A proposta escrita por Sirena


Capítulo 1
O Adeus


Notas iniciais do capítulo

Capitulo extremamente dramático (pois eu sou dramatica sim! :v)
Dedico-o a querida Hikarry (estava devendo essa fic para ela há... Um bilhão de anos luz)
Espero que gostem ♥



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Capitulo Um

O Adeus

-Killian Jones

Emma estava morrendo.

Não era necessário ter um diploma de medicina acoplado na parede da minha sala para que pudesse ter uma noção deste fato. Nem mesmo era preciso observar longamente os fios translúcidos que cobriam seu corpo, artefatos humanos modernos que pouco compreendia.

Bastava... Olhar para ela.

A jovialidade e a vitalidade haviam desaparecido por completo, extinguido-se. Toda sua energia vital havia sido sugada. Deu-se lugar a face da discórdia dos anos vindouros, a pele pálida e descarnada, marcada por rugas e fendas, desnutridas e ossudas.

De tudo, apenas um fragmento da Emma que conheci se mantinha. Apenas seus olhos . Eles não se modificaram ou mudaram de algum modo ou circunstância. Ainda havia o doce oceano nadando numa correnteza arredia, a energia da maré alta e a doçura das ondas no por do sol. Existia a curiosidade nata dos mares não encontrados e a verdade dos mapeados.

Tudo isso ainda existia ali. Ainda existia nela.

-Hook- Escutei Emma sussurrar pelos lábios franzidos e secos, um tom batido e fraco de rosa sem emoção.

-Oi- Abri um sorriso largo e vivo, uma fileira de dentes brancos e imaculados, rompendo da boca que não sabia mais o que dizer ou encontrar palavras para pronunciar.

-Você não mudou nada em todo esse tempo- Sua voz estava morta, silabas que não queriam sair, estradas inconclusivas e pensamentos tão desafinados quanto o som de um violino nas mãos de um principiante.

-Você acha?- Debochei.

Mas era verdade. Eu não havia envelhecido um único dia, um único minuto, um misero segundo.

Era a dádiva e a maldição por ser um personagem de um livro parado, um homem inexistente nesse plano de existência. Alguém com alma e corpo que pareciam não se conectar. O coração com incontáveis e incontáveis anos, porém com o físico de um individuo com idade um pouco ínfera aos trinta anos.

-Sim. Mesmo depois de décadas você continua o mesmo cara extremamente lindo e idiota- Seus olhos se selaram por um segundo, o sol fechado por uma cortina de nuvens de outono, abrindo após um curto intervalo de tempo pela canção nobre da primavera.

-Finalmente admitiu que eu sou um idiota- Brinquei tentando arrancar fora a atmosfera mórbida daquele ambiente monocolor e fúnebre.

-Eu sempre admiti . Só... Só... Nunca quis... Falar... Para... Você...

Era dolorido ver ela assim. Eu queria chorar , sentir as lagrimas caindo dos meus olhos, explodir aquela tristeza sem fim.

Mas eu não podia desabar agora. Deveria tentar continuar forte e firme. Era o mínimo que poderia oferecer para ela.

-Eu senti sua falta- Desabafei, segurando suas mãos frias marcadas por veias longas, doloridas naquele tom esverdeado.

-Também senti a sua falta. Eu senti muito... Muito... Muito a sua falta- Uma única lagrima solitária fluiu pelos olhos celestes, marcando como um estigma as linhas doces do seu rosto.

Não... Posso cair agora

Tenho que agüentar...

-Eu estou aqui agora- Prometi, apertando ainda mais seus dedos, sentindo o pouco calor que restava neles.

-Eu não tenho muito mais tempo- Confessou. Sua voz era tão baixa que foi necessário um grande esforço para ouvi-la.

-Não diga isso...

Eu não quero ouvir a verdade. Não quero escutar isso de teus lábios de veludo e mel.

-Mas é a verdade. E você, mais do que ninguém sabe disso. Aposto que em todos esses anos, vistes pessoas nascendo e morrendo. Um ciclo interminável que você está imune.

-Você vai ficar bem...

Falsas promessas. Falsas palavras.

Mentiras.

-Não. Meu tempo é curto, Killian. Vago e pouco.Inexistente. Apenas um fio de linha prestes a ser cortado.

-Por favor...- Segurei a única lagrima que saia. O sal doloroso de uma molécula de tristeza, uma partícula de uma cascata.

-Mas já que você está aqui eu... Quero te fazer... Um ultimo pedido.

A palavra ultimo perfurou-me mais profundamente do que qualquer faca ou espada. Fez-me sangrar e morrer mais rápido que qualquer arma.

Meu ultimo momento com ela.

-Pode pedir- Cuspi antes que pudesse pensar. Mas isso não era preciso. Agora que estava ao seu lado, eu faria qualquer coisa por ela.

-Tem um livro na cabeceira – Ela virou a cabeça para a esquerda, tentando apontar com o membro a direção correta- Você poderia pegá-lo, por favor?

Meus pés seguiram seu comando, suas ordens, como se fosse um boneco de corda, mas ao invés de complicadas e minúsculas engrenagens, era movido unicamente pelo som da sua voz.

Uma cabeceira de marfim, sem nada de muito especial. Um móvel rústico e limpo com rachaduras e marcas e sobre elas, folhas e mais folhas de papel. Brancos e rabiscados , com letras distorcidas e moldadas com a tinta de um velho tinteiro, um objeto obsoleto nesse mundo moderno e sofisticado.

Por um minuto, pensei em ler os seus escritos, mas não havia tempo. Minha missão agora era única e exclusivamente o livro tão fácil e obvio sobre o amontoado de papel.

Ele parecia comum. Antigo e mofado, com uma capa dura verde-selva e paginas tão velhas que poderiam ter sido tiradas da arvore mais obsoleta da floresta encantada.

Mas certamente, o mais especial e arrebatador era incrivelmente seu titulo.

Peter Pan.

-Era o único livro infantil que mencionava você, Hook- Ela mencionou, enquanto meu dedo indicar acariciava a letra "P".

-Você...

-Eu o leio todas as noites, exceto quando minha fraqueza é extrema. Nessas situações, uma enfermeira gentil chamada Rose White o lê para mim. Fico deleitando-me não com a historia, mas com todas as lembranças reviradas que tenho de você. Todos os momentos que passamos.Tudo que poderíamos ter passado...

-Emma- Seu nome saiu um sussurro, um lamento.Queria dizer algo a mais... Mas estava quebrado.

-Poderia ler para mim... Por favor...

Tentei procurar palavras. Buscar canções e poesias, citações que poderia usar naquele momento.

Mas não era isso que ela queria.

-Mas é claro- Respondi, carregando o livro em direção a poltrona branca ao lado de sua cama. Era pequena e confortável. O local perfeito para se narrar uma história.

-Não é tão boa quanto a original- Ela admitiu, quando meus lábios se preparavam para abrir- Não é tão boa quanto o meu Hook. Mas é... Boa o suficiente por ter você- Ela sorriu, os olhos azuis me observando e esperando ansiosos para o inicio.

Comecei a narrativa pausadamente, saboreando aquelas palavras arcaicas e mencionando-as como se fosse meu ultimo suspiro. Pausas desnecessárias surgiam ao longo da narrativa, não pelas reticências expostas ou pelo tom do escritor. Era proposital. Atos que fazia apenas para poder observar seu rosto. Apenas para vê-la viva.

-Sempre quis ouvir sua voz nessa historia.- Eu ainda estava no meio do livro quando ela me interrompera, fazendo o polegar meditar como um monge sobre as linhas- Parecia tão... Irônico e especial...Algo digno de uma despedida

-Emma...Eu não quero dizer adeus...

Não chore... Por favor... Não chore!

-Nunca diga "adeus", porque dizer "adeus" significa ir embora e ir embora significa esquecer.- Ela recitou a frase do meu inimigo. Sua voz era calma e tranqüila como a de uma pacifista, leve como o bater de asas de uma borboleta azul.

-Eu nunca vou te esquecer.

-Então nunca diga adeus- Pediu com um sorriso triste e lateral.- O livro ainda não acabou- Observou. Obviamente ela já possuía todo o livro na cabeça.

-Claro... - Acenei pensativo, ocupado demais observando seu rosto.

-Espero que um dia entenda o que eu quis dizer- Seus olhos se fecharam delicadamente, o peso extinguindo-se naquele leve movimento.

Eu não precisei ouvir o som ininterrupto da maquina... O som do seu coração parando de bater. Eu sabia que ela havia partido. Sabia que ela havia me deixado.

Tudo a partir daquele segundo foi um borrão. Lembro-me de me ajoelhar ao seu lado, jogar-me aos lençóis de sua cama adornada com seu cheiro de rosas e hortelã. Creio que gritei seu nome em meio aos soluços,enquanto todas as lagrimas repreendidas escorriam sem controle no pranto mais longo e desesperado que um um homem poderia ter.

Os médicos e enfermeiros precisaram me arrastar para fora do quarto. Me jogar para fora daquele ambiente nefasto onde se repousava o corpo do meu único amor.

E mesmo com todos esses acontecimentos minhas mãos não abandonaram aquele livro.


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Notas finais do capítulo

Não me matem!
Okay... Sei eu sou cruel, mas é meu jeitinho...

Até mais (aceno o/)