Dentro de um coração vazio escrita por Drylaine


Capítulo 2
Do lado mais obscuro do Medo


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoal, saindo um novo capítulo difícil de fazer, acho q um dos capítulos mais difíceis q eu já tive q escrever. Bom existe alguns momentos da fic que fiquei insegura e com medo pq eu citarei a opressão sobre os negros, foi bem complexo desenvolver essa parte e não refletir sobre a nossa sociedade hj com a sociedade daquela época, mas achei muito interessante abordar isso. Eu tbm queria dizer q fiquei na duvida se na época da Guerra Civil Americana existia soldados negros exatamente pq os EUA ainda estava na luta para conseguir a abolição da escravidão no país. Mas como estamos lidando com a mente do Damon, onde ele esta vivenciando isso dentro de um universo paralelo, então, tudo é possível. Então, peço pra vcs lerem a minha fic e tirar suas próprias conclusões. Eu não sei se consegui descrever bem as cenas da guerra, mas me emocionei escrevendo todas as cenas do Damon. Vamos ao capitulo!!!




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"Nas horas de luto e sofrimento eu vou abraçar e embalar você, e farei da sua tristeza a minha tristeza. Quando você chorar, eu vou chorar, e quando você sofrer, eu vou sofrer." (Diário de uma Paixão)

~*~

Gettysburg – Junho de 1863

Damon

A Guerra Civil Americana, uma parte da historia dos Estados Unidos que fora determinante para o nosso país, onde interesses e características diferentes entre norte e sul foi o estopim para a guerra explodir entre os estados confederados do sul contra os estados do norte. Os sulistas defendiam interesses aristocráticos, latifundiários e escravistas, enquanto a região norte do país estava em plena industrialização e descartaram o uso da mão de obra escrava para o crescimento econômico do país. Entretanto, a questão fundamental em toda esta historia era de que lado eu estava lutando na guerra...

Eu estava do lado Sul da guerra àqueles que queriam manter a escravidão firme e forte, àqueles que se mantinham cheios de preconceitos, ideias conservadoras e até ditatoriais. Descrevendo assim os sulistas é como se estivesse descrevendo as características de meu próprio pai. Giuseppe Salvatore me obrigara a estar aqui lutando numa guerra cujos ideais eu nem acreditava. Ideais que me causavam até repudia por me lembrarem de Giuseppe e toda a sua pose de aristocrata sulista defendendo a causa com todo orgulho.

A primeira vez que vivenciei esse pesadelo a qual há muito tempo já havia esquecido, abrindo velhos traumas, temores e fantasmas do passado (que eu achei ter enterrado) fora terrível. Um pesadelo da qual eu queria desesperadamente acordar, mas infelizmente, estava sem saída.

O cheiro de pólvora, lama, carne humana e sangue se misturavam entre as explosões de canhões, dos gritos dos soldados aliados e inimigos que retumbavam furiosos ou desolados criando o cenário perfeito onde se desdobrava uma batalha sangrenta e brutal. E, no meio daquele ambiente hostil e sombrio eu me vi perdido e dominado por medo e um desejo de ser livre daquele inferno. Eu continuei correndo sem rumo no meio dos canhões e dos soldados em seus cavalos, sempre com minha arma em punho. Meu sangue fluía intensamente por meu corpo causando um arrepio mórbido e fazendo meu coração palpitar em angustia. Eu fui presenciando um por um dos meus companheiros de guerra morrer de formas brutais sem nem a chance de conseguir ajuda-los. Eu vi William meu amigo mais antigo dali explodir na minha frente, eu vi outro companheiro cujo nome eu nem me lembrava, salvar a minha vida e eu nem pude agradecê-lo, ele morreu em meus braços agonizando. Tudo o que podia fazer era esquecer daqueles que deixei pra trás e focar em seguir em frente, pois a guerra não parava nem um instante. Não havia tempo de pensar ou respirar, enquanto a guerra tivesse correndo lá fora, nós tínhamos que continuar.

Eu já estava tão exausto, mesmo assim, continuamos a seguir em frente, já estávamos próximos do nosso Fort quando fui envolvido por fogo e fumaça. Eu não conseguia ver direito, havia tantos escombros ali e restos mortais, vozes próximas de mim foram me guiando por um caminho cheio de morte, dor e brutalidade. Eu ouvi meu capitão um homem arrogante e um tanto sádico dando ordem cheio de escárnio. Logo, vi três corpos sendo arrastado no meio dos soldados, três corpos de soldados inimigos sujos de sangue e lama. Então, acabei chegando até uma árvore velha a única coisa que havia sobrado do lugar, os três corpos foram arrastados até a árvore e dependurados por cordas em cada galho. Os soldados submissos e bárbaros puxavam as cordas de cada lado apertando mais e mais no pescoço de cada um dos soldados do norte que continuaram tendo seus corpos içados sob a árvore. O nortista de pele negra fora dependurado no meio entre os outros dois homens brancos. Meus companheiros continuaram puxando rispidamente as cordas e se divertindo enquanto os corpos dos três inimigos se debatiam tentando se equilibrar na ponta dos pés para não serem enforcados. O soldado do lado esquerdo foi o primeiro a falhar e se desequilibrar acabando morrendo enforcado. Pelo menos sua dor chegara ao fim rápido. Em seguida, o soldado da direita ainda com uma postura firme e corajosa, usando a pouca força que tinha em seus pulmões murmurou uma despedida para seu parceiro.

− Foi uma honra lutar contigo! – Então, ele escorregou deixando seu corpo sem apoio nenhum se debatendo no ar e se sufocando até que suas forças se esvaíssem.

Meus olhos logo se focaram no jovem soldado no centro que ainda permanecia com seus olhos fixados no chão como se estivesse concentrado, provavelmente tentando manter seu equilíbrio, ele parecia muito obstinado e firme honrando seus ideais mesmo que estivesse à beira da morte. Seus olhos se voltaram para meu capitão que lhe olhava com desdém e superioridade.

− Olhe para esse negro imundo. Se sentido corajoso e como se fosse um igual. Você não é nada. Um mero servo... Um mero negrinho que sempre existirá para a servidão. – Mas o soldado inimigo era corajoso sorriu com um sorriso orgulhoso e com um olhar impetuoso. E eu me vi admirando aquele soldado inimigo.

− No fim vamos todos morrer aqui. No fim vamos todos apodrecer no meio do barro, o fogo irá nos devorar... E no fim seremos todos esquecidos no meio da fumaça da guerra. Não vejo diferença entre nós. – O nortista disse numa voz ponderada e convicta. Meu capitão enfurecido cospe no rosto dele e lhe da um murro em seu abdômen o fazendo quase se desequilibrar.

− Ah, seu negrinho insolente e nojento! Vou lhe dar uma lição. – Meu capitão rosna e dá novas ordens para outros soldados subordinados que se aproximam do jovem combalido e lhes tiram sua farda o deixando em suas roupas de baixo esfarrapadas e com suas solas dos pés descalços sobre a terra bruta. Tudo no intuito de humilha-lo diante de nós. – Aqui está a verdadeira face do norte. Tudo o que vejo é um negro escravo ignorante contaminando nosso país com suas imundices. – Então, o capitão ditador olhou pra mim. – Oficial Damon, acabe com isso, atire nos dois joelhos. – Eu obediente empunho minha espingarda, mesmo que por dentro meu coração palpitasse da forma mais humanamente possível. Eu me aproximei do soldado mortificado, aquele jovem corajoso que lutava por liberdade, por um ideal que acreditava valer a pena. Ele não tinha uma chance de escape, sua única certeza era a morte.

− Vamos soldado você faz o que tem que fazer. – O homem negro dizia em plena força de seus pulmões mesmo que as cordas em volta de seu pescoço lhe apertassem mais. Sentia minhas mãos tremerem ao confrontar seus olhos pretos majestosos. De repente me vi somente eu e ele ali. – Vamos Damon você consegue. Eu serei apenas mais um no meio de tantas mortes. Apenas mais um sangue derramado pelas suas mãos. – Havia algo de muito sinistro sobre esse momento, sobretudo, porque aquele soldado desconhecido parecia reconhecer meu lado mais obscuro me fazendo fraquejar, senti um desejo de fugir dali. – Vamos Damon, acabe com isso. Suas mãos já estão sujas de sangue, sangue de muitos inocentes. Você já está condenado! – Subitamente fui dominado por uma raiva descomunal minhas mãos apertaram furiosamente a espingarda, pronto pra dar o tiro de misericórdia.

− Vamos meu filho faça-me orgulhoso. Mostre toda a sua barbárie... honre seu pai. – Abruptamente me vi apontando a arma não mais para o soldado inimigo, mas sim para meu próprio pai. Giuseppe estava ali refletindo em meus olhos azuis. – Mostre-me o quanto somos iguais. Lily e Stefan nos deixaram, somos só nós filho... dois monstros obsessivos e egoístas, condenados a extrema solidão eterna. – Ele riu diabolicamente mostrando seus dentes brancos. Eu queria cala-lo, eu queria causa-lhe dor, como tantas outras vezes ele já havia me causado. Eu segurei mais firme a arma agora decidido acabar com aquilo e sem perder contato visual eu apertei o gatilho, dois tiros certeiros e eu havia arrebentado seus joelhos. Mas, repentinamente, o corpo diante de mim já não era mais de Giuseppe, o corpo se debatendo e sufocando diante de mim era do jovem soldado idealista que queria lutar pela abolição da escravidão e por igualdade.

Eu ainda podia ouvir seus gritos agonizantes afiados como navalha me rasgando por dentro. Sua dor parecia pertencer a mim também.

Eu matei um homem que era muito mais digno do que eu, só porque sua cor nos distinguia. Só porque eu não conseguia superar os meus próprios fantasmas do passado. Eu era um covarde, um monstro. Logo, o fogo e fumaça foram consumindo tudo e no fim o capitão e seus soldadinhos foram morrendo um por um, sendo devorados no fogo da batalha, onde iriam apodrecer no meio da lama e depois cairiam no esquecimento como tantos outros.

Ali no campo de batalha eu aprendi que entre brancos e negros não havia diferenças, porque todos eram feito de carne e osso, de dor e medo, carregavam seus próprios pecados e sangrariam, chorariam e morreriam da mesma forma violenta e precoce. Não havia honra em morrer ali.

− Damon, acorda. – E no meio de toda aquele caos da guerra eu podia ouvir a voz de meu irmão ao longe.

− Damon eu preciso de você. – A voz foi ficando mais forte e perto.

Mas, o que Stefan estava fazendo aqui?! Eu entrei em pânico, não poderia suportar ver meu irmão aqui no meio dessas imundices, no meio de tantas mortes e agonia. Não queria que ele visse o homem covarde semelhante a Giuseppe que eu havia me tornado.

− Damon eu preciso de você, acorda cara. – A voz de meu irmão soava tão aflita. Então, fui sentindo o gosto quente, doce e metálico escorrer por minha garganta me aquecendo por dentro, cada fibra de meu corpo, me deixando forte e faminto por mais. Minha boca estava sendo alimentada por sangue fresco, matando minha sede e fome.

− Acorda logo, Damon! – O grito de Stefan retumbou forte me arrastando implacável pra longe daquele inferno...

Eu despertei ofegante e desnorteado. Acabei me deparando com Stefan pairando sobre mim com um olhar indecifrável, logo, me dei conta da onde estava. Eu estava no porão da mansão Salvatore dentro de um caixão onde eu deveria estar dessecando pelos próximos 60 anos.

− Eu disse pra não me incomodar até a Elena acordar! – Eu rosnei frustrado, embora no fundo eu estivesse completamente aliviado por me livrar daquele maldito pesadelo.

− Então irmão... eu estou aqui cumprindo a minha promessa. – Stefan disse me tirando de meu torpor. – Ela está aqui. Ela voltou Damon. – Stefan saiu de perto de mim dando espaço para que eu vislumbrasse na porta, Elena. Minha amada Elena sorrindo pra mim, ela estava linda e do mesmo jeito que me lembrava.

Elena tentou se aproximar, mas eu entrei em desespero.

− Não, você não deve se aproximar agora. – Eu disse sentindo uma fome insaciável por sangue. Eu ainda estava fraco e faminto, necessitando de mais sangue pra me recompor e tomar o total controle sobre meus atos mais selvagens.

− Ei está tudo bem. Você não pode me machucar, meu sangue tem a cura, lembra? – Ela disse animada se aproximando cada vez mais de mim. – Se você beber meu sangue você será como eu, um humano de novo. – Ela tocou minha face docemente e eu me vi tragado pra dentro de seus olhos de corça.

Incerto do que fazer decidi confrontar os olhos de Stefan que me olhava paciente.

− Bom, não era esse o plano? Você despertaria quando Elena voltasse e depois você beberia seu sangue e, então, voltaria a ser humano. – Ele disse se afastando de nós e parando na porta. – Agora você pode ter tudo o que desejou. Você tem a garota, Damon. Você tem uma nova vida pra construir. Vá em frente e seja feliz. – Com essas palavras ele saiu nos deixando sozinho no porão onde eu ainda permanecia sentado dentro do caixão.

− Isso parece tão surreal. – Eu disse pra mim mesmo, sem ousar olhar para a mulher diante de mim.

− Ei, porque esse medo? – Ela me fez confrontar seus olhos. – Nós estamos aqui de novo juntos onde pertencemos, nos braços um do outro. – Ela roçou seu nariz nos meus e depois deixou exposto seu pescoço nu onde eu poderia ver sua veia pulsando cheia de sangue, fazendo minha fome mais voraz. Eu beijei aquele ponto sensível ali, fazendo ela se arrepiar e seu corpo ficar entregue a mim e sem conseguir mais me conter eu deixei minhas presas invadirem sua pele tomando o gosto adocicado e metálico de seu sangue.

Bastou um pouco de seu precioso sangue pra saciar minha fome e me transformar em outro ser. Meu corpo foi ficando mais mole e frágil, minha visão por um instante ficou enevoada, eu me sentia entorpecido pelas novas sensações que há muito tempo eu não sentia. Tudo era diferente, mas ao mesmo tempo, era algo comum, normal, sensações que um dia eu já havia experimentado. Enfim, meu corpo lentamente estava se transformando pouco a pouco, deixando de ser um imortal implacável dando lugar a uma alma humana, vulnerável a diferentes sensações físicas e emocionais. Foi como num passe de mágica e eu, Damon Salvatore o vampiro centenário, havia retornado em segundos a ser um humano a mercê de seus sentimentos mortais.

− Você consegue sentir isso? – Elena pegou minha mão esquerda e colocou na direção de meu próprio coração, onde eu podia senti-lo pulsando agitado. – Seu coração Damon batendo no mesmo ritmo que o meu. É tão lindo. – Ela disse antes de tocar seus lábios em cada lado da minha face até que seus lábios pousaram sobre os meus. Então, qualquer cautela, incerteza ou medo havia se esvaído enquanto eu me perdia em seus beijos famintos me fazendo sem fôlego. Fazendo sentir todas as sensações mais humanas que eu nem lembrava como sentir, mas que estava ali fluindo natural dentro de mim.

 

**** ****

Nós montamos o plano perfeito pra mandar Julian de volta pra onde ele nunca deveria ter saído e com a ajuda de Valerie nós conseguimos capturar o vampiro, mas durante o ritual para prender a alma de Julian dentro da pedra da fênix, os outros hereges ainda fiéis a ele, apareceram e uma luta violenta se seguiu. Bonnie num desejo de parar com o confronto e dar um fim aquilo decidiu destruir a pedra da fênix, mas ela teve que usar muita magia e algo deu errado, a magia da pedra a consumiu a fazendo perder o controle. Os efeitos da magia usada naquele momento a consumiu até o ponto em que Bonnie acabou catatônica. Quando ela conseguiu retornar ao controle, as marcas e traumas foram devastadores fazendo-a se isolar de todos. Todos os dias eu ia visita-la, mas na maioria das vezes ela nem se lembrava de mim e isso doía tanto. Eu era persistente, eu continuei indo vê-la no sanatório até que um dia num momento raro de lucidez, Bonnie impiedosamente jogou todas as verdades e magoas sobre mim. Eu não suportei ver tanto ódio e ressentimento refletido naquelas íris cor de jade, então eu fugi. Decidi dissecar a espera de Elena, porque era doloroso demais viver ali estando tão perto de Bonnie e, ao mesmo tempo, tão longe.

Eu já havia perdido Elena, mas enquanto Bonnie estivesse comigo, sempre ao meu lado, sempre disposta a aguentar todas as minhas reclamações ou até comprar as minhas próprias guerras... Saber que eu tinha alguém tão leal e cúmplice ao meu lado fazia a ausência de Elena mais suportável.

— Eu vou esperar por Elena e você vai me ajudar. Afinal, você e eu estamos ligados até o fim. — Eu havia dito isso a ela, no momento onde descobri como três segundo faz uma imensa diferença entre a vida e a morte. Três segundos podem ser essenciais pra uma escolha certa ou errada ser feita, ou o caminho entre a salvação e a total perdição ser traçado.

Nós estávamos presos nisso juntos, sendo a ancora um do outro enquanto sobrevivíamos juntos a ausência de Elena. E de alguma forma que eu nem sei explicar, Bonnie foi pouco a pouco ganhando um espaço especial em meu coração. Um espaço que antes era apenas preenchido por meu irmão Stefan e por Elena.

— Você é minha melhor amiga e se algo acontecesse com você... eu ficaria completamente louco. — Mas, eu falhei com Bonnie. A partir disso, eu sabia que era culpa minha, porque eu não estava lá por ela. Porque eu havia a abandonado sem nem me despedir direito.

"Aqui jaz Bonnie Bennett, jovem amada, amiga leal e altruísta, com um coração indomável forjado no amor e na coragem. Descanse em paz!"

Diante da lápide de Bonnie eu me encontrava novamente trazendo comigo além de minhas normais reclamações e desabafos, também, trazia meu Bourbon nosso cúmplice da minha total insanidade. Todos os dias eu vinha visita-la no fim da tarde, após o expediente do meu bar da qual eu era o proprietário. Eu e Elena decidimos retomar nossos planos antes dela ter ficado em coma mágico. E aparentemente tudo parecia estar indo bem. Eu estava feliz, mesmo que lá no fundo eu sentisse que faltasse algo.

— Bom, meu dia fora agitado e tão comum. Tão irritantemente maçante. Stefan todo mês deposite uma quantia em minha conta. Mas, segundo Elena, agora devo ser um humano independente que deve pagar suas próprias contas. — Eu continuei tagarelando para o vento, sozinho dentro do cemitério. − É tão estranho ganhar menos que sua noiva. — Eu dizia entre risos para a lápide de Bon Bon. — Eu te falei que Elena se tornou uma bem sucedida medica pediatra? — Eu questiono para o vento que me responde num sopro frio fazendo me arrepiar.

Era tão estranho sentir todas essas sensações humanas que pouco a pouco fui me adaptando.

— Eu sei Bon Bon que você me chamaria de machista rabugento. Não me leve a mal, eu estou orgulhoso por ela. — Eu dizia engolindo em seco e me sentindo deslocado. Tomei mais um pouco de Bourbon tentando me aquecer do frio, embora o frio que me corroía por dentro não seria aquecido com meros goles de Bourbon.

Fechei meus olhos sentindo o vento frio bater em meu rosto, enquanto tentava se concentrar numa lembrança qualquer sobre a bruxinha no intuito de poder me apegar a qualquer lembrança dela, seja em seus sorrisos, ou seu cheiro, ou sua voz. Eu precisava lembrar só que não vinha nada, apenas um branco ou vazio em minha mente. Isso me irritava.

— Onde está você hein, bruxinha orgulhosa? Onde está você que não consigo nem te encontrar em minha mente. Onde está você Bonnie?! − Eu grito tão frustrado e obscurecido por saudade e uma amargura. Eu respiro fundo determinado a continuar solitário em minhas lamentações. — Eu falei que vou casar com Elena? — Eu empunhei a garrafa de Bourbon como se tivesse brindando com ela e depois esperei uma resposta que eu sabia que nunca viria, soltei mais uma respiração cansada.

E sob o crepúsculo e o silencio mórbido do cemitério, eu a ouvi em sua voz suave e melodiosa.

— Parabéns, Damon. — Ela diz sarcástica. — Mas, você sabe que esta ilusão não vai durar muito. É tão perfeito tudo aqui que até parece surreal...— Eu sinto ela parar ao meu lado, mas não tenho coragem de olhar diretamente pra Bonnie, com medo de perdê-la de novo. Com medo que ela desaparecesse, assim, repentinamente.

— Você está errada. — Posso sentir ela ficar inquieta ao meu lado. — Se tudo fosse perfeito... você estaria aqui também. — Minhas palavras são amargas. Logo sinto seu cheiro de morangos frescos me invadirem.

— Oh Damon, a regra era clara... Enquanto eu estivesse viva Elena estaria em coma mágico até que eu morresse. — Suas palavras eram tão honestas quanto cruéis me fazendo apertar as mãos revoltado. — Você queria Elena desde sempre e agora você a tem. Minha morte era o preço pra que você a tivesse de volta em seus braços. — E aquilo foi reabrindo velhas magoas e dores.

— Não é justo ter ela aqui, quando não posso ter você em minha vida. Eu preciso de você! — Eu digo desesperado decidindo confronta-la. Meus olhos se fixam em sua face bela e angelical e depois vão percorrendo seu corpo coberto apenas por um vestido bordo fino que se encaixava com cada curva de seu corpo e contrastava perfeitamente com sua pele negra marrom chocolate que eu tanto amava. Ela estava linda e impecável. Entretanto, antes que eu pudesse toca-la, um nevoeiro tomou conta do cemitério e, abruptamente, fui arrastado pra longe dela e sugado pra outra realidade.

Novamente, eu estava no meio do campo de batalha, onde se travava uma guerra sangrenta e feroz, lutando por minha vida e por um ideal que eu nem almejava, me fazendo desnorteado e muito furioso. Entre esbravejantes gritos, explosões, fogo e muitas mortes, havia um soldado mirando sua espingarda diretamente pra mim. Eu respirei fundo empunhei minha arma e apertei o gatilho, num único tiro acertei seu peito abrindo um buraco vermelho de sangue, entretanto, o alvo diante de mim se transformara em minha pequena bruxa que me olhou com seus olhos enevoados de agonia, sua face bela e jovial se tornara em pura dor. Eu corri em sua direção desesperado, completamente insano. Corri usando toda a energia que possuía, mas parecia que meus passos não eram suficientes, parecia que minhas forças estavam se esgotando, ainda sim, eu continuei imparável, correndo por entre todo aquele pandemônio até que consegui alcança-la, envolvendo seu corpo em meus braços. Seu corpo pequeno e frágil estava frio e trêmulo, seus olhos foram perdendo o brilho e vida. Eu me vi em desespero e cheio de angustia, enquanto a culpa e o ódio por mim mesmo foi me devorando por dentro.

— Por favor, Bon Bon fique comigo! — Eu dizia entre as lágrimas. — Por favor, eu preciso de você. Por favor, não feche os olhos. Você não pode fechar os olhos... — Eu continuei a minha suplica embalando seu corpo delicado em meus braços. − Bon Bon eu estou perdido sem você aqui... Bonnieee! – Meus gritos desolados se perderam no vento. Era tarde demais, sua vida foi se esvaindo, seus olhos foi perdendo intensidade, sua face foi ficando pálida e seu coração parou e tudo o que havia restado era uma expressão oca em seu rosto e um corpo gélido e morto em meus braços.

Eu havia assassinado Bonnie Bennett, minha bruxinha leal e destemida. Eu havia a perdido em meus braços. Mais uma vez, eu tinha derramado sangue inocente. E um buraco se abriu em meu peito reabrindo velhas feridas, corrompendo minhas esperanças, tragando minha alma para um completo vazio e solidão.


Bonnie

− Não! – Eu gritei insanamente, sendo puxado ferozmente pra longe de Damon. Meu corpo trêmulo foi abrigado pelo abraço protetor de Stefan. Assustada e com o coração batendo descontrolável me permiti chorar em seus braços. Chorar desconsoladamente por sentimentos e sensações que nem pertencia a mim. Chorar por Damon e tudo o que eu presenciei dentro de sua mente contaminada por aquele inferno.

− Eu podia sentir a dor dele Stefan. – Eu disse agora confrontando os olhos tortuosos de Stefan. − Eu nunca vi Damon assim, ele quase parecia um menino desolado perdido em sua própria mente, preso em seu pior pesadelo, sendo consumida por mais dor e pânico. Eu tentei tira-lo de lá. Eu tentei mais era como se uma força invisível, me puxasse pra longe dele. – Eu continuei desabafando toda a minha experiência vivida dentro do inferno particular de Damon.

− É assim que funciona a pedra da fênix. – Disse Valerie traduzindo tudo o que Beau o herege mudo dizia em sinais.

Ambos os hereges resolveram nos ajudar, ambos haviam decidido se aliar a nós contra Julian, tudo em nome de Lily.

− Quanto mais ele estiver preso lá, mais a pedra da fênix irá transforma-lo em alguém, talvez, até irreconhecível. Cada vez mais, Damon será consumido pela escuridão. – As palavras de Valerie me corriam por dentro causando um medo terrível de que eu perderia Damon pra sempre.

− Calma Bonnie. Nós vamos tirá-lo de lá. Eu sei, Damon é forte ele vai aguentar. Nós só temos que manter a esperança. – A afirmação de Stefan não foi o suficiente pra aplacar os meus temores, no entanto, eu decidi me apegar em suas palavras.

Mas, eu não iria desistir. Eu nunca desistiria de nenhum de meus amigos. Eu nunca desistiria de Damon. Aquele vampiro arrogante, impulsivo, lindo e, às vezes, rabugento que eu aprendi a amar era essencial pra mim.

Se eu perder Damon agora, eu perderia um pedaço de meu próprio coração.

 


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Notas finais do capítulo

Bom espero q vcs tenham gostado e pfv deixem as suas reviews. Elas são muito importantes pra nós autores, pra gente trocar ideias. Ah, tbm queria dizer q no próximo capítulo vai ter vários momentos Bamon e vcs irão descobrir o motivo pelo qual Damon teria supostamente ido dissecar por Elena. Lembrem-se q na mente do Damon tudo parece acontecer ao mesmo tempo cheio de cenários diferentes. Vamos ver tbm como Stefan e Bon estão lutando pra conseguir salvar nosso vampiro de olhos azuis. Bom logo tem mais!!!