Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 23
Capítulo 23




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Devem ter se passado cerca de dois dias... Ou talvez duas horas... Na realidade eu não sei. Devemos estar sendo acometidos pela maior tempestade já registrada. Não conseguimos enxergar um passo a nossa frente. O vento é castigador demais. Parece que estamos andando em círculos. Não achamos uma saída. Sinto o cansaço de Katniss e Gale por estarem me carregando, tento a todo custo depositar minhas forças na minha perna que ainda esta boa para diminuir o peso, mas mesmo assim, o cansaço nos vence. Katniss é a primeira que cede, e cai de joelhos no chão. Gale me apoia numa grande pedra para em seguida deixar seu corpo tombar no chão também...

— Nós vamos morrer – Katniss murmura, e se aninha ao meu corpo. – Só espero que Prim esteja a salvo.

Em meio ao barulho da chuva e do mar, consigo escutar um ruído diferente, distante. Gale parece escutar também, e logo se levanta.

— Estão ouvindo isso? – Ele pergunta.

Katniss assente mas não tem forças para se levantar. Então Gale começa a andar tentando encontrar o que causa o barulho e logo some de vista.

— Peeta... Obrigado por todos esses anos ter me feito tão feliz... – Katniss diz, as palavras saem fracas demais...

Sei que isso é uma despedida. Sei que nenhum de nós aguentara muito mais tempo se não formos resgatados. Engulo o nó em minha garganta, e com o resquício de força que consigo juntar, abraço Katniss. Nossos lábios rachados se juntam, num beijo doloroso. Por mim, eu não pararia de beijar seus lábios, morreria assim, aqui e agora. Mas esse meu desejo é interrompido por um grito. Subitamente Katniss se levanta, e cambaleando começa a correr as cegas em direção ao grito.

— Prim! – Ela grita roucamente o mais alto que consegue.

— Eu não vou te fazer mal – escuto Gale gritar.

Eu mal posso acreditar. Meu coração paralisa. Se eu pudesse sairia correndo também, mas me limito a ficar encostado na pedra, sentindo todo o meu corpo tremer. E dessa vez não é pelo frio, a sede, a fome, nem a dor dos ferimentos.

— Mamãe? Mamãe?

Mesmo soando distante, consigo escutar o choro de Katniss. Sorrindo, eu sinto as lagrimas quentes escorrendo em meu rosto ferido. O barulho de algo sendo arrastado se aproxima, e logo vejo gale, arrastando uma espécie de tabua, com Johanna, aparentemente desacordada em cima, e atrás dele, Katniss, com Prim em seus braços.

— Filha – eu murmuro, e observo com um amor tão grande que chega a doer, seu rostinho se virando para mim, seus olhos azuis já cheios de lágrimas marejando ainda mais, e seu sorriso transbordando de amor. Ela então desce do colo de Katniss e corre de braços abertos para mim. Enterro meu rosto em seus cabelos, e fico imóvel, abraçado a minha pequena Prim. Sinto Katniss se ajoelhando ao meu lado, enquanto nos abraça também.

—Eu fiquei com tanto medo de te perder, papai – Prim soluça, enquanto passa suas mãozinhas cheias de cortes, pelo meu rosto.

— Blah, que cena mais linda, vou vomitar – a voz de Johanna nos alcança, e eu me viro e a vejo apoiada em Gale, extremamente pálida, mas com um sorriso no rosto acompanhado por suas lágrimas.

E no momento, eu apenas sei de uma coisa. Nós temos que sair daqui.

Nas horas seguintes que se passam, Prim e Johanna se alternam contado sobre os acontecimentos... Elas foram levadas pelas ondas até a costa do mar, onde vários destroços foram levados também. Prim achou alguma comida mas Johanna se recusou a comer, deixando tudo para minha filha, que depois descobriu que Johanna estava com um ferimento na barriga, enorme, e já havia perdido sangue demais. Quando Johanna não conseguiu mais permanecer acordada, Prim improvisou com uma tabua e uma corda que achou nos destroços, algo para que pudesse sair dali e levar Johanna junto. E ela arrastou Johanna consigo até aqui, no lado oposto onde estavam. Isso explica porque suas mãos estão quase em carne viva. A cada relato, meu coração se enchia mais de orgulho. E eu podia ver isso refletido nos olhos de todos. Mas minha mente trabalhava sem parar, pensando num modo de sair daqui. A tempestade diminuiu um pouco, mas ainda nos castigava com o frio. Gale olhava fixo para o mar, com uma expressão sombria, e depois de fitar Prim por um longo tempo, pigarreou e soltou a frase que nós queríamos tanto ouvir de alguém.

— Eu tenho um plano.

E depois de nos contar o que ele tinha em mente, todos agarraram a ideia, porque era a única coisa que podíamos fazer. Todos pareciam animados com a possibilidade de sair dali, menos Johanna que era a única que parecia notar a grande falha que havia naquele plano. Voltamos então, com muita dificuldade para onde Johanna e Prim haviam estado, e começamos a montar uma espécie de jangada com os destroços que haviam no lugar. Estávamos trabalhando rápido, e mesmo assim, parecia que o trabalho não teria fim. A fome estava castigando demais. Porém os únicos alimentos que encontramos, deixamos para Prim comer. A única coisa que tínhamos para ingerir era a agua da chuva. O que nem de longe saciava nossa sede. Eu temia pela saúde de Johanna e de Katniss. Mas temia ainda mais, quando a jangada estivesse pronta, e sobre a decisão que eu teria que tomar. Eu nem estava preparado, quando por fim a hora chegou.

Todos ficamos parados olhando a jangada, que se balança agitadamente devido as ondas do mar. A tempestade havia diminuindo bem, mas ainda era difícil enxergar muito adiante. Eu estou escorado em Gale, e segurando a mão de Prim. Sem saber onde encontrar forças pra falar, eu fecho meus olhos, suspiro, e anuncio em voz alta e da maneira mais firme que consigo.

— Eu não posso ir com vocês – digo, sentindo o corpo de Prim se retesar.

— O que você está dizendo papai? – Prim grita, lagrimas já fazendo menção em aflorar. Johanna permanece calada e apenas baixa a cabeça. Katniss me olha descrente, anda até mim e segura meu rosto.

— Que diabos você esta falando Peeta? É alguma brincadeira? – ela grita.

Eu não consigo sustentar seu olhar. Baixo minha cabeça.

— Céus, eu não posso ir. Vocês irão atravessa uma distancia demasiadamente grande, remando uma jangada. Além de ser arriscado tanta gente em cima disso, eu não tenho condições de ajudar. Vocês precisam de toda força possível pra conseguir chegar remando em algum lugar, e eu me recuso a ser um peso morto em cima disto e poder acabar com a única chance das pessoas que eu amo sobreviverem.

Por um segundo, o silencio paira no ar. Mas em seguida a constatação do que eu digo, assola a todos com ferocidade. Pois todos percebem, que eu tenho razão. Katniss me abraça forte, quase me derrubando, enquanto Prim se agarra a minha cintura.

— Não podemos te deixar aqui, Peeta. Eu não irei suportar isso, eu não posso te perder de novo – Katniss balbucia, beijando meu rosto sem parar, na forma mais bruta do desespero. Eu me forço a não chorar, o que se torna muito difícil com as suplicas de Prim.

— Papai, por favor, nós daremos um jeito. Eu remarei também. Por favor papai, por favor.

Johanna, ate então quieta resolve se manifestar.

— Droga gente – ela grita. – Ele tem razão, não adianta. Ele não tem condições alguma de remar esta coisa, e isso mal vai aguentar com a gente. Eu não me importaria em ficar aqui, mas vai chegar uma hora que ninguém vai consegui sequer mexer os braços. Ninguem está se aguentando em pé, mas essa é ...

E então, Johanna não consegue terminar sua frase, pois coloca o rosto entre as mãos e chora.

Katniss e Prim ficam por um longo tempo abraçadas a mim. Isso é definitivamente um adeus. Me agacho desajeitadamente até ficar da altura de Prim, e beijo sua testa.

— Eu sinto muito orgulho de você minha pequena – Eu digo, vencido pelas lagrimas. – Ajude a mamãe, cuide de Finn, e continue assim, corajosa, bondosa, do jeitinho que você é. Papai te ama, demais meu amor.

Ela me encara com seus grandes olhos azuis, e se resigna.

— Eu nunca vou te esquecer, Papai. Eu te amo demais. – Ela diz, e corre para os braços de Johanna.

Com o apoio de Katniss, eu me levanto, e sem conseguir ficar em pé direito, me deixo ser amparado por ela, enquanto nos beijamos, longamente.

—Eu não consigo te deixar, Peeta – ela sussurra, rouca de tanto chorar. – Eu não posso imaginar minha vida sem você.

— Katniss, você tem que pensar nos nossos lindos filhos – eu retruco, enquanto ela acaricia meu rosto, e eu também acaricio o dela, tentando guardar cada detalhe.

— É como na arena, Peeta. E mesmo após todos esses anos, Snow venceu. Estou te perdendo. Ele conseguiu tirar você de mim – ela lamenta, e enterra seu rosto em meu pescoço.

Um calafrio percorre meu corpo, e uma dor lancinante começa em minha cabeça. É isso. Snow realmente venceu no final.

— Vá Katniss. Seja forte, por favor. Cuide dos nossos filhos, e não se esqueça de mim. Pois meu ultimo pensamento aqui, será em você.

— Eu te amo Peeta. Sempre te amei, você sabe disto né?

— Eu sei, Katniss – respondo e dou um beijo em sua testa. – E pode ter certeza, que eu sempre estarei com você.

— Sempre? – ela murmura.

— Sempre – respondo.

Gale conduz Katniss pelo braço até a jangada. Eu me sento na areia observando eles partirem. Fico observando a imagem deles diminuindo cada vez mais. Até que nem ficar sentado eu aguento. Deixo meu corpo tombar no chão, e fecho os meus olhos.

— Por favor, fiquem vivos – sussurro, enquanto minha consciência vai oscilando, até eu me perder completamente num misto de dor, tristeza e desespero. Este é de fato o fim.  


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