Marcada escrita por Violet


Capítulo 23
A Proposta




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Já haviam se passado três meses desde que havia recebido a ordem de meu pai, e só agora havia tomado coragem de cumpri-la.O sol do meio dia já se mostrava de trás das poucas nuvens quando cheguei ao palácio da minha suposta futura noiva.O gramado se estendia até onde minha vista não alcançava,era um verdadeiro império,por um momento me veio a mente se seria eu o futuro dono daquele palacete.De todas as ordens que já havia recebido, aquela era de longe a mais difícil de se cumprir.
Caminhei a passos largos e receosos até chegar a imensa porta de madeira que me separava da donzela com quem me deitaria todas as noites,a ideia não me parecia muito ruim,a ideia de ter uma companheira me parecia mais confortável,mas por algum motivo, a ideia de ser aquela dama desconhecida já não me era tão confortável assim.Duas batidas na porta foram suficientes para que ela se abrisse,tive a impressão de já estar sendo esperado há um tempo.Contraí minha mão ao peito e fiz uma suave reverência,a primeira visão que tive fôra de um par de sapatos de cor neutra sob um amontoado de panos de cetim,típico de uma classe um.
Rastejei o olhar de baixo para cima e observei o quão bem denotado eram suas curvaturas,seu rosto era moldado a porcelana e pintado levemente na boca e olhos,o nariz era afilado,as madeixas loiras que lhe escapavam o penteado cheiravam a cereja,foquei o olhar em suas mãos que gesticulavam aleatoriamente em nervosismo,mãos finas de dedos longos de quem sequer havia segurado uma espada.Imaginei-a sentada numa cadeira de balanço fazendo tricor e apenas acenando a todas as minhas palavras assim como a minha mãe fazia,seria assim minha vida de casado,desviei o olhar em disfarce ao incômodo da cena.
— Sente-se, por favor! - sua voz era mais adocicada que seu perfume,padrão de todas as donzelas de classe um."Sua voz tem que ser medida assim como suas palavras,seja suave como a mais leve melodia",ouvia as outras mães ensinarem suas filhas. - Quer beber algo?Um uísque talvez?
— Não,obrigado.O senhor seu pai não está?Achei que o encontraria aqui. - perguntei já observando o lugar.
— Ah sim,bom,isso... - sua voz se tornou trêmula de repente,e voltei a encará-la.Seus olhos estavam cravados no chão e seu rosto pálido começava a corar, me perguntei se ela estaria flertando comigo.
— Bom,eu posso voltar outra hora se quiser - indaguei já me levantando,e indo em direção a porta.
— Espere! - sinto seus dedos finos contraírem meu braço. - Fique, por favor!Na verdade... - a vi soltar lentamente meu braço ainda sem me encarar - Eu que pedi para que nos deixassem a sós.
Não conseguia pensar numa resposta para aquilo.Era a primeira vez que me encontrava numa situação dessas.Bom,já era de se esperar,eu estava num encontro afinal,e com a minha futura noiva.Avaliei sua aparência por um breve momento,não era de tudo ruim,era delicada,sutil e muito bonita.O modo como colocava as madeixas atrás da orelha a cada dois minutos mostrava que ela estava realmente nervosa,eu não era único sofrendo com a situação,mas era o único que não demonstrava interesse ali.
— Ah sim,tudo bem.Ficarei então - disse já retornando ao meu assento de origem. - Mas então,me fale um pouco sobre a senhorita,estou ansioso para conhecê-la melhor! - Fingi o máximo de interesse e vi seus olhos brilharem em expectativa.
— E-eu não sei bem o que gostaria de ouvir.Não tenho muito o que falar na verdade - ela punha a madeixa de volta pela vigésima vez e me perguntei se aquilo não era um "toc".
— Oras essa,tenho certeza que tens muito a me falar.Quais seus hobbies por exemplo, além de exibir tamanha beleza,claro - forcei um sorriso galanteador e a vi corar ainda mais,eu era bom nisso.
— Bom...Eu gosto de tocar piano.
— Por que não estou surpreso - sussurrei mais em pensamento que em fala
— Gostaria de ouvir um pouco?
— Claro, adoraria! - menti
A vi caminhar até o imenso piano,suas passadas eram leves assim como cada gesto seu,o cetim deslizava sobre a madeira do piso,e sua postura era perfeita,perfeita de mais.Seus dedos longos logo saltavam de tecla em tecla agilmente produzindo uma melodia tão suave que poderia fazer um elefante dormir ali mesmo.Imaginei Ana tocando aquele instrumento e a incoerência da cena logo me fez dar risada, o que a fez parar rapidamente.
— Desculpe,fiz algo de errado? Não gosta dessa música? - ela me observava intrigada e só então me situei da minha situação.
— Ah, não! Eu que peço perdão! Me desculpe,é que lembrei do meu irmão mais novo,ele também gosta de tocar piano.
— Ah sim,entendo. - a vi suspirar em alívio.
— Por que quer casar comigo? - perguntei subitamente sem sequer pensar na formulação da pergunta.
— Perdão? - ela me olhava confusa
— Não é nada,estava apenas pensando que deve estar sendo confuso para a senhorita casar-se com um desconhecido.
Seu olhar vagou um pouco sobre o meu e logo se focou em algum ponto abstrato na janela,suas mãos finas contraíam o cetim do vestido em apreensão.
— Na verdade eu estava bem confusa.Não planejava me casar tão cedo,apesar de saber o que o meu propósito seria esse.Como pode ver,não sou uma guerreira e nem pratico magia,fui treinada apenas para servir bem meu futuro marido e manter uma boa aparência.Já sabia qual seria meu destino,mas mesmo assim, o temia fortemente, mas ao vê-lo entrar por aquela porta,senti todas as minhas dúvidas se esvaírem,e de algum modo estou feliz que seja você o meu destino. - ela tornou a me fitar,dessa vez acompanhada por um largo sorriso de satisfação,meu coração acelerou levemente e disfarcei sob um pigarreio. - Perdão, não deveria estar me abrindo assim em um primeiro encontro não é?
— N-não,está tudo bem.Eu fico muito feliz em saber que minha futura esposa é alguém sincera assim.
— Está falando sério? Está feliz de ser eu a sua prometida? - seus olhos brilhavam sob a expectativa da minha resposta.Tinha sido pegue de surpresa.
— É... - tentei forçar um aceno, mas não importava quanto tentasse,não conseguia confirmar aquilo.Era nítido como meu coração se recusava a aceitá-la mesmo sob protestos. - Está um pouco tarde,tenho alguns compromissos,se importa se eu deixá-la agora?
— Tudo bem... - vi a decepção estampada naqueles olhos baixos. - Voltarás,não é?
— Sim, claro que voltarei! - forcei um meio sorriso
Ela tentou me acompanhar,mas recusei sob a desculpa de não querer fazê-la caminhar sob o sol tão quente e agredir sua pele, qundo na verdade me sentia mal em ter que forçar sorrisos e promessas à ela.Absorto nos mais confusos pensamentos,resolvi voltar para casa caminhando, a brisa leve que balançava os galhos secos e carregava as folhas já sem vida montavam um cenário deprimente,era assim que me sentia,deprimente tendo meu destino traçado daquela forma.Como poderia casar-me com uma desconhecida sem amá-la? Como poderia entregar-lhe meu coração quando nem me pertencia mais, e quando eu havia começado a ponderar coisas desse tipo?!
— Argh! - me debrucei sobre um tronco qualquer e deslizei lentamente ao chão,não me importei com a costura da camisa que era rasgada pelo atrito,coloquei a cabeça entre os joelhos e pensei em alguma saída,mas não precisava de uma,só precisava seguir aquela maldita ordem e aceitá-la como esposa,por que isso parecia tão impossível para mim agora?!
Sentado ali sob aquelas folhas secas,avistei uma flor diferente de todas as que já havia visto,seu caule era zul e suas pétalas nada uniformes eram arroxeadas,aproximei-a para sentir seu cheiro,e o mesmo era inebriante,minha visão começara a ficar embaçada e lentamente fui perdendo os sentidos,cedendo para a escuridão.
Algumas horas depois...
Fui retirado de meu sono forçadamente por uma mistura de cheiros de um conjunto de ervas indistinguíveis.Com a visão ainda turva tentei formular uma imagem clara ao meu redor,mas ainda estava tonto demais.Tossi um pouco antes de conseguir me erguer novamente,mas meus braços e pernas pareciam muito pesados para se mexerem.Esfrego os olhos novamente e consigo enxergar então uma silhueta,a julgar pelas curvas, se tratava de uma mulher.
— Até que enfim acordou! - o som que chegara até meus tímpanos fôra suficiente para identificar a pessoa a minha frente.
— Ana! - exclamei subitamente
— Hum? Não me diga que me reconheceu só de ouvir minha voz - a vi me observar constrangida e percebi que meu coração disparava loucamente dentro do peito.
— O que aconteceu? - perguntei,recobrando a postura mesmo sob as reclamações dos músculos dormentes
— O encontrei caído perto daquela árvore,tinha uma flor de lótus próxima,acredito que você deva ter inalado o veneno.
— Flor de lótus? - repeti massageando minhas têmporas
— Sim,aquela é venenosa,não sabia disso?
— Não,nunca havia visto uma.
— Parece que não és tão experiente assim,não é mesmo Sr Ackles? Tão forte e inteligente,mas ainda é pegue por coisas banais assim,chega a ser irônico. - a vi torcer o nariz e obstruir um sorriso sarcástico,não pensei em retrucar,só estava feliz em vê-la de novo.
— Por que está sorrindo assim? Não me diga que está delirando! - ela tocou minha testa com o dorso da mão e não pude esconder a felicidade em sentir o seu toque de novo.
Fechei os olhos e me deixei senti-la novamente,meus lábios facilmente se curvaram para cima e mesmo de olhos fechados podia ver sua expressão confusa me encarando.Ela retirou a mão bruscamente,mas logo a encontrei de volta e a segurei fortemente,e então nossos olhares se encontraram.Ela estava mais bonita que da última vez que a havia visto.Seus cabelos estavam soltos e se deslanchavam sob o vestido branco simples com um corcelê de couro feito a mão destacando sua cintura e o busto tão bem desenhado.Sua boca rosada e tão convidativa estava entre aberta prestes a dizer algo,não esperei para ouvir,aproveitei o momento de insanidade e a puxei para perto de mim.Seu corpo não se movia,podia imaginar seu olhar confuso e supreso,sua respiração cálida e acelerada contra minha nuca fôra o suficiente para paralizar todos os meus sentidos,seus braços se contorciam e abracei mais forte.Seu corpo se encaixava perfeitamente no meu abraço,não me importaria de morrer ali, em seus braços era o meu lugar.
— Sam! O que você ----
— Senti sua falta!


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