Beatrice e Matheus escrita por ACL


Capítulo 29
Boatos




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O luto de Bia pelo seu relacionamento com Caio durou muito pouco. Três dias, sendo mais específica. Foi tempo suficiente para ela se dar conta que não estava tão apaixonada assim e perceber algumas de suas atitudes idiotas, desenvolvendo o que hoje em dia chamamos de ranço.

O primeiro dia de luto foi a segunda-feira do término. Bia chegou em casa chorando, depois de uma curta e vergonhosa caminhada de algumas quadras, mais grata que nunca por passar as tardes sozinha. Não falou com ninguém naquele dia, e nem quis abrir o resto dos presentes. Tudo o que fez foi comer alguns docinhos que sobraram e chorar no quarto.

No segundo dia, ela teve que encarar a escola e os amigos. Bia estudava numa escola composta por fofoqueiros tão assíduos que faziam a Gossip Girl parecer brincadeira de criança. Ela sabia que seria o assunto da semana. Quase não foi para a aula, mas Clarisse surtaria caso faltasse, mesmo a última semana de junho sendo a mais inútil do ano escolar inteiro. Na terça, Bia contou para os amigos que estava solteira de novo, e recebeu reações completamente diferente de cada um dos seus amigos. A maioria do seu grupo ficou feliz por ela, e a porta-voz deles foi Júlia.

— Ainda bem, né? — Ela disse. — Todo mundo aqui sabe que Caio não presta.

Era verdade, mas rendeu uns olhares reprovadores na direção de Júlia pelos outros três amigos do grupo que estavam preocupados com os sentimentos de Bia. Valentina estava nesse segundo grupo. Matheus concordava com os dois, mas tinha algo mais. Uma pitada de esperança, um suor frio e aquela sensação que chamam de borboletas no estômago, mas eu odeio esse nome.

Caio não foi à escola naquele dia, o que deixou Bia um pouco aliviada. Mas só um pouco, porque todos os alunos, pelo menos os do ensino médio, comentavam sobre eles. Bia fez questão de se isolar com os amigos nos momentos de intervalo e quando não podia se isolar, ela fez questão de ouvir música no volume mais alto que o celular permitia.

O terceiro dia foi menos difícil, e foi quando ela se desligou de vez do relacionamento. E foi graças a Olívia.

Na quarta-feira, Olívia passou na casa de Bia para deixar alguma coisa que Clarisse pediu a sua mãe e aproveitou, aliviada por finalmente estar de férias da faculdade, para conversar e se atualizar das novidades com Bia.

Ela não queria conversar, mas Olívia era quase sua irmã. Se Bia não pudesse confiar seus sentimentos a ela, não podia confiá-los a mais ninguém. Ela contou o que tinha acontecido e como tinha acontecido. Olívia já tinha ouvido uma versão da história e não tinha se agradado nada. Nessa versão ela não conhecia nem a Bia e nem o Caio.

Bia contou a ela como Caio tinha sido injusto e todo mundo sabia que Caio era namorado de Bia, e não Matheus. Olívia contou à prima que entendia ele ficar chateado, mas não via nisso um motivo de término. A não ser que ele já quisesse faz um tempo.

— A verdade, Bia, é que Caio não é uma boa pessoa. Todo mundo sabe disso, mas finge que não.

— Ah, você também não! — Bia protestou. — Já basta a linguaruda da Júlia falando esse tipo de besteira.

Olívia se desculpou, mas deu uma risadinha na qual Bia não reparou.

— A verdade é que um término é quase sempre mais difícil no começo — comentou Olívia depois de uma breve pausa. — Depois você se acostuma e não faz mais falta.

— Como tu sabe? — Bia perguntou fazendo uma careta, o que acarretou numa gargalhada de Olívia.

Olívia concordou com Bia que não tinha vivência de términos. Mas como era madura e tão sensata quanto uma jovem de 19 anos pode ser, ela sempre aconselhava as amigas nos seus. Muitas delas não os seguiam e sofriam mais, então Olívia achava que seus conselhos provavelmente eram bons. Bia normalmente ouvia Olívia sem duvidar da qualidade dos seus conselhos, mas, de coração partido, ela se via na necessidade de questionar tudo.

— Bia, tu lembra de Brunna Magalhães? — Olívia questionou.

— A ex de Caio que furou o olho de Bella Parracho?

Claro que essa era a versão da história que Bia conhecia. A versão contada pelos amigos de Caio. Ele nunca mencionava a história, mas também nunca desmentia os boatos. Não contava que flertava com Brunna enquanto namorava e muito menos que ela muito mal encostava nele na época. Olívia era vizinha de Brunna e a conhecia desde muito nova. E apesar de não terem um contato íntimo ao ponto de conversarem sobre coisas do coração, mas ainda assim, Brunna procurou por Olívia. Ela não soube bem como ajudar, mas confortou o coração de Brunna que ficou até hoje com a fama de traíra. Olívia se sentia um pouco culpada por não ter feito mais por ela e não queria que a prima tivesse a mesma fama. Contou tudo para Bia, inclusive uma parte da história que lhe contaram do término, a parte que Bia “colocou gaia” em Caio com Matheus.

Bia estava um pouco chocada com a revelação. Ela lembrou de algumas vezes que Caio foi babaca com ela. Na sua festa de 15, depois da dança, ele mal falou com Bia. Teve o dia do aniversário de Matheus no shopping. A implicância constante com Matheus que se estendia para qualquer pessoa do sexo masculino, e até para Júlia às vezes.

O encanto se quebrou naquele momento. E Bia mudou de assunto.

— Tu acha que vai ser para sempre? Tipo, tu e Guilherme?

— Não dá para saber, né? Mas eu quero muito. A gente quer. É o primeiro passo.

— Desde que tu me chame para ser madrinha do casamento,

— Chamo sim. Mas você tem que entrar com Matheus. Vocês ficam muito lindos juntos.

— Já começou, Olívia?

Elas conversaram durante a noite toda e Olívia dormiu na casa de Bia, na cama dela, como costumavam fazer quando eram crianças. Bia se atrasou para a aula e sua prima lhe deu uma carona, mesmo que a escola ficasse a 10 minutos de caminhada. A mala de Bia já estava no carro de Olívia.

— Tenha um bom dia de aula hoje — Olívia desejou pela janela do carro. — E pergunta a Matheus se ele quer ir com a gente no carro para a chácara.

— Pergunto.

Matheus fez questão de passar a quinta-feira junto de Bia. Claro que os boatos dos novos solteiros se espalharam como fogo em palha pela escola. E com a fofoca, vieram os comentários desnecessários sobre como Caio ficou tanto tempo “amarrado”.

— Eu sei como — comentou um cara do terceiro ano no intervalo. — Um belo chá de bu… — Interrompeu a frase quando os viu passando por eles.

Matheus passou o dia ignorando gente feito esse cara. Não pode evitar de ouvir alguns comentários, entretanto. A maioria deles eram os estudantes se atualizando da novidade, mas algumas eram bem maldosas, cruéis até.

Alguns chamaram a atenção de Mati. No banheiro masculino próximo à quadra poliesportiva, ele ouviu a voz de Caio. Os estudantes do terceiro ano tinham a aula de educação física logo antes do intervalo, para aproveitar o tempo extra e tomar banho sem perder vinte importantes minutos de aulas. Os chuveiros eram separados do restante do banheiro, mas adolescentes de 17 anos são barulhentos. Adolescentes do sexo masculino falando sobre sexualidade eram pior ainda.

Sim, sexualidade. Caio estava contando para todo mundo que o sexo com Bia não era tão bom. Ela era muito nova (e Caio só tinha 17 anos), muito imatura e não sabia como agradar. De acordo com ele, já fazia uns meses que eles tentavam, mas não dava certo. E como ele viu que nunca daria certo, decidiu terminar.

O sangue de Matheus subiu. Ele sentia não só o rosto, mas também o colo quentes. Ele saiu da cabine pronto para socar Caio, fervendo de ódio, mas Thiago, um dos amigos de Bia e Mati do grupinho, estava no lugar certo e na hora certa e tirou Matheus dali.

— Você não vai fazer nada — ele disse depois que saíram do banheiro. — Eu sei que é uma injustiça com Bia, mas daqui a pouco todo mundo esquece. As pessoas conhecem Bia, conhecem quem ela é. Ninguém vai acreditar nas merdas que Caio fala.

Nem Matheus, nem Thiago sabiam que ele estava errado. Mas decidiram deixar de lado, pelo menos por enquanto. Voltaram à mesinha que sempre ficavam nos intervalos das aulas.

— Tá tudo bem? — Bia perguntou, percebendo uma inquietude e vendo o seu rosto levemente avermelhado.

Ele balançou a cabeça e Bia insistiu um pouco, mas ele continuou evitando o assunto.

— Olívia perguntou se você vai pra a chácara com a gente — ela disse quando desistiu de saber o que incomodava Mati.

— Quem vai?

— Eu, ela e Theo.

— E Guilherme?

— Tu tá me perguntando sobre o teu irmão? Ele não foi liberado amanhã pelo estágio, só vai sexta.

— Tá, eu vou. Mas eu tenho que pegar minhas malas em casa antes. Vocês vão que horas?

Eles continuaram planejando por um tempo, alheios ao burburinho das conversas dos amigos, presos no universo deles.

— Bia, me diz uma coisa — Mati puxou o assunto quando o sinal que indicava o fim do intervalo tocou, com um pouco de receio de tocar numa ferida, mas precisando dessa resposta. — Porque tu e Caio terminaram?

Bia deu uma risadinha e uma revirada de olhos antes de responder.

— Por tua causa. Ele não aguentou a cerimonialista surtada achando que a gente namorava. Na verdade, ele queria dar um tempo e conversar no final de semana. Ele ficou muito puto quando eu revelei meus planos pro final de semana — e deu uma piscadela pra Matheus. — Ele disse que eu nunca priorizo ele, e não aguentou.

Matheus gargalhou. Apesar do absurdo que ele ouviu poucos minutos antes, ele amava saber que Caio tinha tanto ciúme dele que terminou o namoro. Voltou para a aula de história andando ao lado de Bia e tentando esconder o sorriso. Decidiu deixar a história que ouviu no banheiro enterrada. Ele interferiria, caso fosse necessário, caso ela fosse longe demais. Por enquanto, porém, decidiu poupar a melhor amiga de mais um estresse.

 


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