Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 25
Capítulo 25




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— Acorde!

Escuto uma voz familiar a me chamar. Com medo, e aos poucos vou deixando minha consciência vir á tona. E para meu espanto eu não sinto dor. Pelo contrário, me sinto muito bem. Quando abro meus olhos, me deparo com um par de olhos verdes como o mar, me observando. Não consigo entender, se faz parte de um sonho. Levanto minha mão, sem esforço algum e consigo tocar seu rosto. Ele sorri. Isso está muito real. Mas não pode ser possível. A não ser que... Ele então parece ler a minha mente. E responde a pergunta que eu tanto quero fazer mas não consigo.

— Sim, você está morto Peeta – Finnick diz e baixa os olhos sem conseguir me encarar.

Eu nunca pensei em como seria morrer. Apesar de estar à beira da morte varias vezes, eu realmente não achei que seria assim. Morrer chega a ser quase reconfortante. Me levanto, e observo meu corpo em sua melhor forma, pareço até mais jovem, e minha perna que há anos perdi, esta comigo. Finnick me observa atento, e ele parece radiante. Sua pele está num tom de dourado muito belo, seu corpo não expõe nenhuma das cicatrizes ganhas em batalhas e nos jogos, e ele está muito forte. Eu então o abraço forte, matando a saudade que senti desse velho amigo e apesar de estar me sentindo bem como não me sentia há anos, ao abraçar Finnick a constatação do que realmente está acontecendo, me atinge. Eu estou morto. Longe de meu pequeno filho Finnick, longe de Prim, de todos que eu amo que ainda vivem... E longe de Katniss. Não consigo soltar Finnick, quando as lágrimas vêm à tona. Abraçado com, ele, eu choro por todos os anos que eu ainda teria pela frente com a minha família, serem tirados de mim. Pacientemente Finnick espera até que eu tenha chorado o bastante. Quando nos afastamos do abraço, percebo que ele está chorando também.

— Eu sinto muito Peeta, pelo que aconteceu. Se eu pudesse, teria ajudado vocês de alguma forma, mas não podemos interferir muito no que acontece lá, já que não fazemos mais parte daquele mundo.

Eu assinto. E só agora reparo ao meu redor. É uma paisagem de tirar o fôlego. Estamos no alto. Varias arvores ao nosso redor. Belas prímulas noturnas contornam um caminho de pedras que levam até um rio, onde a água corre cristalina. O sol brilha alaranjado, denunciando que devemos estar no fim de uma tarde de verão. O canto de pássaros é possível ouvir ao longe. Sinto também cheiros deliciosos, de flores, da mata, de frutas...

— Isso então é o céu? – pergunto, com a voz tremula.

— Eu não sei ao certo – Finnick responde e sorri de lado. – Quando eu morri, lembro de ter acordado aqui. Mags estava me esperando, nesse mesmo lugar. Ela está tão bela Peeta. E agora ela pode falar novamente, e vive contando histórias para as crianças aqui.

— Então, tem mais pessoas aqui?

— Quase todos estão aqui Peeta. Digo, deve haver algum critério, mas não sei ao certo. Sei que seu pai está aqui. Prim. Rue. Há muitas crianças também.

— E onde estão todos? – pergunto.

— Venha, vou te mostrar.

Começamos a caminhar e eu penso que este é o lugar mais belo que já vi. Eu me sinto muito bem. Mas meu coração ao mesmo tempo dói. Levo a mão ao peito.

— Dói, Né? – Finnick diz, enquanto leva a mão ao seu peito também. – E parece que nunca deixa de doer. Com o tempo a gente se acostuma. Me disseram que essa dor é devido a falta das pessoas que amamos, que ainda estão vivas. E é muito pior enquanto elas sofrem pela nossa perda.

Caminhamos por algum tempo, em silencio. Até que chegamos numa espécie de bosque. Eu podia ouvir as vozes. As risadas. Por entre as frestas, eu vi algumas formas, corpos radiantes em luz. E então vi Prim, segurando as mãos de Rue. As duas rodavam, e cantavam uma musica. Elas estão absolutamente lindas. As lágrimas escorriam por meu rosto, como Katniss gostaria de saber o quão bem sua irmã está. Vi mais algumas crianças correndo atrás de alguns animais.

— Cinna – sussurro ao vê-lo sentado, improvisando um penteado numa mulher muito linda, que quase se desmancha de sorrir ao olhar para ele.

— Como eu te disse. Estão quase todos aqui, Peeta. Não há sofrimento aqui. Não a frio, não há calor. Às vezes chove e todos corremos na chuva. Ás vezes neva, e sem nenhum tipo de agasalho conseguimos brincar, atirando bolas uns aos outros, sem se machucar. Faz algum tempo que estou aqui. Não sei se depois disso vamos para algum outro lugar. Se perdermos essa forma nossa em corpo, ou se será assim para sempre. Mas eu te digo, estar aqui faz eu me sentir quase melhor do que já me senti a vida toda.

Eu o entendo. Eu já posso sentir uma felicidade dentro de mim. Quero correr pra junto das pessoas que perdi, e brincar com elas, sem preocupações, sem dor. Mas a cada batida do meu coração, meus filhos, Katniss, vêm a minha mente.

— Mas, como posso viver aqui, sentindo essa dor no peito? – questiono Finnick.

— Como eu te disse, vai passar. E quanto mais você fica aqui, mais fácil fica de suportar. Mas... é uma espécie de paraíso sombrio. Eu ainda me sinto conectado com Annie, e com meu filho. Ás vezes quando me esforço muito, consigo ter algum contato com ele. Com crianças é mais fácil. E diversas vezes, também sinto Annie pensando em mim. E isso é bom, pois sinto seu amor, mas ao mesmo tempo é ruim, por eu estar tão distante dela.

Assinto. E permaneço em silencio. Meu pensamento voa até Katniss, e eu quase consigo sentir seu sofrimento. Quero acabar logo com isso. Quero aceitar minha morte, meu destino, mas é quase impossível mover meu pé adiante.

— Vamos? – Finnick pergunta e segura minha mão, tentando me puxar para sair daquele bosque.

— Eu... Eu não consigo me mover – digo, sentindo de repente, frio. Eu quero correr e abraçar Prim, que agora colhe algumas flores e enfeita o cabelo de Rue. Quero encontrar meu pai, e ali junto com as pessoas que também amo, esperar a vinda de Katniss e posteriormente meus filhos. Mas eu simplesmente estaco.

— Você tem que tentar se desligar deles para fazer a passagem Peeta – Finnick diz, e sua voz de repente soa distante. E meu frio aumenta.

— Peeta, concentre-se em mim. E tudo vai acabar. Você tem que escolher ficar, ou senão não sei o que acontecerá com você.

Então eu tenho uma escolha. Apenas por passar na minha mente o fato de poder não ficar aqui, sinto as dores do meu corpo surrado. É insuportável. A vontade de ficar aqui aumenta. E eu consigo dar um passo adiante. Foco no meu desejo de me livrar de toda essa dor, de todo esse frio. E consigo dar outro passo. Começo a sentir uma dor ainda mais forte, como se meu peito tivesse sendo esmurrado. Estaco novamente, ficando sem ar.

— Peeta, isso depende de você. Se juntar a nós ou não. Você tem essa escolha, pois seu corpo ainda está inteiro lá, e porque você ainda está pensando nos que está deixando. Mas... Eu acho que você merece isso mais do que qualquer um de nós. Você merece paz, Peeta. Você merece desfrutar desse paraíso.

Finnick tem razão. Eu não aguento mais sofrer. Estou prestes a dar outro passo, quando sinto a presença de Katniss, muito forte ao meu redor. A dor no peito fica ainda mais forte. Realmente parecem socos. E do nada, toda aquela paisagem maravilhosa, inclusive Finnick, desaparecem, e tudo fica preto. Escuto um soluço, um choro baixinho, e faço mais força para ouvi-lo. Quando escuto a sua voz.

— Você prometeu – Katniss soluça, parecendo quase se afogar em suas lágrimas. – Você prometeu Peeta. Que ficaria comigo... Você prometeu... Que ficaria comigo.

A dor no peito é insuportável.

— Você disse que ficaria comigo... – ela sussurra.

— Sempre – digo no mesmo instante que ela diz, e de repente uma enxurrada de dor parece me tomar.

Sinto um liquido quente pelo meu rosto, e socos de verdade sendo dado em meu peito.

— Você não pode morrer – Uma voz rouca grita. – Acorde, Peeta, por favor, acorde.

Começo a tossir, e os socos param. Com muito esforço, consigo abrir os olhos. E me deparo com meu velho mentor. Haymitch está vermelho, ofegante, o rosto coberto por lágrimas. Mas sorri.

— Você me trouxe de volta, do paraíso, seu desgraçado – eu consigo sussurrar, e abro um meio sorriso, antes de começar a tossir, cuspindo mais sangue.

— Olha esse linguajar, garoto. Mas sinto muito, você não vai a lugar algum – ele diz, enquanto tenta controlar suas lagrimas, em vão.

Tento dizer mais alguma coisa, mas as dores, o frio, tudo, acaba me vencendo, e eu fecho os olhos apenas me concentrando em minha respiração.

— Vejo você um dia, Peeta – escuto a voz de Finnick dizer, e aos poucos o leve calor do paraíso, me abandona completamente, sobrando apenas as dores e o frio, intenso e cruel.

 

— Fique vivo, garoto. Fiquei vivo... – escuto Haymitch sussurrar o tempo todo enquanto me carrega em seus braços.

 

 


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