A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 8
2.5




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Uma visita inusitada

O restante do dia passou de forma monótona. Durante a tarde eu, definitivamente, não tinha nada para fazer. Eu não fazia a mínima ideia sobre a íntegra do contrato, somente o básico! Será que eu poderia sair a qualquer momento? Quais eram as minhas responsabilidades? E as de Maxon?

Meu pai várias vezes tentara me fazer parar e ler tudo o que estava escrito, até mesmo as letras minúsculas mas, como sempre, meu gênio não deixou com que a análise do documento chegasse ao fim. Papai dissera que não havia a possibilidade de eu sair machucada desse acordo, mas também não sabia dizer se eu tinha algum tipo de liberdade ou não. Quando ele estava me levando até o aeroporto, alguns dias atrás, pediu para que eu entregasse meu aparelho celular (na verdade ele exigiu), falou algo sobre estar focada em fazer tudo da melhor forma possível e que, se eu realmente quisesse um, a família Schreave poderia me dar.

O jantar com Madame Amberly fora silencioso, e depois de alguns minutos de expectativas esperando Maxon, -será que nossa possível camaradagem ainda estava de pé?- tomei consicência de que ele não jantaria conosco esta noite, nem mesmo o Lorde. Amberly não falou mais do que a educação exige, e não consegui parar de me perguntar o porque de sua cara de preocupação. Bom, não que me interessasse de verdade.

Agora em meu quarto, sentindo a brisa morna que sopra e agita alguns fios de cabelo pelo o meu rosto, começo a pensar sobre toda a minha trajetória com Aspen. Desde que fiz 18 anos e nós nos encontramos pela a primeira vez, começamos a nos ver com cerca regularidade (geralmente em meados do verão). Ele ia para a minha casa, e o fato de ter que manter o relacionamento escondido da minha família e da dele apenas tornava tudo mais excitante. Falara para papai que Aspen era meu único amigo em Carolina (já que Marlee conseguiu uma vaga em uma universidade em outro estado), e ele não desconfiou de nada, ou fingiu que não estava vendo para me agradar. Talvez. Me escoro com os cotovelos na cerca da sacada e inclino levemente o meu corpo para frente. Pisco veementemente contra as lágrimas de saudade que ameaçavam cair. O que será que May estava fazendo agora?

Solto um suspiro áspero. Precisava de alguém para conversar, alguém pra me distrair. Quem sabe Maxon não estava precisando da mesma coisa? Automaticamente viro o meu corpo em direção a porta fechada, meus olhos fixos na madeira por alguns minutos. Existia a possibilidade dele querer uma amiga, não é?

Mas Maxon não apareceu. E, pensando bem, era óbvio. Ele é educado demais para aparecer no meu quarto a essa hora, ainda mais sem avisar. Acabo por abrir um sorriso. Porém, eu não sou tão educada assim. Desde quando America Singer espera pela a ação alheia?

Tiro minha camisola rapidamente e a jogo em cima da cama, visto um moletom vermelho com capuz e calça jeans. Nos pés, meus tênis surrados da Adidas daria conta do recado. Tão rápido quanto a ideia que surgiu na minha cabeça, saí porta a fora, rumando decididamente em direção ao terceiro andar. Enquanto atravesso o corredor largo e cheio de vasos com plantas e quadros, me dou conta de que mal dava para ver o piso de verdade, apenas o tapede aveludado de cor escura. Conforme eu acabava de subir o último lance de escadas, minha coragem começava a escorrer por água abaixo. Olho para o corredor estreito e longo do lado esquerdo, e logo depois para o corredor estreito e curto do lado direito. Forcei a memória até lembrar das palavras de Silvia enquanto dava as coordenadas do quarto de Maxon para uma das empregadas novatas.

...Última porta do corredor direito.

Respiro fundo e dobro para a direita, seguindo com passos firmes pelo o chão. Quando chego de frente para a porta dele, solto o ar devagar e não hesito quase nada para dar três soquinhos na madeira.

Escuto passos vindos do outro lado. Não demora para Maxon aparecer com uma blusa de manga curta branca e calção folgado. Quando me vê, ele parece dividido entre alguma coisa que eu não soube dizer.

–Posso entrar? - Pergunto, já que o gato aparentemente tinha comido sua língua.

Maxon pisca algumas vezes e, depois, acaba por sorrir.

–Por favor.

Entro a passos curtos, de repente acoada e arrependida de ter ido até lá.

Que diabos tinha me dado? Uma tarde agradável com ele não significava necessariamente que ele era meu melhor amigo, ou que, por ventura, me dava o direito de ir até o seu quarto na calada da noite, né? Escuto o som da porta se fechando. Olho para as paredes azul escuro, analisando a prateleira de uma parede inteira que continha carrinhos de brinquedo colecionáveis. Logo abaixo, um sofá bastante convidativo de couro branco contrastava com a parede. Um grande guarda roupa ficava na parede oposta, uma das portas estava aberta, revelando algumas peças de roupas. Sua cama é de casal, e a guarda é reta, de madeira branca.

No geral, seu quarto me revelava mais sobre o Maxon que vira hoje, do que seu escritório sem personalidade. Ali, parada em cima do carpete azul marinho, percebi que ele é um jovem comum, normal, até mesmo doce.

Ouço ele pigarreando e me viro imediatamente.

–Não e nada demais, mas é o meu lugar preferido aqui na mansão. - Diz, enquanto gesticula com as mãos para o quarto, e seus olhos analisam meu rosto, atento.

Abro um sorriso espontâneo.

–Pelo o contrário, achei bem interessante. - Respondo, com sinceridade.

Maxon sorri, depois olha para o seu relógio de pulso. Quando me olha de novo, a sua curiosidade e quase palpável.

–É quase meia noite. - Murmura.

Me abraço, jogando o peso de uma perna para a outra.

–Eu sei, mas é que...

–Tudo bem, não estou reclamando. Nada disso. - Seu sorriso se alarga. - Só estou surpreso.

Eu também estou surpresa, Maxon.

–Ah. - Penso por um instante antes de voltar a falar. - Lembra quando me perguntou o que a gente podia fazer pra se divertir?

Maxon põe as mãos dentro do bolso da bermuda, sua ccuriosidade só aumentava.

–Claro.

–O que acha de fazer algo que não seja típico pra você?

–Tipo?

–Sei lá. Vamos dar um passeio por aí. A pé.

Ele coça a lateral de seu rosto, pensando.

–Acho perigoso.

Jogo os braços pra cima, meus olhos brilhando de expectativa.

–Qual é, vai ser divertido.

–OK, mas vamos de carro.

–Não. - Bato o pé no chão e Maxon acha graça.

–É perigoso. - Repete ele.

–Você ja disse isso!

Maxon fica quieto. Ele não queria fazer aquilo, não sabia nem se eu mesma qqueria! Talvez fosse só uma forma de deixar de pensar em Aspen e minha família por algumas horas, ou porque sou irresponsável mesmo, e sentia falta. Bufo e passo por ele um tanto agressivamente.

–Deixa, não sei o que me deu. - Falo ao girar a maçaneta.

Maxon me impede de sair, segurando meu pulso firmemente. Quando me viro, ele está revirando os olhos.

–Vai ser divertido. - Digo de novo.

–Voce é uma doida, sabia?

–Eu sou a pessoa mais legal que você vai conhecer em toda sua vida!

Nos dois sorrimos.

–Então vamos.

Esperei alguns minutos até que ele trocasse de roupa no banheiro. Quando voltou, percebi que havia posto um moletom também e calça jeans casuais. Passo minhas mãos uma na outra, meu sorriso está no tamanho do meu rosto, eu podia sentir!

–Vamos logo antes que eu mude de ideia. - Balcucia ele, com a testa franzida.

Eu estava seguindo para o portão da frente, mas Maxon me impediu.

–Teremos que pular o muro. - Ele olha ao nosso redor, como se quisesse confirmar que estávamos sozinhos. - Meu pai é muito exigente com os guardas..., a não ser que queria sair de carro...

Bufo alto.

–Vamos pular o muro. - Retruco, já caminhando para o lado oposto, Maxon seguia logo atrás de mim. Assim que paramos diante de um baita muro, pus as mãos na minha cintura.

Lancei uma olhada para Maxon, mas ele estava fitando o nosso bloqueio de pedra.

–Não vai dar. - Murmura.

–Vai sim.

Olho para o lado e acabo achando uns banquinhos altos que estavam em volta de uma das mesas próximas a piscina.

–Me ajuda aqui. - Falo.

Depois de muita frustração e esforço, conseguimos pular o muro. Até que não foi difícil...particularmente, eu já estava acostumada a este tipo de "brincadeira", mas me surpreendi quando vi que Maxon teve tanta facilidade quanto eu.

Estamos andando pela a rua há mais ou menos uns 20 minutos. Londres era linda, e o bairro dos Schreave era digno de magnatas.

–Já está cansada? - Pergunta ele de repente. Balanço a cabeça de um lado para o outro.

–Não. - Me viro para ele. - E você?

Maxon morde o lábio inferior e sorri.

–Na verdade, não.

O empurro com o ombro de brincadeira, e Maxon faz o mesmo. Meu sorriso se abre ainda mais.

–Quer ver um lugar incrível? - Questiona.

–Com certeza!

Subimos uma rua um tanto íngrime até um parque. Felizmente, o portão estava aberto e pudemos entrar tranquilamente. Maxon caminhava na frente, me guiando por um amontoado de bancos de madeira bem conservados, árvores, áreas abertas e churrasqueiras. Mais ao fundo, subimos por uma escada já corruída pelo o tempo, até que estivessemos em um piso de concreto com várias partes mofas.

–Uau, incrível. - Debocho, com as sobrancelhas franzidas.

Maxon solta uma gargalhada.

–Você é sempre apressada assim?

–Sempre.

Seu sorriso agora mostra todos seus dentes branquinhos.

–Não chegamos ainda. - Ele aponta para mais um lance de escadas. Nossa, deveria ter vindo de regata, isso sim! Subimos e, para o meu terror, tinha mais uma escada para subirmos. Já com os bofes para fora, chegamos em uma área completamente aberta...como se fosse a laje de alguma casa. Começo a me abanar com uma das mãos.

–É legal. - Eu digo, sendo sincera. Sempre gostei de casas abandonadas, e aquela parecia uma a altura. Maxon põe as mãos em meus ombros e me olha com os olhos brilhando de expectativa.

–Minha cara, é aquilo que eu queria te mostrar. - Retruca, girando o meu corpo para o outro lado. Abro a boca em um pequeno O. Era lindo demais, juro! Aquele lugar era alto o suficiente para ver, acho eu, quase todas as luzes do centro de Londres. Cada casinha, parque, prédio...todos iluminados com brilhos coloridos.

–Nossa! - Foi só o que consegui dizer na hora. Era indrescrítivel. Como se fossemos privilegiados por anjos por poder ter aquela vista. Incrível, sem mais.

–Sei como é. - Diz ele, indo sentar-se na beirada do concreto. O imitei, nossos corpos ficaram bem próximos, mas não me importei porque minhas pernas balançavam perigosamente no ar, e seria mais seguro ficar perto de alguém que pudesse me segurar caso algo de ruim acontecesse.

Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas observando a beleza da cidade. Maxon retira seu moletom e o deixa em cima de seu colo. Sua camisa branca ficou grudada em seu corpo por conta do suor. Tive que me conter para não ficar olhando seus músculos. Bom, pelo menos agora estava explicado porque ele conseguia fazer esforço fisíco sem dificuldades.

E, então, ele me olha com um sorriso no rosto.

–Não está com calor? - Me indaga.

Resisto ao impulso de me abanar novamente.

–Não muito. - Respondo, com medo de que ele considerasse a possibilidade de eu tirar meu moletom também. O que, com certeza, não era uma boa ideia...considerando o fato de que estava apenas de sutiã por baixo.

Maxon estreitou os olhos em fendas.

–Sei.

Sorrio, ele também.

–Como foi seu dia? - Pergunta.

–Fiz muitas coisas. Tipo...- finjo pensar por um momento. - Ahn..nada!

Ele ri alto.

–Parece entediante.

–Você não faz ideia.

–Talvez eu faça. - Responde, suas sobrancelhas erguidas e um sorrisinho de lado.

Penso sobre aquilo.

–Bom, acho que trabalhar e trabalhar e trabalhar seja meio chato às vezes. - Digo.

–Às vezes é mesmo, mas eu gosto na maior parte do tempo.

–Menos mal.

–É.

Obrigo minha mente em pensar em algo para dizer, até que me lembro de algo que queria perguntar desde o dia do correio.

–Como sabia o dia do meu aniversário?

Ele franze os lábios e inclina sua cabeça para o lado.

–Eu tenho uma ficha ao seu respeito, America. - Responde, como se fosse óbvio até para uma criança.

–O quê? - Não pude evitar a perplexidade em minha voz.

–Você, com certeza, deve ter uma minha também. Está no contrato.

Solto um suspiro longo e pesado.

–Devo ter mesmo.

–Você não sentiu curiosidade sobre mim?

Dou de ombros.

–Talvez.

Maxon sorri e aperta minhas bochechas. Dou um tapa de leve em sua mão e começo a rir.

–Parece minhas tias!

Ele joga a cabeça para trás e dá uma gargalhada.

–Me desculpe, não pude evitar.

–Rum.

Quando dou por mim, estou sorrindo abertamente.

–Preciso que você me esclareça uma duvida. - Falo, ficando séria para poder dar credibilidade no que iria perguntar. Maxon me observa atentamente.

–Qualquer uma.

–Posso...ahn, por acaso sair da mansão quando eu quiser?

Ele reflete sobre minhas palavras por um bom tempo.

–Não tem nada no contrato que a impeça. Porém, deve avisar a mim ou alguém da família...até mesmo Silvia.

Assinto com a cabeça.

–Sou menos prisioneira do que pensava.

Maxon deixa sua mão em cima do meu joelho por alguns segundos. Sua expressão está terna.

–Não, não está. - Agora seu olhar estava muito divertido, sua voz também. - Mas não fuja, para o seu bem! Não invente de pular muros sozinha, e quando sair a noite, avise o motorista.

Dou uma risada.

–Sim, senhor.

–Temos um compromisso um com o outro, America. E, quero ser seu amigo nesse tempo, então vamos tentar facilitar as coisas. Nada de atrasos, nada de faltas e nada de me caluniar para os jornalistas!

Nós dois rimos novamente. Concordo com a cabeça e ergo meu minguinho. Maxon me olha com as sobrancelhas erguidas.

–Nossos pais firmaram este acordo entre eles, certo? Então agora faremos este nosso acordo entre nós mesmos. - Explico. Ele fica sério de novo e engata o minguinho no meu. Naquele exato momento, vislumbrei a imagem de May em minha mente, dizendo que isso era infantil demais. Acabo sorrindo.

Depois de um tempo conversando sobre assuntos variados e sem sentido (na maior parte do tempo ficamos rindo um da cara do outro), Maxon diz:

–Vou pra Miame.

Meus olhos brilharam. Mar, praia, calor...sol. Ahnw!

–Que sorte.

Ele dá um empurrão de leve na minha perna com o joelho e revira os olhos para, então, sorrir para mim.

–Vamos?

–Agora sim, hein! Já vi que vamos ser bons amigos!- Respondo ao dar um beslicão na perna que ele usou para me empurrar. Eu não conseguia parar de sorrir e, felizmente, percebi que ele também não.


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