecei. - Como vai as coisas no novo apartamento?

Ela corou de novo, e me senti um idiota. Droga, droga, droga.

– Vão bem. - ela respondeu, rápido demais. - Minha colega é... ótima. Lá no fundo, sei que é. Sabe, tirando toda aquela carranca e mal humor.

Fiquei pensando nas fotos que vi da colega de quarto dela. A garota me parecia daquelas que bebiam o tempo inteiro, e provavelmente dava trabalho. Conversei com ela uma vez, pedindo pra que não trouxesse homens para o apartamento delas, pagaria por isso. Me preocupava com as companhias de Raia, mas isso foi o máximo que fiz. Não fiquei rondando, não mandava muita mensagem. Tinha entendido o recato, e dei o maior espaço que podia pra minha querida amiga. Decidi não estender o assunto, não era problema meu como ia as coisas por lá. Exceto se tivesse homens entrando ali, porque a situação iria ficar complicada.

– E o emprego? - perguntei, curioso, e querendo ir pra águas mais calmas. - Você não me falou muito dele.

– Ah, vai bem. - ela respondeu, pegando o strogonoff. - Quero dizer, eu venho tendo um probleminha com atrasos. Meu chefe... ele é um saco, sabe. Se a gente se atrasa por cinco minutos...

– Ou trinta. - comentei, e me arrependi. - Digo, você mora longe do trabalho, não é? É normal se atrasar.

– Eu não disse que me atrasei. - ela respondeu, na defensiva. - Caramba, você e sua mania de me julgar sem nem saber dos fatos.

Continuei comendo, olhando para o prato. Não foi assim que imaginei esse jantar. Era pra ser um reencontro entre amigos, nada demais. Falaríamos das últimas novidades, as coisas novas. Sem ressentimento, sem brigas, só uma conversa entre dois bons amigos.

Raia cutucava o forro da mesa, agindo de forma estranha. Torcer os dedos não era bom sinal vindo dela. Esperei ela dizer alguma coisa, mas como não veio nada, decidi ajudar.

– O que foi? - perguntei.

– Fuidemitidadaqueleemprego. - ela disse, rápido demais, sem olhar pra mim.

– Como é? - perguntei, tossindo.

– Não vou repetir de novo. - ela disse, bebendo do vinho.

Foi a vez dela de tossir, tinha ingerido muito líquido de uma vez. Esperei que a tosse parasse, e dei um lenço pra ela.

– Foi demitida? - perguntei de novo, vendo que ela estava melhor- Raia...

– Eu sei, ta bom? Me desculpa.

Ficamos em um silêncio constrangedor, e fiquei pensando na chance que ela jogou fora. Não tinha sido fácil arranjar aquele emprego pra ela, e era uma grande oportunidade. Podia ter crescido naquela empresa, seguido carreira. Uma chance daquelas não aparecia duas vezes e dependendo da causa da demissão, era péssima para o currículo.

– Como você vem pagando o aluguel do apartamento? - perguntei, sem me controlar.

A colega de quarto dela não me contou nada sobre isso, provavelmente estava pagando o aluguel com o dinheiro que eu enviava. Raia continuava não me encarando, era certo de que eu não ia mesmo gostar da resposta. O que ela tinha feito?

– Eu saí de lá. - Raia por fim abriu a boca.

Bati minha mão no queixo, não duvidando nenhum pouco daquela afirmação. Queria acreditar que era uma piada, mas a conhecia bem demais pra isso. O que podia ser pior que essa notícia? Vindo de Raia, era certo de que vinha mais coisa.

– Aquela garota me dava medo, e nem foi por causa da bebida. Ela falava umas coisas estranhas dormindo, eu acho que ela tem demônio no corpo. Meu pastor disse que ficar perto de pessoas assim não era bom, e que me livrei de uma boa. Foi Deus me tirando das garras do malígno.

Fechei os olhos, tentando digerir essa informação, era muita coisa pra minha cabeça. Dois meses sem me encontrar com ela, e vinha uma bomba atrás da outra.

– Raia... onde você está morando? - Raia não respondeu, e minha cabeça começou a doer. - Raia, pelo amor que você tem a vida, como pode achar bom perder o emprego e ser despejada? Sabia que existe uma palavra chamada sonambulismo, que faz com que o inconsciente da pessoa fique ativo, mesmo quando ela está dormindo?

– Fale o que quiser, as coisas estão melhores que nunca. O Vinícius me deixou morando com ele até me acertar, e passo o dia todo sozinha bem dizer. Não tenho que ficar encolhida no sofá, vendo uma pessoa dormindo andando por aí, é estranho.

Me levantei da cadeira, e apoiei meu braço no encosto da pia. Isso era uma desgraça. Sem emprego, sem casa, sem juízo. Um dia, eu iria acabar matando aquela menina.

Não conseguia entender ela, e talvez nunca fosse conseguir. Se não fosse minha amiga, talvez eu não me preocupasse tanto, mas ela era importante pra mim. Não gostava de saber que ela ia de mal a pior, e tudo por causa das próprias escolhas. Se tinha alguém com dedo podre na hora de tomar decisões, era ela.

– Scott.. - ela me chamou, baixinho. - Devia parar com isso. Já sou grandinha, sabe? Posso me cuidar sozinha.

Olhei pra ela, pra essa coisinha tão pequena. Não, ela não sabia se cuidar sozinha, de jeito nenhum. Como podia estar tão feliz no meio de uma desgraça? Será que só eu via a bagunça daquilo?

– Como foi que perdeu o emprego mesmo? - perguntei, só pra ouvir ela em voz alta se confessando.

– Cheguei atrasada nos primeiros dias. - ela respondeu, sem jeito. - Isso pode acontecer com qualquer um.

– Agora me diga, como foi que se atrasou? Perdeu o ônibus? Pegou o trem errado e foi parar do outro lado da cidade? Resolveu ajudar alguém na rua e perdeu a hora? Deixa eu adivinhar, tudo isso e mais um pouco?

Raia deu alguns passos pra trás, me dando a confirmação do que eu tinha adivinhado. Por que ela não mudava? Por que não via como estava errada? E por que raios ainda dizia que essas perdas eram boas?

– Raia, eu não quero ficar pegando no seu pé, mas isso é vida? - perguntei. - Você nem sabe o que quer, e isso é frustrante. Não tem planos, não tem foco. Não tem objetivo nenhum. Não, nem abra a boca, quando eu digo planos me refiro a algo concreto, não coisas como "vender miçanga na praia".

– Deus sabe o que faz. - ela respondeu, sem arredar o pé. - Ele fecha uma porta pra abrir outra!

Eu tinha vontade de dizer tanta coisa, umas poucas e boas. Pegar ela pelo ombro e sacudir aqudla cabecinha, colocar um pouco de miolos naquele cérebro.

– Vai começar com isso? Vai apelar para as divindades? Esse é o seu problema, ta se concentrando demais num mundo espiritual, um que não existe! - desabafei, alto demais. Pra que? Isso era figurinha repetida, não valia a pena retomar as brigas em aberto do passado. -  Ah, quer saber, esquece.

Saí da cozinha, zangado, e fui pra varanda. Olhei para as minhas plantinhas, e para o parque lá embaixo. Ficar perto da natureza sempre me fez bem, mesmo que fosse um pedacinho dela.

Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. Raiana sempre foi uma incógnita. Mudava de roupa mais vezes do que a bolsa de valores, e parecia viver em dois mundos.

O jeitinho calmo e meigo dela, a visão sonhadora, isso ainda me conquistava. Mas a realidade era dura, e pessoas como ela nunca conseguiriam se dar bem dessa forma. Raia não se cansava de quebrar a cara?

Era inconstante, facilmente passada pra trás. Com que facilidade ela teria ido morar com o Vinícius? Ela sabia que ele estava metido com drogas? Isso, definitivamente, não era boa companhia. Faltava pouco pra polícia revistar aquele lugar.

Senti que ela se aproximava, mas continuei olhando pra frente. Eu tinha que ser compreensivo, apoiar o que fosse dela. Mas ela precisava de estabilidade, precisava aprender a se organizar e a pensar. Se continuasse procurando por sonhos impossíveis, Raia não iria muito longe.

– Raia... - me virei pra ela, e vi que estava quase chorando. - Não quis ser grosso com você. É só... Por que não me contou tudo isso antes? Eu podia te ajudar.

– Esse é o problema, Scott. Não vou ficar recorrendo a você quando tudo der errado. Não é você que diz que devemos seguir em frente? Além do mais, sei que as coisas vão dar certo. Um amigo me disse que vai ver se consegue pra mim um papel numa peça que vai ter, isso já é um começo.

– Teatro? - perguntei, rindo pela primeira vez.

– É. Qual o problema, heim? Sabe que gosto de entrar na mente de personagens, meu dom está nisso. Me desculpa se meu talento está nas artes, e não no que você chama de... de...

– Estabilidade? - sugeri.

– Não começa. Você e essas suas manias de ver tudo pelo lado material. Do que adianta ter uma casa, e um emprego fixo, e todas essas coisas? Não vai levar nada disso quando morrer.

– Do que adianta? Raia, pra onde é que acha que vai quando morrer? Uma dica, é um retângulo que fica debaixo da terra.

– Vou para o céu, para onde as boas almas vão!

– Isso é você quem diz, mas quem garante? Vai passar os próximos anos de um lugar para o outro, sem um ponto pra ficar permanentemente?

– Já tentei isso, e você sabe melhor que ninguém que não funciona pra mim.

Olhei pra minha garota, de cima abaixo. O vento soprou forte, fazendo uma mecha do cabelo dela se soltar. A cena parecia tão cliché, mas coloquei aquela mecha por trás de sua orelha.

Raia tinha um cheiro tão bom, e isso era uma das coisas que eu mais gostava nela, sempre trocava de perfume. Com o tempo, um mesmo perfume acabava se tornando comum, me enjoava fácil deles. Mas com aquela troca constante, era sempre uma surpresa agradável para o meu nariz a presença dela.

– Que fragância é essa que está usando? - perguntei, me aproximando.

– Eu não... eu não sei. - ela respondeu, com a respiração entrecortada. - Ganhei da síndica do prédio por ajudar ela com um gato. Longa história.

– Hum... - murmurei, cheirando seu pescoço. Logo minha boca se arrastou por seu pescoço, e  minhas mãos começaram a passear pelas costas do vestido dela. - Que tecido é esse, desse vestido?

– Não sei. - ela sussurrou, e soltou um gemido quando a mordi. - Scott, para! Vai deixar marquinha.

Encontrei os olhos dela, e me perdi ali. Por que eu tinha deixado essa garota sair da minha vida mesmo?

– Scott, você sabe que não sou boa em me proteger. Se continuar com isso, vai me fazer passar noites chorando. Já foi muito difícil pra mim o término. Se quer preservar nossa amizade, precisa cooperar.

A abracei, querendo confortá-la. Raia era tão inocente, tão vulnerável. Eu sabia que ela tinha ficado mal pelo fim do nosso namoro, mas sabia que seria melhor nos separarmos. Ela nunca me daria o relacionamento tradicional que eu queria, com direito a casamento, filhos. E eu nunca conseguiria dar o espaço e a liberdade que ela tanto almejava, que precisava.

– Eu te amo, Raia. - sussurrei, dando um beijinho em sua cabeça.

Eram simples palavras, em vista do sentimento que tinha por ela, mas precisava ser dito. Queria que ela soubesse que, lá no fundo, eu estaria aqui, esperando por ela, até que não desse mais. Eu ainda não tinha seguido totalmente em frente, e uma parte minha continuava tendo esperanças. Aquele lado irracional da minha mente queria aquela menina comigo, encaixada no meu corpo, povoando meus pensamentos, bagunçando minha ordem e dando um foda-se pra minha lógica.

– Eu sei. - ela respondeu, dando risada.

– Diga que me ama, mulher. - eu disse, sacolejando ela. - Diga!

Começamos a dar risada pela brimcadeira, e ela me apertou forte, daquele jeito que fazia quando queria se sentir protegida. Como eu queria ser o cara que cumpriria com essa função...

– Eu te amo, Scott.

Senti minha respiração pesada, e meu coração doeu. Meu peito se apertou, e senti um pingo de chuva caindo na minha testa. Sempre assim. O clima parecido perfeito, e o nosso perfeito era o que antecedia a chuva. As coisas iam bem, até cair a tempestade.

–Scott? - Raia me chamou, interrompendo meus pensamentos.

– Se veio falar que vai chover...

– Não, não. Só queria dizer que... lembra o que você disse, que o papel vale mais do que palavras?

Franzi o cenho, tentando me lembrar, mas era uma coisa que eu bem poderia ter dito.

– O que tem isso? - perguntei.

– Confiei na palavra de um cara. Quero dizer, achei que a honra dele fosse maior do que ganância por dinheiro. É só papel, sabe, nem deveria ter um significado tão grande. Mas ele...

– Sim?

– Prometeu me pagar o que emprestei, e agora eu preciso muito. Meio que não tenho dinheiro pra pegar condução e voltar pra casa, e meio que me enrolei com um motorista quando vim pra cá e me atrasei por conta disso.

Me afastei dela, suspirando, mas um sorriso brincava em nossos lábios. Hora de colocar algumas coisas em seu devido lugar


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Notas finais do capítulo

Vou ser sincera, esse casal não me animou como o primeiro (Áries e Escorpião). Mas to com tantas ideias, tantas, que to com vontade de escrever uma long. Porém, vocês leriam? Acompanhariam de verdade?

Enfim, acho que vou escrever mais alguma coisa com Touro. Sugestões? Não vale Peixes.