Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 9
Parte II - Despedaçado / Capítulo 9




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Em questão de minutos há uma quantidade considerável de pessoas em nossa casa. Eu apenas consegui balbuciar algumas palavras, tentando explicar o horror da situação. Katniss se manteve num constante estado de choque, portanto alguém sabiamente chamou um médico, que achou melhor dar algumas doses de calmante a ela. Não permiti darem uma quantidade exagerada para fazê-la dormir, pois eu não gostaria de ficar desacordado enquanto meus dois filhos estão desaparecidos. Os remédios a acalmaram, mas não o suficiente para que ela parasse de chorar. O médico também sugeriu que eu tomasse alguns calmantes, o que eu recusei. Tenho que estar plenamente consciente, se eu quiser encontrar meus filhos. Os novos pacificadores, que agora não são providos do distrito 2 e sim dos distritos inferiores, alegaram que nada poderiam fazer, mas as ameaças de Johanna com seu machado recém tirado do porão nas mãos, fizeram com que eles decidissem cooperar ao invés de prendê-la. Haymitch completamente sóbrio, resolveu organizar equipes de busca, para vasculharmos a colina e a floresta. Katniss insistiu que iria conosco, então os grupos foram divididos.

Katniss, eu, Haymitch, Johanna, Annie e um pacificador ficamos no mesmo grupo. Effie queria vir também, mas achamos melhor ela ficar com Posy em casa, caso as crianças aparecessem aqui. Partimos cada grupo rumando a lados opostos da colina, de modo que toda a área fosse vasculhada. Apesar de o dia ter sido ensolarado, a noite é fria, e as lágrimas ficam impossíveis de deter ao imaginar meus filhos perdidos por aí, com fome e frio. Mas secretamente eu desejo que eles estejam mesmo na colina ou na floresta, do que em outro lugar. Munidos de lanternas, vasculhamos a colina gritando por eles, ouvindo os gritos dos outros grupos. Mas não obtemos resposta alguma. Adentramos a floresta, e meu corpo começa a sofrer tremores que eu não sei explicar de onde vem. Seria meu lado ruim querendo vir a tona mais uma vez? Essa é uma coisa que nunca pode acontecer. Principalmente agora, enquanto Katniss soluça em meus braços, e fica mais desolada a cada passo que damos, a cada centímetro que chegamos perto do fim da floresta, e não encontramos nossos filhos.

— Olhem... O que... é aquilo? – Annie pergunta, enquanto aponta sua lanterna para uma árvore que se encontra bem longe de onde estamos, e que já pertence ao distrito 13. Todos apontamos nossa lanterna na mesma direção, e Johanna é a primeira a sair em disparada. Ela chega até a árvore e fica de costas para nós, por um longo tempo. Até que cai de joelhos no chão, e seus soluços são audíveis. Todos já havíamos nos esgotado de chorar, mas Johanna não havia derramado uma lágrima sequer. Até agora. Katniss parece não ter forças nem coragem para ir até lá ver o que foi achado. Mas eu a pego em meu colo, e corro junto com os outros até Johanna. Assim que chegamos próximos a ela, Haymitch esmurra a árvore ao ver o que ela segura. Annie solta um gritinho, e começa a se balançar, murmurando algo inaudível entre suas lágrimas. Katniss decide descer de meu colo e se agacha ao lado de Johanna. E quando ela vê, o que causou tamanho desespero á todos, coloca o rosto entre as mãos e em seguida é abraçada por Johanna. Só então, tomo coragem para ver o que foi achado. No chão, onde johanna o colocou, está um grande pedaço do tecido do vestido que Prim estava usando quando desapareceu. E eu quase não consegui reconhecer a estampa, pois ele está completamente vermelho. E ninguém precisa me dizer que isso é sangue.

— O tecido estava enroscado num ponto muito alto. Algo, ou alguém estava a carregando – O pacificador diz, e toma o tecido nas mãos. – Melhor levar isso para o laboratório e tentar achar alguma digital, que não seja a de vocês que já o pegaram na mão.

Mas eu não consigo dizer nada. Não consigo fazer nada. Apenas morder com força meu lábio inferior, até sentir o gosto de sangue. Só consigo pensar em algo que possa me distrair dessa dor, desse despedaçar interior. Pois é isso que provoca a fera adormecida dentro de mim. E é isso que fez com que essa outra personalidade minha, essa coisa com um instinto assassino, acordasse. Começo a respirar com dificuldades. Meus filhos desapareceram... Esse sangue... O vestido de Prim... Me sinto sendo sugado, todas as memórias felizes desaparecem aos poucos, só restando a dor, o desespero e a raiva. Aos tropeços me afasto de Katniss, pois eu sei o que vem em seguida. E logo uma dor absurda em minha cabeça me acomete. Eu aperto minhas mãos em minha cabeça, e apesar de ser insuportável eu não quero que a dor pare, pois quando ela acaba o que vem em seguida é muito pior. Mas a dor para. E meus olhos se cravam em Katniss, soluçando nos braços de Johanna. A vontade de feri-la é maior do que qualquer coisa. Mas não pode ser maior que meu amor por ela. Desesperado, olho para Haymitch, e como sempre meu velho mentor, amigo, pai... Entende tudo. Ele anda decididamente até mim, e me fita, com tamanha dor estampadas em seus olhos, que por um segundo eu penso que sua dor fara essa coisa ruim se adormecer novamente dentro de mim, num canto obscuro. Mas meu corpo queima, com a necessidade de tocar em Katniss e fazê-la sofrer. E assim que dou um passo na direção dela, sinto a mão de Haymitch acertar meu rosto em cheio, com um soco feroz. E a partir daí, só me lembro da dor em meu rosto, e do meu baque contra o chão.

Quando acordo, minha cabeça lateja, mas não sinto nenhum resquício do meu lado ruim dentro de mim. Sou apenas eu, Peeta, e a minha arrebatadora dor sobre a perda dos meus filhos. Me levanto, e percebo que já amanheceu. Passei a noite inteira desacordado depois que Haymitch me nocauteou na floresta, mas acho que apenas um soco não faria tanto. Devem ter me sedado, com medo da minha reação ao acordar. Será que eles acharam as crianças? Corro pelos cômodos afim de achar Katniss, e claro, meus filhos. Mas é claro que não os acharam. Senão teriam me acordado. Sentindo as lágrimas em meus olhos, vou até a cozinha, que pelo cheiro de café, é onde Katniss deve estar. Mas quando estou adentrando o cômodo, me deparo com Katniss parada, e seu corpo levemente tremendo. Ela está de costas para mim, mas consigo saber que é raiva que ela sente, pelo fato de seus punhos estarem cerrados. Caminho lentamente olhando na mesma direção que Katniss, e me deparo com uma mulher alta, loira, com um sorriso lunático em seu rosto de feições delineadas, apontando uma arma para Katniss. E eu sei quem ela é. Sunny.

— Finalmente acordou, querido? – Sunny diz, e sorri ainda mais para mim, não deixando de apontar sua arma para Katniss.

— O que você está fazendo aqui? – eu grito, agora sabendo que ela com certeza está envolvida no sumiço dos meus filhos.

— Vim tratar de negócios – Ela responde, e de repente seu sorriso lunático, ganha uma frieza que a faz lembrar muito seu avô, Snow.

— Eu nunca vou permitir isso – Katniss grita, e dá um passo a frente, parecendo não se importar com o revólver que Sunny aponta para ela.

— Veremos se o Peeta partilha da mesma opinião que você – Sunny rebate, e mais uma vez se dirige a mim. – Ninguém se deu ao trabalho de me perguntar, mas sim, eu peguei seus filhos. Se eles estão bem? Mais ou menos. E se eu pretendo devolvê-los? Sim. Mas com uma condição.

— Eu faço qualquer coisa, se você devolver nossos filhos – eu imediatamente digo.

— Viu como ele pensa diferente de você? – Sunny diz para Katniss, e pisca para mim. O que me causa repulsa. – Então... Para eu devolvê-los, é só você vir comigo, Peeta. Esquecer tudo o que você tem, tudo que você passou, e recomeçar comigo, bem longe daqui.

Olho para Sunny, incrédulo. As palavras que ela me disse há anos atrás quando eu era um prisioneiro de seu avô, repercutem em minha mente. "Um dia você será meu"... Foi o que ela disse. Mas eu não imaginava que ela estava falando sério, e muito menos que ela iria tentar cumprir essa promessa, usando meus filhos para isso.

— E, o que aconteceria se eu recusasse a sua proposta? – eu pergunto, de certa forma sabendo a resposta.

Ela então afasta seu cabelo do rosto, revelando uma enorme cicatriz que desfigura um lado de seu rosto.

— Eu também tenho cicatrizes, Peeta. Eu também lutei para sobreviver no ultimo jogos vorazes que foi feito. Então, eu penso que eu também mereço ter o homem que eu sempre amei. E se caso você não queira aceitar minhas condições... – ela dá de ombros. – Terei que matar seus filhos e enviar um pedaço deles por dia á vocês, e vocês terão que montar os pedacinhos deles, como quebra cabeças, se quiserem enterrá-los decentemente.

Katniss avança sobre ela, e desfere um potente soco sobre seu rosto. Sunny dispara a arma, e o tiro passa raspando pelo rosto de Katniss. Eu me ponho entre as duas, temendo que algo terrível aconteça. Sunny se recompõe e por um momento penso que ela irá realmente atirar e matar a nós dois. Mas ao invés disso ela ajeita seu cabelo ao lado do rosto afim de tampar sua terrível cicatriz e sorri.

— Hoje, ás 20:00, a margem do lago, eu espero você, Peeta. Sozinho. Isso se você aceitar minha proposta. Caso contrário, digam adeus mentalmente aos seus filhinhos – ela diz, e começa a se encaminhar até a porta. Antes de sair, ela se vira para nós. – Sabe... É bom você estar lá Peeta. Pois vai ser muito triste ter de cortar aquelas lindas crianças em pedacinhos. E nem quero imaginar o quanto elas irão chorar, se com alguns pequenos cortes elas já têm chorado tanto.

E com isso, ela corre, e nós a perdemos de vista entre as casas. Penso em correr atrás dela, mas minha perna não iria ajudar muito. Vou até a porta, e olho fixamente na direção que ela foi. Maldita.

— Peeta – Katniss sussurra atrás de mim. – Você não pode ir.

— Mas esse é o único modo de ter nossos filhos de volta. Ao menos por enquanto. Depois que eles estiverem a salvo, podemos pensar no restante – eu digo e me viro para Katniss. Seus olhos estão até inchados de tanto chorar. Mas lágrimas ainda brotam deles.

— Ela é completamente louca. E se ela matar nossos filhos, mesmo você indo com ela? Aí eu terei perdido, tudo – Katniss diz, e me abraça, forte.

— Vai dar tudo certo, Katniss. Eu preciso fazer isso. Porque nossos filhos, precisam de você – eu digo, tentando soar firme, tentando esconder meu medo de ser levado por Sunny, e nunca mais conseguir voltar para minha família, tentando não me desmanchar em lágrimas.

— Mas... Eu preciso de você – Katniss sussurra, em meus braços.

— Eu também preciso de você. E é por isso que eu vou arranjar um jeito de voltar – eu digo, e me afasto de Katniss, ao voltar para o quarto onde fecho a porta atrás de mim. E sem aguentar mais nenhum segundo, eu afundo minha cabeça no travesseiro afim de abafar o som, e grito a plenos pulmões. Pois o simples pensamento de me afastar de Katniss e de meus filhos, é assolador demais. Mas se esse é o preço a pagar pela vida deles, eu aceito. E cego pelas lágrimas, eu vou até o livro de memórias de Katniss e de uma das páginas, retiro uma foto onde há ela com Finnick ainda bebê em seu colo, eu a abraço pela cintura, enquanto Prim a nossa frente, segura minha mão e olha para cima, para nós, sorrindo. Meu olhar está perdido em Katniss, e o dela em mim. Como alguém pode ter coragem de destruir isso? Enxugo minhas lágrimas, e enfio a foto em meu bolso. Pois nos dias sombrios que seguirem, eu ao menos terei essa lembrança comigo, de como eu já fui feliz. E sei que isso fará com que eu não perca a coragem de lutar para voltar. Independentemente do que eu tiver que enfrentar, eu vou lutar. E se eu tiver que morrer, será como Finnick. Lutando.   

 


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