A proposta escrita por Sirena


Capítulo 2
A ultima página


Notas iniciais do capítulo

Não acredito que consegui acabar essa capitulo!!!
Eu realmente consegui! (solta confetes no ar)
Ahn... Eu ia me esquecendo... Feliz Natal!!!!
Acabou os cookies então... Capitulo novo de presente ♥
Enjoy!



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Capitulo Dois

A ultima pagina

–Hook

Eu nunca havia ido a um enterro antes.

Perdera muitas pessoas ao longo da minha existência, porém nunca tive a coragem ou a chance de vê-los em sua despedida final.

A Emma... Minha Emma seria a primeira.

Olhei para o espelho, indeciso no que trajar. Tudo parecia errado. Toda aquela situação um pesadelo de um homem adormecido que não consegue acordar.

–Ninguém vai ligar mesmo- Murmurei, com os lábios trêmulos, as mãos pousadas no guarda-roupa de madeira.

Agarrei a primeira camiseta que encontrei. Um modelo velho e branco, que estranhamente parecia combinar com aquelas calças jeans que já trajava. Vestes tão estranhas e complexas quanto aquele tempo e o ar carregado da cidade.

Não me olhei no espelho. Não olhei para minha tristeza. Apenas me engasgando com toda a minha dor.

Sem consolo, sem amigos, sem ninguém que pudesse me ajudar...

Apenas aquele livro.

Ele ainda estava comigo, em minha cabeceira. Ele não era apenas uma lembrança, era tudo que me restará delas, além dos pensamentos constantes. Suas frases e parágrafos, o cheiro de mofo e cansaço, as páginas dobradas...

Tudo era ela.

Foi por isso que o levei comigo.Por todo o longo caminho até a igreja, mantive-o agarrado ao meu corpo, entrelaçado em minhas mãos. Ele era tão precioso como se fosse meu coração pulsando, tão vital quanto o sangue que circundava em minhas veias e que se ausentara das dela. Uma parte dela que estava em mim.

O vento daquele fim de tarde era uma brisa. As estações ardiam em seu toque. Era a espada fria do inverno batalhando com o calor da primavera. As arvores arredias e ríspidas que mantinham sua forma seca e dolorosa e as primeiras flores que começavam a se desabrochar. Uma batalha observada pelo céu em tons laranjas e amarelos e vislumbrado pelas nuvens que se desfaziam no horizonte, tocado como anjos pelas primeiras estrelas já conspícuas no horizonte.

Aquela era o tipo de tarde que Emma adoraria observar e comentar por horas sem fim.

Mas ela nunca mais veria algo parecido.

A todo instante queria apagar a imagem que eu, Killian Jones, seria o único na sua cerimônia de despedida. Aquilo parecia em sumo, inconcebível. Deveria ter dezenas e dezenas de pessoas a cercando e chorando, pessoas que a amavam. Todos deveriam estar aqui, com ela.

Mas também, quem era eu para dizer qualquer coisa? Havia abandonado-a quando ela mais precisou!

Eu era pior... Muito pior do que elas!

Segurei a ânsia que tinha que chorar. Manter meus sentimentos presos e controlado era o pagamento mínimo para o que fizera para ela.

O mínimo do mínimo.

O cheiro de cerejeiras, misturado com o leve odor de tristeza e calmaria surreal indicavam que estava me aproximando da igreja. Eu não era um freqüentador assíduo, mas era impossível esquecer aquela sensação. A única capaz de abrir minha percepção da realidade, presa por minutos que não sabia calcular ao certo.

Meu sapato garimpou a calçada reta e uniforme, fazendo sons repetitivos e monótonos. Eu era o único naquela trilha. Um jovem tolo caminhando mais uma vez pela estrada do coração quebrado e dos sentimentos destruídos.

Era isso o significado poético de se perder quem ama, não é mesmo?

Abaixei a cabeça ao entrar pela porta do campanário. Era como se houvesse um peso de cem quilos sobre minhas sete vértebras cervicais. A culpa, um fragmento dela, tinha esse peso. O suficiente para que meus olhos encarassem apenas o chão.

–Você é o único familiar presente?- Perguntou uma voz, fazendo-me sobressaltar.

Ergui-me de súbito, procurando e encontrando rapidamente o tom grave e abafado do padre. Esguio e de feições caridosas e humildes, o senhor observava-me com os olhos azuis repuxados pelas rugas compostas e as mãos entrecruzadas.

–Eu... Sou- Como aquela declaração poderia machucar tanto?Como parecia que ela iria simplesmente rasgar e devorar um pedaço da minha alma?

–Gostaria de ter uma companhia neste momento de dor?

Estava inclinado a negação, mas, no estado instável e deplorado, achava que isso seria pouco seguro.

Antes que minha cabeça fizesse um movimento de concordância, o padre se aproximou, regido pelo seus passos e conduzido pelos pensamentos bondosos e sinceros que deviam povoar sua mente pura. Imaginei por um segundo o quanto deveria ser agradável pensar em qualquer coisa que não fosse sangue e cadáveres espalhados.

–Ela não deveria estar morta- Sussurrei de súbito.

–Nunca estamos prontos para a morte, garoto- Rebateu.

Era a primeira vez em muito tempo que alguém se referia a mim, um homem adulto e feito como um garoto. Eu não me via daquele modo. Por mais jovem que talvez pudesse aparentar, era muito mais velho que seus netos ou bisnetos. Estava preso nessa forma e idade por um tempo longo demais.

Não uma benção, mas uma horrível maldição.

Uma maldição que eu gostaria muito que terminasse.

–Mas ela não merecia isso- Rebati, contorcendo-me para que as lagrimas não escorressem pelo rosto.

–Sei que não merece. Ninguém merece essa condenação perante os olhos mortais- Ele semicerrou os olhos por um momento como se estivesse pensando na própria dor e perda, olhando para os próprios sentimentos ao invés dos outros- Mas certas vezes... A morte é necessária. Ela livra o corpo da dor do corpo e da alma, poupa-a do sofrimento adquirido ao longo dos anos- Suspirou.

–Eu daria minha vida pela dela- Sussurrei para mim mesmo, todo o redor invisível.

–Deixarei você sozinho. Acho que precisa de um momento com ela- Declarou, afastando-se com passos lentos e leves, como se fossem plumas ao invés de sapatos pesados e fechados.

Escutei-o saindo, o som muito mais agradável do que a melodia do vazio e da solidão.

Num momento de distração, enquanto vagava pelo vácuo inconstante do que sentia e do eco dos passos, o barulho forte do livro de Emma caindo no chão despertou-me num instalo. Podia sentir as paginas virando e dobrando enquanto a gravidade empurrava-a para baixo.

–Merda!- Xinguei, agachando desajeitado no chão poeirento.

O livro caiu numa posição estranha, a ultima pagina claramente aberta. Por instinto levei-o até mim, analisando o conteúdo que claramente lembrava.

Era obvio. Aquela era... Como eu diria? A história da minha vida.

Mas havia algo esquisito. Não havia uma folha completa, nem mesmo letras de forma comuns da impressão. Na verdade havia apenas uma frase, escrita de maneira desleixada e direta, numa caligrafia que mesmo rápida e rasteira, parecia feminina:

“Você ainda pode salvar Emma, Hook. Encontre-me no seu velho e obsoleto navio quando a lua estiver no centro do céu”

E uma nota mais embaixo:
“Você tem apenas uma chance, Lorde Hook. Ou prefere ficar encarando-a no caixão?”

–Que merda!- Sussurrei, virando de um lado para o outro.Como... Como ... Sabia... Disso? Como... Como tal individuo havia ou poderia ter escrito isso?

Senti meu coração parar, enquanto a parte perdida de lucidez tomava conta do meu cérebro. Seja quem for que havia escrito este bilhete... Estava me oferecendo uma coisa única. Eu poderia salvar minha amada... Eu poderia trazer ela de volta.

Claro. Era esperto demais para saber que talvez isso fosse tudo um jogo e, caso fosse verdade (e isso era uma chance mínima), não seria tão fácil conseguir isso. Tudo havia um preço. Vida ou morte. Magia ou trapaça. Tudo tinha dois lados e sempre um deles era muito, muito ruim.

“Tão ruim quanto perdê-la?”. A frase cochichou, dócil como o vento e áspera e fria como uma rocha.

A resposta veio junto com a certeza do que tinha que fazer.


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Notas finais do capítulo

E então o que acham que irá acontece agora?
Bem... Eu sei o/ (Obvio, né?)
Até os comentários