Eu já tinha cinco anos e o meu foco era Jake Turndell, um menino da minha sala que era tão mau, mas tão mau que tinha até aquelas tatuagens removíveis que vinham no chiclete.
Eu passava a aula toda olhando ele jogar no gameboy dele ao invés de aprender o alfabeto e eu sinceramente não me arrependo de hoje não saber o que vem depois do "Q". Jake era o meu sonho de consumo.
–Eu ouvi dizer que ele fica acordado até às onze horas. - Falei para a minha amiguinha da época, Vivi, enquanto comíamos nossos lanches na hora do recreio.
– Meu deus! Emma, você não pode namorar um cara assim! Ele não é uma boa pessoa! Ontem colou chiclete no cabelo da Bianca e foi de propósito!
– Tudo bem, nunca gostei dela mesmo. - Dei os ombros e mordi meu sanduíche. - Você vai ver, Jake vai ser meu namorado e nós dois vamos ficar vendo desenho até às onze e meia juntos!
Vivi ia vir com mais uma de suas chatices, mas nesse instante o meu deus grego da pré-escola se aproximou de nós.
–Ei, você é a Emma? - Ele perguntou, mantendo a pose de badboy.
– Sim, sou eu!
Meu sorriso ia de ponta à ponta, eu adorava o jeito dele de "Não to nem ai", ainda mais quando colocava aquele pirulito na boca e fazia cara de mau.
–Você tá dizendo pras pessoas que a gente tá namorando é?
–Não, estou dizendo que nós vamos namorar.
– Escuta, eu não gosto de meninas, elas são nojentas. Mas você é bonita e tem nome de pássaro, então eu vou namorar com você.
– Tudo bem! - Pulei de alegria naquele momento, Jake levantou um braço para que eu me colocasse entre ele e o resto do seu corpo e foi exatamente isso que eu fiz, abraçando-o com força em seguida.
–Ei! Emma! Menos, eu não gosto de abraços.
– Certo, sem abraços. Só o seu braço por cima do meu ombro, tudo bem.
Namorar com Jake Turndell era ser respeitada na hierarquia estudantil.
Todos olhavam quando nós passávamos de mão dadas e mesmo quando ele queria ficar com os amigos e me dizia "Cai fora, menina!" eu sentia que as outras crianças me invejavam. Ninguém mexia comigo, eu era a garota do Jake.
Infelizmente, nem todos tem essa sorte.
Meu namoro com o Jake foi por água a baixo por causa de uma briga que ele se meteu no campinho de futebol. Era normal ele sair por ai batendo nas pessoas, eu não me importava, achava até super descolado, pra dizer a verdade, mas essa briga especifica me atingiu profundamente.
–Emma! Vem rápido! O Jake tá batendo no seu irmão! - Vivi me avisou, desesperada.
Na mesma hora eu larguei a minha Barbie e fui correndo para o campo de futebol. Havia uma rodinha de pessoas que gritavam e incentivavam a barbaridade que estava acontecendo ali. Eu fui empurrando todo mundo até ficar bem na linha de frente e ver o meu namorado, Jake Turndell, dando tapas no corpinho magricela do Tyler.
Explodi na mesma hora.
–Jake! O que você pensa que tá fazendo?! - Gritei, visivelmente brava.
– Sai pra lá, garota! Eu to ocupado! - Ele gritou de volta, e continuou a bater no meu irmão gêmeo.
Pisando forte, me enfiei no meu da briga e consegui separar os dois. Tyler chorava no chão e Jake me olhava muito irritado.
– O que você tá fazendo?! Eu não acabei de dar uma surra nesse mané! - Meu namorado reclamou.
– Ele não é mané! Ele é meu irmão! E se você bater nele outra vez vai ver só!
– Ah é? O que é que você vai fazer?! É só uma menininha, igual ao seu irmão! Vai brincar de casinha, vai!
Fechei meu punho, com raiva. Ninguém me chamava de menininha e ninguém destratava o Tyler assim na minha frente. Não consegui me conter e dei um soco bem forte na cara do idiota do Jake Turndell, que me lançou um olhar de raiva.
– O que você fez? Cê ficou...
Não deixei que terminasse, porque lhe dei outro soco na cara e depois outro e outro, até ele chorar no gramado chamando pela mamãe. O parquinho inteiro ficou em silêncio e logo depois me aplaudiu.
Eu acabei indo pra diretoria por causa disso, mas ninguém se atreveu a brigar com o Tyler de novo. Meu pai foi chamado na escola e enquanto ele ameaçava processar a instituição porque a conselheira disse que eu tinha problemas psicológicos, eu fiquei sentada do lado de fora com o meu irmão.
– Emma... O-obrigado por ter me defendido. -Ele disse, evitando contato visual.
– Tudo bem! É pra isso que servem os gêmeos! - Sorri.
– Mas ele era seu namorado... Não ficou chateada por terem terminado?
– Não... Eu tenho você! - Dei-lhe um beijinho na bochecha e consegui arrancar-lhe um leve sorriso.
– Você vai ver só, sua vadia! Eu vou destruir essa merda! Meus filhos nunca mais poem os pés nesse fim de mundo! Cês tão fodidos! - Papai saiu esbravejando e fechou a porta atrás dele. - Princesa, Tyler, vamos embora. Vou comprar sorvete pra vocês.
Saímos pulando e comemorando o nosso sorvete. Foi a última vez que eu fui naquela escola, mas infelizmente não foi a última vez que eu namorei um tremendo babaca. Pois é, o número 3 meio que me deixou viciada nesse tipo de cara. Fazer o que?