Os 98 caras escrita por Emma e Jazzy


Capítulo 6
O número 6




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Meu primeiro beijo aconteceu quando eu tinha 7 anos. Minha mãe tinha uma amiga de longa data com quem ela se encontrava uma vez por semana para tomar chá, mas terminava sempre com álcool. Eu e Tyler a acompanhávamos nessas visitas e acabávamos brincando com o filho dessa amiga, Luke.
Luke era um cara legal, sua brincadeira preferida era pique-esconde. Uma vez, depois de várias rodadas do jogo, ele disse que eu era tão boa em me esconder que pediu pra namorar comigo e eu logicamente aceitei. Não nos víamos muito, apenas nas tardes de chá, mas já era o suficiente.
Como eu e ele éramos parceiros no crime, Tyler sempre acabava tendo que ser o cara que procurava. Ele não se importava muito, ou pelo menos nunca reclamou, meu irmão nessa idade costumava só aceitar o que as pessoas jogavam pra ele.
Foi num pique-esconde desses que rolou o meu primeiro beijo. Não teve nada demais, mas foi com certeza memorável.
– Tyler, você conta até 50 e eu e a Emma nos escondemos juntos. - Luke disse, já pegando em minha mão.
Meu irmão obedeceu e o número 6 já foi me puxando para sairmos de perto. Fomos até um quarto de visitas da casa dele e Luke abriu o armário que tinha lá, fazendo sinal para que eu entrasse. Nós dois nos enfiamos dentro do móvel e ficamos lá sentados, esperando.
Como Tyler era meio lerdo, iria demorar um bom tempo para nos achar. Então, passávamos o tempo conversando sobre coisas que considerávamos importantes.
– Espera, você teve 5 namorados antes de mim? - Ele perguntou, surpreso.
– Aham, mas você é o melhor até agora. - Sorri.
– E você... Você beijou algum deles? - Sussurrou, como se fosse algo super confidencial e perigoso.
– Não, nunca tentei. Eu deveria?
– Não sei, mas os adultos namoram assim. Acho que é o jeito certo.
Ele deu os ombros e ficamos nos encarando no escuro por alguns segundos. Até aquele momento, não havia pensando se existia um jeito certo ou errado de se namorar. Mas ele tinha razão, os adultos se beijavam, acontecia nos filmes também.
– Luke, eu quero tentar. - Falei, confiante.
– Tentar o que?
– O beijo, bobão! Eu quero tentar te beijar!
– Ah... Tudo bem.
Nos encaramos por mais algum tempo, num completo silêncio.
– Então... Como a gente faz? - Perguntei.
– E-eu não sei... Acho que é só encostar uma boca na outra. - Ele parecia nervoso, até um pouco desconfortável.
– Então tá, vamos fazer.
– Vamos.
Nenhum dos dois se moveu, continuamos sentados um de de frente pro outro, com as pernas dobradas e os braços as envolvendo. A única coisa diferente era nossa respiração, ela parecia mais acelerada por conta do nervosismo, mas tirando isso, nada mudou.
– Então vai, começa. - Meus olhos estavam pregados nos dele, esperando que fizesse alguma coisa.
– Eu não, começa você.
– Mas, Luke... Você é garoto!
– E quem disse que o garoto que tem que beijar a menina? Você é muito ultrapassada, Emma! Quem quis que começa, ou seja, você.
– Tá bom, eu começo!
Fechei os olhos e respirei fundo, mudei o posicionamento das minhas pernas para que meus lábios pudessem alcançar os seus. Fui me aproximando dele devagar e tive que abrir os olhos por alguns segundos pra conferir se estava indo na direção certa, mas no fim meus lábios finalmente alcançaram os dele e durou, tipo, uns três segundos.
Sempre imaginei que o meu primeiro beijo seria algo mágico, como nos desenhos das princesas: música romântica, cenário perfeito, talvez até fogos de artifício no fundo pra fazer efeito. Mas na realidade, não foi nada demais.
– Você sentiu alguma coisa? - Perguntei, ainda com os olhos fechados.
– Nada.
– Eu também.
– Vamos fazer de novo.
– Ok.
E nós tentamos mais uma vez... Por umas quatro vezes. O resultado era sempre o mesmo: nenhum dos dois sentia nada. Talvez os adultos é que não estivessem fazendo do jeito certo.
– Você tem certeza de que é assim, Luke?
– Tenho! Eu já vi antes! E só encostar os lábios pro beijo acontecer.
– Mas eu não estou sentindo nada!
– Bom... Talvez seja porque nós dois não somos almas gêmeas. - Ele disse, decepcionado.
– O que?! - Perguntei, pasma. - Não, de jeito nenhum! Você é o amor da minha vida, eu tenho certeza!
– Mas, Emma... O beijo não funcionou...
– Eu não to nem ai! Não vou desistir de você, Luke! Não vou desistir do nosso amor! A gente vai tentar até conseguir sentir alguma coisa!
Nesse momento, a porta do guarda-roupa abriu, iluminando o local e fazendo a cara do Tyler aparecer.
– Achei! Rá! - Ele sorriu, feliz com a sua vitória.
– Sai daqui, Tyler! Nós estamos resolvendo um problema! - O empurrei para sair da frente e fechei a porta do guarda-roupa em seguida. - Tudo bem, Luke. Vamos tentar novamente.
Não dei nem tempo para que ele pudesse responder, me atirei logo em seus braços e encostei novamente nossos lábios, durando agora 10 segundos. Quem sabe aumentando o tempo ajudaria?
Só que bem nessa hora as portas se abriram novamente.
– Emma, eu vou contar pra mamãe que você me empurrou... Ai meu deus! Vocês tão se beijando! - Tyler exclamou, correndo para fechar os olhos.
Luke e eu nos afastamos e ficamos encarando o meu irmão, sem saber onde enfiar a cabeça. Meu namoradinho estava super vermelho por causa do ocorrido, mas eu estava mais preocupada em saber se tinha funcionado.
– E ai? Sentiu alguma coisa? - Perguntei, enquanto ele encarava fixamente o Tyler.
– Vergonha.
– Hm... Eu posso ficar bem com isso.
Dei um beijinho na bochecha de Luke e sai do armário. Tyler continuava parada com as mãos no rosto, então as abaixei para que ele soubesse que já tinha acabado. No fim, o clima de tensão acabou logo e o incidente foi esquecido pelos dois assim que eu sugeri brincar de pega-pega.
Luke foi um bom namorado e com certeza ficou na memória por conta do primeiro beijo, uma pena que algumas semanas depois as nossas mães brigaram e nunca mais houve uma tarde do chá que acabava com álcool.


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