A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 5
2.2




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A festa e ele

Ao entrar corro os olhos pelos os móveis rústicos a procura de Maxon, mas ele ainda não estava ali. Até relaxei os ombros e me sentei em uma das cadeiras com estofado negro, que ficavam de frente para uma mesa cheia de papeis, livros e algumas fotos. Do outro lado dela, uma cadeira maior e aparentemente mais confortável, estava a espera dele assim como eu.

Olho para os lados, observando o papel de parede neutro, quase sem personalidade. Há uma estante cheia de livros que parecem que nunca foram tocados, da onde eu estava, parecia que eram quase todos do gênero político. Acabo bocejando. Se aquela sala tinha a ver com Maxon...então ele era um tédio só.

Ouço o som abafado da porta sendo aberta e automáticamente endireito os ombros e deixo a coluna mais ereta que antes. Não me viro para trás, não precisaria, já que suas pernas eram longas e não demorou muito para ele sentar-se na minha frente. A luz do sol atravessava a cortina fina e clara, deixando uma parte do seu rosto com uma sombra escura. Falando em rosto, pela a primeira vez consigo vê-lo de verdade.

Seu cabelo é louro escuro, exatamente como havia constatado na noite anterior. Tinha os olhos da mãe, o que me fez indagar mentalmente se ele, por um acaso, seria gentil como ela. Sua boca é fina, mas bem delineada e o nariz é bem desenhado. Não iria mentir só porque gosto de outro cara, mas Maxon era realmente bonito.

Ele senta-se com as costas afastadas do encosto da cadeira e me olha por alguns segundos sem pronunciar uma palavra sequer. Me pergunto o que aquilo significaria. Maxon solta um suspiro, baixa o olhar para alguns papeis e então me encara novamente.

–A senhorita tem algo contra mim? - Questiona ele de supetão. Pisco algumas vezes pela a surpresa e abro a boca para dizer algo, mas sabiamente decidi permanecer calada e neguei com a cabeça, apesar de não morrer de amores por ele com toda essa palhaçada de casamento arranjado.

–Por quê? - Pergunto pra ele.

Maxon agora se encosta na cadeira e parece estar ponderando sobre algo.

–Bom, sua expressão quando cheguei não foi exatamente acolhedora.

Emudeci novamente e resisti ao impulso de encolher os ombros.

–Senhorita America, fica claro pelos seus olhos que tem algum receio quanto a tudo isso o que está acontecendo. - Começa ele ao por as duas mãos entreleçadas sobre a mesa. - Mas gostaria de deixar claro agora, que eu também estou receoso e que isso é novidade para mim também.

Percebi que deveria dizer algo, então disso simplesmente:

–Entendo.

Maxon franziu a testa e coçou uma de suas sobrancelhas para, então, me dar um sorriso cansado.

–A senhorita tem consciência de que fiz papel de idiota hoje pela manhã, certo?

Comprimi os lábios em uma linha rigida. Será que eu inventava alguma coisa? Não, nem tinha o que dizer para a minha defesa. Não fui porque prefiri ficar dormindo, simples...mas não que fosse dizer isso em voz alta.

–Sinto muito. -Murmuro com um fiozinho de voz. Eu me sentia como uma criança de 7 anos levando um sermão do pai. Constrangedor.

–America, minha cara, sei que não queria estar tendo esta conversa comigo. Está na cara. Também está óbvio para mim que não queria estar aqui, na mansão. Mas sinto informar que a senhorita tem um dever para comigo e...

Ergui a mão timidamente.

–Não precisa me lembrar que meu próprio pai me vendeu, Maxon.

Agora foi sua vez de permanecer calado. Sua expressão cansada se misturava com surpresa ou choque.

Porém, logo se recompôs.

–Agora estou entendendo o X da questão!- Exclamou ele mais para si mesmo, do que para mim. Levou seu dedo indicador até o queixo e, como sempre, seus olhos me avaliaram mais uma vez.

–Ah. - Disso quando ficamos tempo demais em silêncio.

Maxon inclinou-se sobre a mesa e me deu um sorriso tímido. Seus cotovelos fincaram-se na madeira e suas mãos se juntaram como se fosse rezar.

–Senhorita America, não se preocupe. Acredito que esteja pensando que eu quis toda essa história de casamento arranjado, mas me senti ultrajado assim como você quando me pai me contou. Ele quer muito o seu título de nobreza, diz que irá ser bom para a minha carreira, mas confesso que não gostei da ideia de ter uma garota desconhecida em minha casa. Não me agrada a ideia de fingir tanto quanto parece ser incômodo para a senhorita. - Ele dá um sorriso mais aberto quanto fixa o olhar em algum lugar distante, quando volta sua atenção para mim, ele concluí:

–Ainda mais uma garota sem modos. -Maxon queria parecer duro, mas os brilhos de seus olhos o denunciavam. De repente o brilho se foi, sua expressão tornou-se séria. - Só espero que não se esqueça do contrato. Fico muito entristecido em ter que lembra-la, mas farei sempre que julgar necessário. Hoje a noite temos uma festa importante para ir e, sinto muito em parecer deselegante, mas creio que com a senhorita tenha que ser nessa base de conversa, então eu exijo que apareça e se comporte.

Estava perplexa, enfurecida e triste, mas concordei com a cabeça. Maxon levanta-se e, com uma postura digna de um rei, se despede com um aceno de cabeça e saí porta afora.

Fico lá, jogada na cadeira, olhando para a brisa que balançava a copa das árvores no jardim. Ponho minhas mãos no colo e me endireito. Balanço a cabeça com força e fungo violentamente antes de voltar para o quarto. Pretendia pedir para Silvia que servisse o almoço ali, mas assim que abro a porta me deparo com Madame Amberly.

Ela está sentada com as pernas cruzadas na poltrona, quando me vê entrando um sorriso surge em seu rosto. Ao mesmo tempo, vejo que as portas do roupeiro estão abertas. Fico parada sem saber o que dizer ou como agir, então ela murmura:

–America, querida, se acomode, por favor. - Seu sorriso agora ilumina todo seu rosto. - Afinal, o quarto é seu.

Fico paralisada por um tempo e abro um sorrisinho amarelo antes de entrar. Sento-me na beirada da cama e a olho sem dizer nada. Estava esperando que ela explicasse o motivo de ter invadido o meu quarto. Não que eu não gostasse dela, mas era desconfortável saber que tinham entrado sem minha permissão.

–Você deve estar ciente de que temos uma festa hoje, não?

Concordo com a cabeça e não deixo passar fato de que ela era a única que não era tão formal comigo naquela casa, mesmo sendo elegante.

Madame Amberly imita meu gesto e tenho certeza que ela queria muito rir, só não o fez porque era educada demais pra isso.

–Suas roupas... - ela começa ao se levantar e passar as mãos pelas peças arrumadas dentro do armário. - Bom, não me leve a mal mas...nenhuma é apropriada.

Sinto minhas bochechas ferverem, mas finjo que estou normal.

–Eu sei! Não trouxe roupa o suficiente, sinto muito. - Digo com sinceridade.

Amberly faz um gesto com uma das mãos, dando a entender que não era nada demais. Passou por mim e parou diante da porta com as sobracelhas erguidas.

–Vamos? - Perguntou, como se fosse óbvio que era para segui-la e não ficar parada ali feito uma estátua. Sorri mais uma vez, mas senti um nervoso por não saber para onde estávamos indo.

Subimos para o terceiro e último andar, até entrarmos em um quarto deslumbrante, não havia palavra mais adequada para descrevê-lo. Tinha um espelho igual ao meu, mas não havia roupeiro e sim um closet inteiro. Ela abriu a outra porta e, juro por Deus, parecia uma loja de tanta coisa que tinha ali. Ou Amberly era consumista, ou tinha muito dinheiro atoa para gastar com que quisesse.

–Feche a boca, querida - brincou quando se voltou para mim com as mãos na cintura. Até aquele instante nem sabia que estava com a boca aberta.

Eu ri fraquinho.

Ela se esgueirou por um dos cantos do closet e foi capturando várias peças conforme ia passando pelas araras de cheias de roupas.

Quase duas horas mais tarde, eu acabava de me deleitar naquela banheira maravilhosa. Tinha despejado essência de tuti fruti e mesmo depois de ter me secado e me vestido com um dos diversos vestidos que Madame Amberly havia me dado, ainda podia sentir o aroma suave que emanava de minha pele. A maquiagem que decidi fazer foi um batom vermelho beeem escuro, um passada apenas de lápis preto, rímel a vontade e delineador.

Acabo por escolher o vestido preto e colado que ia até os joelhos e que acentuavam minhas curvas, mas que não tinha nenhum tipo de decote e era de mangas compridas. Eu era um pouquinho mais magra que a mãe de Maxon, então tivemos que ajustar em algumas partes, principalmente no busto e quadril.

Saltos fechados e não muito altos de veludo negro terminavam de compor o look para o meu primeiro encontro público com a família Schreave.

O Lorde Clarksinson, Madame Amberly e eu fomos em silêncio durante todo o trajeto rumo a festa mais balada da noite, de uma das revistas mais lidas da Inglaterra. Pelo o que fiquei sabendo, ela tratava de assuntos políticos de forma muito séria e seria um erro não comparecer. Maxon teve um problema do qual eu não fazia a mínima ideia do que era - e nem fazia questão de saber- e então acabou saindo mais tarde de uma reunião, não daria tempo de chegar em casa, por isso saiu direto do trabalho para a festa.

Quando chegamos fomos fotografados por vários jornalistas e eu me esforcei o máximo possível para sorrir de forma bonita, mas desconfiava de que não tinha feito nenhum trabalho excelente, porém, deve ter sido aceitável. Na entrada um guarda nos cumprimentou e verificou nosso nome em uma lista, após constatar que não erámos penetras sorriu e pediu para que aproveitassemos. Não demos nem dois passos para dentro e vi Maxon do ambiente bem iluminado e decorado de forma sóbria, mas com toque de cores frutais que contrabalançavam bastante um com o outro e acabou deixou tudo mais agradável. Ele estava usando tipo um terno, só que sem gravata. Sua camisa branca estava com três botões desabotoados e um sorriso encantador nos lábios. Assim que nos avistou, ele se aproximou de nós e fez um gesto para que eu engatasse meu braço no dele. Discretamente percebi que ele me olhou de alto a baixo, mas nada que fosse vulgar...ainda assim, senti uma quentura no rosto.

–Vocês chegaram quatro minutos atrasados. - Murmurou olhando para o pai e depois para a mãe.

O senhor Clarkinson balançou a cabeça em frustração.

–Trânsito. - Respondeu simplesmente.

–Queridos, fiquem a vontade...Clarkinson e eu temos um dever a cumprir agora para o bem de todos. - Disse Amberly, com seus olhos castanhos (iguais os do filho) fincados em um senhor muito bem vestido a alguns metros de mim. Ela sorria lindamente, mas seus olhos me davam a impressão de ser entediante ter que fazer aquilo. O Lorde concordou e soltou um suspiro áspero por entre um sorriso um tanto artificial.

Antes de partir, ele repousou as mãos no ombro do filho e falou:

–Você sabe o que deve fazer. - E então saiu para cumprir sejá lá qual fosse o seu dever.

Maxon ficou perdido em pensamentos por um instante e finalmente sua atenção se voltou para mim. Seu sorriso era gentil e os olhos amigáveis.

–Não vou fazer nada contra você. - Soltou depois de um tempo.

Pisquei várias vezes e o encarei, me perguntando silenciosamente se tinha feito algo de errado.

–Por quê diz isso? - Questiono com uma curiosidade genuína.

Maxon inclina a cabeça para um lado e me analisa antes de responder.

–Você está tensa.

–Você também está. - Rebati.

Ele pareceu achar graça, mas não comentou mais nada. Observei um homem com uma enorme câmera fotográfica se aproximar de nós, e instantaneamente Maxon me puxou mais para ele. Tentei não me importar com isso, mas foi complicado.

–Posso? - Indaga o homem com um sorriso bonito e ergue de leve o aparelho.

–Claramente. - Diz Maxon em tom formal, como sempre. Nos aproximamos ainda mais um do outro e ele decidiu que ficaria melhor se ele estivesse um pouco atrás de mim, então enlaçou minha cintura com o braço e eu, muito constrangida, deixei minha mão sobre a sua que repousava em minha barriga. Vários flashs se seguiram depois, enquanto sorriamos falsamente para a câmera e para as pessoas que veriam as fotos depois.

–A senhorita tem cheiro de bala. - Diz do nada. Eu ia responder algo, mas meu racícino se perdeu.

Enquanto eu me concentrava em me manter com uma expressão agradável, acabei ficando chocada com a pessoa que acabara de enxergar. Aspen estava vestindo com um terno azul escuro e estava acompanhado de um homem, que era seu pai. No exato momento em que o encarei, quase de boca aberta, ele se fixou em mim também. Meu corpo inteiro parecia que tinha entrado em um estado de torpor não explicável.

Só fui cair na real quando sinto o hálito quente de Maxon contra o meu pescoço e sua voz baixinha em meu ouvido.

–Por gentileza, preste atenção no que está fazendo. - Murmurou. Voltei a olhar o homem diante de nós que, aparentemente, esperava com que eu voltasse para o planeta Terra.


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