A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 4
2.1




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O jantar e Maxon

Já havia almoçado, fuçado em cada gaveta que tinha no quarto, olhando pela a janela enorme que dava para o jardim, mas, ainda assim, não conseguia relaxar. Olhei para o meu relógio prata de pulso e constatei que logo seriam 19:30 da noite.

Que horas os Schreave costumavam jantar?

Minhas roupas ainda estavam dentro da mala, não fiz o mínimo esforço para gardá-las no roupeiro espelhado. Porém, agora precisava encontrar alguma peça de roupa adequada para a ocasião. Joguei-as em cima da cama, procurando por algo que não fosse casual demais e nem chique demais. Solto um grunhido abafado assim que percebo que trouxera apenas roupas casuais...tênis, jeans e camisetas.

Esperançosa, pego minha bolsa do chão e a sacudo freneticamente só para ter certeza de que não havia nada que preste ali. Só que, para a minha alegria, um pedaço de tecido rosa bebê caiu no carpete felpudo e vermelho escuro. Ponho uma mão aliviada sobre o peito e dou um sorriso nervoso.

Após o banho quente e relaxanate -precisva ser rápida então tristemente deixei a banheira gigante de porcelana para a próxima vez), vesti aquele vestido simples, mas bonito. Ele se adaptava ao meu corpo perfeitamente, marcando minha cintura e com uma saia levemente esvoaçante que ia até os joelhos. As alsas finas não combinavam em nada com o clima quase frio demais da Inglaterra, mas eu sou America, uma jovem de Carolina, acostumada com calor e banho de mar. Acredito que, mesmo o vestido sendo basicamente de veraneio, não pegaria mal e, além do mais, dentro da mansão estava em torno dos 24 graus, o que era ótimo pois não passaria frio.

Enquanto deslizava a escova de cerdas macias pelo meu cabelo até que ficassem praticamente lisos, ponderei sobre o meu problema com as roupas. Claramente fora May que enfiara o vestido dentro da minha bolsa, ela sempre me elogiava quando eu o vestia. Mas e quanto aos próximos dias?

Antes de chegar aqui, não tinha nenhum plano concreto, apenas queria infernizar a vida de Maxon até que ele me mandasse embora para os Estados Unidos novamente. Porém, após muito refletir, decidi amadurecer a ideia. Tinha que ser discreta, e não me comportar como uma rebelde. Se eu tivesse pensado nisto antes, com certeza teria trazido roupas melhores!

Uma única batida suave na porta me fez acordar de meus devaneios. Deixo a escova em cima da cômoda e passo as mãos pelo o vestido como se quisesse deixar o pano mais liso.

–Senhorita- cumprimentou-me assim que abri a porta. Meu coração ameaçou sair pela a boca.

–Ah...oi.

–O jantar será servido dentro de 15 minutos. - Murmurou ela com voz de soprano.

Concordo com a cabeça e tento sorrir.

–Não vou me atrasar. - Respondi. A moça assente com a cabeça e parte em retirada.

Fechei a porta com um baque suave e, por um momento, pensei que meu coração pararia de bater. Caminho em direção ao espelho absurdamente incrível, que era praticamente uma parede inteira do quarto, e observo meu rosto pálido e úmido de suor frio. Tento me acalmar respirando profundamente milhões de vezes, mas não era o suficiente. Eu não estava preparada para aquilo, não ainda. Andei em círculos pelo o ambiente inteiro a passos tensos e rígidos.

Com uma mão na cintura e a outra sobre a testa, decidi que amanhã estaria melhor. Mas como eu evitaria o jantar? Fingindo uma enxaqueca pesada?

Não, seria como assinar minha sentença de morte. Me conhecia bem o suficiente para saber que não sabia mentir direito sobre estar doente, a verdade sempre ficava explicíta na minha cara. Lembrei-me de quando fingi que estava mal para não ir pro colégio certa vez, mas mamãe percebeu no ato e me deu um baita sermão sobre mentiras.

O walktalk chiou e a voz de Silvia invadiu o quarto.

–Senhorita America, o 1ª ministro e sua esposa estão lhe esperando juntamente com a família Schreave. O senhor Clarkison e Maxon querem fazer a sua primeira apresentação extraoficial como sendo da família. - Há uma pausa, mas eu sei que ela ainda está na linha, pois escuto o chiado vindo do aparelho. Escuto outra voz abafada do outro lado, mas não consigo entender o que está dizendo. Silvia responde algo ininteligível e volta sua atenção novamente para o seu comunicado e concluí: - Por favor, se apresse...a senhorita tem cerca de 4 minutos para chegar até aqui. Já enviei uma das funcionários para irem lhe buscar. Até logo.

Silvia não esperou respostas e desligou. Automaticamente volto o meu corpo para a porta, esperando que alguém aparecesse magicamente ali. Não conseguia compreender, não poderia ser convincente, eu apenas havia visto uma foto de Maxon minha vida inteira!

Já mal sabia mentir, ainda mais quando não tinha a mínima ideia do que iria dizer.

Me sento na poltrona que está próxima da janela e escondo o rosto entre as mãos. Poucos segundos depois, ouço uma batida na porta. Então, juntando toda a coragem que eu tinha -sempre me considerei corajosa, não falharia agora- me ergui, alinhei os ombros e atendi a pessoa do outro lado. Era uma mulher com cabelos louros e presos num rabo de cavalo e de feições tranquilas e delicadas.

–Boa noite. - Eu digo, e recebo um sorriso em troca.

–Sou Lucy. - Se apresenta ao fazer um sinal para que eu seguisse junto dela até as escadas. - Silvia pediu para lhe avisar que estão esperando a senhorita. - Murmura. Eu apenas assinto com a cabeça.

Descemos os degraus lentamente, mesmo estando claro para mim que Lucy queria ir mais rápido. Assim que chegamos no salão principal, ela me acompanhou até uma sala aconchegante, com um lustre grande pendurado no teto. A mesa tinha lugar para umas 30 pessoas sem dificuldade, mas apenas 4 pessoas a ocupavam.

Um homem, ao que julguei ser o Lorde, fez um sinal para que Lucy se retirasse. Ela assentiu discretamente e partiu rapidamente, se fosse um pouco mais rápido poderia dizer que havia corrido.

Um jovem levantou-se e sorriu de forma afávell.

–America! - Chamou-me e indicou um lugar ao seu lado. Por um breve momento, esqueci de como se caminhava.

De cabeça baixa (e diga-se de passagem que isso é raro para mim), caminhei e me sentei no lugar onde ele indicara. Mal olhara seu rosto, sabia apenas que ele tinha cabelos bem penteados para trás e louros.

–Boa noite a todos - cumprimento, me sentindo desconfortável.

–Estávamos te esperando, America. - Diz o Lorde Clarkinson com um sorriso, mas sentia que ele esperava que eu não me atrasasse mais. Corei um pouco as bochechas.

–Me desculpe a demora. - Foi só o que fuiz capaz de dizer naquela hora.

–Não tem problema, querida. - Murmura uma mulher de cabelos escuros que caíam até os ombros, seus olhos são de uma cor de chocolate muito bonita. Ela parecia realmente gentil, então me permiti relaxar um pouco. Mas só um pouquinho.

–Sua noiva é muito bonita, Maxon. - Elogiou o 1ª ministro, olhando para Maxon com os olhos brilhantes. Sua esposa parecia ser do tipo caladona e apenas concordou com a cabeça. Será que era assim que eles esperavam que eu me comportasse? Um rosto bonito que apenas sorria e concordava com tudo o que Maxon dizia?

Bom, não era difícil, mas teria que me concentrar bastante para não soltar nenhuma pérola.

Olhei de soslaio para Maxon, ele parecia tão calmo! Devia estar acostumado a mentir, o que apenas aumentou o meu enjoo.

Conviver com ele deveria ser um saco.

–Uma bela dama, com certeza senhor Michael. - Respondeu.

Me mantive quieta a maior parte do tempo, sentindo meu rosto vermelho sempre que se dirigiam à mim. Graças a Deus que foram poucas as vezes, e me perguntaram apenas como era os Estados Unidos ou alguma curiosidade sobre lá ou minha família. Quando pronunciei o meu completo, ele e a sua esposa, que ouvi chamarem-na de Meredith, trocaram um breve olhar. Ele abriu ainda mais o sorriso, obviamente satisfeito com a minha linhagem e, então, fitou Maxon com aprovação.

Cerca de uma hora após minha chegada nada triunfal na sala, me retirei. Pedi desculpas pelo o incômodo, mas estava me sentindo um pouco mal. Ao que parece, ninguém pareceu se importar realmente, já havia feito o meu serviço de qualquer maneira, agora eu estava dispensada.

Assim que cheguei no meu novo quarto, tranquei a porta. Peguei uma folha de caderno e me sentei à escrivaninha e escrevi para Aspen, mesmo não fazendo a mínima ideia de como enviaria aquela carta.

Com minha caligrafia mais ou menos e tinta azul, lhe disse:

"Aspen

Estou tão perto de você e ao mesmo tempo tão longe! Queria que estivesse aqui. Hoje tive que jantar com pessoas desconhecidas e representar um papel que, ao meu ver, nem estava bem definido. Com certeza não representei direito, mas acredito que como foi de supetão eles irão relevar. Você tinha que ver como Maxon foi falso, fingiu que já me conhecia com um sorrisão no rosto! Não sei se vou suportar, terei que fazer isso tão bem quanto ele.

Não sei como vou enviar esta carta para você de forma segura mas, quando receber, me envie seu número de telefone.

Com amor,

Sua America."

Demorei muito tempo para pegar no sono, acho que já era quase três da manhã e, quando finalmente aconteceu, dormi feito uma pedra.

Acordei com alguém me cutucando.

–Senhorita? - Chamou uma voz feminina. Não respondi. - Senhorita?!

Pus um dos travesseiros sobre a cabeça.

–Me deixa em paz - exigi, meio grogue. Não tinha nem certeza se estava realmente acordada.

–A senhorita tem uma sessão de fotos hoje com senhor Maxon. - Murmurou ela com urgência.

Aquilo parecia importante, mas minha cama estava tão quente, tão macia. Decidi que dormir era mais importante.

–Me deixe dormir, pelo o amor de Deus! - Choraminguei com a voz rouca pelo o sono. Dei uma olhadinha para o relógio da cômoda que ficava ao lado da cama e vi que era oito horas da manhã. Oito horas, quase madrugada.

A funcionária suspirou exausta.

–A senhorita não vai se levantar mesmo?

–Não.

Podia quase ouvir sua mente em duvida, pensando se seria certo me deixar ali ou me puxar pelos os cabelos para fora da cama.

Depois de alguns segundos, ouvi a porta sendo fechada. Eu sorri contra o colchão e um segundo depois já estava dormindo de novo.

Acordei um pouco antes do meio dia. Me sentei na cama com o travesseiro sobre o colo e esfreguei os olhos. Agora que dormira o suficiente, eu começei a me preocupar com a possibilidade de não ter sonhado, de que realmente acabei perdendo uma sessão de fotos com o meu suposto noivo.

Me levantei jogando os cobertores no chão e me ergui rapidamente. Eu estava assustada agora que minha mente clareava. Só esperava que isso não acarretasse ao um cancelamente do contrato do qual minha família possa sair prejudicada. Tomei o banho mais rápido que já tomei na vida, vesti meu jeans preferido e uma camisa de manga comprida e preta.

Quando desci a escada, logo avistei o Lorde se aproximando de mim. Engoli em seco e tentei abrir um sorriso ingenuo.

–Bom dia - falei para ele.

O senhor Clarkinson olhou para o seu relógio de pulso e sua boca curvou-se um pouco para baixo.

–Boa tarde. - Eu corei naqule exato momento. - Maxon está esperando a senhorita em seu escritório para colocarem todos os pingos nos is. - A forma como pronunciou as palavras me fizeram tremer um pouco.

Estava prestes a abrir a boca para lhe dizer que não sabia onde ficava, quando ele pediu para uma mulher que passava com uma bandeja vazia nas mãos para que me levasse até lá.

Ela me levou para a ala norte da mansão, então dobramos para um curto corredor. De um lado havia uma janela aberta e um vaso com uma planta enorme. Do outro, uma porta que julguei ser a do escritório de Maxon.

Meu coração acelerou e minha mente se agitou em inventar uma desculpa plausível, mesmo eu sabendo que não havia.

–É só entrar...- murmurou a mulher, me olhando mais do que o necessário antes de sair.

Ponho a mão na maçaneta e respiro fundo antes de girá-la e entrar.


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