A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 18
3.2




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Confusa

"Então quando eu estiver pronta para ser corajosa,
E minhas feridas curarem com o tempo
O conforto irá descansar em meus ombros
E vou enterrar meu futuro para trás
Eu sempre vou guardar você comigo
Você sempre estará em minha mente
Mas há um brilho nas sombras
Eu nunca saberei se não tentar"

Home - Gabrielle Aplin

Nossos lábios estavam separados por menos de um centímetro quando fomos interrompidos, fazendo com que Maxon soltasse um ruído baixo e exasperado do fundo de sua garganta. Olhei para trás, afim de ver quem fora a pessoa que pigarreou para nos chamar a atenção, e elá estava Lucy, com seus cabelos castanhos claros presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça. Seu sorriso estava muito contrangido e sua expressão pedia desculpas. 

—Me desculpe por interrompê-los, mas é que sua mãe quer saber que irá jantar em seu quarto hoje, senhor Maxon. - Falou ela com os olhos baixos. Maxon solta um suspiro pesado, mas logo abre um sorriso educado para Lucy.

—Diga a ela que vou descer. - Ele agora fita o meu rosto com intensidade. -É bom ficar perto das pessoas das quais no sentimos bem. - Concluiu, abrindo minimamente o seu sorriso. Mordo o lábio e desvio o olhar, sentindo meu coração um pouco mais acelerado que o normal.

—Claramente. - Ela lança um olhar discreto entre mim e Maxon e inclina a cabeça para baixo levemente. - Com licença. - E então se afasta com passos rápidos e precisos. 

—Melhor eu ir me arrumar para o jantar. - Digo eu, voltando o meu olhar para o seu, vendo-o fazer uma careta desapontada. 

—Acho melhor você ficar aqui, ainda estou muito debilitado por conta da bala. - E assim que termina a frase, ele pisca os olhos de um jeito inocente. Começo a rir na hora, então ele me rouba um selinho e eu fico paralisada por apenas dois segundos, antes de abraçá-lo muito forte de novo. - Deveriamos ter ficado dentro do quarto, e não parados na porta como dois idiotas. - Observou ele. Solto uma risadinha.

—Temos muito tempo ainda. - Murmuro, me afastando levemente para fitar dentro de seus olhos e erguer um dos ombros. - Não é?

Maxon inclina sua cabeça para o lado, e abre um sorriso de covinha.

—Temos todo o tempo que você quiser. - Responde em voz baixa, fazendo com que meu estômago se agitasse novamente.

—Depois do jantar a gente conversa, pode ser? - Pergunto, dando passos para trás antes que acabássemos trancados dentro do quarto. Ele estende uma mão para mim, me puxando para mais perto mais uma vez.

—Vou esperar você. 

Lhe dou um beijo demorado no canto de sua boca e ele me lança um olhar especulativo. 

—Até depois. - Falo eu, sorrindo de lado e me afastando ainda de costas. Quando bato em uma mesinha com um vaso de flor (que quase caiu por sinal), me viro para frente corada. Arrisco um olhar para Maxon, e ele balançava a cabeça e dava um sorriso misturado com uma risada, sei lá. 

Assim que cheguei ao segundo andar e dobrei o corredor para chegar até o meu quarto, dei de cara com o Lorde Clarckson e imediatamente meu sorriso se desfez e meus ombros ficaram rigídos.

—America, quero continuar a nossa conversa anterior, se importa? - Pergunta ele com a voz firme, mas menos dura do que da última vez em que conversamos. Puxo um fiozinho da blusa que usava e confirmo com a cabeça, tentando parecer confiante.

—Claro. - Respondo.

O Lorde olha ao seu redor. 

—Não precisamos ir muito longe, é rápido o que eu tenho para te dizer. Na verdade, é um conselho que eu espero que você siga a risca, para o seu próprio bem. - Afirma, se aproximando de mim com aquele ar de realeza, mas que não me intimidava. Não muito.

—Não sei do que está falando. - Falo, minha voz soando um pouquinho trêmula. Ele abre um sorriso nada simpático.

—Fiz esse contrato com seu pai porque queria que meu filho se casasse com uma dama da sociedade, America. E Shalom me prometeu isso. Maxon precisa de uma mulher comportada. - Clarckson arqueia suas sobrancelhas, enquanto seus lábios curvam-se para baixo. - Antes de você chegar aqui, Max nunca teve qualquer desvio de comportamente, obediente, um filho exemplar. Nada me tira da cabeça que essa ideia de sair escondido no meio da noite partiu de você. Siga a sua parte do contrato perfeitamente, e assim não precisaremos nunca mais ter esse tipo de conversa. Você entendeu?

Engulo em seco e sinto meu rosto corado. Ele tinha razão, talvez eu fosse tipo uma má influência para Maxon. Não, ele não merecia se envolver com alguém como eu. Talvez eu não fosse a mulher ideal para ficar ao seu lado.

—Entendi, Lorde Clarkson. - Murmuro quase como um sussurro.

Ele abre ainda mais o seu sorriso, mas seus olhos estão graves e sérios.

—E não se esqueça. Muitos advogados rondam a nossa casa, a pedido do seu pai para visar que tudo seja cumprido como deve ser, não deslize, pois também tenho os meus. Boa noite, querida. - Informou, dando-me um breve aceno com a cabeça e caminhando calmamente, com as mãos no bolso, em direção às escadas. Fico ali, parada por um tempo, absorvendo a última informação que o Lorde me dera. Ao me encontrar com Aspen, eu estava arriscando muito mais do que imaginava. 

Durante o jantar fiquei quieta, o máximo que eu fazia era sorrir e concordar com que a família Schreave dizia. Eu ainda estava atordoada, meus pensamentos iam para todo o lugar, menos ali. Sinto um aperto no peito, queria tanto estar em casa, no colo da minha mãe, abraçada por papai e May tentando me fazer rir com alguma de suas palhaçadas ou caretas. Mas mamãe morrera, e meu pai e May não estavam ali.

Queria sentir o meu colchão, as minhas paredes que eu pintei junto com Marlee quando tinha 18 para 19 anos. Queria a minha escrivaninha, queria que minha vida fosse normal. 

—America? - Me chamou Amberly, fazendo com que eu me desprendesse de minhas digações por um instante.

—Sim, Madame. Quer dizer, Amberly...desculpa. 

Ela sorri para mim, e com o canto do olho vejo que Maxon me olhava com um ar de interrogação e preocupação.

—Não tem problema. Eu estava perguntando sobre quem vocês gostariam de convidar para serem os padrinhos no casamento. 

—Ora, Amberly! Não há necessidade de escolher, pegue qualquer um. Tenho amigos no parlamente confiáves que adorariam participar. - Interrompeu o Lorde, com um ar indiferente.

Amberly encara o marido com os olhos estreitos, logo dois ergue os ombros e me fita novamente.

—Como eu disse antes, você já sabe quem quer convidar? - Continuou ela, como se o Lorde não a tivesse interrompido. 

—Tenho uma amiga muito importante pra desempenhar esse papel. - Afirmo, imaginando a cara de espanto de Marlee quando chegasse aqui. 

Naquela noite eu não fui ver Maxon, não queria nada além de me encolher embaixo dos cobertores. Aquela não tinha sido a primeira conversa que tivera a sós com o seu pai, não mesmo. No dia em que Max fora baleado, ele exigiu que eu não fosse vê-lo no hospital, disse que eu já tinha dado estrago demais para a família, e que a culpa devia ser minha.

Eu obedeci, mesmo sentindo que meu coração se despedaçava um pouco com cada ligação que eu  ouvia, temendo que algo de ruim tivesse acontecido com Maxon. 

 

Não conversei muito com Maxon no outro dia e nem no seguinte, ele estava muito atarefado e eu decidi que era melhor deixá-lo em paz por um tempo. No horário da tarde, Lucy bateu em minha porta com uma carta em mãos. Ela sorriu brevemente, entregando-a para mim antes de sair do meu campo de visão. Caminho até a cama, sentando na beirada, e rasgo o papel para poder ver o seu conteúdo. Era de Aspen. 

"America, 

Meri, estou ficando louco sem você! Por quê não me liga ou me envia mais as cartas? Não fiquei magoado com a sua decisão, caso seja isso que te preocupa, apenas quero que nos encontremos novamente, quero beijar você. 

Me mande notícias, qualquer coisa. 

Amo você."

Li a carta mais de uma vez, implorando para o meu coração sentir a mesma alegria de sempre quando lia algo que Aspen me enviava, mas não veio. Não integra e genuína, pelo menos. Ela estava ali, mas misturada com um sentimento desagradável de culpa e tristeza. 

Será que eu ainda amava Aspen? Será?

Enquanto eu não tivesse certeza do que sentia, iria evitar me encontrar com ele. Não era justo com ele próprio, nem com Maxon, e nem comigo.

Guardo a carta no vão do colchão e pego o livro que escolhi hoje na biblioteca dos Schreave, Romeu e Julieta. Um romance trágico e que eu já sabia de cor, mas eu gostava disso...de saber como tudo vai acontecer e acabar, assim eu não precisaria lidar com essa apreensão rídicula que ultimamente habitava dentro de mim na literatura também.

 

 

Acordei com ao som de batidas na porta. Me espreguiço e prendo o meu cabelo em um coque no alto da cabeça antes de me levantar e abri-la. Era Marlee, com o seu cabelo louro escuro, que agora estava mais comprido, quase na metade das costas e as pontas mais claras. Sua pele está bem bronzeada, e deixou claro para mim que estava passando bastante tempo na praia. 

Seus olhos castanhos pareciam indecisos, parece que estavam em duvida se me abraçava ou se me batia. Decidi por ela, encurtando o espaço entre nós e esmagando o seu corpo contra o meu.

—Como eu senti a sua falta, Lee!

Ela deslizava uma das mãos pelas as minhas costas, e quando nos afastamos pude ver seus olhos marejados. 

—Eu senti a sua mais ainda! - Retruca, dando uma risava entrecortada com uma fungada alta. 

—Você continua a mesma manteiga derretida que eu tanto amo. - Disse eu, puxando Marlee para dentro do quarto e fechando a porta em seguida.

Ela seca os olhos com as costas das mãos, e então põe as mãos na cintura e tenta ficar séria. 

—Chega de lenga-lenga. Você tem muito para me explicar.

Solto um suspiro pesado e culpado.

—Eu sei, tenho muito pra te contar. - Falo, indo até o sofá e sentando ali. - É melhor você sentar, a história é um pouco longa. 

Marlee abre um pequeno sorriso animado, ela adorava histórias, ainda mais quando eram verdadeiras. 

—Não me esconda nada! Quero saber porque diabos você está nessa mansão que mais parece um castelo, saber DESDE QUANDO VOCÊ ESTÁ NOIVA? Você se apaixonou finalmente e nem se prestou a me contar? Pelo o amor de Deus, Meri, isso não é amizade! - Solta ela num jato, tão rápido que tive que me concentrar em suas palavras para poder entender. 

—Eu sei, eu sei. Mas você vai entender tudo agora, tudinho. 

E então comecei a contar cada detalhe, desde a morte de minha mãe. Expliquei o motivo de eu implicar tanto com o meu pai, o por quê de eu evitar os rapazes na escola e sobre Aspen, que ela conhecia por cima. No final de tudo, sua boca estava aberta em um perfeito O e seus olhos levemente mais abertos que o normal. 

—Você devia ter me contado antes! - Ela se levantou da cama muito rápido e se jogou sobre mim, me abraçando tão forte quanto eu fizera há um tempo atrás. - Não precisava ter carregado isso com você durante tanto tempo, eu não iria contar a ninguém.

—Sou uma idiota. Você me perdoa? - Pergunto com os olhos baixos. Eu sabia que Marlee era de confiança, mas não consegui contar antes.

Ela me deu um tapa na testa e um beijo demorado na bochecha.

—Óbvio. Para que servem as melhores amigas?  - Então se afasta e fica de pé diante de mim. - Mas agora eu quero vê-lo! - Exigiu com os olhos brilhando de animação.

—Ele quem? - Quis saber.

—Maxon Schreave, que segundo seus relatos é lindo e beija bem. Eu quero veeeeeer!

Acabo rindo um pouco.

—Max não está. - Digo. Marlee abre um sorriso que consumiu quase o seu rosto inteiro.

—Ui, Max!!! Max para cá, Max para lá! Quem diria, hein, America? A durona está cheia de apelidinhos para o noivo e intimidade. Tem mais algum apelido pra ele? - Pergunta ao esfregar uma mão na outra.

—Todynho, mas esse eu não sou capaz de falar em voz alta. - Confesso, sentindo minha bochecha quente.

Marlee riu muito mesmo, de verdade. Tanto que tive que pegar uma almofada e jogar em direção ao seu rosto com força pra ela parar.

—É melhor continuar a não falar em voz alta, Meri. - Pediu ela, colando uma palma da mão na outra diante do rosto. - Nunca mais pronuncie isso em voz alta.

Eu ri alto. 

—Vou me controlar. 

 

A tarde fomos até o shooping, Marlee estava extasiada com Londres, assim como eu fiquei. Sentamos uma de frente para a outra em um pequeno bistrô e pedimos capuccino, nós adorávamos isso. 

—Tá, então vocês terminaram? - Perguntei, curiosa.

Lee balançou a cabeça com vigor.

—Sim, ele não é o tipo certo pra mim. É bonzinho demais, e tinha outro...mas aquele era malicioso demais, tem ser equilibrado. - Explicou ela ao bebericar o líquido de dentro da xícara. Ela sempre fora mais namoradeira que eu, se apaixonava todo ano por no mínimo dois ou tres rapazes, muito diferente de mim. - Mas agora estou focada nos estudos mesmo. 

—Você vai ser uma ótima médica. - Digo eu com sinceridade, recebendo um sorriso aberto e cheio de dentes.

—Obrigada. - Agradeceu, então de repente algo chamou atenção dela atrás de mim. Eu quase me virei para ver o que era, mas eu fiquei com preguiça, e eu sabia que logo ela me contaria e eu nem precisaria perguntar. - America. A-ME-RI-CA. Você não vai acreditar em que está olhando pra cá sem parar. 

Franzo as sobrancelhas e penso por um momento.

—Não sei. Quem? 

Marlee está com uma expressão indecifrável.

—Aspen Leger. 

—O quê?! - Minha voz soou alta demais, e um casal que estava a algumas cadeiras de distância nos olhou por cima do ombro. Tapo a boca com uma das mãos. -Mentira, diz que é uma brincadeira sua. 

—Não é brincadeira. Você já não tá acostumada a se encontrar com ele por acaso? 

A fuzilo com os olhos.

—Não é um bom momento para me encontrar com ele.

—Bom, sinto informar que ele está se aproximando rapidamente.

E era verdade, segundos depois ele passou pela a nossa mesa e fez um sinal para que eu o seguisse. Aspen entrou em um pequeno espaço, discreto, mas não o suficiente. Respiro fundo e me levanto da mesa.

—Me espera, já vou voltar. - Murmuro.

Olhando para os lados a todo momento, encontro com Aspen escorado na parede com os braços cruzados. Seu olhar está triste.

—Como sabia onde eu estava? - Perguntei, enquanto olhava para trás por sobre o meu ombro. Quando fito novamente o seu rosto, sua expressão está levemente desapontada.

—Pensei que você diria que estava com saudade, que isso fosse a última coisa que iria querer saber. 

Deslizo uma mão pelo o meu rosto.

—Desculpa, estou um pouco nervosa. - Respondo, sendo verdadeira. Aspen me puxa pela a cintura, aproxiamando o meu corpo do dele. - Olha, acho melhor a gente não ficar tão perto assim. - Falo, empurrando o seu peitoral com as duas mãos, mas ele me apertou forte. 

—Por quê? Não sentiu minha falta? Falta do meu beijo? - Pergunta ele, com o hálito quente contra o meu rosto. Fecho os olhos por um segundo. 

—Aqui e agora não é o momento certo pra isso. - Respondo.

—Para, America! Ninguém vai nos ver aqui. - Retrucou com aquele sorriso que muitas vezes me fez perder a coerência, mas não agora. 

—Aspen, me solta. - Exigi com a voz firme. Hesitante, ele me soltou, sua testa está franzida

—Eu te fiz alguma coisa? Você não me responde mais. 

Sinto uma sensação ruim dentro de mim. Abaixo a cabeça.

—Não... - respiro fundo. - Eu não sei, Aspen. 

Ele deu um chute na parede, as mãos voaram para os seus próprios cabelos. De repente, aquele temperamente estourado dele já não me descia mais, não era mais tolerável. 

—Tenho que ir. - Afirmei, pronta para virar as costas.

—É ele, não é? Você gosta dele? - Pergunta pra mim, me olhando intensamente dentro dos olhos. Seu olhar trazia tanta decepção que eu temi que poderia acabar mentindo apenas para não magoá-lo ainda mais. 

—Gosto. - Sussurrei, sabendo que falara a verdade. Pronto, era isso. Eu gostava muito de Maxon, e não era certo com nenhum dos dois eu ficar com um ou com o outro sempre que houvesse a oportunidade.

Seus olhos marejaram.

—Eu sempre soube. Eu sabia que isso ia acontecer.

—Aspen, eu...é recente, eu... - estava tentando procurar as palavras certas para explicar o turbilhão de emoções que me tomavam, mas eu não conseguia.

—Você ainda gosta de mim? - Pergunta com a mandíbula trincada, e não pude deixar de notar a fagulha de esperança no fundo do seu olhar.

—Eu não sei...eu acho...acho que sim. - Olho para todos os lados, sentindo que poderia sufocar a qualquer momento. - Tenho que ir, Marlee está me esperando.

—Por favor, America!

Sacudo a cabeça e deixo uma mão sobre a minha testa.

—Sério, Aspen. Eu não posso te responder agora. Eu tenho que ir. - Repito.

—Eu amo você. - Sussurrou ele. Eu queria dizer que também o amava, mas alguma coisa tinha mudado. Não conseguiria afirmar aquilo, nem mesmo se quisesse. Não por enquanto, pelo o menos.

—Tchau, Aspen.

 

 


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