A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 6
2.3




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Uma conversa com Maxon e as cartas de Aspen

Ficamos quase até o fim da festa e quando chegamos na mansão tive que me controlar para não sair correndo até o quarto. Quando finalmente tirei os sapatos e o vestido, tranquei a porta. No banheiro lavei o rosto mais de uma vez para retirar toda a maquiagen, volta e meia me encarava através do espelho e me sentia enjoada. Pus uma camisola folgada e com três camadas de seda branca.

Agora que estava sozinha, pude pensar sobre o olhar triste e ciumento de Aspen toda vez em que Maxon me tocava para tirar alguma foto, ou quando iamos conversar com alguém que poderia se tornar um aliado político futuramente. Eu não podia encará-lo, e não conseguia parar de imaginar que ele poderia ter ficado magoado comigo por não ter lhe sorrido, não ter enviado uma carta, ou por não ter trocado olhares com ele mais do que duas, três vezes. Mas no fundo sabia que entenderia, que eu ainda não havia conseguido burlar as regras por aqui.

Solto um suspiro exausto e me encolho por baixo das cobertas pesadas, meus olhos estão pesados e sentia que não demoraria para cair no sono. Abraço um dos travesseiros contra o peito e, por mais que tenha sido no todo tudo muito frustrante, acabo agradecendo a Deus por ter me dado a oportunidade de ver Aspen pessoalmente esta noite. Um belo presente de aniversário para mim.

Acordo as 9:30 em ponto. O som do despertador reverbera pelas paredes salmão do quarto. Ergo a mão e dou um tapa de leve nele para parar de apitar em meus ouvidos. Me espreguiço toda e tiro meus cabelos da frente do rosto antes de me levantar, me perguntando se deveria usar jeans (como eu amo!) ou vestido hoje, já que para o meu plano dar certo, precisava urgentemente causar uma melhor impressão do que a que vinha causando.

No final, optei por calça jeans com uma lavagem esbranquiçada e pus um cardigã por cima da regata. Me observo diante do espelho, e decido deixar meu cabelo ruivo ondulado exatamente como está, mas o amarro em um rabo de cavalo frouxo. Enquanto desço em direção a sala onde é servida as refeições, sinto-me orgulhosa de mim mesma por não precisar ser acordada por ninguém esta manhã! Quando cheguei, um funcionário me abordou e perguntou se eu gostaria de tomar o café agora.

–Com certeza. - Respondo com um sorriso. O fato de estar ali sozinha me deixou com um bom humor especial. Sentei-me à mesa e segundos depois uma empregada vestida com um uniforme azul marinho impecável chegou trazendo uma variedade absurda de comida.

Agradeço e ela se despede com um sorriso discreto.

–Acho que eles pensam que eu sou morta de fome. - Murmuro para mim mesma, enquanto me servia de cereal com leite e depois tomava um copo médio de suco de maracujá.

Subo as escadas de dois em dois degraus rumo ao meu quarto. Pego a carta que escrevi para Aspen quando cheguei aqui, e escrevo um bilhete simples antes de colocá-lo dentro do envelope da carta.

"Saudades! Sinto muito não ter te observado muito ontem, mas eu não posso mais vacilar. Você foi um belo presente de aniversário (literalmente) pra mim."

Dobrei o papel até caber dentro do bolso traseiro da minha calça jeans e chamo Silvia pelo o walktalk.

–Sim, senhorita - diz ela.

–Onde você está?

Ela parece refeletir por um momento.

–No Salão Principal, em que posso ajudá-la? - Questiona toda curiosa.

–Me espera, tô indo aí!

Encontro Silvia conversando com um pequeno grupo de funcionários, quando me vê ela os dispensa com um sorriso no rosto. Respiro fundo e tento forçar uma expressão entristecida, o que, se for parar para pensar, não era tão forçada assim.

–Preciso de um hiper, mega, super, ultra, power favor seu!

Silvia quase dá uma risada.

–O que a senhorita deseja?

–Me diga onde fica o correio mais próximo?

Ela parece confusa e em alerta, então me apresso com complementar:

–Quero manda uma carta para a minha família.

Silvia estava prestes a abrir a boca para me responder, quando escuto o som de passos e um pigarro vindo do corredor. Dou um pulo para trás para ver quem é com o meu coração acelerado, e vejo Maxon.

–Deixa que eu a levo - murmurou enquanto dobrava o punho da camisa escura até o cotovelo. Seu olhar passou de Silvia para mim, e seu sorriso de sempre apareceu.

Ergo as mãos espalmadas na altura do peito para Maxon e abro um sorrisinho amarelo.

–Não há necessidade... - engulo em seco. - Não quero te incomodar.

Maxon sacode a cabeça levemente.

–Não se preocupe, fica no caminho para o trabalho.

Naquele instante me questionei se o nosso teatro valeria também quando estivéssemos dentro da mansão, para manter as aparências aos empregados.

–Então vamos. - Digo com meu desanimo quase transbordando.

O carro de Maxon é muito confortável e com um ar imponente, de cor preta. Discreto na cor, mas chamativo por ser enorme. Será que ele tem algum outro lado a não ser esse formal e sem graça que mostra?

Solto um suspiro pesado enquanto olho pela a janela.

–Algum problema? - Ele pergunta.

Balanço a cabeça em negativa. Maxon fica em silêncio por um minuto e, então, tenta novamente:

–Se está com algum problema, senhorita, peço que me conte.

Estou prestes a revirar os olhos, mas me contenho. Ao invés disso, viro meu rosto em sua direção.

–Maxon, para todos os efeitos você é meu noivo. - Engulo em seco. Me sinto melhor quando percebo que ele também ficou tenso com as minhas palavras. - Então, por favor, me chame apenas de America.

Maxon pondera por um instante e então assente com a cabeça.

–Tudo bem, Apenas America.

Demorou um pouco para cair a ficha. Quando entendi a piadinha não evitei em revirar os olhos dessa vez. Me virei novamente para a janela, evitando que ele visse o meu sorriso idiota. Sempre achei graça de piada ruim. E então, o sinal ficou vermelho e eu bufei.

Que ótimo.

–Você parece irritadiça hoje. - Maxon abriu outro de seus sorrisos e concluiu: - Na verdade, desde que chegou.

Olho para as minhas unhas sem esmalte, me sentindo um pouco...constrangida. Mas muito pouco. Porém, me fez pensar sobre como estava sendo o meu comportamente. Não duvidaria que eu mesma acabasse me sabotando nesse plano maldito.

–Sou um pé no saco, tem certeza que vai querer casar comigo? - Pergunto com uma sobrancelha arqueada. Maxon fixa seus olhos nos meus e solta uma gargalhada, para então dar pequenos tapas no volante do carro.

–Você, por um acaso, já prestou atenção no meu pai? - Indaga depois de se acalmar. Sua voz revelava que minha chatice não era nada comparado ao do seu pai.

Pensei sobre aquilo.

–Você já está acostumado, né. - Afirmo com um aceno de cabeça. Quando me dou conta de que acabei de falar, tapo a boca com as duas mãos. Acabei de dizer que o Lorde era chato! Que o cara que controlava o contrato era chato.

Você é muito burra, America, penso com raiva.

Achei que Maxon ficaria chateado, mas ele simplesmente retirou minhas mãos da boca delicadamente.

–Não fique com vergonha, meu pai é realmente difícil. - Ele sorri um pouco. - Mas mudando de assunto, você parecia bem frustrada antes.

Foi aí que percebi que Maxon era realmente persistente. Dou de ombros.

–É que você dirige devagar demais. - Aponto com o polegar para a rua. - Tinha um homem correndo quase do nosso lado uma hora, e se ele se esforçasse só um pouquinho a mais teria consegido ultrapassar a gente!

Maxon dá uma risada deliciosa, tanto que fui obrigada a rir também. Fiquei muito surpresa em constatar que era tão fácil fazê-lo rir. Ou eu era muito engraçada e não sabia.

–Você quer vir aqui no meu lugar? - Questiona.

Jogo meus cabelos para os lados.

–Você não aguentaria a pressão e a adrenalina. - Provoco com uma piscadinha. Maxon pareceu em êxtase com a ideia. Naquele instante me senti mal por ter pensado que ele era um cretino.

Respiro fundo. Não America, não se deixe enganar, penso.

–America, de acordo com os meus cálculos, daqui a 15 segundos o sinal irá abrir. A decisão é agora!

Franzi o cenho.

–Você tem um cronometro aí dentro? - Indago ao apontar para a sua testa.

Ele pareceu surpreso com a minha pergunta.

–Não, mas gosto de controlar o meu tempo, e isto implica em ter uma boa noção das horas.

Abro um sorrisinho de lado.

–Você não gosta disso, você é fissurado em horas isso sim!

Lembrei de quando ele dissera que chegamos 4 minutos atrasados na festa ontem a noite.

Ele fechou bem a boca para esconder o sorriso, mas seus olhos brilhavam de diversão. Depois de um tempo, apontou com o queixo de forma sugestiva para o volante, com as duas sobrancelhas erguidas. Balanço meu dedo indicador diante de seu rosto.

–Vocês tem uma dinâmica diferente no trânsito aqui, não quero ser presa por matar uma velhinha que, inocentemente, atravessava a rua.

Nesse momento o sinal abriu e ele deu a partida com os lábios curvados para baixo. Ao que parece, havia ficado decpecionado por não experimentar da adrenalina que prometi. Mas logo depois sua expressão se suaviza e um sorriso se abre em seu rosto.

–Você é meio agressiva, seria realmente um perigo para a população. - Murmura em tom de brincadeira, mas minha resposta foi apenas um sorriso fraquinho. Chega de conversa sem sentido! Quando chegamos ao correio, Maxon perguntou se eu queria que ele me esperasse, mas insisti para que fosse trabalhar, então chamou um táxi para me levar para casa e já deixou pago.

Nos correios, enviei uma carta para May, e outra para Aspen.

Quando saí o táxi me esperava próximo ao meio fio. Durante todo o trajeto minha mente revivia a pequena conversa que tive com Maxon. Ele não era ruim, mas sempre é bom manter um pé atrás. Talvez até pudessemos ser realmente amigos e eu ter a oportunidade de deixar o plano para trás, caso ele concordasse em me liberar do contrato.

Aquele pensamento me encheu de esperança.

Uma vez no meu quarto, vi um pacotinho embrulhado com um papel de presente todo rosa em cima da cama. Ao seu lado, um pedaço de papel branco.

Ansiosa, atravessei o quarto correndo e rasguei o pacote, encontrando um colar com uma corrente tão fina que seria difícil alguém percebe-lo caso estivesse distraído. Um pingente pequeno em formato de pérola pendia da corrente. Curiosa demais, peguei o papel dobrado e o li:

"America,

Espero que o presente tenha chegado antes de você! Comprei logo após de deixá-la no correio. Achei sua cara e espero realmente ter acertado o seu gosto.

Feliz aniversário atrasado!

Um abraço,

Maxon."

Fico olhando para o bilhete mais do que o necessário. Não sabia nem o que dizer para mim mesma. Imagina para ele?


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Notas finais do capítulo

Ficou meio chatinho esse, mas os próximos vão ficar melhores! ^^