Marcada escrita por Violet


Capítulo 3
De Frente com a Fera


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas do meu core ♥ Mais um capítulo (para noossaaa aleeeegriaaaa). Esse deu um pouquinho mais de trabalho pq a minha preguiça estava de morte. Mas, espero que vocês gostem. Talvez eu passe alguns breves dias sem postar por conta de uma viagem que irei fazer, mas vou fazer o possivel pra postar o quanto antes. Aos leitores fantasmas, um pedido, saiam do armário!!! E comentem, deem suas opiniões, pls! Boa leitura a todos, kyaaaa!
~Violet



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É sábado de manhã, abro a janela do meu quarto e sinto uma brisa suave entrar, o cheiro de terra molhada, e as gotinhas de água que caem das flores me avisam que choveu a madrugada toda. Mas hoje não, hoje o inverno não se mostrou, o sol estava radiante, o dia estava lindo, e pra contrastar, tinha a voz do John de fundo. O aroma da terra molhada logo mudou, o cheiro de queimado inundava a casa, infelizmente culinária não era um dom seu, mas ele tentava. Olhei no espelho, e meu reflexo estava deprimente, meu cabelo se moldava numa imensa juba vermelha, e as olheiras de quem não dormiu direito me entregavam, lembranças dos últimos acontecimentos me distraiam, voltei a realidade com os gritos de John me chamando pra tomar café, fiz minha higiene pessoal, e desci, hoje teria um dia normal, nada de sombras com olhos avermelhados, ou lobos gigantes que falam.

– Ah, minha princesinha acordou! – disse, tentando fazer uma manobra na frigideira a fim de virar a panqueca, que por pouco não vai ao chão

– Queimando o café da manhã de novo? – impliquei, analisando uma das torradas, literalmente torradas

– Ah você sabe, cozinhar não é lá o meu hobby, isso ficava pra sua mãe. Ah aquelas torradas com manteiga de amendoim caseira que ela fazia – falava em êxtase, como se realmente estivesse provando a comida dela – Bom, você pode provar as panquecas, estão ótimas – exibia o prato como um troféu

– Acho que vou ficar com o cereal – disfarcei abrindo a geladeira – Ué, acabou o leite? –

– Ah é, eu ia fazer compras essa semana, mas com essas viagens todas acabei que não tive tempo de fazer. Se quiser posso lhe dar algum dinheiro, e você vai no supermercado, o que acha?

– Não, tudo bem... Eu me viro, ainda tenho o resto da pensão desse mês – John nunca me negava ajuda financeira, mas não gostava muito de lhe pedir dinheiro. Com a pensão que recebia do meu pai, junto com a da minha mãe, era suficiente pra nos dar estabilidade durante o mês

– Mas então, já sabe como vai aproveitar o sábado? – Me encarava com aquela interrogação no rosto, enquanto despejava o café na minha xícara, me deixei embriagar por aquele aroma de café fresco por um instante

– Hum? Bom... Acho que as meninas vão passar por aqui mais tarde – respondi tomando um gole do café amargo

– Ah, entendi... Aqueles programas de garotas né? Pedir pizza, vestir pijamas, falar de caras sarados—

–John! – gritei envergonhada

– O quê? Eu vi isso num filme. Espera, você não vai trazer caras pra cá, vai? – vi o medo e o desespero estampados naquela sobrancelha arqueada

– Não John, não vou trazer caras pra cá – conclui com uma revirada de olhos – Mas e você? Onde vai? – perguntei apontando em direção as malas perto da porta

– Ah, isso? – pegava a vara de pescar como se estivesse se armando para o combate – Vou pegar uns bons peixes – se exibia

– Quem sabe não pega uma sereia também, hein? – disparei em tom malicioso

– Ah não, você sabe que a única sereia a fisgar meu coração foi sua mãe – vi as lembranças se distorcerem no seu rosto – Enfim, não vamos falar sobre isso... Se precisar de mim já sabe..

– Spray de pimenta no armário, bombinha de gás, já sei..

– E... isso aqui – enfiou algo na minha mão

– Uma pistola d’água, John? Sério? – questionei analisando aquele brinquedo

– É só você empunhar como se fosse uma arma de verdade – arqueei a sobrancelha em resposta – Bom, essa é minha deixa... Qualquer coisa, me ligue! – beijou a minha testa e se despedi

O barulho da porta batendo foi o suficiente pra me fazer querer desabar. Estava tão cansada que podia dormir por mais dois dias inteiros. Aproveitei o silêncio, escorei a cabeça sobre os braços em cima da mesa, e deixei minhas mechas ruivas sobre ela. Fechei os olhos por um momento e um vento forte bateu contra a janela, abri os olhos, e por um milésimo de segundo pude ver a imagem do lobo do outro lado da janela, que sumiu num piscar de olhos, literalmente. No mesmo instante a campainha toca.

– Esqueceu as calças, John? – gritei indo em direção a porta

– Senhorita Parker?

– Ah, senhora Evans – era nossa mais velha vizinha. Ela quase nunca saía de casa, só de manhã para regar as plantas cujas ela cuidava como se fossem filhas dela. Não a conhecia muito, mas ela fazia o tipo “boa, frágil e simpática velhinha”

– Desculpe querida, atrapalho você? – seu semblante era tão terno e cansado que só de olhar pra ela já me dava asma

– Não, não... Precisa de algo?

– Na verdade, sim. Estava prestes a cozinha o prato preferido do meu neto, quando vi que acabou o sal e não estava querendo ir ao supermercado, ando com umas dores sabe... Será que você podia me emprestar um pouco?

– Claro, só um momento, vou buscar. A senhora não quer entrar?

– Ah não querida, estou bem aqui

Saí vasculhando toda a cozinha atrás do bendito sal. John tinha razão, tinha que fazer compras, caso contrário ia ter que sobreviver de amendoim e água. Depois de derrubar alguns potes, quase quebrar pratos, e bagunçar prateleiras, finalmente encontrei o item procurado.

– Aqui está senhora Evans – ergui o pote em minha mão, e ela ficou encarando o meu braço por algum motivo – Algum problema? – perguntei, recuando o braço lentamente, quando ela segurou o meu pulso

– Sabe menina, se eu fosse você teria mais cuidado ao sair de casa. Há coisas ruins lá fora, muito ruins – disse com uma voz rouca, levemente ameaçadora

– Desculpe, não entendi – insisti, mas ela já recuava a passos lentos – Espera, e o sal?

– Guarde pra si, vai precisar mais do que eu

Olhei pro sal, olhei pro meu braço, olhei pra aquela doce e ameaçadora velhinha se afastando. Alguma coisa estava acontecendo ali, e eu precisava saber o que era. Já passava do meio dia, logo as meninas iriam chegar, tinha que dar uma geral na casa, mas antes, peguei o casaco, pus as chaves e o celular na bolsa, era hora de ir às compras.

Casa dos Ackles

Ei, ei! Será que dá pra abaixar esse troço? – gritava Derick com o irmão mais novo, que estava em mais umas de suas viciantes partidas de FIFA no vídeo-game

– Não dá cara, agora não. Ei, me dá um gole dessa cerveja ai, ta um calor desgraçado hoje

– Não dá cara, agora não – retrucou, bebendo em goles vagarosos

– Você é um saco, Derick! Mas e ai, já sabe como vai abordar a donzela? Vai latir pra ela como um chiuaua?! – perguntava entre risos, sem tirar os olhos da tela plana

– Há-há-há muito engraçado Kaeth, muito engraçado... Não sei ainda, sabe... não tem um manual de como matar uma pessoa, você só vai lá e mata, simples assim! – dizia com naturalidade sentando e apoiando os braços erguidos sobre o sofá

– Tente não fazer tanto alarde – surgia Sam tomando seu chá sutilmente naquela xícara francesa

– Relaxa, nem vou ter trabalho, algo me diz que ela vai acabar vindo até mim

– Como tem tanta certeza disso? – indagou Kaeth, que a essa altura já tinha pausado seu jogo

– Intuição felina – se gabou

– Não me interessa suas intuições. Só não faça disso um problema, quanto menos alarde, melhor – conclui o irmão mais velho tomando um ultimo gole do chá

– Só quebrar o pescoço dela ta de bom tamanho, vai ser rápido, sem sangue ou rastros. Se bem que...não sei se me conteria com aquele rostinho bonito

– Isso é porque você brinca com a comida Kaeth, tem que se controlar – irrompeu Sam

– Ah, mas não é minha culpa. Olha que delicia de ruivinha – ele retira uma fotografia pequena do bolso

– O que merda você pensa que ta fazendo? – disparou Derick, tentando pegar a foto – Onde pegou isso? – esbravejava

– Na sua carteira. Ops, não era pra saber?

– Eu vou esfolar você, seu gatinho persa!

– Silêncio, os dois! – gritou o terceiro irmão – Deixa eu ver a foto – sob olhar de rejeição, Derick o entrega a foto: Jessie no refeitório com as duas amigas conversando, e ela encarando um ponto cego do lado de fora. Sua beleza natural estava incrivelmente acentuada naquela foto. Com seu casaco de couro marrom, e os cabelos ruivos lisos, formando ondas leves nas pontas e seus olhos castanhos claros sob aquela pele branca e macia feito a neve que caía lá fora – Por que você tem uma foto da humana consigo, Derick?

– Eu precisava pra reconhecê-la ué. Ela é um alvo importante, precisava ter uma comigo, só isso

– Mas que ela é uma gracinha ela é – indagou Kaeth com um meio sorriso malicioso nos lábios

– Que seja, cuide pra que haja uma desculpa plausível pra morte dela – concluiu Sam voltando ao seu quarto

– Odeio quando ele age assim, impetuoso. Me dá nos nervos – reclamava Derick

– Fazer o quê? Papai o deixou encarregado das ordens, temos que obedecer – terminou com um sinal de reverência

Algumas horas mais tarde

– Estão todas aqui?

– Não, falta o Brad Pitt! Ah fala sério Jess, temos mesmo que fazer isso? – Kat reclamava pela milésima vez

– Se não quiser, é só cair fora – July dava de ombros mascando seu chiclete de menta

– Já vão começar as duas? – briguei – Andem, prometam que não irão brigar essa noite – fiz as duas se entreolharem – Sem brigas, sem ofensas, sem piadinhas – consegui um balançar de cabeça e uma revirada de olhos – Não, não... Quero promessa de dedinhos

– Ah fala sério, Jess! - retrucou July impaciente. Não cedi, até que consegui a promessa

Após longos minutos de caminhada repleta de reclamações, finalmente chegamos ao nosso destino. O clima realmente não estava colaborando nenhum um pouco. Mas em compensação, a lua estava estonteante, e o céu absurdamente estrelado, era uma paisagem incrível. E como não podia faltar, haviam também os ruídos não identificáveis.

– Você ouviu isso? – ouço Kat perguntar assustada

– São animais Kat, animais! Você está no habitat deles – tentei acalmá-la

– Isso Kat, só são pobres e inocentes feras de presas enormes que querem rasgar sua garganta em dois! – o comentário de July me fez lembrar automaticamente daquela cena, o lobo de três metros, negro de olhos amarelados, faminto com suas presas cravadas naquela coisa, não pude evitar de me perguntar se ele apareceria ali esta noite.

– Jess? Jess você ta ouvindo a gente? – ouço Kat, e meus pensamentos se dispersam

– Oi? Não ouvi

– Como sempre – a ouço sussurrar

– Algum problema?

– Está muito frio Jess. Esse é o problema, se não ascendermos um fogo logo. Podemos pegar uma hipotermia, sabia?

– Não exagera também

– Eu vou buscar lenha

– Hum... Eu vou ficar por aqui, você sabe, só pra garantir que ninguém vai levar nada – Kat forçou um falso sorriso. Ela estava com medo, não podia culpá-la, eu também estava.

– Eu vou com você então – July se prontificou

– Não! Não posso ficar aqui sozinha, e se aparecer alguém?!

– Aí você corre!

– Engraçadinha! Não vou ficar nesse “nada” sozinha, não mesmo! – a vi cruzar os braços

– Kat, ninguém vai aparecer, só se for ursos. E mesmo que apareçam, só de ouvir os seus gritos, vão sair correndo – July continua – Tente não ser tão infantil uma vez na vida

– Escu---

– Chega! – interrompi as duas – Eu vou sozinha, ok? July pode ficar aqui, vocês duas tomam conta da barraca, eu pego as lenhas, é próximo. Não dá pra morrer – conclui, tentando repassar o máximo de tranquilidade possível na voz, quando na verdade queria sair correndo dali

Comecei minha caminhada, e até o barulho do ranger das botas me incomodavam. Geralmente essa era a parte em que eu me perdia na selva, e era atacada por um monstro gigante. Realmente esperava não seguir o roteiro dessa vez. Não demorou muito pra que eu achasse algumas lenhas, me aproximei em passos lentos, e um barulho repentino me fez parar. Felizmente, era só um graveto partido que tinha acabado de pisar. Me aproximei das lenhas, e juro que vi algumas moitas se moverem. “Tá legal, definitivamente, eu não quero seguir o roteiro”, pensei. Tomei as lenhas nas mãos, e me virei rapidamente, e na mesma velocidade, interrompi meus movimentos.

O barulho de passadas vagarosas na neve, se aproximavam, respirei fundo umas dez vezes. Meu coração já alcançava a velocidade da luz, acho que tive uns dez ataques cardíacos em menos de dez segundos. Podia sentir as bombas explodindo entre os meu neurônios pra saber se eu deveria correr ou me virar. Advinha o que eu fiz? O que toda protagonista burra de filme de terror faria, sim, me virei. E a imagem que vi foi a mais linda e a mais assustadora. Lá estava ele, era impossível não notar aquela fera gigante, negra em meio aquela imensidão branca. Seus olhos amarelos cravaram a minha marca, e depois o meu rosto, juro que podia sentir ele vasculhando a minha alma com aquele olhar. Minha respiração ofegante, aos poucos foi acalmando, até que tomei coragem pra falar.

– É... é, s-sou eu, lembra? A-aquela que você salvou outro dia – gaguejei – Acho que já nos conhecemos não? – ele permanecia com os olhos cravados em mim, como um tigre observando um antílope – C-calma, somos amigos, não é? Você me salvou naquele dia... – tentei dialogar, mas não teve muito sucesso, ele continuava a se aproximar de mim, podia ver a saliva escorrendo da lateral de sua boca – Ok, acho que você não está muito pra conversas hoje – era minha deixa, peguei as lenhas que estavam na minha mão e arremecei contra a fera, consegui com que ele recuasse alguns passos, corri, corri o mais rápido que pude, o que não adiantou muito, em menos de 4 segundos, ele já estava a minha frente rosnando loucamente, tentei fugir mas acabei levando uma patada que me fez voar longe e bater contra um tronco logo atrás. Não sabia dizer ao certo, mas a dor que sentia do tronco pra baixo, me avisava que havia quebrado no mínimo, algumas costelas. Tentei levantar, nada. A última imagem que tive foi daqueles olhos amarelados me encarando, enquanto suas presas afiadas vinham em minha direção.


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