A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 7
2.4




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Um café atípico

É finalmente sábado, e por isso calculo que os Schreave se permitirão acordar mais tarde, e é por este motivo é que estou diante do meu espelho, trabalhando duro para fazer um coque utilizando somente grampos simples. O que, preciso confessar, é uma tarefa dificílima! Meus fios ruivos são muito finos, o que meio que dificulta que algo fique preso ali por muito tempo. Lá pelas 8:15, desço para o salão e avisto Lucy, quando me vê ela acena com a cabeça e abre um sorriso fofo, vindo imediatamente em minha direção.

–Bom dia, senhorita América.

Passo uma mão na outra a sorrio um tanto apreensiva.

–Tem alguém lá? - Pergunto, ansiosa.

Lucy franze as sobrancelhas e desliza as mãos pelo seu avental.

–Me desculpe, mas a que está se referindo?

Me dou um tapa na testa e solto uma risada curta. pensando bem, não tinha como ela saber sobre o que eu estou falando.

–Os Schreave. Eles estão tomando café? - indico com os olhos para o lado esquerdo, onde fica a sala de jantar.

Lucy balança a cabeça devagar, mostrando que dessa vez havia entendido.

–Não, o senhor Clarkinson e Madame Amberly saíram cedo.

–Hmm, obrigada!

–Quer que eu peça para servirem o seu café da manhã?

Ponho uma mão sobre seu ombro e dou uma piscadinha marota. Lucy parecia ser uma boa mulher, talvez fosse bom manter algum tipo de amizade por aqui.

–Seria muita gentileza.

Enquanto Lucy segue pelo o lado oposto ao meu, me dirijo até a sala. Quando chego naquele ambiente tão... Vazio, com tantas cadeiras sem pessoas, tenho uma ideia muito melhor e com certeza mais agradável. Dou meia volta e sigo por onde Lucy havia ido, assim que chego em determinada parte do trajeto o cheiro delicioso de pão caseiro e café me atingem com força, me dando água na boca.

Surjo na porta, me deparando com um grande fogão no extremo da cozinha, armário de madeira e diversas pequenas prateleiras dispersadas pelo o ambiente. A geladeira fica ao lado da pia, onde uma mulher, que eu ainda não conhecia, prepara algo. Não demoro muito em enxergar Lucy, que colocava vários itens alimentícios em cima de uma bandeja de prata.

–Senhorita! - Exclama ela com alguns pés de galinha que surgiram ao redor de seus olhos, que de repente ficam preocupados. - Algum problema?

Agito as mãos pelo o ar.

–Não, é que...aquela mesa é enorme, em Carolina sou acostumada a fazer as refeições junto de minha irmã e do meu pai. Sabe, às vezes eu comia na cozinha junto com Mary e outros dos funcionários.

Quando termino de falar, Lucy abre o sorriso mais genuíno que já vira dela.

–Quer comer junto com os empregados? - Havia uma nota de surpresa em sua voz.

Dou de ombros.

–Se não houver problema, gostaria sim. - Cruzo os dedos e sorrio sem mostrar os dentes. - Prometo que não vou atrapalhar o serviço de ninguém!

Ela negou com a cabeça, seus olhos deixam a preocupação para atrás, e mostram agora um brilho de expectativa.

–Venha comigo. - Murmura ao me guiar mais para dentro da cozinha. A mulher que julguei ser a cozinheira, me cumprimentou com a cabeça e um breve sorriso. Lucy me levou até os fundos da cozinha, que eu nem imaginava existir. Da porta não dava para ter essa noção! Acabamos de passar por uma entrada no formato de U de cabeça para baixo e sem porta. O ambiente é extremamente claro, pequeno. Quase abaixo de uma janela fica uma mesa de 6 lugares.

Abro a boca, mas não digo nada. Onde fica o botão de voltar atrás?

Duas das cadeiras estão sendo ocupadas por dois rapazes. Um tem porte grande, tipo de soldado. Suas roupas estão um pouco sujas de terra.

Ao seu lado está Maxon. Seu cabelo esta perfeitamente arrumado como sempre, - será que ele dorme e acorda com o cabelo assim? - e pela a primeira vez o vejo com roupas normais. Por roupas normais eu digo que não está com nenhuma peça formal, nada de calça ou camisa social, nada de terno ou gravata. Ele está rindo de algo de que o outro cara diz, e então percebo que essa e minha chance de escapulir!

Estou prestes a dar meia volta quando escuto o meu nome.

–América?

Giro meu corpo novamente em direção a eles e dou um aceno tímido com a mão.

–Já trago seu café, senhorita. - Fala Lucy, saindo em seguida mas sem antes me dar um olhar animado.

Maxon levanta-se de seu lugar e ajeita a cadeira velha em sua frente para eu me sentar.

–Por favor, fique com a gente. - Murmura com um sorriso bem quase chocado no rosto.

Caminho até a cadeira com as pernas duras, os ombros tensos e a face corada. Não sabia exatamente o que aquele presente de Maxon significava, e não estava afim de descobrir isso hoje.

–Bom dia, rapazes. - Digo enquanto me ajeito. Estou de frente para

Maxon e ao lado de seu, aparentemente, amigo.

–Bom dia! - Eles disseram em uníssono.

Fui obrigada a abrir um sorriso de lado.

–América, quero que conheça Carter, um dos meus melhores amigos, sem dúvidas. - Apresenta Maxon, lançando um sorriso cheio de camaradagem para Carter.

–UM dos melhores amigos? - Carter solta uma risada alta, então olha para mim. - Sou o único amigo de verdade desse molecote aqui!

Maxon enfia um pedaço de pão dentro da boca de Carter, que ensgasga mas se recupera rapidamente e joga os farelos de seu prato nos cabelos do amigo.

–Você não acha que esse cabelo de Maxon é arrumado DEMAIS? - Me pergunta Carter, enquanto revira seus olhos pretos.

Solto uma gargalhada enquanto Maxon retira os vestígios de farelos de suas roupas e cabelos.

–Na verdade, Maxon é sempre bem arrumado. Tipo, ele e bem certinho... - Falo em tom de brincadeira. Maxon se joga no encosto da cadeira de forma dramática, mas seu sorriso não mostrava nenhum tipo mágoa ou raiva.

–Isso, meus caros, se chama bulling!

Carter bufa, e eu encolho um ombro.

–Tudo o que estamos dizendo e pro seu bem. - Provoco. Maxon me olha fixamente por um momento e um sorriso torto surge em seus lábios. Perco o fio da meada apenas por um segundo. - quebrar as regras de vez em quando faz bem pra saúde, oras!

Carter bate palmas.

–Isso assim é que é noiva de verdade! - Ele diz, todo animado.

Naquele momento me perguntei se ele dissera sobre o contrato para Carter, afinal, fica óbvio que eles tem intimidade um com o outro. Mas não podia ter certeza, pois mesmo eu sendo a melhor amiga de Marlee, fora incapaz de contar para ela.

Houve uma sensação constrangedora no ar, tanto de minha parte, quanto da de Maxon. Lucy entra carregando uma bandeja com uma jarra com leite, outra com café feito na hora e fatias de pão feito em casa quentinho.

–Bom, vou deixar vocês comerem em paz. - Murmura Carter, levatando-se da cadeira. - Tenho um jardim inteiro para cuidar!

–Até mais. - Murmuro.

–Presta atenção no trabalho e não fica pensando em mulher. - Brinca Maxon com um risada.

–Vou me esforçar. - Rebate ele. Carter dá uma piscadinha maliciosa para Lucy, que fica vermelha feito um tomate no ato.

No minuto seguinte, estávamos apenas Maxon e eu naquele puxadinho da cozinha.

Começo a despedaçar o pão entre o dedo indicador e o polegar, me perguntando se eu deveria ou não puxar assunto. Sabe quando estamos sozinhos com outra pessoas que conhecemos bem pouco e fica aquele clima estranho no ar? Pois então, é essa a sensação que sentia agora.

–Vejo que gostou do presente.

Automaticamente ponho uma mão sobre o delicado colar que está em volta do meu pescoço. Finalmente, olho em seus olhos.

–É lindo, muito obrigada. De verdade.

Maxon sorri tortinho, com seus olhos cor de todynho brilhando pra mim.

–Pensei que fosse gostar, realmente.

Dou de ombros enquanto pego a xícara que Lucy me trouxera e coloco a metade de café preto e misturo com leite.

–Açúcar? - Pergunta ele, já empurrando o açucareiro em minha direção.

–Obrigada.

Ficamos em silêncio por mais um momento, e então falo:

–O que voce faz pra se divertir aqui?

Ele pondera um pouco.

–Hum...trabalho, basicamente.

Ergo as sobrancelhas e ele parece se divertir com a minha expressão.

–Parece...legal...

Maxon ri baixinho e deixa um de seus braços em volta do encosto da cadeira.

–Você e uma péssima mentirosa, sabia?

Tomo um gole do meu café.

–Sabia.

Arrisco uma olhadela para Maxon, e vejo ele sorrindo.

–Falando sério agora, eu gosto de desenhar. Mas, no geral, não tem muito passa a tempo por aqui.

Ergo uma sobrancelha. Mastigo um pedaço do pão - acho que colocaram canela nele! Delícia - antes de perguntar:

–Desenho? Você não parece...

Maxon balanca a cabeça, claramente fingindo uma cara pouco satisfeita.

–Você não tem como saber tudo sobre uma pessoa quando trocou apenas algumas palavras com ela. Muito menos, só de olhar para ela.
Passo a língua pelos lábios.

–Voce tem razão. - Confesso com o cenho franzido. Por exemplo, ele não aparentava ser do tipo que faz amizades com qualquer um, no entanto, seu melhor amigo era o jardineiro.

–Claro que tenho.

Acabei sorrindo.

–E Você?

–Eu o que?

–O que gosta de fazer?

Reflito sobre isso.

–Gosto de...tocar violino.

Agora foi a vez de Maxon ficar surpreso, porém logo sua expressão de antes voltou.

–Sério? Desde quando você toca?

–Sei lá, desde uns 6 anos. Minha mãe era muito boa, ela que me ensinou. Lá em casa eu tocava quando estava triste, ou quando não tinha nada pra fazer.

Ergo os ombros, como se não me importasse. Mas eu me importava, e muito.

–Sinto muito por ela.

–Tudo bem, faz anos já.

–Acredito que seja o tipo de perda que não se supera 100 por cento.

–Pra falar a verdade, não.

–Imagino.

Há mais alguns minutos de silêncio.

–Você está entediada aqui, não é? - Ele me pergunta. Solto um longo suspiro e cruzo minhas mãos em cima da mesa.

Sera que eu era tão óbvia ou Maxon que é um bom leitor de ccomportamento e expressões?

–Claro, não tem quase nada pra fazer!

Maxon ri um pouco.

–Temos uma piscina.

O encaro com uma cara incrédula.

–Ta brincando? Deve estar uns 12 graus lá fora!

Então nos gargalhamos. A risada de Maxon e muito engraçada, sério. Não tem como não rir junto ou esboçar pelo o menos um sorriso.

Quando minha barriga já estava doendo, ele ergueu um dedo diante do rosto.

–Podemos jogar cartas!

Bufei e abri um sorriso.

–Já que não tenho escolha...

Já fazia quase duas horas - ou mais - desde que começamos a jogar. Maxon está com as cartas erguidas diante do rosto e alinhadas em forma de leque.

–É sua vez de comprar. - Eu digo, de olho nele.

Ele pega a carta do topo do montinho meio bagucado do baralho, faz charme, como se tivesse pego a carta de que precisava, e joga outra fora.

Pego a carta que ele acabara de rejeitar e término com uma sequência de 2, 3, 4, de ouro, uma de A A A de basto, copa e ouro, e meu jogo final um belo 7, 8, 9 de paus.

Triunfante, espalho meus jogos sobre a mesa.

–Bati.

Maxon observa as cartas como se quisesse conferir, achar algum erro.

–Confessa, você ta roubando!

–O quê?! Você que e ruim e eu que sou ladrona? Me poupe.

–Você tem muita sorte, vamos trocar de lugar.

Franzi a testa.

– por quê?- Quis saber.

–Esse e o lugar da sorte, acabei de lembrar.

–Voce ta de frescura, ne?!

Maxon da um sorriso animado.

–Claro, só queria ver essa expressão de incredulidade em seu belo rosto. - Responde.

Balanço a cabeça, sorrindo.

–Até que você e legal. - Falo pra ele.

–Até que você não é tão antipática assim. - Retruca.

Meu sorriso de abre ainda mais.

–Mas não se acostuma. - Adverti.

Ele se inclina sobre a mesa e inclina a cabeça para o lado, um sorriso quase infantil brincava em seus lábios.

–Posso saber o motivo?

Bom...qual era o motivo? Passei tanto tempo sendo desagradável para provocar o meu pai, que agora nem tinha certeza de quem eu realmente era, e de quem eu fingia ser.

Suspiro e faço um gesto com as mãos que pedia para que ele esquecesse o assunto.

–Bobagem - Murmuro.

Ele está prestes a abrir a boca e responder algo, quando Silvia chega na entrada com sua saia lápis e cinza que ia até os joelhos, e uma camisa social branca.

–Senhor Maxon, seu paí requer a sua presença em seu escritório daqui a pouco. Irei providenciar que seu almoço seja servido lá mesmo.

–Obrigada, Sílvia. Já estou indo.

–Senhorita América, quer almoçar aqui ou...?

Sorrio de sua cara de confusão.

–Pode ser.

–Tudo bem, com licença, senhores.

Ainda estou observando as costas de Sílvia se afastando, quando sinto os olhos de Maxon cravados no meu rosto. Assim que volto minha atenção para ele novamente, seu olhar parece um pouco decepcionado.

–Uma pena, podemos jogar outro dia? - pergunta ele. - Ainda tenho esperança de vencer você!

Dou uma breve risada.

–Não se iluda. Mas acho que podemos fazer alguma coisa mais divertida.

– Tenho certeza de que minha expressão está entediada.

Maxon sorri de lado.

– Tipo?

–Vou pensar e então te digo.

Ele pisca pra mim antes de se levantar.

–Não me decepcione.

–Vou tentar.

E então ele sai, me deixando sozinha por pouco tempo. Logo após a sua partida, uma das funcionárias chega trazendo o meu almoço. A cada colherada, a risada de Maxon invadia a minha mente, me fazendo sorrir. Sera que aquilo indicava o início de uma bela amizade?

Espero que sim.

Talvez eu pudesse visita-lo está noite. Talvez.


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