Os 98 caras escrita por Emma e Jazzy


Capítulo 5
O número 5




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Eu já tinha cansado de meninos da escola, eles sempre acabavam sendo uma decepção e, por isso, Troye Guster foi diferente. Eu tinha 6 anos e ele tinha acabado de se mudar para a minha vizinhança. Não o achava realmente tão legal assim, mas como ele era o único menino das redondezas que tinha uma idade parecida com a minha, achei que devíamos namorar.
O pedido foi bem simples, dois dias depois da sua chegada, eu fui em sua casa e o chamei para brincar comigo de viagem pra Paris. Ao fim do dia, disse que queria que ele fosse meu namorado e Troye aceitou porque segundo ele o meu penteado o lembrava da Arlequina ou algo assim.
Então, nos fins de semana ou nas tardes livres depois da escola, nós encontrávamos na casa dele para brincar. Uma coisa super interessante sobre a família do Troye é que eles eram os maiores nerds do mundo e a sua casa remetia isso. Havia posters emoldurados nas paredes, estatuas em tamanho real de personagens clássicos geeks e um quarto só para a coleção dos pais dele de revistas em quadrinhos.
A maior parte das nossas brincadeiras na verdade aconteciam nessa sala dos gibis, mas ao invés de fazermos alguma coisa legal, Troye insistia em me contar fatos que ele considerava interessantes sobre o Batman, Super-homem, Hulk ou Homem-aranha. Eu nem ligava pra esses caras, mas fingia gostar só pra agradá-lo.
– Tudo bem, Emma. Eu sou o Luke Skywalker e você é o Darth Vader. - Ele disse, pegando seu sabre de luz super realista e me entregando um parecido em seguida.
– Por que eu sempre tenho que ser o cara malvado? - Perguntei, fazendo biquinho.
– Porque eu sou o herói e não dá pra ter uma luta sem um vilão, dãã!
– Mas... Eu quero ser o herói também.
– Tá legal, na próxima eu deixo você ser.
Só que nunca existia uma próxima. Troye ficava me enrolando e quando eu finalmente podia ser o mocinho, já estava tarde e na hora de ir pra casa. Isso me deixava um pouco irritada, até porque como vilão eu era obrigada a perder sempre e eu realmente gostava de ganhar as coisas.
– Essa aqui é a Liga da Justiça. - Disse um dia, enquanto me mostrava uma revistinha da mesma.- Tem o Super-homem, o Batman, o Flash, o Lanterna Verde, a Mulher-maravilha...
– O que aconteceu com o resto das roupas dela? - Perguntei, apontando pra figura.
– Nada, esse é o uniforme da Mulher-Maravilha.
– Como ela consegue lutar assim? Não é desconfortável?
– Não importa, ela fica bonita.
– E por que o Lanterna verde também não tem um maio? Ia ficar bonito.
– Emma, deixa de ser boba! Ele não pode usar um maio!
– E shorts? - Sorri, já poderia imaginar como Hal Jordam ficaria muito mais estiloso se fosse desenhado por mim.
– Não, ele não pode usar shorts! Para de tentar estragar os personagens! - Troye se irritou. - Além disso, a Mulher-Maravilha nem é importante! Só serve pra namorar todo mundo!
– E o que tem de errado em namorar todo mundo? O Homem de Ferro faz isso.
– Mas o Homem de Ferro é mais legal! Quando ele faz é descolado! Agora, deixa eu continuar, por favor?!
– Tá legal... Pode continuar. - Suspirei.
E por duas semanas eu li diversos quadrinhos e vi umas 3 animações completas, mas o fato de Troye ser sempre tão egoísta e achar que as heroínas eram completamente inúteis me irritava pra valer e por isso achei que a gente devia conversar.
– Troye, você é um panaca.
– O que? - Ele perguntou, confuso.
– É isso ai, e os Vingadores nunca vão querer você no time deles, nem os X-men vão te chamar pro instituto e com certeza a Força não está com você. Sabe por quê? Porque você é um idiota e agora é um idiota sem namorada.
– Isso é por eu querer que você vá de Sam no Halloween pra combinar com a minha fantasia de Frodo?
– Não interessa! Eu não quero mais namorar com você! E só pra você saber, a Mulher-Maravilha tem super força, voa e é a princesa das amazonas! Ela é o melhor herói da Liga da Justiça, nem o Batman e o Super-Homem podem com ela, tá?!
Fui embora logo depois e por uns três dias, não tive notícias do Troye. Até que um dia ele foi me visitar, como a minha raiva já tinha passado, concordei em conversar com ele. Mamãe mandou a empregada fazer um lanchinho, mas não tocamos nele por um bom tempo. Estávamos mais preocupados em resolver os nossos problemas infantis.
– Sabe, Emma, você tinha razão. A Mulher-Maravilha é mesmo demais. - Ele desviou o olhar e encarou o chão. - Você... Você me desculpa? Eu não queria ter sido um panaca com você.
– Tudo bem, você tá desculpado. Mas não posso mais ser a sua namorada.
– Eu não ligo, não quero namorar com você. Eu quero que você volte a brincar comigo... Por favor. - Ele pediu, tomando coragem para me encarar. - Você é tipo o Capitão América do meu Homem de Ferro.
– Tá legal, nós podemos voltar a ser amigos. - Sorri. - Mas com uma condição: eu sou o Luke Skywalker agora.
– O que?! Nem pensar! Eu sou o Luke!
Lancei-lhe um olhar de brava na mesma hora e Troye acabou mudando de ideia.
– Ok... Você pode ser o Luke... Mas depois é a minha vez!
– Tá legal, na próxima você pode ser o herói. - Ri.
Depois disso nos sentimos livres pra comer o lanchinho e brincar a tarde toda em seguida. Troye era um cara legal, mesmo tendo sido um babaca no início, alguns anos depois ele se mudou novamente e nunca mais nos vimos. Mas antes de ir embora ele me deu uma miniatura super legal da Mulher-Maravilha que eu aguardo até hoje como lembrança.


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