Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 22
Capítulo 22




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Prim. É o primeiro pensamento que me acomete. Quero abrir os olhos, quero me levantar, mas a dor faz isso se tornar impossível. Puxo do meu rosto uma espécie de mascara, e jogo na areia ao meu lado. A chuva cai torrencialmente em sobre mim, o que de forma alguma é algo bom. Só me aterroriza. Com o pensamento focado em Prim me forço a abrir os olhos. E tudo que vejo é água. Mar e chuva. Olho ao redor, e não vejo ninguém. Cada movimento que tento fazer leva uma onda de dor por cada parte do meu corpo. Mas eu preciso achar minha filha. Eu preciso achar Prim. Apesar de a chuva estar caindo com bastante força, não é suficiente para limpar meus ferimentos, pois constato que em diversas partes do meu corpo, o sangue verte, sem parar. E constato também que minha perna de metal está presa entre algumas rochas. Devem ter se passado horas onde eu inutilmente tento soltar minha perna das rochas. Decido então apenas tirá-la do que restou da minha perna, e deixar ela ali. Após fazer isso, começo a me arrastar pela areia. Tenho que sair daqui. Tenho que encontrar Prim. Sem minha perna a qual eu já estava completamente acostumado, andar será uma coisa impossível de se fazer. Mas este lugar me é familiar. Afinal, eu vim aqui diversas vezes com Annie. Estou no distrito 4, certo? O esforço de arrastar meu corpo pela areia molhada faz com que raciocinar seja extremamente difícil. Não vejo o fim da areia, não vejo o fim do mar. Cego pela chuva e por minhas lágrimas, eu continuo me arrastando. Minhas mãos começam a sangrar. Sinto minha barriga e meu peitoral se rasgando lentamente a cada centímetro que avanço para frente. Mas eu não vou parar. Enquanto não encontrar ajuda. Enquanto não encontrar alguém que possa me ajudar a encontrar Prim. Ás vezes as dores em minha cabeça se tornam muito fortes. Tenho lapsos onde paro de me arrastar e tenho que perguntar a mim mesmo quem eu sou, e o que estou fazendo aqui. Mas em contrapartida a esses lapsos, lembranças de Katniss e meus filhos me acertam arrebatadoramente. É uma luta interior. E isso só aumenta. Minha mente está extremamente confusa, estou completamente perdido nessa infinidade de águas. Mas eu continuo a me mover. Frio, fome, dor... Desespero. É tudo tão familiar. A capital. O que sofri lá parece estar se repetindo agora. Mas de uma maneira mil vezes pior, pois eu não faço idéia do que esta acontecendo com a minha família. Não faço idéia de onde está Prim. Ela não pode ter morrido. Não... Isso não pode ter acontecido. Minhas forças ameaçam cessar. Sou todo sangue, em carne viva. Um fantasma se arrastando. Mas eu continuo. Não tenho mais a noção do tempo. E então, começo a seguir o cinza. Eu sei que não é real, mas vejo os olhos de Katniss. E eu me forço a segui-los. Quanto mais eu me aproximo, mas eles parecem estar longe. Mas é o que me mantém seguindo. A ânsia começa a dominar meu corpo, e eu me contorço em espasmos violentos no chão. Vomito incessantemente algo que só pode ser meu próprio sangue. Quando as ânsias param, eu continuo a me arrastar. Ao longe, pareço ouvir Katniss chamando meu nome. Quero gritar para ela, quero que ela me encontre. Eu até grito, mas não sei se minha voz sequer sai. Eu continuo gritando seu nome. Continuo me arrastando. Às vezes parece que seu chamado está mais perto, o que faz com que meu coração acelere tanto que quase me ensurdece. Ás vezes parece que sua voz esta mais longe, o que faz com que eu pense em desistir. Tudo vai ficando cada vez mais turvo. Mas desta vez o chamado de Katniss está tão próximo que eu me forço a me arrastar um pouquinho mais. A dor do meu corpo em carne viva faz minha visão escurecer. Mas eu me forço a focar meu olhar para frente. E como se fosse uma miragem, consigo enxergar Katniss. Ela manca em minha direção. O arco em suas costas. Seu cabelo molhado grudado em seu rosto. E seus olhos cinzentos fixos em mim.

— Seja real. Por favor, seja real - eu murmuro, eu suplico.

Eu quero sentir seu toque, para ter certeza de que não é um sonho. De que não é fruto da minha imaginação. E ela, por sua vez, mesmo mancando, começa a correr em minha direção, e ao chegar bem próximo a mim, se joga no chão me envolvendo em seus braços.

— Peeta, meu amor. Você está vivo – ela murmura, enquanto lagrimas grossas escorrem por seu rosto se misturando a chuva que não para.

Eu me agarro a ela, e levo minhas mãos ensangüentadas até seu rosto, com medo de que não seja ela, com medo de que ela desapareça.

— É você mesmo, Katniss? – eu pergunto, com as lágrimas me engolfando. Incredulidade. Felicidade. Explodem em meu peito. – É real? Isso é real?

—É real, Peeta – ela responde, e me beija. Eu a aperto contra meu corpo apesar de toda a dor que eu sinto. Nos beijamos até não restar mais fôlego. E ficamos abraçados, em silencio, aproveitando esse breve momento da mais pura felicidade.

— Prim? – eu por fim pergunto.

Katniss apenas balança a cabeça, e cobre seu rosto com as mãos, enquanto seus ombros se sacodem pelo seu choro.

— Nós vamos achá-la – eu murmuro.

— Mas como? Eu não posso perder vocês dois. Olhe pra você. Se eu não achar alguma ajuda, eu não sei o que vai te acontecer – ela começa, mas para, incapaz de prosseguir. E eu sei que ela esta certa. Mas não posso aceitar isso. Não posso desistir de procurar minha filha.

— Precisamos de ajuda – Katniss diz, me olhando completamente desorientada.

— Então me deixe ajudar – a voz de Gale preenche o silencio que se segue.

Katniss se levanta abruptamente e saca uma flecha e seu arco. Gale levanta as mãos em sinal de rendição. E então percebo que ele está chorando.

— Por favor, me deixe ajudar. Quero tentar reparar todo o mal que causei a vocês – ele diz, e baixa a cabeça, enquanto seu choro se torna audível.

— Isso nunca será possível – Katniss grita e parte para cima dele, o socando com toda sua força. Ele permanece parado, e recebe os golpes sem revidar.

— Katniss, pare – eu me vejo falando. Ela se vira e olha para mim.

— Peeta... Ele acabou com nossas vidas...

— Eu sei. Mas eu tenho fé que Prim esta viva. E nós vamos achá-la. Mas precisamos de ajuda – eu digo, tentando fazer com que minha raiva por Gale não ultrapasse a minha lucidez.

Katniss me olha por vários segundos. E por fim assente. Gale então enxuga suas lágrimas, e me levanta da areia, me apoiando. Katniss me envolve do outro lado, me apoiando também. E assim, nós três seguimos em frente em busca de mais ajuda, em busca de Prim. As dores diminuem, aliás, tudo de ruim diminui pela sensação do corpo de Katniss contra o meu. Mas eu me sinto inquieto e eu sei o por que.

— Gale... Preciso perguntar... Foi você que me tirou do mar? – eu pergunto.

Ele apenas assente.

— Mas... Por quê? - eu insisto.

— Uma certa louca me lembrou, que uma vez você salvou minha vida também. Só paguei uma dívida – ele diz, e olha para Katniss. – E da ultima vez que a vi, ela estava nadando com Prim para superfície.

— Johanna – eu murmuro, e sinto a esperança explodir em meu peito.

Estamos indo, Prim.


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