Horas Depois...

Ouvi alguns gritos, vindo do quarto de Vitor, ele estava gritando e xingando muito, gargalhei imaginando tal cena, provavelmente ele estava tentando tirar a cola do cabelo. Entrei em seu quarto sem pensar muito, porém, me arrependi no mesmo instante, Vitor estava apenas com uma toalha na parte debaixo. Fitei seu abdômen por alguns instantes,  molhado assim parecia mais atraente do que já era, expulsei esses pensamentos e foquei apenas em seu cabelo, começando rir em seguida.

 – Você está com algum problema De La Riva? Por que passou cola no cabelo, é algum novo tratamento de beleza? - ironizei, fazendo-o bufar.

 – Foi você não é?

 – Vou contar até 10 e você tenta adivinhar, ok? - Sugeri, começando a contar em seguida. - 1, 2, 3...

— Você vai me pagar muito caro, América! - Ele disse e se aproximou de mim, com o vidro de shampoo (cola) na mão, provavelmente pretendia jogar aquilo em mim.

 – Você tá maluco garoto? - Arregalei os olhos, encarando-o.

 – Vamos ter guerra, América!

— Isso está declarado, teremos guerra De La Riva! - avisei e cuspi em seu rosto em seguida, peguei minha câmera e sai correndo dali. Quando cheguei a meu quarto, pude ouvir ele me xingando de longe, eu apenas conseguia rir.

— O que aconteceu? -Sophia perguntou.

—Chegou cedo, hein? Como você não deve ter dormido ontem imaginei que você ia ficar lá com o Daniel mais tempo. - Falei, cruzando o braço.

— Ele e a Paula já foram embora – avisou sorrindo.

— Que bom. - afirmei.

— O Daniel me chamou pra ir a uma festa hoje, vamos?

— Não, estou bem aqui. - Falei, dando de ombros.

 – Que câmera é essa daí? - Ela perguntou e antes que eu dissesse que não era da sua conta, ou algo do tipo, ela pegou a câmera de minha mão, tentei pegá-la novamente, mas, Sophia não deixou.

—Como você é mal, coitado do Vitor – falou após ver o vídeo, ela estava rindo muito, não pude evitar rir também, eu ainda não tinha visto esse vídeo e mesmo que não fosse engraçado, eu acharia graça somente pela risada extremamente exagerada de Sophia.

—Me devolve vai - Pedi e ela me entregou a câmera, ainda rindo.

— Isso se trata de uma vingança, certo? - Ela perguntou e eu concordei, dando de ombros.

— Se você for à festa, poderia mostrar esse vídeo para escola inteira, todo mundo vai pra essa festa - Ela sugeriu e eu arregalei os olhos surpresa.

—Uau, tem um cérebro na sua cabeça - falei rindo, e ela revirou os olhos. - Então eu vou, faço de tudo para acabar com o Vitor! -completei e ela voltou a gargalhar.

—Você o odeia, não é? - Ela disse.

 –Mais que tudo... -Sussurrei, enquanto me lembrava de Vitor. Eu realmente o odeio, o odeio por me fazer pensar tanto nele.

 –Você acha que eu deveria ter esperado mais antes de ficar com o Daniel? – perguntou, mudando de assunto, olhando-me, ela realmente parecia preocupada.

—É a sua vida. Mas, quero te avisar uma coisa sobre o meu primo, quando ele não vê mais graça em alguma coisa, ele simplesmente deixa de lado - contei, encarando-a.

—Acha que eu deveria me afastar? - perguntou.

 – Se te faz bem, tente ficar com ele. Mesmo que de errado no fim, pelo menos terá tentado. -Sugeri me levantando em seguida e, andando até a porta.

— Se tudo for como você imagina... Eu vou me machucar no final, eu não quero isso, eu.. eu não... -Ela deixou a frase morrer quando eu estava prestes a sair dali.

— Não quer um coração partido não é? -falei parando diante da porta, voltei a me virar para ela, encarando-a, então, Sophia balançou a cabeça em concordância, seus olhos estavam cheios de água. - Eu te entendo - completei.

— Pode me ajudar? – perguntou, ainda olhando-me.

— Não, eu sinto muito, o amor não é uma das minhas especialidades. - cruzei os braços.

— Por que você não acredita no amor? Como você vive sem sentir o frio na barriga que o amor causa? – indagou, ainda me observando.

—Escuta - Andei rapidamente até ela, segurando-a pelos braços e olhando no fundo de seus olhos, acho que eu estava tentando salva-la antes que fosse tarde demais. - Esse "frio na barriga" que acreditamos ser tão incrível, no fim vira um monstro terrível. E esses monstros, aproveitam que você foi tola o suficiente para deixá-los entrar, e vão passeando por todo seu corpo aos poucos, destruindo tudo de bom que há em você. Por isso não acredito no amor, isso que você está sentindo é só uma maldição disfarçada de ser algo bom. - Completei e Sophia me olhou assustada.

Por um momento me senti culpada por ter falado essas coisas para ela, provavelmente ela está achando que tenho algum problema. Sempre é assim, por mais que você tente dividir com alguém, somente você entende seu próprio caos.

 (...)

— Não acredito que estou aqui - reclamei pela milésima vez.

— Pare de reclamar, você quer ou não ferrar com o Vitor? - Ela perguntou e eu sorri - vamos entrar logo! - Completou, então nós entramos, era um lugar enorme, mas, mesmo assim parecia ser pequeno pela quantidade de pessoas que estavam ali.

 – Como vou fazer esse vídeo passar ali? - perguntei, encarando Sophia.

 – Só precisa conversar com o DJ, sendo amorosa e educada - Ela explicou.

—Isso não é comigo, não mesmo. - falei, bufando.

—Para isso que estou aqui! - Ela falou e se levantou, jogando os cabelos para trás. Apanhou o pen drive que eu tinha levado com o vídeo e piscou para mim, em seguida, andou até DJ.

Papo vai, papo vem, Sophia já estava conversando com aquele DJ fazia uns 15 minutos. Eu deveria me preocupar? Assim que esse pensamento me ocorreu, a garota voltou sorridente. É, eu não precisava me preocupar.

— Tudo certo, mais pro meio da festa ele vai exibir teu vídeo, ruiva do mal - brincou sorrindo.

— Ok - Dei de ombros.

— E aí, garotas - disse Daniel, aparecendo ali magicamente.

— Olá - Cumprimentei.

— Não sabia que você ia vim nessa festa, priminha - falou, bagunçando meus cabelos.

— Pois é, mas, estou aqui - falei e ele sorriu.

 – Eles vendem a melhor batida da cidade aqui - Daniel comentou.

— A última vez que bebi não me dei muito bem - comentei e eles sorriram.

— Você nunca se deu bem com bebidas, ruivinha. Eu vou lá com a Sophia, você se importa? - Perguntou me olhando.

—Não, podem ir, contanto que não me abandonem aqui - falei e Sophia sorriu, se levantando.

— Ok, daqui a pouco voltaremos - Daniel disse, beijando meu rosto, e em seguida, eles saíram.

Eu já estava ali há um bom tempo, sem fazer nada, isso já estava ficando entediante, mas, então, vi Vitor se aproximar de mim, não sei se fiquei contente ou não por isso.

—Dança comigo? - perguntou.

—Eu? - indaguei encarando-o e franzindo o cenho.

—Tem mais alguém aqui? - perguntou, sorrindo e eu apenas cruzei os braços.

 - Você me deve isso, por ter trocado meu shampoo por cola - Ele disse e em seguida, esticou a mão.

Pensei em recusar, entretanto, imaginei que provavelmente não faltava muito para exibirem o vídeo para a escola inteira, estar perto dele para ver sua reação seria um tanto interessante, então sorri, pegando em sua mão e levantando-me, ele pareceu surpreso.

— Apenas pelo tédio! - falei e ele sorriu, então, andamos até a pista de dança. Vitor não soltou minha mão, achei estranho, mas, antes que eu tivesse tempo de reclamar ou coisa assim, já tínhamos chegado então, ele mesmo a soltou, começando a dançar. Estava tocando a música: Calvin Harris - Blame ft. John Newman.

 Eu amava essa música, algumas vezes quando meu pai saia, eu costumava colocá-la na maior altura e ficava dançando feito louca, isso não durava muito, ele sempre chegava e me repreendia por estar com o som tão alto.

—Vai ficar parada? - Vitor perguntou, tirando-me dos meus devaneios,  em seguida, voltou a segurar minhas mãos para fazer-me dançar. Senti um arrepio estranho, então logo separei nossas mãos, ele não deu muita importância, pois logo em seguida eu comecei a dançar também, sem precisar da sua ajuda.

Podia o ouvir cantando algumas partes da música de modo extremamente "teatral" e estranho, acho que ele devia estar achando que realmente era um cantor, mas, quem sou eu para julgá-lo já que na verdade estava agindo da mesma forma, a verdade é que quando se tratava dessa música, ninguém conseguia ser normal. No refrão da música nós dois começamos a cantar mais ainda, praticamente gritando, estávamos pulando como dois loucos, fazendo com que todos da pista de dança voltassem à atenção para nós, alguns assustados, outros achando engraçado.

Vitor e eu apenas continuamos pulando, ignorando a presença de todos ali por um tempo, mas, em um momento nos cansamos e paramos de dançar um pouco, nós dois estávamos rindo muito, ambos ofegantes, nos olhamos por um instante e Vitor colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, se aproximando, antes que eu pudesse pelo menos imaginar o que ele estava tentando fazer, Vitor segurou meus braços, na parte principal da música e começou a rodar como louco, eu não sabia se ficava com medo de cair ou se ria, então fiz um pouco dos dois. Quando a música acabou, eu nem sequer acreditava no show que tínhamos feito, parecíamos até duas crianças, não sei como os seguranças não haviam nos expulsado da festa ainda.

—Tá bom, já chega. Passamos uma vergonha e tanto aqui - falei, sorrindo e tentei sair em seguida, mas, ele me impediu, segurando-me pelo braço.

— Espere um pouco, eu amo essa música. -disse e eu sorri, agora estava tocando a música: Unconditionally - Katy perry.

— Ok. Não sabia que você gostava desse tipo de música! - comentei, realmente surpresa, Vitor não parecia ser do tipo que gostava de músicas românticas.

—Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, e fica aí, agindo como se soubesse. - Ele disse e eu o olhei, arqueando uma sobrancelha.

Vitor se aproximou de mim, colando nossos corpos, então começamos a dançar. Eu nem me lembro da última vez que dancei esse tipo de música com alguém, então fiquei realmente surpresa ao constatar que estava dançando bem. Senti sua respiração tão próxima de mim enquanto estávamos dançando, deitei minha cabeça em seu ombro, ainda ofegante, meu sangue corria depressa pelas veias. Por um momento, esqueci de todo o resto, apenas nós dois parecíamos estar ali. O resto do mundo parecia não existir, muito menos os problemas. Estávamos presos um no olhar do outro e sozinhos em um mundo que eu tinha lutado tanto tempo para afastar de mim. O frio na barriga que Sophia havia mencionado mais cedo estava ali, mais forte do que nunca, isso me assustou.

 Na parte principal da música, Vitor pegou minha mão e me girou com pressão, fazendo-me arfar, essa coisa toda estava fazendo-me sentir-me em uma história de romance, sorri com meu próprio pensamento. Quando o De La Riva voltou a trazer-me para ele, sem que eu percebesse nossos lábios estavam colados, tentei me afastar, mas, Vitor segurou-me pela cintura, bem forte, impedindo-me, nesse momento, por um impulso, cedi ao beijo, pude sentir nossas línguas se tocarem, então eu estremeci. Ainda durante o beijo, acariciei seu pescoço com as mãos, enquanto sentia as suas em minha cintura, nossas bocas pareciam ter o encaixe perfeito, não queria dar um fim a isso, nem sequer tive tempo para repreender-me por meus desejos, estava ocupada demais explorando seus lábios. Tudo parecia estar perfeito, até que percebi que a música que estávamos dançando, havia acabado e agora o DJ estava falando: "Uma amiga de vocês disse que tem um vídeo bem especial, um minuto de atenção para assistirem, por favor." Merda, merda, merda, iriam exibir o vídeo agora, Vitor não pareceu dar nenhuma importância para esse aviso, afinal, ele não sabia que era seu vídeo com cola no cabelo que iriam passar ali, então ele suavemente morde meu lábio inferior, tentando voltar a beijar-me em seguida, mas, eu me afastei com as mãos nós lábios.

—Desculpa, foi inevitável - disse, me encarando.

Não queria que exibissem esse vídeo agora, eu mal conseguia olhar nos olhos de Vitor, como poderia achar engraçado? Eu não queria ter o beijado, eu não queria ter gostado. Então, apenas sai correndo dali, nesse mesmo momento o vídeo começou, percebi que Vitor voltou sua atenção para o telão ao constatar que era um vídeo dele, isso só fez com que eu corresse mais rápido. Merda, o que vai acontecer agora?

"- Qual é o seu maior sonho?
         - Beijar você."— Becca Fitzpatrick.