Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 24
Capítulo 24




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HAYMITCH

Eu não acreditei no que meus olhos viam, quando vi Katniss e Prim naquela jangada improvisada. Tivemos mais sorte em ser arrastados para o lado habitado daquele grande mar, então logo conseguimos ajuda. As buscas eram assíduas, mas a tempestade que acometeu o distrito 4 não dava trégua. Mas minha felicidade em saber que eles tinham sobrevivido, durou muito pouco. Pois a expressão de todos era de profunda tristeza. E eu sabia o porquê daquilo. Na hora eu soube. Peeta mais uma vez tinha se sacrificado por Katniss. Por Prim.
Depois de uma breve explicação dos fatos, todos já o tinham dado como morto devido as condições de sua saúde. Katniss sequer conseguia falar disso sem ter crises terríveis de choro. Eu não suportava ver as pessoas que eu tanto aprendi amar sofrendo daquele jeito. Não era justo, que dentre nós, a única pessoa que merecia viver, estivesse morta. Dei ordens para continuar a busca por Peeta. Mas por dentro, eu também já estava morto. Não vencemos nada. Pouco importa se Sunny morreu, e a linhagem de Snow teve um fim. Peeta, o mais justo, o mais bondoso, o melhor de nós, estava morto.

Quando todos estavam recebendo o devido atendimento médico, eu voltei para a praia. Decidi me juntar à equipe de busca, pois era o mínimo que eu poderia fazer. Mesmo sabendo que as chances do nosso menino estar vivo serem quase nulas, eu não podia desistir dele. Não conseguia. Talvez só quando achássemos seu corpo eu ia desistir. E se nunca achássemos, se tiver sido levado pelas aguas, eu iria procurar por ele para sempre.

Já era o segundo dia de busca desde que Katniss e os demais haviam retornado. As buscas haviam dado a volta por toda a área em volta do mar praticamente, sem sinal de Peeta. Esgotado, física e emocionalmente, eu toquei em meu bolso o cantil sempre ali presente. Eu estava tentando ficar sóbrio. Uma luta de anos, que por diversas vezes eu perdi. Mas aquilo era terrível demais para aguentar. Ter que encerrar as buscas. Ter que voltar e dizer a todos que nem o corpo de Peeta foi achado para dar a ele um adeus descente. Era insuportável. Sai caminhando pela praia. Adentrei a vasta vegetação, e andei, andei como se andar pudesse fazer esse pesadelo acabar. Quando encontrei uma arvore, me recostei nela, e peguei meu cantil, decidido que seria a ultima vez que eu iria beber para amenizar a dor. Virei sem interrupção todo o liquido, sequer senti o gosto, apenas o álcool queimava minha garganta e continuava queimando enquanto descia por dentro de mim. O efeito veio quase de imediato. Aquela amenizada na dor. Aquele calor envolvente, familiar.

—Peeta. Por que as coisas tinham que terminar assim? Por quê? Achei que nossos dias de sofrimento haviam acabado. Achei que Snow havia sido enterrado junto com tudo de ruim que poderia nos acontecer. E, no entanto aqui estou eu, procurando em vão por você. Sabendo que você esta morto. Em algum lugar dessa vastidão, você nos abandonou.

As lagrimas forçam caminho por meus olhos.

— Lembro-me de quando nos conhecemos. Sua determinação de salvar Katniss me comoveu. Katniss que parecia se importar mais com uma mosca do que com você. E mesmo assim você estava convicto de sacrificar sua vida por ela. Oh Peeta, eu não consigo me conformar com isso.

Arranco furiosamente os capins a minha volta, e deixo as lagrimas tomarem conta.

— Me perdoa Peeta – eu grito. – Onde quer que você esteja, me perdoe. Eu falhe com você diversas vezes. Como mentor, como pessoa. Sempre me senti responsável pelo que você passou na capital. E eu não tive a chance de pedir perdão por isso. Afinal, escolhemos salvar Katniss ao invés de você. Sempre escolhemos Katniss. E agora você se foi e eu não tive a chance de dizer o quanto eu amo você. O quanto foi doloroso escolher entre você e Katniss. O quanto você se tornou um filho que eu nunca tive. Sua ausência esta doendo demais garoto.

Fecho meus olhos. Este está sendo meu adeus para Peeta. Uma das melhores pessoas que tive a chance de conhecer. Quando abro meus olhos, o vento balança ferozmente a vegetação ao meu redor. Eu não quero voltar. Volto a fechar os olhos e fico ali em silencio, curtindo a minha dor, embriagado.

— Jamais te esquecerei Peeta – sussurro. – Você estará pra sempre em meu coração, e quando eu morrer, espero te encontrar em algum lugar, e poder te dar um abraço. O abraço que em vida, eu jamais poderei te dar.

Fico ali de olhos fechados, gravando em mim cada memória com Peeta.

Nem percebi quando dormi.


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