Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 8
Capítulo 8




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Depois de uma noite praticamente inteira sem dormir, decido me levantar. Ter filhos é uma dádiva, mas digamos que não é uma dádiva fácil. Finnick definitivamente não gosta de dormir. E eu tento ficar com ele o máximo que posso para que Katniss não fique sobrecarregada com as responsabilidades de cuidar da casa e ser mãe. Mas o garoto, que parece crescer tão rápido quanto Prim, é muito espero e muito bagunceiro. Então minha tarefa de deixar Katniss dormir é bem difícil. E ainda há os pesadelos. Eles nunca abandonaram Katniss, é o que penso ás vezes. Prim já começou a questionar o que deixa a mãe dela tão assustada a noite. E como eu vou explicar isso, sem mencionar o horror da guerra e dos jogos? Mas algumas coisas ela já sabe. Meu nome e o de Katniss são frequentemente mencionados na escola. Não entram em muitos detalhes, como pedimos, apenas informam que tivemos um papel extremamente importante na rebelião dos distritos. Quando Prim soube disso na escola, lembro que na hora em que fui buscá-la, ela veio correndo, me abraçou e disse que me amava demais. Eu fiquei confuso, sem entender porque tamanha demonstração de afeto, apesar de ela sempre ser muito carinhosa. E então ela me olhou com seus olhinhos azuis, e disse que me amava por eu ser o melhor pai do mundo, e por eu ter sido um herói que ajudou a mãe dela a salvar os distritos. Então... Como não ser extremamente feliz, tendo uma filha assim? Como não agradecer todos os dias pelo simples ato de respirar? Como não sentir o coração gigante dentro do peito, ao chegar em casa e encontrar seu filho dando os primeiros passos? E ainda há o trunfo maior, que é por fim ter o amor de Katniss completamente. A garota por quem eu estava decidido a morrer, a garota que eu amei secretamente por anos a fios, é finalmente minha. Essa é a parte mais difícil de acreditar. Eu consegui. Não há um só dia que eu não me sinto o homem mais sortudo do mundo, por ter Katniss como minha mulher. E apesar de todo seu sofrimento, parece que o tempo não passou. Ela continua com a mesma aparência de garota durona, mas agora seus dois filhos conseguiram quebrar uma espécie de barreira que ela parecia ter desenvolvido desde a morte de todas as pessoas que considerávamos importantes para nós. Ela sorri com mais freqüência, demonstra mais seus sentimentos. E se não fossem tantas cicatrizes que carregamos em nossos corpos, num lembrete irremediável do que passamos, aposto que ela conseguiria até se esquecer por alguns instantes de todo o horror já vivido. Mas, quando a noite chega e os temores recaem sobre Katniss, eu apenas murmuro em seu ouvido, repetidamente, que tudo vai ficar bem. Pois acreditar que as coisas vão dar certo, é a essência de tudo. E eu acho que nada mais pode dar errado. Pois nós temos um ao outro, e dois filhos lindos, amáveis e felizes.

E se antes nossa casa nunca ficava vazia graças a Prim, agora, depois da chegada de Finnick nossos amigos quase não saem daqui. Todos estão morando no distrito 12. E como era de se esperar, Annie mal consegue desgrudar de Finnick. E é incrível ver o quanto ele fica quietinho quando está em seu colo. Posy, que dolorosamente é a cara de seu pai, também é muito apegado ao pequeno Finnick. Dá pra ver em seus olhos, a alegria de ver seu pai sendo homenageado dessa maneira. Eu achava que muitas outras pessoas mereciam essa ultima homenagem. E apesar de não estar errado, não me arrependo da decisão que Katniss e eu tomamos ao dar esse nome ao nosso filho. Ele poderia ter o nome do meu pai, do pai de Katniss, de Cinna... Mas, o que Finnick fez por nós....Foi muito mais do que merecíamos. Ele salvou nossas vidas, ele foi nosso amigo, sem querer nada em troca, apenas nossa amizade também. E em meio a essa saudade dos que se foram, sendo acalentada por essas novas vidas, há Johanna. Sem pedir para ninguém, ela se intitulou madrinha de Finnick. E tanto ele quanto Prim, amam ela de todo o coração. Os anos fizeram bem a ela, que está linda como nunca. Sempre que a vejo, faço uma prece para que ela encontre alguém que a ame, alguém que a faça feliz, para que um dia ela possa ter seus próprios filhos. Pois eu nunca imaginei que diria isso, mas Johanna leva jeito com crianças.

E enquanto eu penso na vida, e nas surpresas que eu jamais esperaria encontrar, me deleito com o corpo de Katniss encostado no meu, enquanto nossos filhos brincam próximos a nós, sobre a colina, que esconde por debaixo do seu belo verde, os ossos dos que morreram no distrito. É fim de tarde, o sol lança raios fracos, porém coloridos sobre nós. Mesmo sem ver o rosto de Katniss sei que ela está sorrindo. Prim corre atrás de Finnick, enquanto ele tenta se esconder atrás das árvores. Mas suas perninhas gordas fazem com que ele caia a cada corrida que tenta dar. Ao contrario do que faria a maioria das crianças, toda vez que ele cai, ele ri e se levanta para tentar correr mais uma vez. Prim gargalha com as tentativas do irmão, de tentar correr como ela. Suspiro. É muito bom ser feliz.

— Você alguma vez imaginou que teríamos um futuro tão perfeito assim? – eu pergunto a Katniss. Ela levanta a cabeça do meu ombro, e sorri.

— Sinceramente eu nem imaginava ter um futuro – ela responde, rindo, mas em seguida fica séria. – Ás vezes eu acho que eu não mereço ser tão feliz assim.

— Se você não merece a felicidade, então ninguém no mundo todo, merece também – eu retruco.

Ela continua séria.

— Mas isso é sério. Eu matei pessoas – ela murmura.

— Eu também. Mas eu não tive escolha, nem você. O que poderíamos fazer? Morrer sem lutar?

Katniss permanece séria. Escuto as gargalhadas de Prim e Finnick, e percebo que eles estão um pouco longe de nós. Mas eu ainda os vejo, rodando e dançando por entre as árvores.

— Vem aqui, vem – eu digo, e puxo Katniss para mais perto de mim, beijando suavemente seus lábios. Ela começa a corresponder meu beijo, com ferocidade. E me faz pensar que eu nunca deixarei de sentir um desejo enorme por ela. E é no meio de nosso beijo, que eu percebo algo.

— Eu não estou ouvindo – eu digo, e me afasto um pouco de Katniss, a fim de tentar vê-los. Mas eles não estão mais em meu campo de visão. Eu nem preciso dizer a que me refiro.

— As crianças – Katniss diz, e se levanta, já correndo na direção em que eles estavam brincando.

Eu corro atrás dela, e anseio por encontrá-los atrás de alguma árvore tentando nos assustar. Mas não há sinal de nenhum dos dois.

— O que aconteceu? – Katniss pergunta, com os olhos arregalados e o rosto já coberto com lágrimas.

— Eles devem estar por aqui. Você procura pra lá, e eu procuro desse lado. Quem achá-los primeiro volta pra cá e espera. Pode ser? – eu digo, tentando tomar controle da situação ao mesmo tempo em que tento controlar minha respiração.

E após vários minutos, gritando o nome de Finnick e Prim, eu chego a margem onde começa a floresta. A vegetação é densa, e a divisa é muito longe de onde estávamos. Eles não chegaram até aqui. Refaço meu caminho, gritando ainda mais o nome dos dois. Ao longe posso ouvir Katniss chamando-os também. E quando chegamos ao local combinado, sem nenhum dos dois ter encontrado as crianças, todo e qualquer sentimento que eu pudesse estar sentindo, dá vazão a apenas um. O desespero.

— Onde estão nossos filhos, Peeta? – Katniss soluça, e me abraça, tremendo, descontrolada.

— Nós vamos achá-los. Fique calma – eu tento dizer firmemente. O que é inútil, pois logo eu me vejo perdendo as forças, e Katniss e eu desabamos juntos ao chão. Permanecemos ali por muito tempo. Andamos por toda a colina, até adentramos a floresta. E quando anoitece e a dura constatação nos atinge, é como se toda a vida estivesse sendo tirada de mim. Enquanto arrasto Katniss comigo, de volta para casa, não consigo entender o que aconteceu, não consigo aceitar o que está acontecendo. Como nossos filhos desapareceram? Como eu vou encontrá-los? Como eu vou conseguir suportar mais um minuto sequer sem eles? Não tenho a resposta para nenhuma dessas perguntas. A única coisa que sei, é que terei que me manter forte. Por Katniss. Ao chegar em casa, tenho que assistir a Katniss entrar correndo por todos os cômodos chamando nossos filhos sem obter resposta alguma. Ficamos parados, no meio da sala, nos olhando, sem saber o que fazer. Automaticamente vou até o telefone e disco os números. São várias tentativas até eu conseguir falar, e quando as palavras por fim saem, sinto uma dor tão bruta, que nenhuma tortura me fez sentir algo assim.

— Haymitch... As crianças... Desapareceram... – É tudo que eu consigo falar antes das lágrimas me engolfarem mais uma vez, e eu me juntar a Katniss num choro compulsivo. Desta vez, eu não consigo ter esperanças. Pois o que quer que tenha acontecido a meus filhos, sinto que foi algo terrível. 

 

 


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