Adrien e Rachel estavam no carro juntos, ele estava com um sorriso bobo no rosto, olhando para a janela e pensando no selar de lábios, se tinha deixado ela surpresa.

A brasileira estava mexendo em seu celular com dedos incansáveis. A mensagem estava em português.

[R: Alguém? Notícias?

B: Semana que vem, provavelmente 

M: já resolvi aq em casa, sábado estarei aí

R: Qrem q eu vá buscar?

M: eh melhor, vamos ficar na sua casa, ou...?

R: por enquanto na minha, mas acho que a Giu tbm vai alugar um apto, talvez alguem tenha q ficar com ela

B: d boas, a gnt decide isso dps, flws, antes Q peguem meu cell

R: flws~]

— E então — a morena falou, enquanto guardava seu celular na bolsinha. —, o que anda acontecendo entre você dois? Ou três, nem sei mais...

— Você quer dizer, eu, Mari e Ladybug, certo? — perguntou duvidoso.

— Não, não — falou irônica. — Foi sobre o Nathanael, né? Claro que são sobre vocês três... Mas, por falar no ruivo, o que foi aquilo de manhã? — ela começou a rir. Estava demorando já.

— Foi sem querer! — ele revirou os olhos. — Achei que fosse a Marinette!

— Uhum... — ela murmurou com um sorrisinho maroto. — Agora é sério, do que você precisa?

— Essa é a questão, nem eu sei! — ele revirou os olhos. — Quando estou sozinho, Marinette invade os meus pensamentos de todas as formas possíveis. Quando estou com ela, meus pensamentos se voltam para Ladybug, como se a estivesse traindo, e então, quando estou com my Lady, apenas Mari aparece ali! Eu não sei mais o que fazer, acho que estou ficando louco!

Rachel pensou um pouco. Ela imaginou o quanto queria dizer para ele que essas charadas internas não adiantavam e que a menina por quem ele sempre estivera apaixonado era, na verdade, a tímida garota que sentava atrás dele na sala de aula. Porém, mesmo querendo contar, sabia que Mari iria querer fazer isso por si só.

— Bem, de qual delas você gosta mais? — Rach perguntou, finalmente. Adrien paralisou, nem ele mesmo sabia responder essa. Possuía sentimentos por Ladybug a mais tempo, mas o que sentia por Marinette, ah, ele imaginou se um sentimento assim era realmente possível.

— E-eu não sei... — mentiu, era evidente para si próprio o quanto amava Marinette.

— Certo, o que sente por elas?

— Acho que, sinto admiração por Ladybug, ela é tão corajosa, destemida, bonita, ela é uma garota incrível — ele falou perdendo o fôlego. — Já Marinette, ela está sempre ajudando os outros, até mesmo quem não merece sua ajuda, ela é divertida, se dá bem com todos e isso me faz me roer de ciúmes. Às vezes tenho vontade de ficar abraçado nela o tempo todo para que apenas eu pudesse me aproximar — as bochechas dele estavam coradas e seus olhos brilhavam ao falar da garota. Todos aqueles sentimentos eram verdade, e Rachel reconhecia isso. 

— Certo, isso foi muito fofinho — ela sorriu, mas mudou o rosto logo depois, para uma feição seria. — Se garotos pensassem puramente. Agora é sério, por algum acaso, assim, você já... Se masturbou, pensando em alguma delas?

O rosto dele se avermelhou, muito. Não achou que teria que contar esse tipo de coisa para sua amiga, ela era definitivamente louca. Porém, pelos anos de experiência de Rachel com seus amigos meninos e seu irmão dois anos mais velho, ela já imaginava a resposta. O próprio rosto o havia dedurado.

— Só pela sua cara eu já sei que sim — ele se avermelhou mais, como se fosse possível. — Qual das duas?

Pronto, aquilo era o ponto final. Ele abaixou a cabeça com derrota e começou a brincar com as mãos, como se aquilo fosse aliviar sua vergonha. Ele murmurou alguma coisa.

— Fala que nem gente — a brasileira implicou.

— As duas — ele falou, por fim. — Tem horas que é a Ladybug, mas o rosto da Mari aparecia no fim, e eu também já fiz dela, qual é, eu não sou de ferro — Adrien implicou. Mesmo tendo vergonha de seus atos, sabia que não seria julgado, não por Rachel.

— Você é muito confuso, garoto — ela disse com a mão nas têmporas. — Você demonstra amar a Marinette, mas se importa com o que Ladybug irá pensar, apenas taque o foda-se e tente, uma vez, fazer o que seu rim, estômago, pulmões, cérebro, o seu amiguinho lá de baixo e seu coração mandam! — ele levantou o rosto para ela, ainda vermelho. — Se você ama à Marinette, você a ama e não há nada que possa mudar isso, okay?

Rachel estava ficando irritada, achava fofo quando Mari e Adri ficavam vermelhos e tentavam disfarçar o quanto se gostavam, mas, no momento, só queria que não existisse essa merda de photoshoot  para que Ladybug esclarecesse de uma vez quem ela era.

Por que tudo à sua volta se parecia com aquele maldito romance que escrevia nas notas de seu celular?  Nunca imaginou o quão chato aquilo era na vida real.

— Certo, mas aí vem o fato, como eu deveria contar pra Marinette que eu a-amo ela?

"Amor", aquela palavra era tão forte, soava tão exótica nos lábios do garoto, ele quase não conseguiu pronunciá-la, mas sabia que era apenas toda a verdade do que sentia esboçada em quatro letras.

O ódio, a felicidade, o ciúmes, as borboletas que dificilmente planavam em seu estômago, ele havia lido romances o suficiente para saber o que aquilo significava, e decidiu não deixar mais que se enganasse.

— Seja o Romeu dela — Rachel brincou, recebendo o rosto corado é um olhar de repreensão do loiro. — Desculpa, estou numa pegada meio "Hey Juliet" no momento. Mas, nossa, é uma boa ideia...

— Rachel, do que está falando? — ele já estava irritado, nada que ela falava fazia sentido.

— Olha, sabe que em Romeu e Julieta, eles fugiram juntos, certo? — ele concordou com a cabeça, onde ela queria chegar? — Assim, Chat Noir já conhece Marinette, até onde eu sei. Por que não mostra à ela sua verdadeira personalidade? Leve-a para a Torre Eiffel, dê-lhe tulipas e lhe conte seus sentimentos.

Outra coisa sobre Rachel, ela amava flores. Possuía vários catálogos pela sua casa e um dicionário manuscrito que ela mesma tinha feito, com os significados das mais distintas flores que pudesse imaginar, era classificado por nome e cor. Adrien arqueou as sobrancelhas.

— Por que tulipas? Por que não rosas? — Rachel mexeu a cabeça negativamente.

— Você é muito pouco criativo. Rosas vermelhas significam amor, certo, isso é um clássico, mas tulipas são inovadoras, representam uma declaração de amor, sem contar que existem outras flores bem mais bonitas e românticas — os olhos da brasileira brilhavam enquanto ela falava. Ela já havia pensado em abrir uma floricultura quando crescesse, mas não possuía o toque com jardinagem, todas as plantas morriam antes da primeira semana.

— O que você aconselharia então, senhorita florista? — ele revirou os olhos. O carro parou em frente a um estúdio fotográfico.

— Discutimos isso depois, senhora Marocas — ela saiu rindo do carro, deixando ele perplexo pelo apelido zombeteiro. Revirou os olhos e seguiu a garota para dentro, logo encontrando a mãe da garota junto com os fotógrafos.

Cabelos loiros curtos, olhos mel, mais baixa que Rachel, de vestido e salto alto, sempre olhando para frente, essa era Hellen.

Os adolescentes a cumprimentaram e almoçaram junto com o resto da equipe, e então, a sessão começou.

Adrien experimentava roupas da próxima linha de seu pai e posava para as câmeras, enquanto Rach desenhava e mandava mensagens pelo seu celular para três certas pessoas.

As coisas estavam andando pelo caminho certo, e logo bastaria bem menos para colocar seu plano em pratica.

∞∞∞

O céu já estava escurecendo, a cada minuto que Marinette olhava para a janela ela desejava que aquele tempo passasse mais rápido. Queria muito visitar Adrien naquela noite, mas sabia que teria de esperar escurecer.

Um ponto negativo da casa do modelo é que ficava em uma rua movimentada, então ela teria de esperar até que o movimento baixasse completamente para que não fosse vista entrando na casa dele, mas esperar o tempo correr estava custando sua paciência.

Ela começou a desenhar, algo aleatório, uma garota com uma câmera, apontando-a para a grande Torre Eiffel, ela imaginou que aquilo a deixaria ocupada por tempo o suficiente, mas havia acabado de começar e já estava passando à caneta. Imaginou se iria realmente aguentar muito tempo sem enlouquecer.

Ela desceu para a cozinha, pegou um chocolate quente e um pedaço de bolo para si e dois cookies com gotas de chocolate para Tikki, subindo as escadas em seguida.

Ela ligou seu computador, se deparando com o wallpaper de Adrien em sua área de trabalho. Ela olhou para a tela brilhante, pensativa, o que ia fazer mesmo?

Depois de quase cinco minutos encarando a tela de seu computador, ela decidiu abrir na página do LadyBlog, dando uma olhada nas últimas notícias. Havia algumas imagens de Génisse com pontos de interrogação, seguidas de legendas como "quem será essa nova heroína?"

Imagens da luta contra a Musian, o Lucky Charm que havia usado, questões sobre tudo que Alya gostava de perguntar para si mesma quando encarava a heroína, porém, felizmente, não havia nenhuma imagem de Mlle Tristesse por todo o blog.

Ela achou engraçado e meio injusto que a super-vilã que mais chegou perto de seu objetivo não possuía nem se quer um pouco de reconhecimento. Mas também, sentiu alívio, se Alya estivesse "sóbria" durante a batalha, a identidade secreta de Adrien teria ido por água abaixo.

— Marinette, o que está fazendo? — Tikki perguntou, ao perceber que a menina sorria sozinha.

— Estou tão feliz, Tikki — ela declarou, fechando as páginas da internet e se apoiando em seus braços em cima da mesa. — Eu vou contar para ele quem eu sou!

— Certo, mas o que vai fazer depois disso? — ela ouviu uma terceira voz e se virou para a escadaria que dava na sacada, vendo lá uma garota com orelhinhas de ovelha.

— Ah, oi Géni — Mari respondeu sorrindo, recebendo um acenar como resposta. — O que quer dizer com isso?

— Ah, eu não sei, vai pedi-lo em

namoro? Beija-lo? Ficar com ele até o nascer do sol? — ela olhava para o teto e citava enquanto balançava a cabeça para os lados. Ah droga, Mari não tinha pensado nisso ainda.

— E-eu não sei... — a de olhos celestes respondeu. — Nossa, eu não tinha pensado nisso!

Rachel bateu em sua própria testa com a palma da mão. Não sabia qual dos dois era pior, Adrien por não perceber algo óbvio mesmo com a magia, ou Marinette por fazer coisas sem pensar.

Mas afinal, eles estavam apaixonados, e o amor é realmente cego. — O que estou dizendo, Mari, é que você vai ter que se preparar para tudo o que vier a seguir. Adrien é muito ciumento e ele vai ter medo que você se machuque durante as batalhas, então acho que você deve deixar bem claro o que você pensa, tipo, tudo mesmo. Bem, era só isso, eu vou indo então — ela falou, saindo pela janela.

Rachel não queria atrapalhar, muito pelo contrário, ela os apoiava de todo o coração, porém, sabia que não seria fácil manter um relacionamento dessa forma. Havia toda uma pressão, as desconfianças, os ciúmes, o medo.

Se você perde um, você perde os dois.

Nem todos estão preparados para perder alguém próximo, Rach também não estava. De toda forma, o que a brasileira disse fez Mari pensar.

Pensar, pensar e pensar.

O que diria para Adrien? Qual expressão ele faria? Ele ficaria bravo por ela não ter contado antes?

Aquelas questões a matavam. Ela possuía necessidade da verdade e, naquele momento, era uma das poucas coisas que não podia ter.

Alguns barulhos de pingos se concentravam em sua janela, fazendo ela se levantar para fecha-la.

Marinette pegou um cobertor no seu armário, um livro de romance que acabara de começar e subiu para o segundo andar de seu quarto, se cobrindo e começando a ler. O barulho de chuva, a calma momentânea em seu coração e a deliciosa história de seu livro fizeram com que ela caísse no sono.