Papai me matriculou numa escola nova no mesmo ano em que o acidente com o número 3 aconteceu. Eu até que me adaptei muito bem, principalmente porque lá tinham várias garotos novos com potencial para serem meus futuros namorados.
E foi lá que eu conheci Wally Huster.
Ele não era artístico como Harry ou estiloso como Jake, nem dava presentes bons como Gabriel. Wally era um garoto comum de 5 anos, não tinha nada de especial, apenas o fato dele ser terrivelmente irritante.
Durante a aula, ele jogava bolinhas de papel no meu cabelo e quebrava os meus brinquedos na hora do recreio. Ele sempre me fazia chorar, mas por algum motivo estranho, os adultos ao meu redor pareciam achar aquilo muito fofo. Sempre me diziam que o motivo de Wally pegar tanto no pé, era porque no fundo ele gostava de mim. Eu era ingênua naquela época e por isso acreditei neles.
Passei a ver o número 4 com outros olhos e acabei me apaixonando por ele. Eu demonstrava que ficava chateada quando ele implicava comigo, mas no fundo eu derretia de amores, porque achava que ele estava tentando chamar a minha atenção.
Como eu não sou muito do tipo de garota que espera por um cara, resolvi resolver logo nosso status de relacionamento, porque eu não aguentava mais as maneiras que ele encontrava pra se aproximar de mim.
– Wally, eu gosto de você. Vamos namorar. - Eu disse um dia, antes da nossa aula começar.
– Tudo bem, Saracura. - Ele respondeu, me chamando pelo apelido irritante que havia dado pra mim por conta das minhas pernas compridas.
Nós começamos a namorar, mas as implicâncias não acabaram. Ele me mostrava insetos nojentos mesmo sabendo que eu os detestava e uma vez tentou cortar o meu cabelo com a tesoura sem ponta dele. Mas sempre que eu reclamava sobre as suas atitudes, Wally aparecia com uma florzinha que tinha colhido do jardim e pedia desculpas.
Até que um dia, eu cansei. Afinal de contas, eu era Emma Gress e nenhum cara ia me atormentar daquele jeito e ainda fingir que era amor.
– Wally, eu estou terminando com você. - Disse-lhe um dia, numa hora do recreio.
– Por quê?
– Porque você só pega no meu pé e isso não é fofo, é idiota.
– Você que é idiota! - Ele respondeu, me empurrando.
– Ei! Eu vou socar a sua cara, viu?! - Ameacei, lhe mostrando meu punho.
– To nem ai! Eu não preciso de você mesmo! Eu quero terminar!
– Não pode terminar comigo! Eu acabei de fazer isso com você!
– Mas você é idiota, então não valeu! Sua Saracura!
– Você é idiota! Não fala nunca mais comigo! - Ordenei, cruzando os braços.
– Eu não vou!
– Então para!
– Já parei!
– Não parou não, ainda tá falando!
– Você que tá falando comigo!
Eu simplesmente cansei de discutir com ele e soltei um grito de raiva, saindo de perto do Wally. Eu obviamente nunca mais troquei uma palavra sequer com ele, mas no final da aula consegui minha vingança quando ele foi guardar suas coisas para ir pra casa, mas não conseguiu porque eu tinha jogado tudo na privada do banheiro e enchido sua mochila com areia do parquinho.
Depois disso, ele aprendeu qual era o jeito certo de tratar uma garota.