Os 98 caras escrita por Emma e Jazzy


Capítulo 8
Os números 10, 11 e 12




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Meus pais nunca me deixaram frequentar parquinhos ou praças, eles não queriam que eu me misturasse com crianças melequentas, me sujasse com areia nojenta ou acabasse pegando uma doença nos brinquedos nem um pouco higienizados.
Mas aos oito anos eu tive uma babá que acreditava que criança tinha que se divertir e se integrar com pessoas da mesma idade, por isso num dia em que os meus pais não estavam em casa, ela levou eu e os meus irmãos para o parquinho mais próximo.
– A mamãe não vai gostar disso. - Tyler disse, com medo em sua voz.
– Não se preocupe, querido, o que os olhos não veem o coração não sente. - Ela respondeu, sorrindo.
– Isso significa que pessoas cegas não tem sentimentos?
Minha babá não me respondeu, apenas continuou nos levando até o parquinho. Assim que chegamos lá eu entendi porque meus pais não nos queriam em lugares como aquele. Era o inferno! Uma confusão de choros e gritos, gente suja e brinquedos horrorosos.
– Muito bem, podem ir. - A adulta disse, com um grande sorriso no rosto.
Eu e Tyler não nos movemos, mas Hans correu logo pro escorregador como se fosse a coisa mais legal do mundo. Troquei olhares com o meu irmão gêmeo, sabia que estava pensando o mesmo que eu: aquele lugar era o nosso pior pesadelo.
Nossa babá quase teve que nos arrastar para brincar no balanço, mas pra nossa sorte ela teve que nos abandonar para ficar de olho no Hans, que nessa idade gostava muito de sair por ai puxando o cabelo das meninas e chutando a barriga dos garotos. Pois é, ele sempre foi... Difícil.
Tyler e eu nos sentamos no banco, completamente desconfortáveis, enquanto víamos as outras crianças se divertirem.
– Emma, eu quero ir pra casa.
– Eu sei, Tyler. Mas se você acenar e sorrir ninguém aqui vai te incomodar pra brincar de pular corda.
– Tem certeza?
– Absoluta, eles não vão conseguir te perceber.
Infelizmente eu estava errada, porque pouco tempo depois um menino da minha idade veio falar com a gente.
– Oi, vocês querem brincar de pique-pega?
– Emma, ele viu a gente e agora? Nós vamos ter que brincar com ele e com os amigos remelentos dele. - Tyler disse, tentando ser discreto.
– Não se preocupe, eu vou tentar me livrar dele.
– Hm... Eu consigo ouvir vocês. - Ele disse, sem graça.
– Ah, desculpe... É que eu e o meu irmão nunca viemos num lugar tão... Público. - Pronunciei a última palavra com nojo. - Eu me chamo Emma e esse é o Tyler.
– Prazer, Kyle.
– Certo, Kyle. Olha, a gente não tem dinheiro, mas eu posso te dar o meu relógio, só não bate na gente, por favor. - Tyler implorou, fazendo claramente um papel de ridículo.
– Eu só vim chamar vocês pra brincarem de pique-pega, parecem tão entediados ai. Mas se não quiserem tudo bem, eu vou embora.
– Espera! - Eu disse, impedindo-o de ir embora. - Eu acho que posso brincar com você.
– O que? Emma! - Tyler reclamou, mas eu o ignorei.
– Só que eu não vou brincar de pega-pega. Quero brincar de outra coisa.
– O que, então? - Kyle perguntou.
– Eu quero brincar de te namorar. - Sorri.
– Emma! Você nem conhece esse garoto! - Tyler me repreendeu.
– Ninguém te perguntou nada. E ai, Kyle? Topa?
– Hm... Eu nunca namorei ninguém antes... E não acho que isso seja uma brincadeira.
– Mas vai ser divertido, você vai ver!
Ele acabou concordando e, por duas horas, nós fomos namorados. Até que chegou a hora de ir embora, Kyle tinha gostado tanto de brincar de ser meu namorado que não queria me deixar voltar pra casa, ele tinha se apaixonado por mim naquele tempo.
Eu obviamente dei um fora nele, o único lugar em poderíamos nos encontrar novamente era a pracinha, mas eu nunca na vida iria voltar naquele lugar. Kyle meio que pirou com a noticia, começou a chorar e acho que até hoje não se recuperou do fora. Ah, e os meus pais acabaram descobrindo da pracinha e despediram a empregada, Hans abriu a boca.
Na minha festa de 9 anos aconteceu algo parecido com um garoto chamado Nick, ele era filho dos amigos dos meus pais. O nosso namoro foi muito divertido, mas terminei tudo logo depois do parabéns porque ele tinha roubado o meu docinho. Então, quando fui convidada pro seu aniversário três meses depois, eu destruí o bolo dele.
Logo depois dele veio o Earl, que morava na minha rua e tinha uma bicicleta super legal na qual ele adorava andar. Fora ele quem me convencera a largar as rodinhas e juntos pedalamos até onde crianças de 9 anos poderiam ir sozinhas. Mas ele tinha um péssimo espírito de perdedor e quando ganhei dele numa corrida, Earl terminou comigo. No final fiquei bem, desmontei sua adorada bicicleta e segui em frente.


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